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quinta-feira, janeiro 15, 2009

Calhamaços de quadrinhos




Claudio Yuge

O leitor de quadrinho ou os iniciados estão acostumados a acompanhar histórias por meio de arcos ou de capítulos, sempre com aquela página final com o "a seguir..." deixando todos roendo as unhas, ansiosos pela continuação. A Companhia das Letras decidiu inovar e, logo na inauguração de seu selo dedicado à nona arte, o Quadrinhos na Companhia, anuncia três histórias publicadas em calhamaços lá fora: Blankets, de Craig Thompson; Bottomless Belly Button, de Dash Shaw; e Jimmy Corrigan: the smartest kid on Earth, de Chris Ware.

O interesse da Companhia das Letras é de longa data, vide o interesse nas obras autobiográficas como Maus, de Art Spiegelman, e Persépolis, de Marjane Satrapi; e no material de autores já bastante conhecidos do grande público, a exemplo dos álbuns de Tintim, de Hergé, e de Will Eisner. A vontade em ter um selo específico veio do crescimento do mercado e também da necessidade de readequação editorial para que quadrinhos teoricamente dirigidos para os leitores adultos pudessem ter mais espaço na empresa.

"A gente já editava coisas do Hergé, do Art Spiegelman, do Eisner, e tinha um projeto grande para os quadrinhos há um bom tempo. O selo foi criado porque a gente sentiu que esse é um momento de crescimento mundial e o retorno com nossa linha de quadrinhos foi dando certo gradualmente. Nós tínhamos um selo juvenil em que se encaixava os quadrinhos mas engessava muito o quadrinho adulto que a gente queria lançar e agora nós vamos poder", explica o editor-assistente da Companhia das Letras responsável pelo selo Quadrinhos na Companhia, André Conti.

O primeiro passo do selo é buscar novos leitores, sem também deixar de dar atenção para os já iniciados nos quadrinhos. "O Maus é um livro que sempre vendeu bem, tem uma boa venda constante, assim como Persépolis. É um tipo de literatura que as pessoas vão descobrindo toda hora. A intenção com o selo não é ir atrás somente dos leitores de quadrinhos, apesar do que vamos lançar são coisas que os leitores pedem há tempos, mas também conquistar novos leitores", diz Conti.

E o selo já inova neste início de atividades. Logo de cara, o Quadrinhos na Companhia anunciou três obras de autores pra lá de criativos e que dificilmente seriam publicados aqui devido ao tamanho de seus volumes. A divertida dramédia autobiográfica Blankets, por exemplo, tem 600 páginas. Já Bottomless Belly Button conta com nada menos que 720 páginas e a inventiva narrativa gráfica de Chris Ware supera as 380 páginas.

"Pro leitor de quadrinhos, um livro de 600 páginas assusta bem menos do que um romance de 600 páginas. Além disso, o Blankets tem pouco texto e qualquer um pode ler de uma vez só. Em Bottomless Belly Button, o Dash Shaw até mesmo diz para o leitor fazer pausas durante a leitura", comenta o editor do selo, que também promete manter o projeto gráfico original, já que essas produções exploram bastante o próprio projeto gráfico na narrativa.

Além desses três lançamentos de (literalmente) peso, estão programados o ótimo American Born Chinese, de Gene Yang; e Jubiabá, clássico de Jorge Amado adaptado pelo artista brasileiro Spacca. O selo também pretende lançar periodicamente material nacional a partir de parcerias entre escritores e ilustradores. O primeiro programado é Cachalote, da dupla Daniel Galera e Rafael Coutinho, que aprendeu bem como desenhar junto do pai, Laerte.

"Estamos selecionando junto com a RT/Features autores nacionais, sempre em dupla, escritores e ilustradores. Eles mandam algumas páginas, algo mais além de uma simples sinopse, e estamos avaliando outros lançamentos neste momento", adianta Conti. O Quadrinhos na Companhia promete lançar inicialmente nove títulos no próximo ano e mais nove em 2010. Os formatos devem variar bastante e a faixa de preço deve ficar entre R$ 40 e R$ 55.

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