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terça-feira, fevereiro 10, 2009

Conheça o responsável pelos bonecos gigantes da BICA






1.Paulo Mamulengo e o boneco Albino Caburé da Silva
2.Paulo Mamulengo descansando sobre a cara do judão FHC
3.Rogelio Casado e Paulo Mamulengo
4.Dona Lourdes, Charles 5 Estrelas e Eliezer Leão
5.Mario Buriti e o livro de fundação da BICA

O responsável pela confecção dos bonecos gigantes da Banda Independente Confraria do Armando (BICA) é o repentista, bonequeiro e ventríloquo paraibano Paulo de Tarso, conhecido mundialmente como Paulo Mamulengo.

Os primeiros bonecos confeccionados para a brincadeira foram o do comerciante Armando Soares, patrono da BICA, e o do jornalista Deocleciano Souza, general da banda, para o carnaval de 1993. De lá pra cá, novos personagens foram incorporados à fuzarca, e se transformaram em uma autêntica tradição do carnaval de rua amazonense.

Alguns bonecos tomaram chá de sumiço, como o da ativista cultural Celeste Pereira, surgido no carnaval de 1997, e o do escritor Antonio Paulo Graça, surgido no carnaval de 1999, ambos roubados no final das festas.

Se não me falha a memória, a banda possui (ou deveria possuir) 12 bonecos: Armando, Deocleciano, Petronilia, Frei Fulgêncio, Leomar Salignac, Celeste Pereira, Lourdes Soeiro, Charles 5 Estrelas, Antonio Paulo Graça, Eliezer Leão, Nestor Nascimento e Alberto Aleixo.

O trabalho pioneiro de Paulo Mamulengo na BICA atravessou fronteiras. Nesses últimos dez anos, ele já produziu bonecos gigantes para o carnaval de Coari, Manicoré, Benjamin Constant, Presidente Figueiredo e Novo Airão.

Aliás, em 11 de abril de 1998, sábado, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) do Distrito Federal promoveu a malhação de Judas com um boneco de 12 metros representando o presidente Fernando Henrique Cardoso. Foram gastos 120 metros de tecido, isopor e espuma. Obra de quem? Exato, do Paulo Mamulengo.

Ao lado do boneco de FHC estavam “sete anões” - políticos que apoiaram a aprovação das reformas administrativa e da Previdência. Os bonecos custaram R$ 10,8 mil. O dinheiro foi arrecadado entre os sindicatos filiados à central. A CUT tentou incluir o boneco no Guiness, livro que registra os recordes mundiais, como o “maior Judas do mundo”, mas a iniciativa não deu certo.

Conheci Paulo Mamulengo no início dos anos 90, durante uma apresentação dele no Espaço Cultural Mar Azul, que funcionava na rua Loris Cordovil, na Alvorada, e era mantido pelo mestre capoeirista Joãozinho da Figueira, hoje morando em Londres.

Paulo apresentou o hilariante espetáculo “Na Grota do Istopô Kalango”, desfiando poemas, repentes e canções populares, com o seu boneco Albino Caburé da Silva, um mamulengo desbocado e politicamente incorreto toda vida. Ficamos amigos na mesma hora e passamos a noite conversando.

– Posso ser considerado recordista de vestibulares – avisou. “Fiz cinco e passei em todos eles. Iniciei minha carreira de estudante na CEUB – Universidade de Brasília, em 72, onde fiz vestibular para Psicologia. Estudei menos de um ano, até o dia que me levaram para um laboratório e me mandaram abrir um rato”.

– Voltei para a Paraíba e estando lá de bobeira resolvi fazer vestibular para Educação Física. Era época de Olimpíada e eu era um rapaz novo e bonito. Resolvi ser atleta. Mas quando soube que tinha de acordar às 5 da manhã para correr 16 quilômetros todos os dias desisti. Pulei para Educação Artística, para ser artista. Lá encontrei um bocado de professores metidos a catedráticos ensinando pessoas que estavam mais interessadas em aprender tricô e crochê para ensinar aos aleijados. Era esse o conceito que se tinha de Educação Artística. E que, aliás, ainda se tem...

– Aí fiz vestibular para Arquitetura em Brasília. Estudei três anos até o momento em que tive que fazer um projeto. Passava oito horas diante de uma prancheta aprendendo a desenhar casa com piscina no lago e depois pegava dois ônibus para ir dormir numa favela na Ceilândia. Não deu outra. Desisti.

– Depois de uma passada traumática pela Escola de Teatro Dulcina, também em Brasília, juntei meus teréns e resolvi seguir minha intuição. Retornei pra Paraíba e fui aprender a arte do mamulengo com o mestre Lucas. Quando o Morhan (Movimento de Reintegração dos Hansenianos) me convidou para fazer um levantamento da situação dos doentes em Lábrea, vim para o Amazonas, e me estabeleci no Paricatuba, que sediou o primeiro leprosário do estado e foi desativado pelo governador Álvaro Maia em 1950. Moro lá até hoje.

No final dos anos 90, Paulo Mamulengo começou a estudar Filosofia na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), onde se formou em 2002, e a partir de 2006 começou seu doutorado em Arqueologia Urbana pela USP. Vocês podem conferir outras presepadas dele clicando aqui e procurar o post "Mora na Filosofia!"

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