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quinta-feira, fevereiro 19, 2009

A musicalidade de Jack Kerouac


Jack Kerouac trabalhando na sua prosa-bebop-espontânea


Dylan e Ginsberg recitando poemas diante do túmulo de Kerouac


Em 1992, a editora City Lights tirou dos cofres poemas escritos por Jack Kerouac entre 1954 e 1956 e lançou o livro Pomes of All Sizes, colocando em foco a lucidez e o ceticismo do poeta beat. No prefácio do livro, do qual publico alguns trechos, Allen Ginsberg escreveu o seguinte:

Ele era poeta. “Vocês se dizem poetas e escrevem linhazinhas curtas. Eu sou poeta, mas escrevo linhas, parágrafos, de páginas e páginas de comprimento”. Ele escreveu isso em meados dos anos 50, numa carta da Cidade do México, que embrulhava um rolo de folhas de seus Mexico City Blues.

Daí seu ouvido examinar a nua poesia em prosa de Burroughs (...) Seu ouvido seguiu o caminho do som. Veio de leitura e música: Thomas Wolfe, Herman Melville, Shakespeare, Spengler em O Declínio do Oeste, Sir Thomas Brown, Rabelais, Shelley, Poe, Hart Crane – um ouvido romântico. E o moderno: Whitman, Eliot, Pound, Céline e Genet. Alma de Dostoievsky e Gogol. Música da “Paixão segundo São Mateus”, de Bach, ao “Mysterioso”, de Thelonius Monk. Sua influência é mundial, não apenas espiritual, com o beat planetário de uma cultura jovem, mas poética, técnica.

Despertou Bob Dylan para menestrel do mundo. “Como o senhor conhece a poesia de Kerouac?”, perguntei a Dylan, depois que improvisamos canções e lemos coros de Mexico City Blues, diante do túmulo de Kerouac, de 1976, no cemitério Edison, de Lowell. A resposta de Dylan: “Alguém me pôs nas mãos México City Blues em St. Paul, em 1959, e aquilo mexeu com a minha cabeça”. Diss que foi a poesia que falou a sua língua.

Minha própria poesia sempre se modelou pela prática de Kerouac de traçar os sons e pensamentos de sua mente diretamente no papel (...) Todos os poetas da Renascença de San Francisco foram interessados, impressionados e às vezes inspirados pela força solitária e autóctone de Kerouac, por seu domínio desimpedido do idioma americano.

(...) Leroi Jones, que liberou um mundo de verso afroamericano também captou um pouco da musicalidade de Kerouac. E foi Kerouac, sem dúvida, que colaborou com Burroughs em sua primeira ficção hard boiled, em 1945, e passou a chama preciosa da sagrada poesia em prosa – feita em casa, pessoal, espontânea – para o próprio Burroughs. Kerouac foi um catalisador, ali. E quantos pretendentes a poetas, poetas comuns e poetas geniais nos Estados Unidos encontraram um modelo na lenda e nos textos de Kerouac?

Kerouac é um poema maior, seminal, da segunda metade do século 20 americano. E pela marca que deixou em Dylan e em mim, entre outros, uma influência poética planetária. E, no entanto, um poeta que ainda não é reconhecido pela Academia, representada aqui pelas maiores antologias didáticas usadas nesse quarto de século que transcorreu desde a morte de Kerouac. “Nova Poesia Americana”, dos anos 60, introduziu Kerouac no mundo das antologias disso, amnésia total! Onde encontrar um texto de Kerouac? Onde encontrar Kerouac para surpreender e encantar os jovens que abrem seus livros escolares?

Até que Kerouac seja entendido como poeta, a beleza de seu verso formal se torne visível para estudiosos e sua surpreendente ternura seja captada e sentida por professores, o ensino de Literatura Americana nunca vai cair no trilho certo, a nação não exaltará seu espírito compassivo, hordas de burocratas literários continuarão a soprar inspiração oca e novas gerações serão afastadas da poesia, a não ser que tenham a chance individual de se achar esse livro original de Kerouac ou obras de seus companheiros de viagem, semelhantes e de coração leve, na mesma estrada anunciada por Walt Whitman.


Ônibus para o Leste

A sociedade tem boas intenções
A burocracia parece uma amiga

5 anos atrás – outras fúrias
outras perdas –

A América está tentando
controlar o
incontrolável
Incêndios em florestas,
Vícios

O sorriso essencial
No sono essencial
Das crianças
Da mente essencial

Eu estou cansado de fazer o papel
do americano
Agora eu vou levar
uma vida boa e tranqüila

(Poema escrito em um ônibus de San Francisco para Nova York, em abril de 1954)

Em 2007, na Universidade Federal do Paraná, a Bacharel em Letras Gisele Pacola apresentou uma monografia intitulada “A influência de Jack Kerouac na transição musical de Bob Dylan”, que merece ser lida. Se estiver interessado, entre nesse endereço: www.letras.ufpr.br/documentos/graduacao/monografias/ss_2007/Gisele_Pacola.pdf

Um comentário:

Mirna disse...

Eu invejo Chuck Norris porque seus dentes são inquebráveis. Meus dentes estão caindo com o passar do tempo, e quando eu era jovem, eu sempre quebrou os dentes. Felizmente há dentistica restauradora que resolve problemas bucais