Pesquisar este blog

quinta-feira, março 05, 2009

A enciclopédia que você pediu a Jah – Parte 13


UB-40
Tendo à frente os irmãos canhotos Ali e Robin Campbell, o grupo provoca grande celeuma entre os fãs de reggae. Os mais ortodoxos preferem classificá-lo como banda pop que vive de regravar pérolas da canção jamaicana (como fizeram nos álbuns Labour Of Love, de 1984, e Labour Of Love 2, de 1989). Mas há quem defenda os ingleses dizendo que eles são muito importantes para a popularização mundial do reggae. Se hoje ouve-se falar fora da Jamaica em John Holt, U-Roy e outros astros, isso se deve ao UB-40.

A banda teve mesmo grandes momentos, principalmente entre o final dos anos 70 e o início dos 80. O iúbi – como é popularmente conhecido, a partir do som de UB em inglês (o nome vem do código do seguro-desemprego britânico) – temperou o reggae com boas doses de música pop e lançou discos emblemáticos como Baggariddim (1985) e Present Arms (1980). O vocalista Ali Campbell é um dos grandes incentivadores do reggae moderno: financiou as primeiras raves de jungle em Birmingham, quando o ritmo ainda não causava frisson entre os modernos.

U-ROY
Shabba Ranks tem de ajoelhar para esse vovô (mais de 70 anos); Ninja Man reza todo dia por seu bem-estar. Sem U-Roy, não haveria o blablablá esperto que marca o atual reinado dos DJs na música jamaicana. Não foi U-Roy quem inventou, mas vêm dele as principais influências no desenvolvimento do estilo talk over: no alto do sound system, o DJ usava a base instrumental do disco para dar o seu recado e divertir a massa.

U-Roy é anterior ao próprio reggae: começou a tagarelar improvisando nas pequenas partes sem vocal dos sucessos do rock steady. Em 1970, já era tão popular que chegava a ter o primeiro, o segundo e o terceiro lugares da parada jamaicana. Bob Marley o citou numa entrevista no começo da carreira dos Wailers, ao falar sobre influências: “Me like U-Roy.”

A voz empapuçada de eco e reverb do DJ seguiu com muito sucesso fazendo versões dos hits de seu fã Bob Marley (uma clássica performance é “Soul Rebel”) e de outros cantores dos anos 70. Ao longo da década seguinte, U-Roy, rasta convicto, perdeu a coroa para sujeitos mais rápidos e safardanas, mas sempre será respeitado como the king of DJs.

WAILER, Bunny
Desde que abandonou os Wailers, Bunny tem mantido uma carreira irregular. Lança álbuns divinos (Blackheart Man, de 1976), mas se recusa a divulgá-los no exterior porque tem medo de avião. Cai de cabeça nos sons mais modernos do reggae, mas critica os DJs – o que lhe custou uma chuva de garrafas num festival na Jamaica. Bunny não tira seu sustento de música – é fazendeiro – e vive numa eterna nuvem de fumaça e devoção a Jah.

WAILERS, The
Com a morte de Bob Marley em 1981, os Wailers juntaram os cacos e seguiram em frente. Seis anos depois, eles perderam o baterista Carlton Barret, assassinado por um Ricardão jamaicano – o bandido traçava a mulher do pobre rasta. Com Junior Marvin (guitarrista americano, que entrou na banda em 1977 – nenhuma relação com Junior Murvin) à frente, o grupo excursiona pelo mundo e mostra que um dia foi a maior banda de reggae do planeta.

WAILING SOULS
Este grupo vocal jamaicano teve diversas formações, sempre capitaneadas pelos chapas Winston “Pipe” Matthews e Lloyd “Bread” McDonald. Ao lado do cantor Buddy Hayes, a dupla iniciou a carreira em 1965 no Studio One. Na época eles se chamavam Renegades. Sua primeira composição foi “Lost Love”. Garth Dennis (ex-Black Uhuru) se agregou à banda e eles mudaram o nome para Wailing Souls. Essa formação gravou álbuns com produção de Sly & Robbie, estourou clássicos como “Bradda Gravalicious” e “Babylon Back Against The Wall”... Durou até 1984, quando Dennis e Hayes seguiram em carreira solo. Pipe e Bread voltaram à Jamaica e contrataram o novato Ziggy Thomas. Vieram os discos Lay It On The Line, Kingston 14 e Reggae Inna Firehouse. Em 1992, já sem Ziggy Thomas, eles lançaram o disco All Over The World, com participação especial de U-Roy.

WANGA-GUT
Faminto, na linguagem patois.

WILSON, Delroy
Ex-parceiro de Joe Higgs na dupla Higgs & Wilson, ele foi muito popular no início dos anos 70. Emplacou o hino da campanha socialista jamaicana em 1972 (“Better Must Come”), mas perdeu espaço para os ideais rastafari de Bob Marley, Peter Tosh e outros. No ostracismo, tornou-se alcoólatra e morreu de cirrose em 1994.

YAGA YAGA
Uma expressão do dancehall, que serve para agitar a platéia.

YELLOWMAN
Ele é albino, desbocado e mais feio do que cão chupando manga. Mas as mulheres não ligam para esses pequenos detalhe se elegeram Winston Foster símbolo sexual do Jamaica.

Essa relação amorosa se iniciou em 1979, quando ele subiu ao palco de um show de calouros em Kingston trajando um berrante terno amarelo. Na ponta da língua, canções com termos chulos, em que contava vantagens sobres suas proezas sexuais. Este esquisito DJ reinou absoluto na Jamaica entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80. Sempre se gabando (“Yellow Like Cheese”, “Be My Guest”), descendo a lenha na polícia (“Nobody Move, Nobody Get Hurt” – refrão que Sérgio Britto emenda em algumas versões de “Polícia”) e comemorando a liberdade de Gregory Isaacs (“Gregory Free”).

O melhor disco dessa fase é King Yellowman (1982), gravado em Nova York, com produção de Bill Laswell e participação de Afrika Bambataa. Até hoje o repertório desse trabalho consiste no filé das apresentações de Yellowman no mundo todo – inclusive no Brasil, país que ele visitou pelo menos quatro vezes. Tem “Strong Me Strong”, a versão sacaneada de “Country Roads” (de John Denver, morto recentemente) e muita prosa sacana (“Mi Belief”, “Girls Don’t Do It”).

A partir da segunda metade da década de 80, Yellowman entrou em decadência. Teve de arrancar o maxilar por causa de um tumor (o que lhe deu uma aparência mais estranha) e foi trocado por rappers mais jovens e rapidinhos (Shabba Ranks, Buju Banton etc) na preferência do público. Mesmo assim, continua na ativa até hoje. E com a vantagem de compor rápido e sobre qualquer tema. Bi Ribeiro que o diga. Ao pedir um autógrafo para Yellowman depois de uma apresentação do jamaicano em Londres, ele pediu uma caneta para Herbert Vianna. O amarelo gostou da sonoridade da palavra e criou um rap que tinha caneta como tema. Se ficou bom, só Bi (e os outros dois paralamas) sabem.

ZION TRAIN
O futuro do reggae provavelmente está nos vagões deste sound system inglês que produz uma mistura alucinada de reggae, dub e dance music, trocando o surrado discurso rastafari por mensagens pró-ecologia e antifascismo. Seu álbum Homegrown Fantasy (1995) é obra básica para se entender a cultura reggae desse novo milênio.

Nenhum comentário: