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quinta-feira, março 12, 2009

Os shows que eu não assisti: Iron Maiden


Desgastado e fora de forma, o boneco Eddie circula pelo palco sem saber para onde ir e acaba tropeçando por cima da bateria, que pára de funcionar. Na platéia, ninguém notou qualquer diferença na música. O clique carnavalesco é de Messias Jardan.

Por Cruzmaltino Bandeco (*)

Se existe um estilo musical que nunca fez sucesso mas sempre encheu o saco é o heavy metal, uma mistura esdrúxula de mitologia de araque, caveiras e rapazes de cabelo comprido com calças pra dentro da bunda. Em geral, grupos de heavy metal são compostos por algo entre doze e dezoito integrantes. O número exagerado de músicos tem uma explicação óbvia: quanto mais gente zanzando em cima do palco, mais fácil esconder do público a falta de intimidade com os instrumentos musicais.

Um dos ícones do gênero é o conjunto estrangeiro Iron Maiden, cujo nome em português quer dizer “moça de ferro” — onde eu nasci, homem com essas manias apanha de cinta do pai. Na última semana, eles estiveram no Brasil para se apresentar em um estádio de futebol abandonado. Não pude ir ao show por causa de um terçol que me obriga a fazer compressas o dia inteiro. Mas não tenho do que reclamar: pelo que me disse meu amigo Décio, que é metalúrgico e entende tudo de metal enferrujado, a apresentação foi um fiasco.

Para o Décio, o que torna estes senhores de calça de couro uma referência para os metaleiros é uma incógnita. Mas um olhar superficial sobre seu show e como age seu público dá algumas pistas: no palco, uma caveira de isopor anda de um lado pro outro tal qual o Robocop, e isso leva às lágrimas gordos cabeludos na platéia. Ao mesmo tempo, panos com esfinges e pirâmides surgem e somem sem motivo aparente atrás do vocalista, fazendo-o uivar e gargalhar como uma bruxa do desenho do Pica-pau.

Se o show do Iron Maiden já é um espetáculo de circo de mau gosto, musicalmente a moça de ferro lembra um daqueles LPs coloridos que se usa para distrair crianças no recreio: as músicas são basicamente sequencias de notas iguais, e os vocais se resumem à repetição em diferentes tonalidades de um tal “ô, ô, ô, ô” — o que torna mais fácil rimar e permite que o público cante junto com a banda sem o trabalho de decorar. Em algumas composições mais trabalhadas, as letras falam sobre as típicas angústias do metaleiro de meia-idade, como o medo de escuro em Fear of the Dark ou a obrigação de voltar cedo pra casa em Two Minutes to Midnight (“2 minutos para a meia-noite”).

É difícil entender o que faz alguém sair de casa para ver algo desse nível. Pra piorar, ao final da apresentação, Bruce Dickinson, o vocalista do conjunto, prometeu voltar ao Brasil no ano que vem. Eu espero que isso não passe de mais uma encenação da banda feita sob medida para acalmar um público mimado, mas em todo caso estou descuidando de meu terçol para garantir minha ausência novamente.

Nota: zero.


(* ) Cruzmaltino Bandeco tem 53 anos e é crítico de música e cinema há 22. Publicou, nos anos 70, diversas reportagens sobre as pornochanchadas que não pôde assistir. É autor de quatro ensaios sobre o prêmio “Kikito de Ouro” e do livro de contos “Memórias do Mercadinho”. Sofre abusos sexuais de seu tio Milton Osvaldo desde a adolescência.

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