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terça-feira, março 03, 2009

Rescaldo da carnavália ximango - Parte 1


Nato Neto e Rossini Lima em divagações existencialistas, Sergio Pereira mandando bala e eu me encharcando de Red


Se essa tartaruga não tiver três palmos, eu corto meus três ovos...


Rossini Lima, Sergio Pereira, eu, Luiz Bacellar, Almir Diniz, Mello Jr., Benayas e a careca do Zemaria Pinto


Almir Diniz, Anisio Mello, Armando de Menezes, Mello Jr., Benayas e Zemaria Pinto


Almir Diniz, Mello Jr., Anisio Mello e Armando de Menezes


Nato Neto (que não comeu tartaruga porque estava sem joelheiras) e Mello Jr. se preparando para apresentar o melhor do brega adulto contemporâneo

Um dos mais antigos imortais da Academia Amazonense de Letras (AAL), o escritor Armando de Menezes criou o “chazinho do Armando” (uísque a dar no meio da canela, cerveja estupidamente gelada e o mais inusitados “tira-gosto” da paróquia) há seis anos, para fugir da chatice tradicional da AAL, que insistia em encerrar suas sessões deliberativas com chá de camomila e biscoitos de aveia integral, coisa que qualquer escritor – imortal ou não – deve abominar. Sempre.

No princípio, o chazinho do Armando rolava no porão da AAL, onde fica localizada a biblioteca da entidade, sempre a partir das 16h. Depois de alguns anos, o então recém-eleito presidente da AAL, poeta Élson Farias, durante um surto de abstinência aguda e moralismo idem, proibiu a presepada no local. Incontinenti, Armando e os demais escritores se mudaram para o Ideal Clube.

Há alguns anos, eles resolveram arribar de novo, dessa vez para a Escola de Artes Esther Mello, residência do poeta e imortal Anísio Mello, localizada ali em frente da Beneficente Portuguesa, na Joaquim Nabuco. É lá que toda sexta-feira, chova ou faça sol, a partir das 16h, eles se reúnem para colocar as maledicências em dia e contar histórias do arco da velha sobre a intelectualidade baré. Uma farra!

Comecei a freqüentar o chazinho no final de 2007, por iniciativa de meu cunhado, o livreiro Antonio Diniz, sobrinho do também imortal Almir Diniz, considerado um dos freqüentadores mais assíduos da reunião. Como diz meu brother Chico da Silva, “boca livre e pênalti só perde quem é otário”. Confesso que nunca fui uma presença constante no balacobaco, mas sempre que apareço, sou bem-vindo. Cortesia da turma.

Num desses porres iniciais, degustando avidamente um queijo francês da melhor qualidade, prometi a eles que forneceria um tira-gosto diferente: uma tartarugada. Ninguém levou a sério, claro. Nem eu. Um dos primeiros mandamentos da boemia é jamais – jamais! – comentar o porre no dia seguinte! Daí que essa minha “boutade” ficou por conta das lambanças que o excesso de álcool provoca nas pessoas.

Na verdade, o suposto “ato falho” tinha sido uma forma de eu contribuir para o fuzuê, já que sempre tive o péssimo hábito de chegar ao recinto de mãos vazias. E aquela doce e inebriante cachaçada, afinal de contas, tem um custo financeiro razoável, rateado entre os frequentadores.

De qualquer forma, por uma dessas coincidências que Jung colocaria no saco sem fundo da chamada “teoria da sincronicidade” (aquela história de que o acaso não existe e que se uma borboleta levantar vôo na Austrália ela é capaz de provocar um terremoto em São Francisco), há três semanas, véspera do desfile da BICA, resolvi aparecer no chazinho. Ia apenas fazer hora, para depois descer até o bar do Charles Stones, ali ao lado do Cheik Clube, na Getúlio Vargas, para acertar os detalhes da Banda do Cinco Estrelas. Como sempre, cheguei ao covil apenas com a cara e a coragem.

Lá pelas tantas, depois de duas garrafas de Johnnie Walker Red, Armando de Menezes me cobrou a “tartarugada”. Como, coincidentemente, eu tinha em casa uma tartaruga de três palmos de peito, propus entregar a eles o robusto quelônio e eles que encontrassem alguém para preparar. Os cachorros me pegaram pela palavra. Eu havia prometido uma “tartarugada”, não uma tartaruga. Aceitei o fato, com o estoicismo e a resignação de um autêntico Dom Quixote, e convoquei minha cozinheira favorita, Dona Sônia, para executar a nobre tarefa.

Na sexta-feira seguinte, eu e o jornalista Mário Dantas adentramos no gramado com os acepipes básicos: sarapatel, picadinho, guisado, farofa e risoto de tartaruga. De quebra, levei uma dúzia de ovos da falecida tortuga para o Armando fazer um portentoso arabu – ou comê-los cozidos, com farinha uairini e pimenta malagueta. Foi uma festa. O Mário Dantas e o coronel Roberto Mendonça registraram o fuzuê.

Depois que os cacarecos foram limpos – quem não quis comer, levou um pouco pra comer em casa –, Mário Dantas me deixou no bar do Charles. Eu já estava meio biritado e o Charles, só pra me sacanear, colocou uma garrafa de Red, zero bala, na minha frente.

Porra, no dia seguinte (sábado gordo) eu ia viajar de barco pra Parintins com o Gil da Liberdade, mas uma garrafa de Red é uma garrafa de Red. Resultado: detonei a primeira garrafa e, por volta das 2 da manhã, o Charles me deu uma segunda garrafa – também zero bala. Caindo pelas tabelas, fui pra casa e fiquei bebendo até o dia amanhecer, enchendo o saco dos vizinhos com minha trilha de gangsta rap no máximo volume.

Acho que falei com o Gil, via celular, por volta de meio-dia, agradecendo – e dispensando – o camarote reservado no barco, mas informando que viajaria no dia seguinte. E simplesmente apaguei.

No domingo, ainda meio grogue, comprei a primeira passagem de barco na direção de Parintins, me enfurnei no camarote, liguei o ar-condicionado no máximo e voltei a dormir. Morri em R$ 500 para viajar sozinho, mas valeu a pena. Só sai de lá por volta das oito da noite, porque estava com uma fome da moléstia. O resto... Sinceramente, vou te contar!

Um comentário:

Astrid disse...

Mande um beijo para o Anisio, se ele ainda lembrar de mim.