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segunda-feira, agosto 10, 2009

ABZ da Guitarra Elétrica em 10 Lições – Take 8


Depois da ressaca do sonho acabado, a década de 70 começou com a guitarra sedimentando-se em estilos diversos e muito bem definidos, a partir das propostas inovadoras deflagradas nos anos 60. Mesmo assim, havia os que mantinham vivas as mais puras raízes do blues e do rock’n’roll e aqueles que corriam por fora das tendências que estavam se evidenciando.

O toque mais fiel ao rock básico permanecia firme no som de guitarristas como Ian Hunter, do Mott the Hoople, e Mick Ronson (foto) - dos Spiders from Mars, de David Bowie e depois também do Mott -, e depois seria diluído em pastiches como os arranjos pop do superestimado Peter Frampton (ex-Humble Pie) e nos coquetéis sinfônicos do Queen, regidos pela guitarra de Brian May.

Enquanto isso, nos EUA, se Alice Cooper tinha como vedetes do seu circo de horrores os guitarristas Glen Buxton e Bruce Smith e o Aerosmith dava o ar de sua graça com o duo formado por Joe Perry e Brad Whitford, outro ás da guitarra já havia surgido no mais puro estilo do Mississippi: o albino Johnny Winter (que posteriormente viria a produzir e a gravar com Muddy Waters).


Algum tempo depois, teríamos o trabalho de slide guitar desenvolvido por George Thorogood frente aos Destroyers, com influência marcante da escola de Chicago (em especial do bluesman Elmore James).

No campo do hard blues viriam à tona os solos e riffs do irlandês Rory Gallagher e do inglês Robin Trower (ex-Procol Harum), na época aclamado por muitos como o sucessor de Hendrix.

Numa tendência sonora mais sofisticada surgiram o guitarrista Phil Manzanera, do Roxy Music, e Chris Spedding - em carreira solo ou ao lado de John Cale, Brian Eno e do próprio Manzanera, entre outros -, além do perfeito entrosamento entre o trabalho de ritmo e solo apresentado pelos guitarristas Carlos Alomar e Ricky Gardiner (da banda que gravou o LP Low, de Bowie, e The Idiot e Lust for Life, de Iggy Pop) e do duo formado por Steve Hunter e Dick Wagner (Lou Reed, fase Berlin e depois). Mas, indubitavelmente, as três grandes tendências musicais da primeira metade dos anos 70 seriam o heavy metal, o jazz rock e o som progressivo.

Puro Metal Pesado – Som amplificado a incontáveis decibéis, cozinha de baixo e bateria pulsantes e intermitentes, mas principalmente riffs pesados contrapondo-se a resfolegantes solos de guitarra. Eis como surgiu o heavy metal.

A base de tudo, é claro, foi dada pelo Jimi Hendrix Experience e o Cream, mas mesmo durante os anos 60 já havia outros grupos que viriam antecipar o instrumental detonado pelo heavy metal - como os californianos Blue Cheer, Iron Butterfly e Steppenwolf e o nova-iorquino Vanilla Fudge.


Mas a pedra fundamental dessa muralha sonora foi posta pelo Led Zeppelin, com a inestimável colaboração de Jimmy Page. Sua guitarra foi a ponta de lança desse movimento musical, projetando seu alcance até mesmo através da década seguinte.

No início dos anos 70, vários grupos tomaram o metal como o rumo a ser seguido, produzindo uma leva de esmerados guitarristas como Ritchie Blackmore (Deep Purple), Gary Moore (Thin Lizzy), Tony Iommi (Black Sabbath), Mick Box (Uria Heep) e Mark Farner (Grand Funk Railroad).

Dentre eles, o que mais se destacou foi Blackmore, que tomou o comando musical do Deep Purple - na época, um dos muitos grupos centrados nos teclados de Jon Lord - depois de um malfadado e pomposo LP da banda junto à Royal Philarmonic Orchestra de Londres, gravado ao vivo no Royal Albert Hall.


A guitarra de Blackmore foi a grande responsável pela reabilitação do grupo no LP Deep Purple in Rock, também de 1970, a pedra de toque da virada musical que projetaria o Deep Purple como um dos expoentes do heavy.

Em 1975 ele abandonou a banda para formar o Ritchie Blackmore’s Rainbow, sendo substituído por Tommy Bolin (que tocara na James Gang e no LP Spectrum, do baterista Billy Cobham) por pouco tempo, pois este morreria de overdose no ano seguinte, um dos fatores que precipitaram o fim do Deep Purple.

Enquanto isso, Blackmore continuou fazendo sua fama no Rainbow (que aí já contava com Cozy Powell, ex-Jeff Beck Group, na bateria) através dos seus solos rápidos e riffs certeiros e das inovações que introduziu, como escavar o espaço entre os trastes de sua Fender Stratocaster, eliminando o atrito do dedo com o braço do instrumento e tornando as notas e acordes mais límpidos e precisos.

Este mesmo recurso foi usado posteriormente por John McLaughlin (em 1976), quando, ao dissolver a sua Mahavishnu Orchestra, montou o Shakti, um grupo acústico com um som baseado na raga indiana, no qual tocava um violão Gibson com escala escavada e um jogo de sete cordas colocado em diagonal com o tampo do instrumento, que vibravam em consonância com a nota definida no braço, à maneira da cítara. Mas esta era apenas uma das facetas do virtuoso instrumentista John McLaughlin.


Jazz + Rock = Jazz Rock – Nascido em 1942 na cidade inglesa de Yorkshire, John McLaughlin encontrava- se na ativa como guitarrista desde o início dos anos 60 no cenário do blues britânico, mas o seu reconhecimento mais amplo só chegou por volta de 1969, quando começou a participar de gravações que já anteviam a fusão de rock e jazz disseminada na década seguinte e da qual ele seria um dos principais representantes.

Dentre estas colaborações destacaram-se a com o Lifetime, do baterista Tony Williams, e especialmente aquela com o trompetista Miles Davis, registrada no álbum duplo Bitches Brew (1970), no qual Davis traçava as linhas mestras que pautariam o desenvolvimento do jazz rock.

Logo depois de gravar o seu terceiro disco solo, que contava com o baterista Billy Cobham e o violinista Jerry Goodman (ex-Flock), McLaughlin os recrutou para formar a Mahavishnu Orchestra junto ao baixista Rick Laird e o tecladista Jan Hammer.

Os conflitos internos que a banda atravessava, aliados à fase mística pela qual passava (influência de seu guru Sry Chinmoy, que o batizara de Mahavishnu), acabaram sendo motivos decisivos para o fim desta primeira formação, depois de seu terceiro disco, Between Nothingness and Eternity (1973).

Depois de um trabalho ao lado do também guitarrista Devadip Carlos Santana (outro discípulo de Chinmoy), McLaughlin reagrupra a Mahavishnu com músicos mais ou menos fixos em várias formações, das quais se destaca a que contava com a bateria de Narada Michael Walden e os teclados de Gayle Moran, com quem gravou Apocalypse (1974), com a participação da London Symphony Orchestra e a produção de George Martin.


A Mahavishnu Orchestra ainda duraria dois anos (e mais dois LPs), sempre seguindo a tendência da guitarra de McLaughlin de incorporar ritmos indianos à energia do rock e à improvisação do jazz, mas acabaria em 1976, quando McLaughlin renunciou ao seu nome de Mahavishnu e a seu guru.

O seu próximo passo foi uma aproximação ainda mais radical da raga indiana, através do grupo acústico Shakti, com o qual gravou três LPs. No final da década, McLaughlin voltaria ao som elétrico, formando um novo grupo - One Truth Band - e novamente voltando a excursionar.

Seu estilo técnico e racional, porém apaixonado, capaz de extrair fantásticos solos de sua Gibson Les Paul e de seu modelo de dois braços (de seis e doze cordas), além de instrumentos menos convencionais, consolidou o jazz rock enquanto vertente musical e influenciou guitarristas do porte de Larry Corryel, Al diMeola, Allan Holdsworth, Bill Connors, Steve Morse, o belga Philip Catherine e o norueguês Terje Rypdal entre outros. Assim, McLaughlin conseguiu provar que sua meta e muito mais além.


A Sinfonia do Rock Progressivo – Descendente direto de psicodelismo dos anos 60, o rock progressivo expandiu ainda mais os recursos técnicos à disposição dos guitarristas, o que se refletiu musicalmente por arranjos mais complexos, temas longos e solos elaborados, aliados à presença constante de resquícios de música clássica mesclados à eletrificação do rock.

Foi nessa época que se começou a aperfeiçoar os modelos de pedais já conhecidos, enquanto novos tipos de efeitos mais sofisticados (como o flanger, o chorus, o delay e o pedal de volume) eram difundidos entre os instrumentistas.

Dois dos grandes expoentes deste estilo foram David Gilmour e Steve Howe: o primeiro tomou o lugar de seu amigo Syd Barrett - guitarrista original e principal compositor da primeira fase do Pink Floyd - e gradativamente levou os arranjos do grupo para um modelo mais sinfônico, com destaque para os seus solos melodiosos e pródigos de efeitos; o outro entrou para o Yes substituindo o guitarrista Peter Banks e introduziu no grupo uma inédita complexidade instrumental, com firulas quase que barrocas na guitarra, pedais de efeito e intervenções acústicas.

Vários outros guitarristas destacaram-se neste estilo, sempre seguindo este mesmo preceito básico. Dentre eles, músicos como Steve Hackett (Genesis), Gary Green (Gentle Giant), Martin Barre (Jethro Tull), David Aellen e Steve Hillage (Gong) e, principalmente, o único que conseguiu transcender este estilo, mantendo-se na linha de frente da renovação musical até os dias de hoje: Robert Fripp.

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