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segunda-feira, janeiro 19, 2009

Aos 61 anos, Elton John ainda é um dos maiores astros do pop



Ele já vendeu 250 milhões de discos no mundo todo, é autor do single em CD mais vendido da história, dividiu o palco com John Lennon na última aparição ao vivo do ex-Beatle e, aos 61 anos, está no Brasil pela segunda vez em mais uma de suas megaturnês. Depois de um show fechado para patrocinadores na última quinta (15), o ídolo britânico cantou em São Paulo no sábado, no Anhembi, e nessa segunda se apresenta na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro.

Reconhecido mundialmente pelos figurinos espalhafatosos e por uma coleção de óculos interminável usados nos anos 70, Sir Elton John (o título de nobreza foi concedido pela Rainha da Inglaterra em 1997) revelou recentemente em entrevista ao "Fantástico" que passa por um de seus melhores momentos na carreira e na vida pessoal.

"Hoje estou mais tranquilo, não tenho mais preocupações. O fato de estar vivo, tocando, cantando, depois de tantos problemas, já é um lucro. Tenho 61 anos, estou compondo e criando coisas novas. Fiquei muito mais caseiro, minha vida está muito mais equilibrada do que antes", revelou o músico inglês, que já esteve no Brasil em 1995 e há anos dedica parte de seu tempo e dinheiro a causas sociais de combate a AIDS e ao câncer.

O pontapé inicial na carreira solo de Elton John foi dado em 1969, com o álbum de estreia "Empty sky". Até então, ele havia liderado uma banda chamada Bluesology e trabalhado com seu maior parceiro de composições, o letrista Bernie Taupin, como compositores para os artistas da gravadora DJM.

"Empty sky" não teve muito sucesso na Inglaterra, e o disco seguinte, "Elton John", parecia fadado a seguir o mesmo caminho até cair nas mãos do empresário Russ Regan, do outro lado do Atlântico. Diretor da Uni Records, que havia acabado de adquirir os direitos de John nos EUA, Regan se encarregou de promover agressivamente o então desconhecido cantor no país.

E o início do sucesso de John não poderia ser menos chamativo: para seu primeiro show promocional nos EUA, em 1970, Regan mandou um ônibus de dois andares vermelho buscar a banda e John no aeroporto, com um aviso escrito "Elton John chegou". "Nós estávamos morrendo de vergonha", disse John um ano depois, em entrevista à "Rolling Stone", mesma publicação à qual, em 1976, assumiria sua bissexualidade (foi um dos primeiros popstars a fazê-lo abertamente).

Dois dias depois daquele show nos EUA, uma resenha no jornal "Los Angeles Times" declarava: "O rock tem uma nova estrela" - e pelos anos seguintes, essa estrela seria Elton John.

O período entre 1970 e 1976 foi o momento mais fértil na carreira do cantor - foram dez álbuns em sete anos. Todos os álbuns de John entre "Honky château", de 1972 e "Rock of the Westies", de 1975 chegaram ao primeiro lugar nas paradas dos EUA. Para suas turnês, contava com um transporte especial: um avião particular, o Boeing 707 The Starship.

Boa parte dos hits da carreira do cantor vêm dessa época, incluindo "Rocket man" (nome da atual turnê), "Crocodile rock", "Bennie and the jets" e "Don't let the sun go down on me".

Os anos 80 viram Elton John consolidar sua fama e, ao mesmo tempo, afundar no vício em cocaína. John conta que ficava trancado em seu quarto, acompanhado apenas da droga. “Uma vez [o ex-Beatle] George Harrison foi até a minha casa, tentar me ajudar, e saiu de lá me xingando”, contou John à “Mojo”, em entrevista publicada em 2006.

É dessa época o disco que John considera o pior de sua carreira, “Leather jackets”, de 1986. O vício se estendeu até a década de 1990, mas John finalmente livrou-se dos problemas com drogas. Durante os anos 90, passou a dedicar-se a novos projetos. Com a trilha sonora do desenho “O rei leão”, da Disney, faturou um Oscar de melhor música, enquanto o musical baseado na ópera “Aída”, de Giuseppe Verdi lhe rendeu um Tommy.

A década também viu o luto de John ser reproduzido em escala mundial quando “Candle in the wind", homenagem à princesa Diana, morta em um acidente de carro, tornou-se um dos singles mais vendidos do mundo em 1997, perdendo apenas para “White Christmas”, de Bing Crosby.

Com um elogiado 29º disco (“The capitain & the kid”, de 2006, continuação autobiográfica de “Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy”, de 1975), Elton John chegou aos 60 anos com tranquilidade – incluindo a união civil com seu namorado David Furnish, em 2005.

E é com a mesma tranquilidade de quem é quase unanimidade na música pop, que Elton John deve subir ao palco no Rio e começar, mais uma vez nesses quase quarenta anos, a cantar seu primeiro hit, “Your song”.

Novas fotos de Madonna nua - e peluda! - caem na rede





Deleite para os fãs: mais fotos de Madonna nua caem na rede. Ao contrário do corpo supermusculoso que a cantora exibe hoje, em 1979, quando ainda era desconhecida, sua forma era de invejar. O único porém é que ela não era chegada a uma depilação... Uma das fotos do ensaio (aquela segunda à esquerda), irá a leilão por cerca de 15 mil dólares.

Vila Isabel ensaia com Martinho e miss Natália na Avenida




Martinho da Vila prestigiou o ensaio da Unidos de Vila Isabel: ele desfilará à frente da escola, na pele de João do Rio. A bela Natália Guimarães foi muito aplaudida pelo público. E depois de ser revelada ao sair com os seios à mostra no abre-alas, este ano Renata Frisson, a Mulher Melão, virá no chão.

Num ensaio técnico com arquibancadas lotadas, a Unidos de Vila Isabel contou com uma presença de peso neste domingo (18), ao atravessar a Sapucaí: o cantor e compositor Martinho da Vila. Depois de dois anos afastado do carnaval da escola, Martinho virá como o personagem João do Rio, apresentando o enredo “Neste palco da folia, é minha Vila que anuncia: Theatro Municipal – a centenária maravilha”.

Enquanto acenava para o público, que exibia bandeiras e faixas da escola, Martinho elogiava o clima mais solto e despretensioso dos ensaios.

“É uma coisa mais solta. Tem pessoas que gostam até mais do ensaio do que do desfile”, disse Martinho.

Miss esbanja simpatia

Outra que arrancou gritos da arquibancada foi a miss Natália Guimarães, que esbanjou simpatia à frente da bateria, onde desfilará pela segunda vez e já pensa em repetir a dose.

“Acho que nunca mais vou sair do carnaval”, disse a miss, que usava vestido e sandália dourados.

Já Renata Frisson, que ganhou a alcunha de Mulher Melão após desfilar com os seios à mostra no abre-alas da escola no último carnaval, desta vez virá no chão.

“Quero fazer a Sapucaí arrepiar”, prometeu.

Ex-BBB faz sua estreia

O elenco de musas da Vila será reforçado na Sapucaí também por Juliana Alves, a ex-BBB que se firmou como atriz na novela “Duas caras” e está no elenco de “Caminho das Índias”. Moradora de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, ela contou que sempre frequentou a escola, mas nunca tinha desfilado. Esta será a sua estreia na Sapucaí.

“Eu virei apresentando a escola. Foi um convite que me honrou muito”. contou.

A escola contará na Avenida os cem anos do Teatro Municipal, no Centro do Rio. Segundo o carnavalesco Alex de Souza, essa história será contada através de espetáculos como balé e teatro. Sobre a parceria com Paulo Barros, que não foi visto no ensaio, Alex era só elogios.

“Acho que é a união de dois estilos completamente diferentes. São duas visões do carnaval que vão se complementar”, disse o carnavalesco.

Samba na ponta da língua

As cores azul e branco tomaram a Sapucaí e os integrantes não desanimaram nem quando a chuva começou a cair, por volta das 21h20 do domingo (18). Eles ensaiaram movimentos sincronizados com as mãos e mostraram estar com o samba na ponta da língua.

A escola, que este ano não vendeu fantasias e dedicou todas as alas à comunidade, será a terceira a desfilar no domingo de carnaval, 22 de fevereiro, segundo cronograma da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa).

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Calhamaços de quadrinhos




Claudio Yuge

O leitor de quadrinho ou os iniciados estão acostumados a acompanhar histórias por meio de arcos ou de capítulos, sempre com aquela página final com o "a seguir..." deixando todos roendo as unhas, ansiosos pela continuação. A Companhia das Letras decidiu inovar e, logo na inauguração de seu selo dedicado à nona arte, o Quadrinhos na Companhia, anuncia três histórias publicadas em calhamaços lá fora: Blankets, de Craig Thompson; Bottomless Belly Button, de Dash Shaw; e Jimmy Corrigan: the smartest kid on Earth, de Chris Ware.

O interesse da Companhia das Letras é de longa data, vide o interesse nas obras autobiográficas como Maus, de Art Spiegelman, e Persépolis, de Marjane Satrapi; e no material de autores já bastante conhecidos do grande público, a exemplo dos álbuns de Tintim, de Hergé, e de Will Eisner. A vontade em ter um selo específico veio do crescimento do mercado e também da necessidade de readequação editorial para que quadrinhos teoricamente dirigidos para os leitores adultos pudessem ter mais espaço na empresa.

"A gente já editava coisas do Hergé, do Art Spiegelman, do Eisner, e tinha um projeto grande para os quadrinhos há um bom tempo. O selo foi criado porque a gente sentiu que esse é um momento de crescimento mundial e o retorno com nossa linha de quadrinhos foi dando certo gradualmente. Nós tínhamos um selo juvenil em que se encaixava os quadrinhos mas engessava muito o quadrinho adulto que a gente queria lançar e agora nós vamos poder", explica o editor-assistente da Companhia das Letras responsável pelo selo Quadrinhos na Companhia, André Conti.

O primeiro passo do selo é buscar novos leitores, sem também deixar de dar atenção para os já iniciados nos quadrinhos. "O Maus é um livro que sempre vendeu bem, tem uma boa venda constante, assim como Persépolis. É um tipo de literatura que as pessoas vão descobrindo toda hora. A intenção com o selo não é ir atrás somente dos leitores de quadrinhos, apesar do que vamos lançar são coisas que os leitores pedem há tempos, mas também conquistar novos leitores", diz Conti.

E o selo já inova neste início de atividades. Logo de cara, o Quadrinhos na Companhia anunciou três obras de autores pra lá de criativos e que dificilmente seriam publicados aqui devido ao tamanho de seus volumes. A divertida dramédia autobiográfica Blankets, por exemplo, tem 600 páginas. Já Bottomless Belly Button conta com nada menos que 720 páginas e a inventiva narrativa gráfica de Chris Ware supera as 380 páginas.

"Pro leitor de quadrinhos, um livro de 600 páginas assusta bem menos do que um romance de 600 páginas. Além disso, o Blankets tem pouco texto e qualquer um pode ler de uma vez só. Em Bottomless Belly Button, o Dash Shaw até mesmo diz para o leitor fazer pausas durante a leitura", comenta o editor do selo, que também promete manter o projeto gráfico original, já que essas produções exploram bastante o próprio projeto gráfico na narrativa.

Além desses três lançamentos de (literalmente) peso, estão programados o ótimo American Born Chinese, de Gene Yang; e Jubiabá, clássico de Jorge Amado adaptado pelo artista brasileiro Spacca. O selo também pretende lançar periodicamente material nacional a partir de parcerias entre escritores e ilustradores. O primeiro programado é Cachalote, da dupla Daniel Galera e Rafael Coutinho, que aprendeu bem como desenhar junto do pai, Laerte.

"Estamos selecionando junto com a RT/Features autores nacionais, sempre em dupla, escritores e ilustradores. Eles mandam algumas páginas, algo mais além de uma simples sinopse, e estamos avaliando outros lançamentos neste momento", adianta Conti. O Quadrinhos na Companhia promete lançar inicialmente nove títulos no próximo ano e mais nove em 2010. Os formatos devem variar bastante e a faixa de preço deve ficar entre R$ 40 e R$ 55.

The Pretender Rides Again


Nós, indo pra Parintins: Zemaria Pinto, Davi Almeida, Targino (um grande advogado e amigo, que morreu do coração, de repente, no final de dezembro passado. Que Deus o tenha em bom lugar, a despeito dele ser marxista confesso, mas nesses casos deve haver atenuantes), Paulo Marinho, Caio Almeida e esse vosso escriba

Deve ter sido em junho de 1986. A gente precisava dar uma agitada na livraria Cabocla, do escritor Rui Sá Chaves, que funcionava ali na Praça São Sebastião, no porão de uma casa colonial que – não lembro bem! – me parecia ser sede de uma escola de línguas (Yázigi? CCAA? Ibeu?). Combinamos que eu faria o lançamento de uma antologia dos meus cinco primeiros livros de poesia que, como quase tudo que escrevo, estavam esgotados. Batizamos a antologia de “Brinca comeu brinco”.

No dia combinado, uma sexta-feira, com a mídia dando a maior força, saí da Philco, onde trabalhava, lá no Distrito Industrial, por volta das 18h, com a incumbência de pegar os livros na gráfica do Toti, que ficava no caminho, na rua Ramos Ferreira, ao lado do restaurante Coqueiro Verde. Chegando lá, dos mil livros acordados, eles só haviam conseguido imprimir 50 exemplares. Não estressei. Coloquei a muamba dentro do carro e parti pra Cabocla.

Lá chegando, por volta das 19h, umas 50 pessoas estavam me esperando, porque espalhei nos jornais que ia haver birita de graça. Quando a turma chegou, por volta das 18h, o Rui Sá Chaves, claro, ficou aflito e falou que aquilo era assunto exclusivo meu, não tinha nada a ver com a presepada. A livraria, minúscula, estava botando gente pelo ladrão. Os putos (e as putas, evidentemente) não tinham ido lá pra comprar livro, mas pra beber de graça. E estavam numa secura de dar inveja a camelo fazendo o rally Paris-Dakar.

Democraticamente, deixei o Rui cuidando da venda dos livros e reboquei a moçada para o outro lado da praça, pro bar do Armando, a fim de cumprir a palavra empenhada. Pra quem já está fodido, toda pica é fina. O nosso objetivo, avisei logo de cara, era tomar cinco grades de cervejas, não mais do que isso. Eu pagaria o álcool. Iscas, cigarros e gorjetas, cada desesperado que fizesse sua parte. Fui aclamado de pé pelos cachorros.

A gente estava ali, naquela zoeira infernal, com quase dez mesas emendadas, quando chegou um sujeito, com meu livro na mão, perguntando pelo autor. Queria um autógrafo. Olhei com cuidado pros olhos do sujeito, por detrás de seus óculos de grau, mas não vi nenhum perobo em potencial. Que meda! Um autógrafo? Pois não, alguém tem caneta?...

Era uma emoção estranha. Autografar um livro? Que merda era aquela? Livro, a gente compra, lê e guarda, se gostar. Ou então joga fora. Ainda mais livro de poesia. Ainda mais conhecendo o autor do livro de poesia. Na verdade, o sujeito se chamava Zemaria Pinto. Também era poeta. Também era intelectual. Também era espada matador. Também era biriteiro. Também era de Santarém (como meu honrado pai). Pra gente virar amigos de infância, foi conta de multiplicar.

Esse nariz de cera todo foi só pra dizer que o Zemaria Pinto tem, hoje, um dos melhores sítios da blogsfera. Um não. Dois. Querem aprender a escrever poesia? Entrem lá. Querem ler coisas inteligentes? Entrem lá. Querem saber o que de melhor está acontecendo na cultura amazonense? Entrem lá. Querem delirar com os pintores mais espetaculares do planeta? Entrem lá. Querem dar pra mim? Entrem lá (depois o Zé me passa os e-mails...).

Não bastasse isso, Zemaria Pinto também é imortal – como o Fantasma-que-anda. O cachorrão, entre outras coisas, se transformou em membro (cabeça, tronco) da Academia Amazonense de Letras. Ele (e Tenório, Aldisio, Marcos Frederico, Élson, Thiago, Márcio, Aníbal et caterva) deu uma espanada na poeira e, papo sério, hoje a AAL é a coisa mais prafrentex que existe na faixa do Equador.

Então, meninos e meninas, se estão querendo novidades cliquem aqui ou aqui e façam boa viagem. Tenho dito.

BICA 2009: Renata, mulher ingrata


Sempre antenado com o que acontece nas quebradas da metrópole, o jornalista Raimundo Holanda já disponibilizou em seu blog a marchinha carnavalesca que os Fab Fours fizeram para o carnaval da Banda Independente Confraria do Armando (BICA), que desfila no sábado magro, pelo centro da cidade.

Clica aqui


RENATA MULHER INGRATA

(Mário Adolfo, Edu do Banjo, Mestre Pinheiro e Simão Pessoa)


Eu vou batê pra tu
Pra tu batê pro Arthur
Mulher é bicho bom
Mas às vezes dá chabú (BIS)

Rê, Rê, Rê, Renata
Dessa maneira, ingrata, você me mata
Você falou e disse
Depois disse que não disse
Cala-te boca deixa dessa babaquice
O meu dinheiro é honesto pra xuxu
E nem conheço nunca vi o tal Dudu
Agora pára de meter o pau em mim
Nunca peguei babita nem mamei no Prosamin

Ô tira o olho gordo
Do meu dinheiro
É por isso que Adail (Lalau)
Vive solteiro (BIS)

Sou ficha limpa
Estou fora de mutreta
Acontece que a mulher (mané)
É invenção do capeta
Quem vê cara não vê coração
Dalila cortou a peruca do Sansão
Amor de BICA às vezes faz mal
A tal Helena corneou o Menelau
Xica da Silva que botava o bicho em pé
Alisou o ouvidor que não é do TCE

Então presta atenção
Onde mete a BICA
A mocréia da Nicéia
Que botou no Pita (BIS)

Até parece que isso é castigo
Sarafa virou pai sem ter comido
Mamãe mamava na Assembléia
Nepotismo do Belão quase matou a véia
Negão de novo é um espanto
Foi a ingrata da Renata que afogou o Ganso

EU VOU BATÊ PRA TU...

O livro do ano – e do ânus, dos seios e da xana também!


A partir de agora, o leitor terá em mãos um livro corajoso, despudorado, terrivelmente provocador. Escrito por um jornalista e publicitário que é uma verdadeira navalha de irreverência, este Alô, Doçura! – Os protocolos secretos da AMOAL – que também poderia ter como subtítulo Guia do Politicamente Incorreto – vai excitar o leitor, irritá-lo às vezes, mas com certeza lhe arrancará sonoras gargalhadas, ainda que seguidas por alguma exclamação do tipo “pô, que cara escroto esse Simão Pessoa!”.

Mistura tropical de escabrosidades típicas de um Marquês de Sade com o humor irreverente do inglês Jonathan Swift, Simão Pessoa traça uma rota que começa em Lemúria e Atlântida e chega aos dias atuais para mostrar que o machão das antigas está mais vivo do que nunca. E escreve um interessante perfil biográfico dos principais grãos-mestres da Antiga e Mística Ordem dos Abatedores de Lebres (AMOAL): Giacomo Casanova, Don Juan de Sevilha, Georges Simenon, Jorginho Guinle, Porfírio Rubirosa, John Kennedy, Carlinhos Niemeyer, Vinicius de Moraes, Antonio Maria e Sergio Porto, entre outros.

Apesar do estilo “deixa-que-eu-chuto” da maioria dos capítulos, ninguém poderá negar que este livro é capaz de proporcionar momentos de divertida leitura e, ao mesmo tempo, levar a uma saudável reflexão – pela prática do livre pensar – a respeito dos muitos mitos e preconceitos enraizados, sobretudo pela mídia, na cabeça do povo.

O lado científico é abordado quando, por exemplo, se levanta uma interessante estatística de quanto sangue é necessário para a ereção de um pênis comum e como sofre um homem que, por acidente genético, tem um bimbo de proporções cavalares. Põe por água abaixo a vontade de (quase) todo homem ter um bilau do tamanho de uma sucuri adulta.

Desmistifica também o famigerado Ponto G que toda mulher sabe que tem, mas nem todo homem sabe onde achar. Qual não é a surpresa quando descobrimos que pode se fazer uma mulher chegar ao orgasmo até com a ponta do dedo mindinho.

Usuário incansável da Internet e pesquisador ávido das salas de bate-papo, o antenado Simão Pessoa vai mais fundo (sem dupla conotação) e dá orientações de como conduzir uma boa transa virtual. Imprescindível nos dias em que o membro fálico é substituído gradativamente pelo mouse. Trata-se de uma leitura obrigatória para os nerds que tremem só de pensar em “pegar” uma mulher de carne, osso, peitos e bunda.

Simão Pessoa vai dos temas-tabus, como o homossexualismo, a Aids e a ejaculação precoce, aos detalhes especiais para montar uma perfeita “festinha de embalo”, sem esquecer as dicas para ganhar uma mulher (no cinema, no shopping, na academia de ginástica, no cursinho ou faculdade, no estádio de futebol). E faz um verdadeiro tratado sobre posições sexuais, engraçadíssimo Kama Sutra de que constam movimentos tão sofisticados quanto o paso doble de Gardel, o saci pererê, o mountain bike, ou ainda o bêbado e a equilibrista.

O diferencial neste Alô, Doçura! é que todos os assuntos são tratados com deboche, escracho, irreverência, na contramão do consenso e do lugar-comum. Simão não teme que o chamem de machista, sexista, fascista, homófobo, politicamente incorreto: seu compromisso é com a alegria. Também não pede que concordem com ele: apenas exerce o direito de dizer o que quer.

É bom anotar que se, num momento, o livro trata as mulheres como um “porco chauvinista” – classificando-as em mocréias, jabiracas, mocorongas e outras estranhas espécies – logo depois sacaneia os homens dando dicas sobre como reconhecer variados tipos de cornos (o galeto, o cego aderaldo, o iô-iô, o besta-fera, o cachorro doido). E num dos mais divertidos capítulos (Casamento: você ainda vai ter um) debocha do machão, mostrando o quanto ele fica frágil e vulnerável ao se apaixonar.

Leia. Divirta-se. Comente. Presenteie seu melhor amigo. Mande para seu inimigo. Uns e outros podem até se chocar, mas vão rir muito também.

Serviço:
Alô, Doçura! – Os protocolos secretos da AMOAL, de Simão Pessoa.
Formato 21 X 27 cm, 350 pp e 18 ilustrações.
R$ 100,00

Solicitações:

simaopessoa@uol.com.br
simaopessoa@gmail.com

Samba & Poesia na Cidade Maravilhosa

Noite dos Interpretes no GRES Reino Unido


A Escola de Samba Reino Unido da Liberdade estará realizando nesta sexta-feira, dia 16 de janeiro, em sua quadra de ensaio, no Morro da Liberdade "A Noite dos Interpretes", com inicio às 21 horas. A programação contará com as seguintes atrações:

Grupos Resistência do Samba
Panela de Pré-Samba
Bateria Show da Escola

Este evento contará com a presença dos interpretes oficiais das demais Escolas de Samba de Manaus a convite de Wilsinho de Cima, o canário-mor do Reino Unido e organizador da festa. Todos os sambas de enredo das Escolas de Samba convidadas serão executados pelos seus respectivos interpretes, que também receberão da coordenação do Reino Unido uma comenda de Honra ao Mérito.

Segundo Wilsinho de Cima, este encontro entre os interpretes das Escolas de Samba de Manaus, é uma prova de reconhecimento e respeito por aqueles que emprestam a sua voz e sua arte para embalar as emoções dos amantes das diferentes bandeiras, que no fundo estão unificadas em uma bandeira única, a bandeira do samba.

Homem pagará apenas 5 reais, e mulher não paga.

SEGUNDO DESFILE TECNICO:

O segundo desfile técnico, neste próximo domingo, dia 18, sairá da Rua Amazonas, próxima a Igreja Coração de Maria, no alto do Morro. Concentração as 16hs, e às 17 horas começará a procissão do samba com destino a quadra. É o Morro em festa, neste domingo que passou, mais de quatro mil pessoas participaram do primeiro ensaio.

Maiores informações com Ivan de Oliveira (Dir.de Comunicação da Escola)

Tel. 9966.9758.

O diabo é viado!


E Deus fez a mulher...
Houve harmonia no paraíso.
O diabo vendo isso resolveu complicar...


Deus deu a mulher cabelos sedosos e esvoaçantes.
O diabo deu pontas duplas e ressecadas.
Deus deu a mulher seios firmes e bonitos.
O diabo os fez crescer e cair.
Deus deu a mulher um corpo esbelto e provocante.
O diabo inventou a celulite, as estrias e o culote.
Deus deu a mulher músculos perfeitos.
E o diabo os cobriu com lipoglicerídios.
Deus deu a mulher uma voz suave, doce e melodiosa.
O diabo a fez falar demais.
Deus deu a mulher um temperamento dócil.
E o diabo inventou a TPM.
Deus deu a mulher um andar elegante.
O diabo investiu no sapato de salto alto.
Então Deus deu a mulher infinita beleza interior.
E o diabo fez o homem perceber só o lado de fora.
Deus deu a mulher VINICIUS DE MORAIS para louvá-la
E o Diabo deu Bruno e Marrone, Zezé de Camargo e Luciano e outros para machucar sua sensibilidade.

Só pode haver uma explicação para isso:
O diabo é V I A D O!!!!!

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Confira os vencedores do Globo de Ouro 2009




Confira abaixo, em negrito, os vencedores do Globo de Ouro 2009

Melhor atriz coadjuvante em filme:
- Amy Adams – “Doubt”
- Penelope Cruz – “Vicky Cristina Barcelona”
- Viola Davis – “Doubt”
- Marisa Tomei – “The wrestler”
- Kate Winslet – “The reader”

Melhor canção original:
- “Down to earth” (Peter Gabriel) – “Wall-E”
- “Gran Torino” (Clint Eastwood, Jamie Cullum e outros) – “Gran Torino”
- “I thought I lost you” (Myley Cyrus) – “Bolt”
- “Once in a lifetime” (Beyoncé) – “Cadillac records”
- “The wrestler” (Bruce Springsteen) – “The wrestler”

Melhor ator coadjuvante em série, minissérie ou filme feito para a TV:
- Neil Patrick Harris – “How I met your mother”
- Denis Leary – “Recount”
- Jeremy Piven – “Entourage”
- Blair Underwood – “In treatment”
- Tom Wilkinson – “John Adams”

Melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou filme feito para a TV:
- Eileen Atkins – “Cranford”
- Laura Dern – “Recount”
- Melissa George – “In treatment”
- Rachel Griffiths – “Brothers and sisters”
- Dianne Wiest – “In treatment”

Melhor ator em série dramática:
- Gabriel Byrne – “In treatment”
- Michael C. Hall – “Dexter”
- Jon Hamm – “Mad men”
- Hugh Laurie – “House”
- Jonathan Rhys Meyers – “The Tudors”

Melhor atriz em série dramática:
- Sally Field – “Brothers and sisters”
- Mariska Hargitay – “Law and order: special victims”
- January Jones – “Mad men”
- Anna Paquin – “True blood”
- Kyra Sedgwick – “Closer”

Melhor longa de animação:
- “Bolt”
- “Kung Fu Panda”
- “Wall-E”

Melhor atriz em filme musical ou comédia:
- Rebecca Hall – “Vicky Cristina Barcelona”
- Sally Hawkins – “Happy-go-lucky”
- Frances McDormand – “Queime depois de ler”
- Meryl Streep – “Mamma mia!”
- Emma Thompson – “Last chance Harvey”

Melhor minissérie ou filme feito para a TV:
- “A raisin in the sun”
- “Bernard and Doris”
- “Cranford”
- “John Adams”
- “Recount”

Melhor ator coadjuvante em filme:
- Tom Cruise – “Trovão tropical”
- Robert Downey Jr. – “Trovão tropical”
- Ralph Fiennes – “A duquesa”
- Philip Seymour Hoffman – “Doubt”
- Heath Ledger – “Batman – O cavaleiro das trevas”

Melhor filme de língua estrangeira:
- “The Baader Meinhof complex” (Alemanha)
- “Everlasting moments” (Suécia/Dinamarca)
- “Gomorra” (Itália)
- “I’ve loved you so long” (França)
- “Waltz with Bashir” (Israel)

Melhor atriz em minissérie ou filme feito para a TV:
- Judi Dench – “Cranford”
- Catherine Keener – “An American crime”
- Laura Linney – “John Adams”
- Shirley MacLaine – “Coco chanel”
- Susan Sarandon – “Bernard and Doris”

Melhor roteiro de longa-metragem:
- Simon Beaufoy – “Slumdog millionaire”
- David Hare – “The reader”
- Peter Morgan – “Frost/Nixon”
- Eric Roth – “O curioso caso de Benjamin Button”
- John Patrick Shanley – “Doubt”

Melhor ator em série musical ou cômica:
- Alec Baldwin - “30 Rock”
- Steve Carell – “The office”
- Kevin Connolly – “Entourage”
- David Duchovny – “Californication”
- Tony Shalhoub – “Monk”

Melhor ator em minissérie ou filme feito para a TV:
- Ralph Fiennes – “Bernard and Doris”
- Paul Giamatti – “John Adams”
- Kevin Spacey – “Recount”
- Kiefer Sutherland – “24: redemption”
- Tom Wilkinson – “Recount”

Melhor série de TV – musical ou comédia:
- “30 Rock”
- “Californication”
- “Entourage”
- “The office”
- “Weeds”

Melhor trilha sonora original:
- Alexandre Desplat – “O curioso caso de Benjamin Button”
- Clint Eastwood – “A troca”
- James Newton Howard – “Defiance”
- A.R.Rahman – “Slumdog millionaire”
- Hans Zimmer – “Frost/Nixon”

Melhor atriz em série musical ou cômica:
- Christina Applegate – “Samatha who?”
- América Ferrera – “Ugly Betty”
- Tina Fey – “30 Rock”
- Debra Messing – “The starter wife”
- Mary-Louise Parker – “Weeds”

Melhor diretor de longa-metragem:
- Danny Boyle – “Slumdog millionaire”
- Stephen Daldry – “The reader”
- David Fincher – “O curioso caso de Benjamin Button”
- Ron Howard – “Frost/Nixon”
- Sam Mendes – “Revolutionary road”

Melhor ator em filme musical ou comédia:
- Javier Bardem – “Vicky Cristina Barcelona”
- Colin Farrell – “Na mira do chefe” (In Bruges)
- James Franco – “Segurando as pontas”
- Brendan Gleeson – “Na mira do chefe” (In Bruges)
- Dustin Hoffman – “Last chance Harvey”

Melhor filme - musical ou comédia:
- “Queime depois de ler”
- “Happy-go-lucky”
- “Na mira do chefe” (In Bruges)
- “Mamma mia!”
- “Vicky Cristina Barcelona”

Melhor atriz em filme dramático:
- Anne Hathaway – “O casamento de Rachel”
- Angelina Jolie – “A troca”
- Meryl Streep – “Doubt”
- Kristin Scott Thomas – “I’ve loved you for so long”
- Kate Winslet – “Revolutionary road”

Melhor série de TV – drama:
- “Dexter”
- “House”
- “In treatment”
- “Mad men”
- “True blood”

Melhor ator em filme dramático:
- Leonardo DiCaprio – “Revolutionary road”
- Frank Langella – “Frost/Nixon”
- Sean Penn – “Milk”
- Brad Pitt – “O curioso caso de Benjamin Button”
- Mickey Rourke – “The wrestler”

Melhor filme - drama:
- “O curioso caso de Benjamin Button”
- “Frost/Nixon”
- “The reader”
- “Revolutionary road”
- “Slumdog millionaire”

Prêmio especial Cecil B. DeMille:
- Steven Spielberg - conjunto da obra

Kate Winslet é consagrada com dois Globos de Ouro


A atriz Kate Winslet foi consagrada na 66ª edição do Globo de Ouro com dois prêmios. Ela recebeu a estatueta de melhor atriz de filme dramático por "Revolutionary road" e a de melhor coadjuvante por "The reader".

Visivelmente emocionada e surpresa, a atriz subiu ao palco para o discurso de agradecimento. "Desculpem-me. Perdoem-me", disse Winslet ao receber o segundo prêmio da noite, dirigindo-se às suas concorrentes, Angelina Jolie, Meryl Streep, Kristin Scott Thomas e Anne Hathaway.

Durante o discurso, ela também declarou seu carinho ao companheiro de set Leonardo DiCaprio: "Eu te amo há 13 anos, Leonardo". Em "Revolutionary road", os dois repetem o par romântico que os consagrou em "Titanic".

Os vencedores do 66º Globo de Ouro, prêmio que leva a assinatura da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, foram anunciados na noite deste domingo. O canal TNT transmitiu o evento, que teve como comentarista Rubens Ewald Filho. Considerada uma prévia do Oscar, a cerimônia acontece em Los Angeles e premia filmes, séries e minisséries de TV em 25 categorias.

"Foi incrível", diz pai de Heath Ledger sobre Globo de Ouro


Embora a família de Heath Ledger não tenha podido ir à cerimônia do Globo de Ouro, realizada no domingo (11), a homenagem oferecida ao ator, que ganhou um prêmio póstumo por seu trabalho em "Batman – O cavaleiro das trevas", foi recebida com orgulho.

"Estamos muito alegres por ele. Foi maravilhoso", afirmou o pai do ator, Kim Ledger, à revista “People”. Ledger, que vive na Austrália, alegou motivos pessoais por não ter comparecido à festa de premiação no Beverly.

Dessa forma, quem recebeu o prêmio de melhor ator coadjuvante em nome de Heath Ledger foi o diretor Christopher Nolan. "Aceitamos esse prêmio com muita tristeza, mas também com muito orgulho. Depois da morte do Heath, ficou um vazio no cinema", disse o cineasta. E completou: “Sentiremos saudades eternas, ele nunca será esquecido”.

Na premiação, Ledger derrotou Tom Cruise e Robert Downey Jr., ambos indicados por “Trovão tropical”, Ralph Fiennes, de “A duquesa” e Philip Seymour Hoffman, de "Doubt", que também concorriam.

A conquista do Globo de Ouro deixa Ledger –encontrado morto em sua casa, em Nova York –mais próximo de uma indicação ao Oscar por sua atuação em "Cavaleiro das trevas". A lista dos indicados à premiação da Academia será divulgada no dia 22 de janeiro, data em que a morte do ator completa um ano.

Tanto no Globo de Ouro quanto no Oscar, prêmios póstumos são uma raridade. Na história, apenas um ator ganhou uma estatueta após sua morte, Peter Finch, por "Network", em 1976.

Em vida, Heath Ledger nunca ganhou um Globo de Ouro nem um Oscar, apesar de ter sido indicado em 2005 por seu papel em "O segredo de Brokeback Mountain".

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Conradson 4Ever


Algum mês de 1961. Eu devia ter quase seis anos quando meu pai me acordou. “Trouxe um cachorrinho pra você cuidar. O nome dele é Conradson!”. Mal abrindo os olhos, eu olhei aquele bolo de carne que também mal conseguia abrir os olhos. Antes de sair do quarto, papai falou: “Ele está com dez dias de vida e mataram a mãe dele lá na Copam. Novinho desse jeito, só pode estar morrendo de fome!”.

Companhia de Petróleo do Amazonas (Copam) era o nome da empresa do ilustre empreendedor Isaac Sabbá, antes de ter sido encampada pela “Redentora”, em 64, estatizada na marra e virado Refinaria de Manaus (Reman). Meu pai trabalhava nela desde a construção da mesma, nos anos 50. Depois de trabalhar no canteiro de obras como motorista de caminhão, fez concurso e passou para o cargo de operador de máquinas. Ele se aposentou como chefe de seção da Reman em 1980. Uma vida dedicada à empresa.

Na época, me senti o próprio Zeus cuidando de Hércules. Um cachorrinho chamado Conradson. Achei o nome muito estranho. O filho (“son”) de Conrad. Estariam se referindo ao escritor definitivo de “Coração das Trevas”, que eu só iria ler muitos anos depois? Sei que, na época, muitos navios ingleses aportavam no porto da Copam. Mas quem, entre aqueles operários semi-alfabetizados da refinaria, o teria batizado assim? Algum marinheiro inglês? Nunca soube. Mas adotei o nome.

Nessa mesma noite, fiz leite Ninho, coloquei numa tampa da lata, esfreguei seu focinho no líquido e nada de ele lamber. Fiquei irritado. Abri sua boca sem presas e derramei a tranqueira lá dentro. Ele não regurgitou. Dormi abraçado com ele. Parecia um ursinho de pelúcia. Não juro, mas deve ser uma das poucas lembranças nítidas que ainda tenho de minha infância.

Crescemos juntos. Eu, morando na casa da Tia Maria e indo vê-lo nos finais de semana, para saber se estava tudo bem. Ele, cada vez mais atencioso com sua “ama de leite”. Eu crescendo e ficando cada vez mais franzino e raquítico. Ele se transformando em um leão africano e ficando cada vez mais desabusado. Um dos dois acabaria virando um vira-lata de respeito. O safado venceu: Conradson nunca obedeceu ninguém, além de mim. As mulheres deitam e rolam comigo. Fazer o que?

Entre outras esquisitices, o sacana desenvolveu o hábito, depois de adulto, de só comer se eu estivesse perto. Era capaz de fazer jejum de muçulmano durante o Ramadã até eu lhe autorizar a roer um osso. Fazia isso com parcimônia, olhando-me para saber se não era mais um blefe. Ou algum tipo de envenenamento promovido por algum dono de cadela onde ele vivia dando trabalho. Até hoje não sei quem puxou pra quem. Gêmeos univitelinos.

A gente morava na Waupés, hoje Castelo Branco, que era uma espécie de pantanal da alta-Cachoeirinha. Quando chovia, ninguém conseguia sair de casa sem meter o pé na lama. Durante o verão, o vento se encarregava de deixar as pessoas com uma leve cor amarelada. Pó de barro ou lama fedida, você escolhia. As pessoas não reclamavam. Achavam que aquilo era uma contingência da vida, tipo nascer alto ou baixo, ser negro ou branco. Destino. Comecei a ficar rebelde por causa disso.

Nossa casa era bonitinha, mas ordinária – como a maioria das casas do local. De madeira e zinco, no formato “água inteira”, com dois quartos, sala de jantar, cozinha, jirau e varanda. O banheiro ficava no quintal. Até os sete anos, eu vivia feliz ali, com meu “personal panda”. Depois, fui morar com Tia Maria, na Rua Parintins, entre a Waupés e a General Glicério, em uma casa no mesmo estilo. Dividia o quarto com meu primo-irmão Carlos Alberto, o “Cazuza”.

Da época em que morava com meus pais, lembro que todo dia, às seis da tarde, minha mãe fechava todas as portas e janelas, acendia em um dos ambientes uma vela espiral chamada “Boa Noite” ou “Sentinela”, e todo mundo saía de dentro da casa, enquanto a fumaça se espalhava pelos aposentos. Era aquilo ou ser comido vivo pelos carapanãs, piuns e meruins.

Lembro também de um cinema mambembe, que era exibido exatamente em frente de casa, com desenhos animados do marinheiro Popeye, do endiabrado Pica Pau, do Mickey, do Pato Donald e dos corvos Faísca e Fumaça. Não havia som, mas a gente curtia do mesmo jeito (eram os anos 60, pois não?). Nunca soube o nome do responsável pela façanha. Mas no dia em que assisti “Cinema Paradiso”, em São Paulo, chorei copiosamente ao lembrar do nosso deslumbramento infantil diante daqueles desenhos animados.

Um belo dia, uns cinco anos depois, parou um caminhão na frente de casa e meus tios Lucas, Adamor e José começaram a esvaziar o barraco. Tudo de útil foi colocado no caminhão. Menos o meu cachorro. Era um sábado de 1966. No domingo, estávamos morando numa casa de alvenaria na Rua Parintins, média-Cachoeirinha, construída no muque por papai e meus tios citados anteriormente. Do lado esquerdo, um terreno baldio, cheio de árvores frutíferas. Do lado direito, uma casa de alvenaria, também recém-construída, de um pessoal vindo de Eirunepé (“seo” Aluísio e dona Liney, pais da Conceição, Aluizinho, Zé Alfredo, Lucinha, Ioney e Aluney).

Três meses depois, como se tivesse vindo do inferno, eis que chega Conradson e começa a latir, desesperadamente, em frente da nova casa. As orelhas estavam sangrando. No centro da testa, um buraco cheio de tapurus. As pernas, em carne viva, mostravam as dentadas canibais herdadas da travessia em território inimigo. Rabo entre as pernas, ele apenas me olhava com carinho. E latia, latia muito, como um bezerro desmamado. Como é que o filho da puta havia chegado até ali, pra mim continua sendo um mistério semelhante ao da transubstanciação.

Meu pai, Simão Monteiro Pessoa, o “Velho” (ou “Pai Simão”, como era conhecido – e respeitado – na Copama), veterinário por correspondência (Instituto Monitor? Instituto Universal? Ele nunca me falou a respeito...), cuidou do sacana. Banho de creolina, injeção anti-rábica, pó Granado, benzetacil, essas tranqueiras. Seis meses depois, Conradson voltou a ficar bonito, se transformou em um vira-lata de classe mundial, e, sabe-se lá porque, passou a me devotar verdadeiramente uma amizade canina.

Todo mundo sabe que cachorros envelhecem numa proporção absurda se os comparamos com seres humanos. Pra cada dois anos do dono, eles envelhecem quatro. Isso significa que quando nos encontramos de novo, Conradson já era um guapo de quarenta anos, interessado nas boas coisas da vida. A vida começa aos quarenta, descobri meio tarde.

Criado solto, ele era a minha referência. De repente, o sacana começou a só circular com uma cadela (Babete? Betsabah? Belvedere?). Desconfio que ele deixou sua descendência em uma bela espécime, mas nunca pude confirmar. Passei vários meses sem vê-lo. Depois ele voltou, como se nada tivesse acontecido. E resolveu cair na vida. Saía para as esbórnias tradicionais, brigava, batia e apanhava, deitava e rolava nas cachorradas, mas depois voltava para as minhas pernas, intuindo que ser acariciado por mim era melhor do que tudo que havia experimentado. E, assim, nós fomos crescendo.

Estudando à noite na Escola Técnica Federal do Amazonas, eu, já molecão de 17 anos, me preparando para o vestibular, descia no ponto de ônibus, na Carvalho Leal com a rua Tefé, e lá estava o filho da puta me esperando. Onze horas da noite. Quando eu descia, o bandido, deitado de bruços pra cima, lubricamente, se levantava, eriçava o pêlo e começava a latir. Um velho safado. Bukowski.

Aí, saía disparado, correndo desesperadamente pela rua deserta, dava uma marcha-ré, voltava na mesma disparada e se jogava em cima de mim, tentando me lamber o rosto. Na maioria das vezes, eu me defendia com a mochila – e lhe arrebentava o focinho. Ele devia achar que aquilo fazia parte da brincadeira, porque iniciava um novo trote e voltava a fazer a mesma esculhambação. A gente morava a dois quarteirões dali.

Só que aquela manifestação de carinho, realmente, me enchia o saco. Quando eu dava um grito de guerra (“Conradson, caralho, pára com essa merda, filho da puta!”), ele se recompunha e saía trotando na minha frente. Fazer o quê, com um sacana desses, além de repartir minha “janta” com ele? Era o que eu fazia, antes de entrar em casa e dormir. Com ele preso entre as pernas, eu falava do meu dia-a-dia, e lhe servia parte do rango, que mamãe sempre deixava. Era o companheiro ideal, já que, diferente das mulheres que eu amava desesperadamente, não contestava nem discutia.

Às vezes eu o fazia colocar alguém pra correr, fosse alguém que eu não gostasse, fosse quem estivesse andando, suspeitíssimo, pela rua, naquela hora da noite. Ele me obedecia e fazia o maior escarcéu, latindo feito um monstro, avançando nos calcanhares, retrocedendo, mostrando as presas, rosnando. Um artista. Apesar de ser um vira-lata, se comportava como um pit-bull. Nunca soube como ele aprendeu aquela onda de saltar na direção de uma pessoa, como se pretendesse atingir a jugular – na verdade, o fuleiro queria lamber o rosto do sujeito. Era um puro. Os incautos, evidentemente, se borravam de medo. Observando de longe, aquele salto felino dava um medo do caralho. Papo sério.

O tempo foi passando. Eu já estava com 20 anos, trabalhava na Sharp do Brasil e havia saído de casa para morar com alguns amigos (Jaques Castro, César Abu, Rui Johnny Mathis, Lourenço Vovô) numa república meio vagabunda, lá no bairro de Santo Antônio, quando um dia cheguei à casa dos velhos para uma visita tradicional.

Meu pai estava preocupado. Conradson havia ficado violento. Preso numa pitombeira do quintal, ele rosnava feito um condenado. Eu me aproximei para acariciá-lo. O sacana tentou me morder, com uns olhos opacos de quem não reconhecia mais porra nenhuma. Papai, armado de uma doze, papo-amarelo, foi de uma sinceridade cruel. “Cachorros vivem até os 10 anos. Esse teu já tem quase 15 e ficou doente. Vamos ter que sacrificá-lo.”

Não fiquei pra ouvir o tiro, no meio da boca, morte instantânea, provavelmente indolor. Conradson foi enterrado no pé da pitombeira. Nunca mais quis saber de criar animais. Melhor assim.

terça-feira, janeiro 06, 2009

QUE TIPO DE INDIE É VOCÊ?


Lucio Ribeiro

Teve uma época, não faz muito tempo, que o indie era um ser bizarro, esquisito, de gostos estranhos, mas ainda assim um ser etéreo, que alguns até sabiam que existia, mas nunca tinham visto um. Ninguém, a não ser a turminha próxima, o conhecia e reconhecia como tal. Tempos depois, há uns quatro/cinco anos, o indie foi parar até na “Veja” (acho que a SP), que fez um daqueles toscos e estúpidos “o que é”, apontando o que vestia, calçava, quantos bottons precisava usar, onde ia, o que comia. O ser indie passava a ser real, ganhava uma cara perante as pessoas “normais”.

Hoje em dia, populoso e multiforme, tipo um monstrinho de vários tentáculos, nem eu entendo mais exatamente “o que é” o indie.

A cada ano que tem passado ele me impressiona. Sempre gostei do papo indie x mainstream e de perder tempo com isso. Só que hoje temos tantas vertentes para botar na roda que a discussão fica muito mais interessante. Sou só eu ou vocês também acham que em 2008 o indie NÃO morreu (como se previa)? É impressão minha ou ele passou por umas metamorfoses estranhas e…

Bom, sem querer abusar da manjada pauta antropológica “tribos”, mas já abusando, o “conselho Popload” listou aqui toscamente alguns do vários tentáculos indies que surgiram e/ou se fortaleceram neste ano. Você deve se encaixar em um deles. Ou não. Mas avisa aí qual é a sua para eu atualizar a lista. E claro, estamos de olho em 2009 para ver onde tudo isso vai dar:

* o indie-fenômeno: do tipo Mallu Magalhães. Não preciso nem resumir a história, essa você já cansou de ler. Quem será o indie-fenômeno nacional de 2009? A sua sobrinha de 6 anos? Ou vai ser aquela banda que acabou de se formar via Facebook, postou os links do MySpace no twitter e daí…

* o indie-folk: é só checar qualquer lista de melhores do ano e o neo-folk vai estar lá. O cara indie-folk é intelectual. Acha que festa em clubinho não está com nada. O que pega mesmo são as festas nas casas, com a turminha, (pouca) cerveja, (pouco) ‘clima de paquera’ e muita música. Além do novíssimo folk dos Fleet Foxes, ele também curte um indie-clássico (Pavement no máááximo), algumas obscuridades da MPB e barulhos experimentais e matemáticos. Tem um violão, escreve melodias e tem uma banda folk, mas também um projeto solo. Curte o visual lenhador: barba e camisa xadrez. Freqüenta as casas dos amigos e a festa quinzenal Folk This Town, no Bar B (Santa Cecília). Olha só o release da festa: “A Folk This Town abre espaço para os violões, sussurros e um clima mais intimista – nada de “pista fervendo”, o negócio é gente sentada, boa companhia e ótimo som.” Este sábado é a sua grande chance de engrossar o movimento. A turma indie-folk se apresenta na ótima festa La Pastie de la Bourgeoisie (detalhes acima)

* o indie-de-boa: aquele que tanto faz como tanto fez. Pode ser um cantor folk de quem ele nunca ouviu falar, uma banda qualquer de Pernambuco ou um trio sueco. Ele está em todas. Quer conhecer coisas diferentes e está aberto a novidades. Freqüenta o Studio SP, escuta a Oi FM e de dia veste a roupa de firma, mas à noite tira o All Star do armário.

* o indie-Global: é o fã da “banda da Capitu” (Beirut, para os íntimos). Ou da “banda do assobio da novela” (coitados dos Peter Bjorn & John). O indie que não sabia que era indie até ficar fissurado pela trilha do “Grey’s Anatomy”. Digamos que esse tipo de indie global, democrático e das massas, por assim dizer, chegou onde não se podia sonhar. Dos bombados seriados de TV internacionais, a reality shows culinários, passando pelas novelas globais, novelas não globais, trilha do “Fantástico”, comerciais e games.

* o indie-do-indie: de todas as “tribos” (ops, escapou) do indie, talvez a mais antiga delas seja a dos indie-do-indie, ou, os indie xiitas. E talvez seja também a mais confusa. Não querem ficar famosos, não querem reconhecimento, não querem virar capa de revista, não querem entrar em nenhuma lista de ”Melhores do Ano” e muito menos ganharem resenha no Pitchfork. Pense na festa Albatroz do Milo, na noite da Peligro no Neu e na Festa Mágica da Livraria da Esquina. Nada de música para cantarolar, ou aquela que você ouviu na rádio, ou aquele remix bombado… Nem pense em pedir Kings of Leon, por exemplo. E, se chamar o lugar de “baladinha rock”, não entra.

* o indie-contestador: adora reclamar. Acha que sua missão na Terra é exterminar o lado negro da força: o HYPE. Tal banda é fabricada, tal CD é mais do mesmo, leu na “Uncut” a “verdadeira” história da banda X, tal show é presunçoso, essa banda não vai durar um mês, a música não é mais como era antigamente, a molecada não sabe de nada, no meu tempo blablá… Esse é o cara que, entre o show do Jesus & Mary Chain e do Foals, escolheu o primeiro. Não sabe quem é Foals, não quer saber e cospe em quem sabe. Ele lê blogs de música, mas diz que é só para falar mal. Prefere comprar CD nas lojas, mas na verdade ainda não aprendeu a baixar mp3. Freqüenta shows de bandas ressuscitadas ou vai a discotecagens de integrantes de bandas ressuscitadas. De tão contra o indie, o indie-contestador acaba virando um indie-mor, um outro tipo de indie xiita (percebe para onde vão os tentáculos do indie?). Gosta de hip hop africano, metal árabe, e rádios neo-zeolandesas.

* o indie-publiça: galera publicitária e cheia da grana que dá (quase) a volta ao mundo correndo atrás de shows. Porque eles podem. E porque entre um cruzeiro nas Ilhas Gregas e uma passagem para ver Franz Ferdinand no clubinho The End em Londres, o último é muito mais interessante. A festa quinzenal Party Intima (no bar Audio Delicatessen) está cheio deles. É indie-coisa-fina.

* o indie-geek: ele sabe de todas as baladas, de todas as festas, de todas as estréias no cinema e de todos os novos torrents do dia. Assina todos os blogs que vê pela frente e é um poço de links: de vídeos bizarros no YouTube a links em primeira mão para todos os CDs que vazaram no minuto. Apesar de tudo isso, ou por causa de tudo isso, sai pouco. Quando sai. Bem mais “humilde” que o indie-publiça, na maioria das vezes não tem dinheiro para tanto festival acumulado, mas se contenta em ver tudo pelo YouTube alheio ou pelas coberturas do Twitter. É aquele que só faz mixtape para namorada se for via Rapidshare. Aliás, os dois só se encontram no MSN. Mesmo que trabalhem na mesma sala. O indie-geek adora com a mesma intensidade o seriado “Battlestar Galactica” e o DJ Yoda.

* o indie-fashionista: nem só de eletrônico vive o povo da moda, Brasil! Das trilhas dos desfiles às pistas fervidas, o indie bombou remixado. A pista só não vira passarela porque não tem espaço. Os indies-fashionistas se produzem como se cada passo fosse um flash. Como se cada DJ fosse um paparazzo. Carão, cabelão, glamour, montação, salto alto e pegação. A festa VAI, no Gloria, que o diga. O pretinho básico não é recomendado.

* o indie-carimbó: ele abomina a lambada, mas requebra o quadril ao som da banda indie Do Amor, que faz uma mistura nonsense de rock + lambada + technobrega + MPB. É carimbó distorcido, quase que um Calypso encontra Los Hermanos. E atenção! O Rio de Janeiro tomou pra si o movimento e migrou “a parada” para as pistas de rock. O culpado disso tudo é o DJ hype carioca João Brasil. Dizem que a deliciosa versão lambada (aka, “Tropical Remix”) que ele fez para “Left Behind” do CSS coloca fogo na pista. Já foi nas explosivas Festa Calzone, que costuma rolar em Botafogo?

* o indie-festa: é trabalhador, responsável, mas… bebe até cair, sai todos os dias, vai para o trampo direto da balada, se joga no karaokê rock, adora bancar o DJ nas festas dos amigos, abraça geral e adora demonstrações públicas de afeto. Um fanfarrão. Dá uma espiada na festa Funhell da Funhouse ou na picape da festa CREW do Gloria. Sim, a festa pega dentro da picape mesmo.

* o indie-porra-lôca: ele simplesmente extrapolou na fase indie-festa. Faz todas as coisas acima, mas nunca sabe quando parar. Adora palavrões, barraco e rock n rolllll garageiro. Dança fazendo chifrinho com as mãos, fazendo air guitar. Desceu a Augusta, passou pelo Inferno, caiu na OUTS, entalou no banheiro e por aí vai. Lê o blog do Finatti.

* o indie-celebrity-stalker: não costuma sair muito de casa, mas se ele souber do menor boato que a banda X vai ao lugar Y, ele corre. Atravessa a cidade para encontrar o Michael Stipe na pista e fingir que não sabe que é o Michael Stipe na pista. Música aqui é o de menos. O que vale é dançar com a Madonna, dividir a champagne com o MGMT ou segurar a porta do banheiro pro Michel Gondry. O indie-stalker se deslumbra, mas mantém a pose. Não tira fotos e prefere fazer a íntima. Solta um “bye Michael!” no final. Freqüenta - se estiver na lista, claro - o “Bar Secreto”, o bar que continua “sem nome”, mas já não é mais secreto.

* Você deve estar perguntando onde eu entro no meio disso tudo…

Literatura e negritude em imagens e sons




Duas mostras com diferentes abordagens marcam o início do ano para o circuito alternativo audiovisual de Fortaleza

por Fábio Freire

Atualmente o cinema é essencialmente narrativo e tem como um de seus pilares contar histórias. Mas ainda que essa característica domine a cinematografia mundial, a sétima arte não deixa de ser um campo fértil para a experimentação de linguagens ou a reflexão sobre determinadas temáticas, mesmo que para isso os filmes usem como sustentação tramas lineares com começo, meio e fim.

Se o público está acostumado a perceber o cinema como uma linguagem narrativa, o melhor a fazer é usar histórias e a conduta de personagens para experimentar a própria estrutura do cinema ou usá-lo como instrumento para levantar questões sobre assuntos sociais, culturais, políticos, ideológicos etc. O cinema faz isso como nenhuma outra forma de arte, atingindo um imenso público ao redor do mundo e superando as mais diversas barreiras: geográficas, culturais e linguísticas.

Temática negra

Duas diferentes mostras que têm início essa semana em Fortaleza vêem a sétima arte através dessas perspectivas. No Centro Cultural Banco do Nordeste, o cinema é utilizado como uma ferramenta para discutir a consciência negra. Três filmes serão exibidos durante todo o mês de janeiro, às terças-feiras, a partir de hoje, e apresentam aspectos diversos da temática negra, no formato ficção ou documentário.

Em “Xica da Silva”, o diretor Cacá Diegues usa suas lentes para lançar um olhar sob uma importante personagem da história brasileira, uma sensual escrava que modifica as estruturas da corte em meados de 1750 ao seduzir o governador e se tornar a “primeira dama” da próspera Diamantina, em plena época de exploração da mineração. Cinema com viés histórico. Seguindo linha semelhante, o documentário “Terras de Quilombo, Uma Dívida Histórica” procura desvendar a “ressemantização” do termo “quilombo” na literatura especializada através do estudo das comunidades negras rurais de Alcântara, no Maranhão.

O neoclássico “Cidade de Deus” foge de uma visão histórica e assume uma perspectiva de caráter mais sociológico para, através da trajetória de dois personagens, discutir as relações sociais dentro do contexto de uma favela, mais especificamente a Cidade de Deus, um dos bairros mais temidos e violentos do Rio de Janeiro. Três produções que, de algum modo, refletem sobre o papel do negro, seja na sociedade atual, seja no período da escravidão.

Dos livros para as telas

Sem uma ligação tão aparente entre os filmes que serão exibidos também durante o mês de janeiro, o Cineclube da Vila apresenta quatro produções bem distintas entre si, abordando assuntos diferentes, mas que têm em comum o fato de serem adaptações literárias. Na mostra “Literatura em Cinema”, que começa amanhã e prossegue todas as quartas-feiras do mês, o cinema pega emprestado não só a estrutura literária para construir sua própria linguagem, como também usa a literatura como importante fonte de inspiração.

Dessa forma, a inconfidência mineira, a experiência de um preso político na prisão, a revolução cubana e uma sociedade totalitária de uma ficção científica pulam das páginas de livros, célebres ou não, e ganham imagens em movimentos e sons nos filmes da mostra, que abre amanhã com o filme nacional “Os Inconfidentes”, contando com a presença do pesquisador em Literatura Brasileira e Estudos Culturais, Marcelo Magalhães Leitão, em debate após a exibição do longa. No filme de Joaquim Pedro de Andrade, diálogos montados a partir de recortes de Cecília Meireles e de poemas dos próprios protagonistas da insurreição, além de trechos dos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, servem como retrato da época.

Aproveitando os 50 anos da Revolução Cubana de 1959, “Memórias do Subdesenvolvimento”, de Tomás Gutiérrez Alea, apresenta um retrato lúcido e poético de Cuba no começo dos anos 1960, baseado no romance homônimo do escritor Edmundo Desnoes. Considerado um clássico do cinema latino-americano, o filme, que mistura recursos do documentário e da ficção, acompanha os rumos da revolução pelo olhar de um homem que aos 38 anos se vê subitamente sozinho em Havana, depois que a mulher e os pais resolvem migrar para os Estados Unidos.

Já “Memórias do Cárcere” é baseado em clássico homônimo da literatura brasileira. O filme de Nelson Pereira dos Santos segue os passos do escritor Graciliano Ramos, então diretor de instrução pública de Alagoas, durante o período em que foi preso pela polícia política de Getúlio Vargas e enviado, no porão de um navio, para o Rio de Janeiro. Sob a acusação de ter participado da Aliança Nacional Libertadora, a frente ampla de combate ao governo Vargas, passou onze meses na cadeia, parte deles na Colônia Correcional da Ilha Grande.

Encerrando a programação, a mostra “Literatura em Cinema” deixa de lado as tramas baseadas em histórias ou contextos reais e se inspira em um livro de ficção científica de Ray Bradbury. Referência no gênero, “Fahrenheit 451” mostra uma sociedade totalitária de um futuro não tão distante, onde bombeiros têm por função queimar todo tipo de material impresso, considerado como propagador da infelicidade.

PROGRAMAÇÃO

CONSCIÊNCIA NEGRA

Xica da Silva
(BRA, 1976), direção de Cacá Diegues
A extraordinária trajetória da sensual escrava negra em 1750 que seduz o governador, torna-se a ´primeira dama´ de Diamantina e vira a corte de pernas para o ar
Hoje - 10h30
Dia 13 - 12h55
Dia 20 - 18h15.

Terras de Quilombo, uma dívida histórica
(BRA, 2000), direção de Murilo Santos
Documentário sobre as comunidades negras rurais de Alcântara, no Maranhão, que discute a ´ressemantização´ do termo ´quilombo´ na literatura especializada
Hoje - 12h55
Dia 13 - 18h15
Dia 20 - 10h30.

Cidade de Deus
(BRA, 2002), direção de Fernando Meirelles
O crescimento do conjunto habitacional Cidade de Deus, entre o fim dos anos 1960 e começo dos 80, pelo olhar de dois jovens da comunidade. Indicado a vários Oscar, inclusive de melhor direção
Hoje - 17h45
Dia 13 - 10h30
Dia 20 - 12h45.

LITERATURA EM CINEMA

Os Inconfidentes
(BRA, 1972), direção de Joaquim Pedro de Andrade.
O filme relata os eventos que passaram a ser conhecidos historicamente como Inconfidência Mineira. José Wilker interpreta Tiradentes no filme
Amanhã (7) - 18h30.

Memórias do Subdesenvolvimento
(CUBA, 1968), direção de Tomás Gutiérrez Alea.
Retrato lúcido e poético de Cuba no começo dos anos 60. Alea oferece um olhar ao mesmo tempo carinhoso e crítico sobre os rumos da revolução cubana
Dia 14 - 18h30.

Memórias do Cárcere
(BRA, 1984), direção de Nelson Pereira dos Santos
Baseado no livro de Graciliano Ramos, que conta a experiência do próprio escritor quando este foi preso pela polícia política de Getúlio Vargas
Dia 21 - 18h30.

Fahrenheit 451
(FRA, 1966), direção de François Truffaut
Inspirado no livro de Ray Bradbury, o filme é uma ficção científica com linguagem bastante peculiar, mostrando uma sociedade totalitária de um futuro não muito distante
Dia 28 - 18h30.

Mais informações:

Imagem em movimento, série Consciência Negra, todas as terças-feiras de janeiro, no Centro Cultural Banco do Nordeste, Rua Floriano Peixoto, 941, Centro. Fone (85) 3464.3108. Grátis.

Cineclube da Vila, mostra Literatura em Cinema, todas as quartas-feiras de janeiro, sempre às 18h30, na Vila das Artes, Rua 24 de Maio, 1221, Centro. Fone: (85) 3252.1444. Grátis.

Funk poderá ser expressão da cultura brasileira



O funk carioca está prestes a receber uma proteção legal em que fará parte oficial da cultura brasileira, e tornando a discriminação ao estilo ação ilegal, segundo o site NME. O projeto define o funk como forma de manifestação cultural popular e determina que o Poder Público garanta as condições para a democratização da sua produção e veiculação musical.

No entanto, críticos que argumentam que o funk faz apologia ao consumo de drogas, ao crime e ao sexo precoce estão se manifestando contra a proposta do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

O jornal britânico The Guardian divulgou na última semana que uma lei para proibir "nenhum tipo de discriminação social, racial ou cultural contra o movimento funk e seus seguidores" deve ser votada em 2009.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) é um dos autores do projeto, e declarou:

– Não há enorme resistência. O funk envolve 1 milhão de jovens a cada fim-de-semana, mas o público continua diminuindo.

No entanto, a polícia segue interrompendo bailes funk no Rio de Janeiro em função do tráfico de cocaína nessas regiões. Por isso, é possível que o projeto de lei ainda seja criticado pela oposição, mas provavelmente não passará de 2009.

Prince anuncia três novos álbuns para 2009


O norte-americano Prince disse em entrevista para o jornal “Los Angeles Times” que pretende lançar três diferentes álbuns de inéditas durante o ano de 2009. Dois discos serão assinados apenas por Prince, enquanto o disco Elixir será feito em parceria com sua protegida Bria Valente, segundo o site G1.

Os outros dois discos do cantor devem se chamar MPLSOUND e Lotus Flower. Prince diz que não vai assinar com nenhuma grande gravadora, e deve lançar os álbuns de forma independente,c om a distribuição a cargo de alguma grande rede de varejo.

MPLSOUND é um disco com influências de electro, em que Prince quer experimentar com “novas formas de gravação”, e conta com uma participação do rapper Q-Tip, do grupo A Tribe Called Quest. Lotus Flower deve soar mais voltado parar o rock, com guitarras – o disco foi tocado em dezembro de 2008 pela rádio norte-americana Indie 103.1. Já sua parceria com Bria Valente deve lembrar o trabalho da cantora Sade.

Madonna e Timberlake lançarão novo dueto


Segundo o site Madonna Online, mais um dueto de Justin Timberlake com Madonna será lançado. A canção chama-se Across the Sky e não entrou no mais recente álbum da cantora, Hard Candy. A música fará parte do novo álbum do produtor Timbaland, que será lançado no dia 14 de fevereiro, nos EUA.

Os fãs de Britney Spears também podem aguardar novas músicas em edições especiais de seu álbum Circus. O blog The Thomas Crown Chronicles, especializado em trazer informações sobre Timbaland e seus parceiros, afirma que existem duas músicas inéditas da cantora, produzidas por Danja – responsável por outros hits da cantora, como Gimme More (Blackout) – intituladas Abroad e Take the Bait.

Ingleses elegem Plant como a maior voz do rock


Fãs de música ingleses votaram em Robert Plant como o dono da maior voz do rock mundial. O eterno vocalista do Led Zeppelin superou Freddie Mercury (Queen), que ficou em segundo lugar, Paul Rodgers (Free/Bad Company), o terceiro colocado, e Ian Gillan (Deep Purple), o quarto, no ranking elaborado pelos ouvintes da Planet Rock.

Surpresas: Mick Jagger (Rolling Stones) ganhou a 9ª posição, Bono (U2) a 18ª, enquanto Elvis Presley, John Lennon e Paul McCartney (Bealtes), Joey Ramone, Johnny Rotten (Sex Pistols), Iggy Pop, Morrissey, Kurt Cobain (Nirvana) e Black Francis (Pixies) ficaram fora da lista.

Veja o top 20:

1. Robert Plant (Led Zeppelin)
2. Freddie Mercury (Queen)
3. Paul Rodgers (Free/Bad Company)
4. Ian Gillan (Deep Purple)
5. Roger Daltrey (The Who)
6. David Coverdale (Whitesnake)
7. Axl Rose (Guns N' Roses)
8. Bruce Dickinson (Iron Maiden)
9. Mick Jagger (The Rolling Stones)
10. Bon Scott (AC/DC)
11. David Bowie
12. Jon Bon Jovi (Bon Jovi)
13. Steven Tyler (Aerosmith)
14. Jon Anderson (Yes)
15. Bruce Springsteen
16. Joe Cocker
17. Ozzy Osbourne (Black Sabbath)
18. Bono (U2)
19. Peter Gabriel
20. James Hetfield (Metallica)

Além disso, Plant foi honrado com o prêmio Commander of the Order of the British Empire, no último dia 31, ao lado do escritor Terry Pratchett e do piloto de F-1 Lewis Hamilton.

sábado, janeiro 03, 2009

Paixões e contradições cubanas


Dellano Rios

Naquele 1° de janeiro de 1959, quando os guerrilheiros revolucionários tomaram o poder do general Fulgêncio Batista (1901 -1973), Pedro Juan Gutiérrez tinha nove anos.

Suas memórias, portanto, abrangem dois momentos da ilha: quando era um bordel mal disfarçado para desfrute dos falsos puritanos dos EUA, e quando o regime socialista transformou o país política, econômica e culturalmente. Memórias que o autor imprime na literatura que produz.

Pedro Juan Gutiérrez é um dos mais afamados escritores cubanos da última década. Por méritos literários próprios chamou a atenção do público de línguas espanhola e portuguesa.

A crítica - por “sugestão” de algum editor esperto - conferiu-lhe o rótulo de Charles Bukowski latino-americano. Comparação fácil que se sustenta no trato de um e de outro com o submundo das sociedades em que estão inseridos.

No entanto, Gutiérrez é bem mais que a adaptação de um modelo para um outro contexto. Diferente de Bukowski, o cubano não pode se desviar das questões políticas que o cercam (política aqui pensada da maneira mais tradicional possível). Ao equacioná-los em sua literatura, o escritor acaba produzindo um documento singular.

Em seus romances e contos, o leitor não vai encontrar uma leitura maniqueísta da realidade cubana. Da maneira como Pedro Juan Gutiérrez descreve a ilha, Cuba é um grande palco de contradições.

Por meio de sua prosa, o autor pinta um quadro raro, que não coincide com a visão detratora, que quer enxergar uma grande favela de 11 milhões de habitantes, governada com mão de ferro por um comunista louco. Nem com o pequeno paraíso terrestre, invejado por simpatizantes de todas as latitudes.

Um discurso amoroso

Grosso modo, os dramas humanos de que fala Pedro Juan Gutiérrez se dão nas partes mais miseráveis da ilha, marcados por sexo, álcool e outros abusos. À primeira vista pode parecer uma perspectiva pessimista. No entanto, é possível encontrar um olhar amoroso em obras como “Trilogia suja de Havana” (1998), “O Rei de Havana” (1999) e “Animal tropical” (2000).

Marcadamente autobiográficos, os romances reconstituem os momentos de crise que o país enfrentou, nas décadas de 80 e 90. Seus protagonistas transitam por um submundo ao mesmo tempo brutal e romanticamente boêmio.

Gutiérrez é um apaixonado pelo povo cubano. É um observador crítico da ilha, mas não vê seu destino como uma degradação de seu povo. Prova disso é o estranho “Nosso GG em Havana”, editado no Brasil em 2008, pela Alfaguara/ Objetiva.

No livro, o escritor abandona sua perspectiva de retratar a Cuba pós-revolução e convida o leitor para visitar a ilha dos anos 50, às vésperas da tomada de poder pelos comunistas. O retrato que se vê é mais turvo que a sujeira que serve de musa para o escritor.

O Boi da Faceira


Melquíades Júnior

Lá vem boi, aiá, vem boi nós queremos ver. E quando dá fé o boi já vai longe, e fica registrado para ninguém esquecer que o Boi Pai do Campo da Faceira chegou para ficar, ir, passear e voltar. Agora Mestre Chico e sua turma deram de aparecer na televisão, na tela do cinema.

O documentário “Brinca Faceira”, produzido e recém-lançado em Limoeiro do Norte, pelo programa Petrobras Cultural, mostra a história, canções e precursores do bumba-meu-boi da comunidade limoeirense de Faceira. A produção audiovisual faz um dos poucos registros que se tem do folguedo que tem mais de dois séculos nas ribeiras jaguaribanas.

Feito a água do rio que desce, a brincadeira do bumba-meu-boi foi passando de geração para geração, povoado para povoado, até bater no município de Russas e, daí, para onde hoje é Limoeiro do Norte, na localidade de Faceira. Foi quando João Caboclo construiu com suas próprias mãos o boi, feito de ripa de madeira assada. João é o tio do atual Mestre da Cultura Chico Nogueira e o principal incentivador do auto do boi no lugar.

“Lembro quando vi pela primeira vez, com medo do dotô e da Catirina, subi na biqueira de uma casa com medo dela. Era uma grande algazarra, num tinha criança que ficasse parada, todos corriam em disparada louca”, fala o brincante João Caboclo - poucos anos antes de morrer - em entrevista ao compositor Eugênio Leandro, também de Limoeiro do Norte, produtor e principal idealizador do documentário.

O filme começa no ano de 1995, quando Eugênio visita a comunidade de Faceira já decidido a realizar ali um grande projeto audiovisual. Até então vivo, João Caboclo, “rapaz velho” (como chamam os homens ‘de idade’ que nunca casaram) respeitado pela comunidade Faceira, conta como começou o boi pai do campo e as brincadeiras. Era tudo menino dançando no terreiro, animando festa de casamento, festa junina ou somente a própria alma, quando não tinha o que comemorar.

Enquanto mostra um por um dos atuais integrantes do boi-bumbá, o documentário insere pesquisadores da cultura local como padre Francisco Pitombeira, escritor Gilmar Chaves (atualmente secretário da Cultura de Limoeiro), professor (hoje vice-governador) Francisco Pinheiro, o pesquisador das expressões culturais Osvaldo Barroso, sociólogo –“o boi faz parte do inconsciente coletivo da comunidade”. É na frente da câmera que também se dá o diálogo de brincantes de comunidades diferentes, quando Chico Nogueira e Antonio Manoel, do boi-bumbá do município cearesnse de Quixeré, relembram como era “o boi de antes, para o de agora”.

Singularidades

Foi trabalho de pesquisa e suor situar as singularidades do boi-bumbá da Faceira, em meio a tanta boiada de reisado pelo país. Ainda assim, conforme o professor Pinheiro, “não encontramos cultura do boi sem a cultura da pecuária”. E gado era o que não faltava pelas paragens do Rio Jaguaribe, visto que em 1763 estavam registradas mais de 600 fazendas de gado nos terrenos marginais.

Se o boi historicamente esteve inserido na economia migratória (interiorizando o sertão, a pecuária difundiu-se pelos povoados), não é difícil entender que entrou nas expressões culturais de seus dependentes, o que pode ser conferido nos bois de Manaus, Maranhão, Ceará, sempre com um pé na cozinha, ou na oca, e o outro na sala (nos anos 1600, o “boeuf-gras” francês, depois restabelecido por Napoleão Bonaparte, saía coroado em cortejo pelas ruas, homenageando pessoas nas portas de suas casas).

Brinca Faceira é o primeiro documentário de Eugênio Leandro e Vera Costa, sua irmã e co-produtora do filme. Mais do que a qualidade técnica do trabalho (com alguns pequenos erros primários), seu maior mérito está na preocupação com o registro histórico do tradicional reisado, que nos alimenta a esperança no flagrante de crianças tão pequenas cantando e fazendo valer o boi. Mas não basta filmar, tem que interagir com o filme: o programa Petrobras Cultural, que contemplou 171 entre 3.380 projetos de audiovisual de todo o país.

E Boi Pai do Campo da Faceira não sai da tela, mas vai para todo lugar. É um verdadeiro cortejo circular da comunidade limoeirense que teima em preservar o boi, cantando a sátira, o trabalho, a terra, o amor. Os versos curtos rimados da boca sem dente de seu José Romão caem no inconsciente musical popular .

O boi remendado de pano, arames e cano PVC faz que vai-não-vai para cima do povo. Mostra que dentro de todo boi há um homem. Ou que dentro de cada homem há um boi.

Sonho, ritmo e lirismo


Quando participou de uma turnê com a cantora baiana Maria Bethânia, ao longo do ano passado, levando para 40 mil pessoas do país um pouco da musicalidade cubana, Omara Portuondo concretizava o sonho de milhões de brasileiros, encantados com sua performance no filme “Buena Vista Social Club”, de Wim Wenders, feito dois anos após o lançamento de um álbum em que o produtor norte-americano Ry Cooder promoveu a redescoberta de um grupo de intérpretes, músicos e compositores que traduziram para os dias de hoje um pouco do clima musical que rondava a ilha caribenha nos tempos pré-revolucionários.

Neles, os ritmos mais dançantes do “són” e de variações da música norte-americana derivada do jazz e do blues conviviam de perto com o lirismo de ritmos latinos ali também instalados como o bolero ou o mais autóctone “guajira”.

O sucesso mundial de “Buena Vista Social Club” promoveu a concretização do sonho de um grupo de grandes músicos cubanos: Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo, Compay Segundo, Rubén González, Eliades Ochoa, entre outros, de mostrar novamente sua música, inclusive fora de seu país.

O sucesso do grupo pode ser medido pelo relançamento do álbum, no ano passado, pela primeira vez com o libreto original de sua edição inglesa, 48 páginas com muitas imagens da gravação e traduzido para o português (inclusive as letras).

Paralelamente, a gravadora MCD lançou no país o último registro de Ferrer (1927-2005), “Mi Sueño”, referência ao desejo do cubano de ter um álbum só de boleros, e ainda “Flor de Amor”, de Omara Portuondo. Infelizmente, a edição brasileira confirma o desaparecimento de grande parte dos sonhadores cubanos.

No primeiro, Ferrer nos brinda com clássicos como “Perfídia” e “Dos Gardenias”, entre Roberto Fonseca (piano), Cachaíto López (baixo) e Manuel Galbán (guitarra). Já a amoroso repertório de Omara chegava entre músicos brasileiros e cubanos. Corram atrás.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Hip Hop made in João Pessoa



O Sete Cruzes, grupo de hip hop integrado por Índio (voz), Alderir Santos (voz / percussão) e Góes (baixo), foi formado em 2002, em João Pessoa, capital da Paraíba, e trata com hostilidade temas que são tabus na sociedade. O rap associado a elementos percussivos, referências ocultistas e influências musicais diversas formam uma sonoridade tribal, sombria e subversiva.

Em 2003, eles gravaram o álbum Hipnose Coletiva, uma produção independente pelo selo próprio Taturana, com a participação de vários artistas do hip hop local. Com repercussão positiva em boa parte do Nordeste, o álbum também foi matéria de destaque no Jornal da Paraíba, na revista Trip (com resenha do antropólogo Hermano Viana) e nos sites Qix, Enraizados e Bocada Forte.

Uma apresentação a se destacar aconteceu no II Hip Hop Nossos Valores, festival realizado no Sesc-Centro, de João Pessoa, em setembro de 2004.

Em seguida, no final de 2005, foi feito um intercâmbio com o selo suíço PRO-12 (do produtor hondurenho Cholo Loco), que resultou na gravação de uma nova versão da música Breus, do primeiro CD. Esse novo registro contou com a participação do rapper Nek-1 (one), de North Zürich, que rima em suíço-alemão.

O single Anjo Negro teve seu lançamento em setembro de 2007, no formato de um CD multimídia com Breus, mais o clipe de Reação – música do primeiro CD –, e a faixa-título, que aponta para uma nova fase da insanidade criativa do grupo.

No final de 2008, eles lançaram o 2º album, Fraternidad Oculta, diretamente pela Internet.

Para baixar o álbum “di grátis”, acesse: http://w19.easy-share.com/1903040140.html

Para curtir um videoclipe da banda, acesse: http://www.youtube.com/watch?v=cO83oytZCCc

Esses toques me foram enviados gentilmente pelo Índio Sete Cruzes. Curtam.

Nós, agora burraldos, resistiremos?


Montezuma Cruz (*)
Agência Amazônia

Viva o internauta brasileiro, senhor desse imenso vácuo de idéias! Opa! Agora é ideias. Separo o joio do trigo: há internauta desleixado e internauta interessado, capaz, estudioso. A estes, avante! Aprender é um exercício diário, ininterrupto. O ditongo aberto foi eliminado nas paroxítonas. Assim, esses heroicos sindicalistas dos anos 2000 promoverão sucessivas assembleias, no estrito cumprimento do dever, mesmo com indisfarçáveis tramoias.

Recebo mensagem de ano novo propondo: faça algo diferente em 2009. Com a advertência: aceite as mudanças para não envelhecer. Será? Alguns jornais se glorificam, ao anunciar garbosamente que adotam a novíssima ortografia no alvorecer de 2009.

Centenas ou milhares de redatores, editores e repórteres suspiram: "Graças a Deus!". Por falta de revisão, os jornais acumulam erros de acentuação que agora serão evitados com alguma facilidade. Igualmente, pecavam e ainda pecarão pelo estrangeirismo no texto. É outro assunto.

Insipientes se tornam incipientes, lembra-nos a professora Thaís Nicoleti, no UOL, reforçando a existência de palavras com a mesma pronúncia e grafias diferentes – homônimos, homófonos e heterógrafos.

Ditongo, tritongo, hiato. Verbo, adjetivo, substantivo, artigos, pronomes demonstrativos, pleonasmos, cacófatos, galicismos, gentílicos, advérbios de tempo, modo e lugar. No túnel do tempo, freqüento a sala da 1ª série A do curso colegial. Freqüenta, não, Montezuma! Agora é frequenta, primo-irmão de requenta, deliquente, sequencia, tranquilo.

Aprenda, burraldo! E modifique logo o seu computador, porque ele permanece tão burraldo quanto você. Agora é claraboia, plateia, epopeia. Nessa grafia ouço clarabôia, platêia, epopêia. Meu ouvido é diferente do seu, estimado leitor? Ou assumo fidelidade e obediência ao que de melhor existiu no meu banco escolar?

Quisera ter novamente ao meu lado a professora pirajuense Jeanne Therezinha Polenghi, que lia e nos fazia interpretar as páginas sublimes do livro de português de João Baptista da Luz. Em seguida, ordenava uma análise sintática, possibilitando-nos um banho de verbos transitivos diretos, indiretos e intransitivos.

E os ditados? Alguém resiste hoje a um ditado de cinco minutos? A nota máxima da maioria dos alunos de Jeanne não passava de sete ou oito, no entanto, aprendíamos razoavelmente bem.

O que será deste indignado visconde brejeiro que provou daquele bálsamo e se obrigou a rejeitar, desde o advento da internet, o linguajar chulo do MSN e do Orkut: falanu, chegandu, vem k, explicandu, esperandu, aki, entrandu?..

Será que eles não vêem o caráter do circunflexo? Não crêem que temos uma das mais cultas, senão a mais bela língua do Planeta? Não! Mestre Dad Squarisi pode até lamentar, mas sabe que, a partir desta semana, o Correio Braziliense publicará: Mangabeira tem mais ideias para a reforma agrária. E Élio Gáspari aguentará, escrevendo patuleia, uma de suas palavras prediletas.

Agora, o indivíduo nasce em Cananeia ou Pompeia...

Apoiar não segue mais a regra diferencial do pôde e pode. Agora, eu apoio quem me dá apoio é tudo igual. É o fim do apóio.

Menino, não coma essa geleia! Tem corante. Assim você não estreia no basquete da Unimed. Na novela, sucedem-se o: esquece, rapaz! (no lugar de esqueça); na propaganda, faz um 21 (ordenando, no lugar do faça). Conjuga-se mal no horário nobre. E nos obrigamos a retirar tão importantes acentos agudos e tremas das palavras. Pura perseguição e covardia, protesta um professor.

Para não ser retrógrado e transgressor da lei, obrigo-me a escrever ideia, azaleia. Assistindo na TV o didático Tonico Ferreira – aquele jornalista comunista que escrevia tão bem no extinto Movimento – esforçando-se para corrigir pessoas nas ruas de São Paulo. Ele mostrou-lhes numa folha impressa as palavras linguiça, sequestro, consequência — todas sem o trema.

Fala-se kinkênio ou qüinqüênio?

Qüe, qüia, güe, güi não são frescuras; são necessários.

Aboliriam também a cedilha, por 'inutilidade'?

Conjugarei agora: eles veem, eles não creem em profecias, nem no Apocalipse. Muitos dirão: "Não há diferença". Há. Sem o circunflexo, o som é vem e crem. Certamente o locutor de rádio, TV e internet não dirá crem, mas crêem, à moda quase antiga. Não confundirá o vêem (de enxergar) com o vem (de chegar).

Não entro no mérito do hífen, porque ele continua desafiando os melhores cérebros. Melhor estudá-lo, como sempre nos foi recomendado, já que possui macro-história e nos proporciona uma imprescindível autoaprendizagem.

Ainda bem que permanecem os acentos diferenciais do singular e do plural dos verbos ter e vir. Da mesma forma, os seus derivados – manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc. Ele tem dois carros flex. Eles têm dois carros. Ele vem de Porto Velho. Eles vêm de Cruz das Almas.

Começo a matutar, feito um Quixote sem lança. Resistirei, em condições de reaprender? Terei forças para apreciar Fernando Pessoa, segundo o qual, a sorte de um povo depende do estado da sua gramática? "Não há grande nação sem propriedade da linguagem", ele disse.

Oremos. Muitas pessoas exercerão esse papel na sua plenitude, mas não se livrarão de morrer com a memória presa.



(*) É repórter e editor na Agência Amazônia de Notícias