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quinta-feira, janeiro 14, 2010

Polêmicas de biqueiros

Essa matéria abaixo foi publicada hoje, no jornal A Crítica, no caderno “Bem Viver”


A tradicional Banda da Bica será realizada no dia 6 de fevereiro. O tema desse ano é o caso dos “irmãos metralha”

Lane Lima
Especial para A CRÍTICA

Que a Banda da Bica todos os anos satiriza as notícias veiculadas na mídia, principalmente as relacionadas a escândalos políticos, isso todos sabem. Mas, neste ano, as polêmicas giram em torno dos criadores dos divertidos enredos que animam os foliões e biqueiros durante o Carnaval.

O jornalista Mário Adolfo, que já escreveu diversas letras para o evento, também conhecido como a Banda Independente Confraria do Armando, divulgou neste mês a marchinha escrita por ele em parceria com Simão Pessoa, Edu do Banjo e Mestre Pinheiro. A música intitulada “Irmãos metralha do parlamento pro Puraquequara”, está disponível há sete dias no Youtube e já tem mais de 1690 acessos.

Composição

O problema é que Armando Soares, proprietário do bar que organiza a banda, não está contente com toda essa divulgação. “Metem-se a fazer a música, não nos comunicam e ainda vêm cobrar porque estão fazendo propaganda da Bica”, declara Armando.

Ele conta que, o combinado junto aos compositores biqueiros, é que todos se reuniriam para discutir o tema e compor o enredo. “Mas já apareceram com a música pronta. Eles escrevem, gravam, vendem os discos e não avisam. Quando fico sabendo, a música já está tocando na rádio como a oficial da banda”, declara.

Mário Adolfo, em contrapartida, diz que esse tipo de “atrito” faz parte da tradição do evento. “A Bica é polêmica, não tem nada oficial. Se quiser fazer minha música, faço. Não tem organização. Ela é anarquista, cada um por si e Deus por todos”, comenta o jornalista que acha saudável esse tipo de discussão.

“Nos ensaios, qualquer um leva sua música. A que for boa, pega. Não existe um compromisso. Fazemos as letras porque, como somos fundadores da Bica, temos um carinho e queremos fazer sempre”, conta Mário e afirma, ainda, não ganhar dinheiro com isso. “Pagamos o estúdio com o nosso bolso”, diz o jornalista.

Mas Armando rebate ao declarar que, ano passado, para a gravação da música que tinha como tema o caso Renata, os compositores pediram mil reais para ajudar com as despesas. “Eles querem faturar às custas da Bica. Vendem sempre muitos discos e não dão um ‘tostão’ para ajudar o evento”. Ele lembra ainda que apenas nesta época do ano é que os compositores aparecem. “Durante o do ano passado ninguém frequentou o bar. O único que vi, apenas três vezes, foi o Mário Adolfo”.

Ensaio

Para Mário Adolfo tudo isso não passa de boatos criados para esquentar o assunto. “Somos fundadores da Bica e tem gente que caiu de paraquedas e tenta fazer tumulto. É tudo fofoca. Armando nem se mete nisso, nunca se meteu e não se incomoda”. Porém, mesmo com problemas de saúde, Armando Soares resolveu intervir e pediu para que outro compositor escrevesse uma letra. “Adal está compondo uma letra da marchinha com o mesmo tema e me entregará amanhã”, afirma.

O proprietário do bar diz que esse ano a Bica está sem recursos, nem mesmo para pagar os músicos que animam a festa. “Por isso vamos fazer apenas dois ensaios. Um no dia 27 e outro no dia 3 de fevereiro”, avisa. “Não estou bem para aguentar o pique”.

Ele informa ainda que a Banda da Bica será realizada no dia 6, com a mesma estrutura de sempre.



O dono do mocó mete sua colher no mungunzá

(enviei o e-mail abaixo para o caderno “Bem Viver”. Se vão repercutir ou não, é lá com eles. Já fiz a minha parte.)

Querida Lane Lima

Apesar de ter sido citado na sua matéria, publicada hoje no caderno Bem Viver, não fui convidado para dar minha opinião. Então, estou aproveitando a oportunidade para esclarecer alguns assuntos.

Como todo mundo já está careca de saber, a BICA foi fundada no Bar do Armando, mas não pertence ao comerciante Armando Soares. Ela é dos foliões amazonenses e ponto final.

Se a BICA hoje desfruta do prestígio que tem é porque há mais de 20 anos, nós, os jornalistas da BICA (eu, Mário Adolfo, Orlando Farias, Inácio Oliveira, Mário Freire, Marco Gomes, Jersey Nazareno, etc) gastamos muito fosfato escrevendo matérias para divulgar a banda nos jornais da cidade.

Se no primeiro desfile, em 1987, a BICA saiu com 50 gatos pingados e no ano passado colocou 40 mil brincantes na rua, foi por causa exclusivamente da imprensa amazonense (jornais, rádios e tevês), sempre muito generosa em nos abrir espaço e cobrir o evento. O Armando não teve nada a ver com isso.

Durante esses anos todos, aliás, o Armando nunca teve qualquer papel importante na organização da banda. Ele se limitava a vender seus sanduíches de pernil e cervejas dentro do bar, tantos nos ensaios, quanto no dia do desfile.

Quem sempre organizou a banda e colocou ela na rua foram Chicão Cruz, Deocleciano Souza, Jomar Fernandes, Pedro Paulo, Julinho da Receita, Manuel Batera, José de Anchieta, Afonso Toscano, José Klein, Felix Valois, Rogelio Casado, Marco Gomes e Alberto Simonetti.

Foram eles que sempre decidiram o tema, correram atrás de patrocínio, tiraram as licenças nos órgãos públicos, confeccionaram as camisas alusivas ao tema, contrataram os músicos, pagaram pela confecção dos bonecos gigantes e construíram os camarotes de convidados especiais e os palcos de apresentação dos músicos.

Isso tudo está devidamente documentado no livro “Amor de BICA”, lançado em 2004, e que teve uma segunda edição em 2005. Hoje o livro é um item de colecionador, mas ainda pode ser encontrado nas bibliotecas públicas da cidade.

De 1995 até hoje, eu participei da criação de 12 marchinhas da BICA, em parcerias com Afonso Toscano, Mário Adolfo, Edu do Banjo, Mestre Pinheiro, Davi Almeida e João Bosco Chamma.

Isso significa dizer que das 22 marchinhas executadas até hoje, quase 60% teve a minha participação direta. Depois de mim, vem o Afonso Toscano (10 participações) e o Mário Adolfo (8 participações).

Eu desafio o Armando (e qualquer outro biqueiro) a provar que ganhei um único centavo com meu trabalho intelectual nessas composições. Ou que eu tenha, algum dia, cobrado “jabaculê” por estar divulgando a banda.

É verdade que deixei de freqüentar o bar depois da reforma do Largo de São Sebastião. O Bar do Armando começou a ter preços de bistrô francês (uma cerveja custava 3 reais, enquanto num bar ao lado de casa – o Snoopy – ela custava 2 reais). Era uma questão de lógica cartesiana.

Armando incorreu em outra inverdade, na reportagem citada. Ele disse que ia pedir ao Adal para compor uma nova marchinha. Bobagem. A marchinha do Adal foi composta e gravada em estúdio há duas semanas (portanto, bem antes da nossa, que ainda nem foi gravada). Se eles foram incompetentes pra colocar no YouTube, o problema é deles.

Segue abaixo a letra da marchinha. Estou anexando a gravação em áudio (MP3).

Enfim, era isso.

Abração

SP


Foto oficial dos diretores da BICA. Por que o Armando está de jaleco? Porque ele nunca foi diretor da BICA, ora pois, pois. Ele sempre foi o patrono, que é um pouco diferente de ser o patrão...

A letra do Adal abordando o mesmo tema "Irmãos Metralha – Do Parlamento ao Puraquequara"

Letra: Aníbal Beça, Marcos Figueira e Narciso Lobo
Música: Bosco dos Aristocratas, Almir Fernandes e Ernesto Coelho
Contra-regra: Carlito Ferraz
Diretor musical: Chico da Baia e Paulo Gilberto
Revisão de texto: Sebastião Reis e Joaquina Marinho
Apoio cultural: Gilberto Mestrinho

Coragem, Irmãos Coragem
Segurem firme que a BICA vai entrar
A festa só ta começando
Tem muita gente nessa fila pra dançar

Metamorfose geral
Festa na BICA
Hoje é carnaval

Trá, trá, trá, trá
Trá, trá, trá,
Bandido bom, é bandido morto!
Trá, trá, trá, trá
Trá, trá, trá,
Nossa metralha não perdoa cabra torto!

Do Parlamento ao Puraquequara
O Armando disse, a dona Lurdes confirmou
Chegou a hora de pegar a tralha
Boa viagem, Irmãos Metralha!

Trá, trá, trá, trá
Trá, trá, trá,
Bandido bom, é bandido morto!
Trá, trá, trá, trá
Trá, trá, trá, trá
Nossa metralha não perdoa cabra torto!

Ensaio da nossa música da BICA, na casa do Mário Adolfo, na semana passada. A música vai ser gravada pelos Demônios da Tasmânia, a banda de sopros oficial da BICA.

Um comentário:

Tágore Aryce disse...

Apoiado. Se tem alguem que ganha grana com a BICA esse alguem é o português que vende a latinha lá dentro bem mais caro que os ambulantes do lado de fora e a gente prestigia!