Pesquisar este blog

sexta-feira, janeiro 15, 2010

A saga da família Arruda (1)


João Arruda, o grande líder de uma família pedra noventa

Nascido no seringal Capatará, na zona rural de Codajás, João Arruda é o segundo irmão de uma prole de sete (Marides, ele, Antonio, Mário, Leônidas, Ademar e Terezinha, tudo sangue bom.). Eterno cavalheiro de fina estampa, se transformou também em um verdadeiro santo.

Durante muitos anos, João Arruda trabalhou na igreja Nossa Senhora das Graças, em Codajás, e foi o responsável pela instalação do sino, que ainda hoje continua dobrando por lá.

Além de ajudar a todos, sem distinção de classe, credo político ou religião, ele era um dos poucos homens da cidade que jamais cedeu aos encantos de Dona Nenzinha, a única prostituta da cidade. João Arruda era incapaz de fazer mal a uma formiga.

Ele teve seu pai brutalmente assassinado no seringal Capatará, mas 36 horas depois do homicídio seus amigos capturaram o assassino. Os sujeitos cavaram um buraco profundo e colocaram lá dentro o assassino amarrado dos pés à cabeça.

Depois, foram chamar João Arruda para vingar a morte do pai. Era só mirar na cabeça do vagabundo e atirar quantas vezes quisesse.

Com a espingarda engatilhada em uma das mãos e o homem rendido dentro do poço, João lembrou que sua mãe falava reiteradamente que não queria ter um filho assassino.

Ele, então, entregou a arma a um amigo e preferiu entregar o homicida à Justiça. Um santo!

Em 1954, quatro anos após ter chegado com a família do seringal Capatará para se estabelecer na sede do município, João Arruda já era um homem querido e admirado na cidade, tendo, nesse curto espaço de tempo, conquistado 120 afilhados.

Com tantos admiradores e tendo batizado tantas pessoas, ele logo foi convidado pra se candidatar a vereador. Como necessitava de apenas 40 votos, João Arruda já dava como certa a vitória. Afinal de contas, se apenas os compadres e as comadres votassem nele, estaria eleito com um pé nas costas.

Quando as urnas foram abertas, veio sua primeira decepção: João obteve apenas 28 votos e acabou como primeiro suplente de vereador. A trairagem tem raízes em tempos imemoriais.

Naquela época, a suplência funcionava de forma diferente: quando um dos vereadores não comparecia à votação o suplente era convocado na mesma hora para substituí-lo.

Em certa ocasião João Arruda foi convocado para uma votação de urgência que estava causando alvoroço na cidade.

Chegou em cima da hora, quando o Presidente da Câmara acabara de iniciar a sessão:

– Meus caros confrades, o que temos aqui é um assunto muito sério. Trata-se de uma denúncia feita em desfavor do vereador Osvaldo Sobreira de Lavor Paes Barreto. A denúncia será lida na íntegra pela secretária desta casa. Com a palavra Dona Sebastiana...

A secretária deu início à leitura da denúncia feita por um cidadão de Codajás:

– Eu caminhava pelo castanhal próximo ao campo de futebol quando observei estranhos movimentos em uma moita de capim. Dirigi-me ao local pra verificar o que era e de repente ouvi um gemido, hum, e então...

Dona Sebastiana foi interrompida asperamente pelo Presidente da mesa, adversário político do denunciado, que pediu mais ênfase na leitura da denúncia:

– Leia direito, Dona Sebastiana! Não é apenas um “hum”. Leia direito, por favor!

Dona Sebastiana prosseguiu:

– Dirigi-me ao local pra verificar o que era e de repente ouvi um gemido: huuuuuuuummmmmmm, huuuuuuuummmmmmm, huuuuuuuummmmmmm e então percebi que Chico Venâncio estava enrabando Osvaldo Sobreira...

O Presidente agradeceu a participação de Dona Sebastiana e então leu a parte formal da denúncia:

– Por incorrer em ato que coloca em dúvida a boa índole do vereador Osvaldo Sobreira de Lavor Paes Barreto e por atentar gravemente contra a dignidade desta Casa e de todos que aqui dedicam trabalho honrado à sociedade de Codajás, trago à votação o pedido de cassação do vereador.

Não deu outra. O vereador foi cassado por unanimidade. Osvaldo Sobreira de Lavor Paes Barreto, evidentemente, ficou revoltado.

Assim que a sessão terminou, ele se dirigiu para a pracinha da cidade para fazer uma manifestação de protesto.

Era uma manifestação solitária, mas autêntica e ousada para os padrões da época.

Aos gritos, o agora ex-vereador batia com a mão em suas nádegas e rasgava o verbo:

– A bunda é minha e eu dou pra quem eu quiser. O dono dessa bundinha sou eu, não devo nada a ninguém. Dou minha bunda pra quem eu quiser e ninguém tem nada com isso. Cadê a democracia desse município?...

Não houve choro nem vela. O homem com nome de príncipe e hábitos de princesa abandonou a vida pública, cassado pelos colegas simplesmente por dar o que era seu.

E João Arruda tomou posse para exercer seu primeiro mandato de vereador.

Nenhum comentário: