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sexta-feira, janeiro 15, 2010

A saga da família Arruda (3)


O advogado Romero Arruda e seu pai, o saudoso Leônidas

Abril de 1958. Nascido no seringal Porto Alegre, Leônidas Arruda acabara de completar 16 anos e estava morando em Codajás.

Como os hormônios à flor da pele e o tesão a ponto de explodir pelos poros, Leônidas começou a sonhar em perder a virgindade e, como era comum naquele tempo, procurou uma meretriz.

A cidade de Codajás contava com apenas uma prostituta, a famosa Dona Nenzinha, uma senhora de pouco mais de 50 anos de idade, seios fartos, bunda grande, sempre sorridente, responsável pela iniciação sexual da maioria dos marmanjos do município.

Dona Nenzinha, com muito orgulho, falava aos quatro cantos da cidade, deslizando as mãos dos seios aos joelhos:

– Do padre ao prefeito, toda Codajás já passou por cima desse corpo enxuto...

Nas internas, ela confessava que João Arruda, irmão mais velho de Leônidas, era o único homem da cidade que ainda não havia sucumbido aos seus préstimos sexuais.

Um dia, Leônidas criou coragem e entrou na casa de Dona Nenzinha. Conversaram alguns minutos.

Ele saiu de lá com a tabela de preço de cada favor sexual prestado pela mundana e sabendo que deveria desembolsar Cr$ 800 se quisesse desfrutar do serviço completo (“papagaio, cerol e rabiola”).

Passados três meses de muito trabalho duro, fazendo vários biscates sem gastar um tostão, ele conseguiu reunir a quantia de Cr$ 1.000, uma pequena fortuna para os padrões locais – já que emprego no município era quase uma ficção científica.

Leônidas jamais imaginara ser capaz de juntar aquela grana toda com tão pouca idade. Mas os fins justificavam os meios.

Ele passou cinco dias namorando aquela nota de mil cruzeiros, encarando desafiadoramente o Cabral impresso nela.

No dia anterior ao grande encontro com Dona Nenzinha, Leônidas saiu pelas ruas exibindo aos amigos a cédula cabralina e anunciando, mais gabola do que nunca:

– Vou investir minha grana toda na caixa...

Ao ser indagado em que caixa, já que no município não havia agência bancária, Leônidas respondia:

– Na caixa cabeluda da Dona Nenzinha...

No dia combinado, Leônidas saiu de casa de banho tomado, perfumado com colônia Seiva de Alfazema, um pote de brilhantina Glostora nos cabelos, trajando sua engomadíssima roupa domingueira e, em trote acelerado, se dirigiu à casa de Dona Nenzinha onde iria fazer sua iniciação sexual em grande estilo.

Só de combinação transparente, a matrona já o aguardava deitada na cama, sem disfarçar uma certa impaciência .

Não houve nenhum preâmbulo amoroso. Leônidas ficou pelado, se jogou na cama e mandou brasa.

Após uma hora de fuque-fuque em todas as posições possíveis e imagináveis, o adolescente se deu por satisfeito.

Depois de um rápido asseio em uma bacia de água fria, localizada próxima da penteadeira, Leônidas se vestiu e entregou a nota de mil cruzeiros à meretriz.

Aí, se sentou em um carcomido estofado de napa existente na sala da casa e ficou ali, eguando, enquanto Dona Nenzinha trocava a água da bacia para também se assear.

Decorridos alguns minutos, Dona Nenzinha, enrolada em uma toalha encardida, ressurgiu na porta da sala e levou um susto:

– Posso saber o quê qui o belezinha ainda está fazendo aqui? – indagou, aborrecida.

Leônidas devolveu de trivela:

– Estou esperando o meu troco. Eu lhe dei mil cruzeiros, mas a gente tinha combinado antes que o programa completo saía por oitocentos...

Irritadíssima e aos berros, Dona Nenzinha chutou o pau da barraca:

– Vai-te embora já pra tua casa, seu amarelo safado! Onde já se viu puta voltar troco?! Tu ficou doido, moleque, tu ficou doido?!

E foi assim que o jovem Leônidas Arruda, aos dezesseis anos, aprendeu uma nova lição que carregou pelo resto da vida: puta não dá troco nem pelo caralho! Literalmente.

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