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segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Mário Adolfo coloca seu bloco na rua


Nessa próxima sexta-feira, dia 5, os moradores do bairro da Cachoeirinha têm um encontro marcado com o seu próprio passado.

É que a partir das 20h, o jornalista, cartunista, chargista e multimídia Mário Adolfo vai estar autografando seu novo livro, “Meu bloco na rua”, que conta a trajetória do bloco Andanças de Ciganos e, por extensão, engloba suas memórias afetivas e eletivas a partir dos anos 60.

O fuzuê será animado pela bateria do GRES Andanças de Ciganos, que sucedeu ao bloco. O livro, ricamente ilustrado com fotos da época, será vendido por R$ 50.

Zeca Boy, Gigio Bandeira (quando era a cara do Sidney Magal), Berê, Afonso e Simas, na época um pivete de 13 anos. Na frente, Arlindo Jorge e Chico Cavalinho.

E aqui não custa nada contar uma história interessante.

Há alguns anos, o empresário amazonense Odivaldo Guerra, o playboy mais famoso da história da Cachoeirinha, atualmente morando em Vitória (ES), discutia com seu filho mais velho sobre a conveniência ou não de o moleque ir estudar Cinema, Arquitetura e Música em Nova York.

Guerra achava que aquele monte de profissões iria dar um nó na cuca do menino, melhor ele se concentrar em apenas uma. O moleque reagia como podia:

– Ah, pai, no mundo moderno, altamente tecnológico e ferozmente competitivo dos dias de hoje, só se dá bem quem for multimídia...

O empresário, acreditando tratar-se de uma quarta profissão, encrespou-se de vez:

– Multimídia?! Multimídia?! Que merda é essa?...

– É a combinação de diversos meios, como texto, imagens e som, para a expressão de conteúdos mais interessantes! –, devolveu o moleque. “Um arquiteto não pode conhecer apenas arquitetura, ele tem de entender também de teatro, cinema, artes plásticas, música...”

O rosto de Guerra iluminou-se:

– Ah, então é isso? Pois eu tenho um amigo em Manaus, o jornalista Mário Adolfo, que é multimídia desde os anos 70...

Foi o salvo-conduto que faltava para o moleque viajar para Nova York.


O playboy Odivaldo Guerra estava coberto de razão.

O jornalista Mário Adolfo, como vocês vão poder conferir no livro sobre o bloco Andanças de Ciganos, sempre foi uma verdadeira usina multimídia.

Além de criar o enredo e desenhar as fantasias do bloco, as alegorias e os carros alegóricos, acompanhando pessoalmente a execução de cada uma delas e muitas vezes metendo a mão na massa, Mário Adolfo também compunha as marchinhas, ensaiava a batucada e desfilava tocando a sua inseparável caixinha-de-guerra.

O jornalista também acumulou as funções de criador do Curumim, o último herói da Amazônia, produtor de rádio e tevê (durante muitos anos produziu o programa da Baby Rizzato), editor do jornal de humor Candiru, compositor da Banda Independente Confraria do Armando (BICA) e do Bloco do Jacu, entre outras participações, como comentarista de desfile de escolas de samba e de diferentes produções culturais.

E ainda sobrava tempo para defender o gol do inesquecível Murrinhas do Egito.


Aureo Petita, Luiz Lobão, Kepelé e Mazinho, craques do imbatível Murrinhas do Egito

Mário Adolfo é carnavalesco de berço e sempre teve seu nome associado às mais puras manifestações populares.

Esse seu novo livro apresenta uma ampla panorâmica dos anos de ouro daquele que já foi considerado o melhor carnaval de rua do Norte do país.

Tendo como pano de fundo a história do consagrado bloco carnavalesco da Cachoeirinha (o único a ser pentacampeão de Manaus, façanha jamais igualada), Mário Adolfo nos convida a relembrar o carnaval antigo. Mas sem saudosismo piegas.


Marlon, Petroba, Luluca, Sadok, Afonso, Ricardão, Edlúcio, Antídio e Sici Pirangy, todos da primeira geração de ciganos

Com um texto tão bem escrito que você “ouve” os personagens falando, Mário Adolfo nos leva ao início dos anos 60 e faz uma retrospectiva de como aquele monte de moleques que se reunia no canto das ruas Parintins e Borba conseguiram criar uma agremiação carnavalesca que revolucionou o carnaval de rua da província.


O marco zero pode ser creditado ao Bloco do Macacão, que desfilou uma única vez, em 1972, e fez um verdadeiro salseiro durante a chegada do rei Momo no Porto do Roadway.

Mas não se trata de um livro monotemático sobre o carnaval amazonense. Longe disso.

Mário Adolfo divide com a gente suas lembranças de como era o bairro da Cachoeirinha quando os Beatles iniciavam sua revolução sonora.

Os hilariantes personagens do bairro, como a turma de pés inchados que se reuniam no Bar do Aristides (Pedro Bala, Gabarito, Zé da Voz, Mestre Carlos, Camisinha, Beto, Toinho) e no Bar do seo Luiz (Pernambuco, Camões, Deca, Corino, Boneco, Ceará) são revisitados.


O famoso Barraka’s Drinks, do saudoso Wilson Fernandes (a quem o livro é dedicado), também tem sua história passada a limpo nos mínimos detalhes - incluindo uma presepada que ele e eu fizemos durante uma madrugada de Natal no início dos anos 80.

As brincadeiras domésticas, o fascínio pelo telecatch, o primeiro jornalzinho que nós dois fizemos a quatro mãos (“A Patota”) no começo dos anos 70, tudo está registrado com um rigor de arqueologista.

Além das boas lembranças de adolescência e juventude, o livro do Mário Adolfo demonstra cabalmente que muita coisa, de lá pra cá, ficou fora de ordem.


O carnaval de antigamente era um carnaval com mais participação popular.

Na avenida Eduardo Ribeiro, o povo tinha um contato maior com os foliões, assistia de mais perto a fuzarca, porque a separação entre eles era feita por meio de corda, não havia arquibancada.

Havia empolgação nos desfiles, mesmo sem a pompa e a circunstância dos dias de hoje.

As agremiações que tinham maior número de componentes tinham quatrocentas, quinhentas pessoas. Eram os blocos de embalo. O desfile era mais demorado.

O bloco começava seu desfile na Praça do Congresso, descia a avenida Eduardo Ribeiro, contornava o Relógio Municipal e fazia a dispersão na Sete de Setembro, gastando uma, uma hora e meia de desfile.

Hoje é um carnaval mercadológico, que é transmitido pela televisão e pelo rádio. É um desfile pra turista inglês ver.


Na época dos blocos Andanças de Ciganos, Sem Compromisso, Reino Unido, Cassino Tex, Guerreiros do Vinho e tantos outros, os desfiles eram de tirar o fôlego.

Cada vez mais lindos e intermináveis, os blocos passavam com seus foliões e a animação ia tomando conta dos espectadores, como uma onda de alegria se espraiando. Era bom demais. E como.

Da calçada, casas e prédios baixos do centro da cidade choviam confete e serpentina sobre os foliões.

No ar, o cheiro inebriante das bisnagas de água-de-cheiro e dos lança-perfumes Rodouro, a oitava maravilha do mundo, ou então Estudantina, o único argentino que fez sucesso no país.

O carnaval de rua era maravilhoso. Quem viu, viu. Quem perdeu, não pode nem sequer imaginar. Dizer que era maravilhoso é dizer pouco. Muito pouco.

Este livro do Mário Adolfo resgata uma parte dessa história. Curtam. Evoé, Momo!

Um comentário:

Lúcio Bezerra de Menezes disse...

Poderia o nobre amigo informar o local e a hora do evento?
Abraço
Lúcio