Pesquisar este blog

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

O libanês Acram Isper arrombou a festa na 1ª Reunião do Conaru (ex-CDF)


Em pé: Roberto Benigno, Oswaldo Frota, Waldir Menezes, Augusto Menezes e Lucio Menezes. Sentados: Salomito Benchimol, Edson Costa, Expedito Theodoro, Acram Isper, Arnaldo Russo e Humberto Amorim.

Quando eu achava que nada mais me espantaria em termos musicais, eis que surge o Acram Isper para bagunçar meu coreto.

Na última sexta-feira, durante o lançamento do livro “Meu bloco na rua”, do Mário Adolfo, ele me cobrou por não ter aparecido na 1ª reunião do Clube dos Discófilos Fanáticos – que, aliás, está completando 10 anos e se transformou em Conaru (Confraria do Arnaldo Russo).

Expliquei o motivo do suposto forfait: eu não havia sido convidado, ué!

Ele perguntou se pelo menos eu já havia recebido o CD sobre sua apresentação, enviado através do Lucio Menezes.

Não, também não havia recebido. O libanês ficou puto da vida.

Para nossa sorte, Lucio Menezes apareceu na fuzarca, me convidou para sua apresentação no próximo mês, me deu três CDs de suas apresentações anteriores, foi devidamente admosteado pela falta grave e, no dia seguinte, foi levar em casa o CD do Acram Isper.

Ainda durante o fuzuê na quadra dos Ciganos, o médico Expedito Teodoro me presenteou com seu CD da apresentação no CDF, realizada em dezembro, e com um DVD que ele e sua esposa Mirza costumam presentear os amigos no final do ano.

Comentarei os dois presentes depois. Noblesse oblige.

A verdade é que quando o sacana do libanês me disse, há uns dez anos, que possuía 200 mil músicas arquivadas em não sei quantos computadores, pensei que ele estava blefando. Não estava.


Depois desse CD, desconfio que quando o Tio Acram não está levando amazonenses para conhecer o Mundo Disney, ele veste sua capa de super-herói (“The Amaizing Isper”) e fica escarafunchando obscuros sites da Web em busca de pérolas musicais.

E, pelo visto, tem se mostrado um garimpeiro de mão cheia.

Sua apresentação foi intitulada de “Originais e Versões”.

Muitos hits são óbvios – como o fato de Elvis Presley ter se apropriado de “O Sole Mio”, de Eduardo Di Capua (no CD veio uma bela versão de José Augusto), e transformado na convulsão dançante chamada “It’s Now Or Never”.

Outros, sinceramente, mesmo com as bênçãos do Santo Google, eu jamais conseguiria desconfiar de suas prosaicas existências.

É o caso, por exemplo, de Miriam Makeba cantando “Mbube”, que a banda The Tokens gravou como “The Lions Sleeps Tonight”.

Ou “Tous Les Visages De L’Amour”, do Charles Aznavour, que o Elvis Costello gravou como “She”.

Ou, ainda, “Les Foullies Mortes”, do Yves Montand (no CD foi creditada erroneamente ao Iggy Pop), que Roger Williams gravou como “Autumn Leaves”.

É evidente que, em se tratando de versões, cada uma delas significa uma transcriação, uma coisa nova, uma música original. Quer dizer, pelo menos é o que eu acho.

Portanto, exigir da música genérica uma fidelidade canina ao hit de onde ela foi decupada não passa de cabotinismo ou boçalidade de críticos metidos a besta.

Fiquemos em apenas um exemplo.


A letra original de “California Dreaming’”, gravada pelo The Mamas & Papas, diz o seguinte:

All the leaves are brown / And the sky is grey / I’ve been for a walk / On a winter’s day

I’d be safe and warm / If I was in L.A. / California dreaming’ / On such a winter’s day

Stopped into a church / I passed along the way / Well, I got down on my knees / And I began to pray

You know the preacher likes the cold / He knows I’m gonna stay / California dreaming' / On such a winter’s day

All the leaves are brown / And the sky is grey / I’ve been for a walk / On a winter’s day

If I didn’t tell her / I could leave today / California dreaming’ / On such a winter’s day

A tradução literal diz mais ou menos assim:

Todas as folhas estão marrons / E o céu está cinzento / Eu sai pra passear / Em um dia de inverno

Eu estaria protegido e aquecido / Se estivesse em Los Angeles / Sonhando com a Califórnia / Num dia assim de inverno.

Parei dentro de uma igreja / Por onde havia passado ao caminhar / Bem, eu fico de joelhos / E finjo rezar.

Você sabe que o pregador gosta do frio / Ele sabe que vou ficar / Sonhando com a Califórnia / Num dia assim de inverno.

Todas as folhas estão marrons / E o céu está cinzento / Eu sai pra passear / Num dia de inverno

Se eu não contasse a ela / Eu poderia partir hoje / Sonhando com a Califórnia / Num dia assim de inverno.


A versão do Rossini Pinto, intitulada “Não te esquecerei”, foi gravada pelo Renato e seus Blue Caps, e diz o seguinte:

Não te esquecerei (não te esquecerei) / Meu eterno amor (meu eterno amor) / Não sei viver (não sei viver) / Sem o teu calor (sem o teu calor)

Quando o dia acaba (quando o dia acaba) / E a noite vem (e a noite vem) / Choro sem cessar (choro sem cessar) / Por você meu bem

Desde que você / Se foi pra não voltar / Espero o dia (espero o dia) / De ver você chegar (de ver você chegar)

Que será da lua (que será da lua) / Se não anoitecer (se não anoitecer) / Que será de mim (que será de mim) / Tão longe de você

Eu curto tanto a música original yankee quanto a versão brazuca, e penso que todo mundo deveria fazer o mesmo.

É evidente que muitas versões se aproximam bastante da letra original (pense na versão de Zé Ramalho para “Knocking On The Heaven Door”, do Bob Dylan) e algumas chegam a superar a letra original (pense na versão do Chico Buarque para “Yolanda”, do Pablo Milanés), mas isso nem sempre é possível.

O grande truque do Amaizing Isper foi colocar, lado a lado, duas versões da mesma música para a gente se maravilhar.



Dá pra escolher qual a versão melhor, se Edith Piaf e sua delicada voz de soprano cantando em francês La Vie En Rose ou se o Louis Armstrong e sua poderosa voz de barítono cantando em inglês a mesma música?

Claro que não dá. As duas músicas são duas obras-primas e presença obrigatórias nas discotecas dignas do nome.

Como também não dá pra escolher entre Sheila cantando “Melancolie” e Sidney Magal cantando “Meu sangue ferve por você”.

Ou entre Roberto Carlos cantando “Esqueça” e Gary Lewis & The Playboys cantando “Forget Him”.

Ou entre Davi North cantando “Impossible Dream” e Maria Bethânia cantando “Sonho impossível”.

Ou entre Chuck Howard cantando “Don’t Let Them Movie” e Jerry Adriani cantando “Querida”.

Ou entre Djavan cantando “Esquinas” ou o “The Manhattan Transfer” cantando “So You Say”.

Esse Acram Isper é mesmo um grande sacana!

Não sei o que o Lucio Menezes - especialista em músicas caribenhas! – está planejando para apresentar em março, mas o nível musical da Conaru dessa vez atingiu a estratosfera.

Valeu, libanês!

Um comentário:

Tio Acram disse...

nossa!!!! Meu amigo eu fiquei profunfamnete emocionado com maneira altamente educativa que voce fez do meu disco.....eu nunca seria capaz de descrever com tantos detalhes e uma leitura ampla.
Quanto Iggy pop, é ele mesmo, eu escolhi...por pura liberdade e eke cantando em françes ficou muito legal, ia colocar o Ives Montand, mais achei que ficari difrente com este rapper. Sabes que ele queria cantar em Inglês, mais era muito caro os direitos de autum leaves, ele resolveu cantar no original que foi praticamente gratis, e cantou para o filme.....Preliminaires.

Obrigado e não esqueça de ir atodas as aporesentções do clube você sempre é o meu convidao