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sexta-feira, janeiro 28, 2011

A poesia é necessária


Nesta sexta-feira, 28, a partir das 18h30, no Vanilla Café (Rua Acre, no Vieiralves, próximo do Açaí & Cia.), os poetas Celestino Neto (aka “Lé”) e Marcileudo Barros farão um recital de poesia e o lançamento de 18 postais poéticos, ilustrados por Marcel dos Anjos.

Cada mimo custará R$ 2 (uma pechincha!) e, palavra de especialista, os postais são verdadeiras obras de arte.

Atualmente dirigindo o sebo O Alienista, que funciona nas proximidades do Palacete Imperial, na Praça da Polícia, Celestino Neto foi um dos fundadores do grupo Cio da Terra, uma das sensações de Manaus no início dos anos 80.

o grupo tinha no frontside o vocalista Val, com uma voz de tenor estilo Billy Paul, e a vocalista Dorinha, que tinha a sensualidade bluesística da Janis Joplin no corpo da Madonna “pré-Like A Virgin”.

O violão era conduzido com rara eficiência pelo Pond, cuja palhetada lembrava um Toquinho ultrainspirado.

Completavam a formação matadora o flautista Cezinha, mostrando que era possível transpor os acordes do chorinho para o forró sem perder a ternura, Celestino Neto, tocando escaleta com a fúria do jamaicano Augustus Pablo, e Iran e Berg, uma dupla de percussionistas que lembrava uma bateria de escola de samba em ação.

Na percussão também se revezavam Gilma, um dos melhores tocadores de atabaque da história, e Sid Almeida, na época um moleque de 15 anos que depois se transformaria no Mestre Pajé, diretor de bateria do GRES Andanças de Ciganos e do GRES Vitória Régia.


O sucesso do “Cio da Terra” foi avassalador. A novidade não estava apenas em aposentar a sanfona e utilizar a invocada escaleta – uma espécie de acordeom movido a sopro – para costurar as canções, mas no repertório que os moleques tiravam da cartola.

De Ednardo a Vital Farias, do Pessoal do Ceará aos Novos Baianos, de Elomar a Jackson do Pandeiro, de Paulinho Pedra Azul a Xangai, tudo era reciclado e passado a limpo.

Os sacanas eram tão bons que uma outra banda surgida na mesma época (“Carrapicho”, tendo como vocalista Renier, nome artístico do meu contemporâneo de ETFA, Paulinho Cão, falecido precocemente) era convidada para abrir seus shows.


O “Cio da Terra” teve uma carreira curta, mas gloriosa (pouco mais de um ano).

A briga de egos na divisão dos cachês contribuiu para a implosão do grupo.

Celestino Neto assumiu sua porção de poeta marginal e se mandou para Arembepe, na Bahia, onde morou dez anos. De volta a Manaus, ele mantém o sebo O Alienista na praça da Polícia.

Berg virou jornalista e atualmente trabalha na ALE. Iran virou empresário. Val virou professor e hoje trabalha na Petrobras, em Urucum. Cezinha entrou para a Aeronáutica, onde hoje é sargento.

Pond sofreu um estúpido acidente de carro, perdeu os movimentos de uma das mãos e praticamente encerrou sua carreira (em termos de violão ele se igualava ao fantástico Beto Beiçola).

Depois de muita fisioterapia, ele voltou a tocar novamente. Ano passado, tomamos um porre juntos no Bar Boto Vermelho, do Lé, e Pond relembrou várias músicas da época do Cio da Terra.

Gilma se aposentou pela CCE da Amazônia e abandonou a carreira musical.

Somente a Dorinha Alves (hoje um mulherão) continuou na estrada, se apresentando nos bares da cidade com um repertório calcado no “brega paraense”, aquela agradável mistura de calipso com jovem-guarda.

Nos anos 90, ela assumiu os vocais da banda de forró Rabo de Vaca. Atualmente, uma de suas filhas é vocalista da banda.

Dorinha está se formando este ano em Serviço Social pela Esbam.

Mestre Pajé também é outro que continua na ativa, fazendo a percussão para vários músicos da noite.


O poeta e escritor Marcileudo Barros é meu amigo de infância.

Nos conhecemos quando eu morava na rua Waupés (atual Castelo Branco), nos anos 60, e depois de um longo tempo sem notícias um do outro, voltamos a nos encontrar nos anos 90, durante a fundação do Sindicato de Escritores do Amazonas.

Autor do imperdível “O Boteco”, onde ele narra histórias acontecidas no “Boteco da Zeza”, que resiste bravamente até hoje, Marcileudo Barros já publicou dez livros de poesia e possui mais de 5 mil poemas inéditos.


Parte deste material está sendo musicado pelo seu filho, Marcel Barros, um talentosíssimo instrumentista e também artista plástico.

Marcileudo Barros também é um exímio contador de causos hilariantes, mas tem se negado a participar de um show no Teatro Amazonas, que pretendo produzir, colocando em cena ele, Paulo Paixão (um fantástico imitador do sotaque interiorano) e João Rodrigues (outro excelente imitador de vozes, além de artista plástico de alto calibre).

Bom, o encontro imperdível dessa sexta-feira, insisto, será no Vanilla Café.

Outros poetas da cidade que quiserem apresentar seus trabalhos serão bem vindos.

A gente se encontra lá a partir das 18h. Agende.

Um comentário:

Wanderli Mendes disse...

Fui privilegiada em conhecer esse poeta chamado Marcileudo Barros, assim com tambem tive a sorte de ter um desses exemplares de O Boteco,lendo seu blog me tornei sua fã tambem, fico na torcida deste show no Teatro, seria maravilhoso!!!boa sorte e Saudades mil, deste poeta que tanto admiro.