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quarta-feira, março 23, 2011

Paris era uma festa! (2)


O jornalista e cronista José Carlos de Oliveira inaugurava-se Paris, primeira viagem.

Prevenido, ainda no Rio, no dia do embarque, escolheu seu cicerone que, mesmo à distância, o orientaria na descoberta dos mistérios da capital da Europa: Aloysio Salles, cuja alma de grand seigneur abrigava uma notável percentagem de genuíno parisiense.

Encantado com a missão, Aloysio deixou-se agarrar pelo Carlinhos e, travando-lhe o braço, abandonou as coisas terrenas para sonhar Paris com o escritor aspirante à cidade.

E dedicou toda a manhã, o almoço, meteu-se tarde adentro a desfilar, carro aberto, pela Rive Gauche, certamente o destino da boemia cultural do Carlinhos que lá pelas cinco horas da tarde, repleto de informações, ia, nos intervalos da fala interminável de Aloysio, tentando encaixar uma despedida, pois precisava fazer as malas e ir para o aeroporto.

Aloysio, inesgotável:

– Abandone o hotel – recomendo-lhe o Grand Hotel de L’Univers, é próprio para seu gênero. Ocupe a mansarde! –, desça a Rue Gregoire de Tours e dobre à esquerda, Rue Buci. Lá, compre um molho de flores silvestres, contorne o quarteirão e caminhe pelo Boulevard Saint Germain até topar, na outra margem, com a Brasserie Lipp. Persigne-se, atravesse, e, com o pensamento em Deus, peça un blanc sec.

Em plena rua Barata Ribeiro, perseguido pelos gritos de Aloysio – Espere! Espere! Há mais! Há mais! –, Carlinhos fugiu, precipitou-se para o apartamento, fez as malas de qualquer maneira, voou para o aeroporto. Por um triz não perdeu o avião.

Paris! Refeito imediatamente da diferença das horas, dada a excitação da chegada triunfal, o escritor iniciou a missa rezada à distância pelo amigo: desceu Gregoire de Tours, comprou as florezinhas na feira da Rue Buci, desembocou no Boulevard, caminhou contrito para a Brasserie Lipp e encantou-se ao ver que a casa estava justamente onde o Aloysio anunciara, com precisão.

Sentou-se, colocou as flores num verre d’eau, imitando a providência de um cidadão ao seu lado, que também mamava um blanc enquanto lia o Figaro que lhe ocultava parte do rosto.

Un blanc sec! –, ordenou Carlinhos com intimidade de nativo.

O vizinho da mesa parece que reconheceu-lhe a voz, pois baixou o jornal e se revelou: Aloysio Salles!

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