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terça-feira, maio 17, 2011

Aula 71 do Curso Intensivo de Rock: Joy Division e New Order


Em 25 de janeiro de 1978, uma banda inglesa chamada Joy Division fazia seu primeiro show numa espelunca de Manchester chamada Pips Disco.

Com seu som denso, elaborado e depressivo, o Joy Division contrapunha-se à rusticidade punk e definia o caminho que iria influenciar boa parte do rock nos anos 80.

Foi um caminho tortuoso e curto: apenas dois anos de carreira.

Movido pela energia do desespero do cantor Ian Curtis, um garoto de 23 anos, feio, franzino, bochechudo, epilético e visionário, o Joy Division desfez-se em 1980 – após o suicídio de Curtis.

A influência desse grupo nunca cessou.

Seu primeiro disco como Joy Division, “Unknown Pleasures” (1979), é um dos mais pungentes retratos do vazio existencial que era a Europa no fim dos anos 70 e começo dos 80, quando tudo que parecia desenhar-se de futuro para os mais jovens era a vitória do cinismo, do conservadorismo de Margareth Thatcher e dos grandes esquemas do show business.

Ele traduziu isso com um verso gótico, claustrofóbico, embebido na tradição de Yeats e de Quincey.


Curtis era depressivo, nervoso, esquivo, mas assustadoramente lúcido.

Bono Vox, do U2, definiu sua voz como “sagrada”.

Lembram-se do jeito descoordenado de Renato Russo dançar, só com os braços, como se quisesse amparar-se de alguma maneira em algo ou alguém?

Era uma maneira de homenagear Curtis, ou de citá-lo, ou de simplesmente irmanar-se ao seu gesto.

Seus parceiros continuam escrevendo suas histórias pessoais no rock – Bernard Sumner (Eletronic), Peter Hook (Monaco) e Stephen Morris (The Other Two) –, mas o legado de Curtis volta e meia se reinstala no cenário pop.

Fã confesso de Lou Reed, Ian Curtis nunca se conformou quando o mestre se recusou a recebê-lo.

O nome da banda, Joy Division, era uma referência ao nome que os alemães davam aos prostíbulos de que se serviam nos campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial.

Antes, quando Curtis ainda dividia suas atividades roqueiras com a de balconista numa loja da Virgin Records em Manchester, o nome do grupo era Warsaw.

Mas desde que o empresário Brian Epstein decidiu que os Beatles deveriam usar terninhos para facilitar a assimilação das composições de Lennon e McCartney, é quase impossível para o público descobrir quando uma banda de rock está sendo honesta no que tem a dizer.

A música é muitas vezes colocada no mesmo plano das roupas e do comportamento, formando um mix que a indústria fonográfica vende como a atitude de determinado grupo.

Se a palavra atitude teve significado algum dia no mundo pop, foi com o Joy Division.

Ian Curtis encarava cada apresentação do seu grupo como a definitiva.

Nada surpreendente para alguém que levantou um empréstimo no banco para reformar a casa, mas preferiu investir o dinheiro na gravação de seu primeiro disco.

O título da obra era revelador: “An Ideal For Living”.

Nesse disco, a banda ainda não tinha alcançado o estilo que a consagrou.

No começo da carreira, o vocal gritado de Curtis e o predomínio das guitarras deixavam claro que o Joy Division era mais um dos grupos surgidos na Inglaterra por causa do levante punk de 1977.

Foi naquele ano que Curtis, o baixista Peter Hook e o guitarrista Bernard Sumner assistiram a um concerto do Sex Pistols, em Manchester, e decidiram formar o Warsaw.

Mas o estilo punk das primeiras composições logo deu lugar ao timbre grave de Ian Curtis, que influenciou toda a geração que despontou para o estrelato nos anos 80.

Outra marca da banda era a mixagem da guitarra, que ficava sempre mais baixa do que o baixo e a bateria.

Mas o grande diferencial do trabalho do Joy Division eram as letras, que remetiam invariavelmente a uma atmosfera de melancolia e penitência.

“Mãe, eu bem que tentei, acredite / Faço o melhor que posso / Que vergonha tenho das coisas que fiz / Que vergonha tenho do que sou”, lamenta Curtis em “Isolation”, registrada no álbum “Closer”, magistralmente produzido por Martin Hannett.

As canções de Curtis eram, de certa forma, autobiográficas.

Isso só ficou claro depois que ele se suicidou.

Aí, o mundo percebeu que ele falava sério.


Seu jeito de dançar, balançando descoordenadamente os braços, hipnotizava a platéia.

Em algumas apresentações, o ponto alto do show ocorria quando Curtis se retorcia no chão.

O público delirava.

Só que o vocalista, mesmo tendo em Iggy Pop um de seus paradigmas, nunca se atirava no palco voluntariamente.

Ele sofria de epilepsia.

Não raro, entrava em transe durante os concertos. Mas a música não parava.

No outro dia, tudo voltava ao normal.

Se é que tanta tormenta transformada em arte pode ser considerada algo normal.

Os shows debilitavam ainda mais o estado de saúde do vocalista.

Em um show em Londres, Ian Curtis teve um ataque epiléptico e acabou caindo em cima da bateria, para delírio da platéia.

Uma nova guitarrista, Gillian Gilbert, namorada e depois esposa do baterista Stephen Morris, apresenta-se com a banda em alguns shows.

Uma turnê americana estava prestes a se iniciar, quando acontece a tragédia.


Em 1995, sua viúva, Deborah Curtis, escreveu o livro “Touching from a Distance”, uma maneira que encontrou de exorcizar a dor da perda e também de reencontrar o fio da meada de uma história enigmática.

Ela estava separada de Curtis quando ele se matou, em 18 de maio de 1980.

O parceiro Peter Hook chamou-o de “bastardo”, quando soube da notícia.

O amigo Tony Wilson disse que foi um gesto “altruísta”, já que Curtis não sabia viver consigo mesmo e magoava as pessoas em volta.

A viúva enumera as maneiras que Curtis encontrava de magoar os seus: com amantes regulares, não comparecendo à festa de aniversário da filha, entre outros “desvios” familiares.

Mas era a crônica de uma morte anunciada.

Poucos dias antes do suicídio, Curtis já havia dito ao seu psiquiatra que havia conseguido tudo o que queria com a gravação de “Unknown Pleasures” e não lhe tinha restado mais nada a fazer.

Para a mulher, ele planejou minuciosamente a própria queda, usando as pessoas que estavam à sua volta para legitimar o seu ato derradeiro.

Então, naquela tarde de maio, Ian assistiu a “Stroszek”, filme de Werner Herzog, tomou uma jarra de café, uma garrafa de uísque e colocou a fotografia da filha Natalie sobre o balcão.

Depois, pegou uma corda e se enforcou.


No ano seguinte, ainda sentindo o baque da perda, os remanescentes do Joy Division resolvem manter o grupo unido, desta vez usando o nome de New Order.

“Nova Ordem” era um termo muito usado por Adolf Hitler e seus asseclas para designar o regime que pretendiam impor à humanidade.

Entretanto, mais tarde o livro “24 Hour Party People”, de Tony Wilson, revelou que o nome era uma referência ao Khmer Vermelho e foi sugerido pelo empresário da banda na época, Rob Gretton, após ter assistido na TV um documentário sobre a revolução no Camboja.

Especula-se também que a escolha do nome poderia ter sido uma homenagem aos The Stooges, embrionário grupo proto-punk norte-americano, que foi uma grande influência no som da banda quando ainda se chamavam Joy Division.

New Order foi o nome dado pelo guitarrista Ron Asheton ao seu novo conjunto depois que os Stooges foram desativados com a saída definitiva do vocalista Iggy Pop.

Apesar de terem sido eclipsados pelo gênio Ian Curtis, o New Order só tinha figuraças.


Peter “Hooky” Hook era o “deus pagão do baixo elétrico”.

Músico sem formação, roqueiro até no DNA, bêbado e fumante inveterado, ainda hoje alterna momentos de agressividade gratuita e sensibilidade extraordinária, quase sempre embalados por fraseados de baixo simplesmente impossíveis.

Nas horas vagas, curte passeios na sua lancha no mar de Ibiza ou nas praias da Califórnia, onde pode ser encontrado tanto ao lado de políticos, drag-queens e ativistas de direitos humanos, quanto ao lado de modelos da Penthouse (devidamente homenageadas na capa do primeiro álbum do Revenge).


Stephen Paul David Morris, também conhecido como “O Trovão”, era o responsável não apenas pelo ribombar fúnebre de inúmeros hinos da cultura gótica, como também inventou por acidente o ritmo que viria capitanear a dance music dos últimos 20 anos: o bate-estaca (tum-ts-tum-ts-tum-ts-tum...).

Sujeito sofisticado, ele abandonou há anos a atitude “Madchester” de encarar a vida e se mandou para uma fazenda ali perto, em muito boa companhia.

Costuma receber os amigos em seu estúdio particular e contar histórias de como era a dura a vida no seu tempo.

Alvo secundário dos bate-bocas da banda, freqüentemente é pego no fogo cruzado do tiroteio verbal entre Hook e Sumner.


Figura folclórica em Manchester, Bernard “Barney” Sumner tem como habitat natural qualquer festa chata ou reunião pseudo-intelectualóide, onde costuma se sentir mais importante do que realmente é, no meio de tanta gente medíocre.

Em 1980, assumiu o fardo inglório de ser eternamente comparado – injustamente – a Ian Curtis, e desde então vem colecionando desafetos nos quatro cantos do mundo.

Não diz o que pensa, não está nem aí em levar desaforo pra casa e podem chamar de babaca, que ele gosta.

Ou, pelo menos, parou de reclamar.


A doce Gillian “Gill” Gilbert, que tem musicalidade até no nome, continua sendo dona da mais misteriosa personalidade de toda a história do rock, mas a sua real influência sobre o destino da humanidade permanece uma incógnita.

Ao lado de outros ícones do movimento feminino, como Siouxsie Sioux, Elizabeth Fraser, Jayne Casey e outras damas, mostrou a que veio no decorrer na década de 80, emprestando graça e leveza ao novo som do New Order.

Após algumas poucas apresentações nos Estados Unidos, o quarteto iniciou as gravações de um novo álbum, paralelamente a uma série de shows pela Inglaterra, quando foram recebidos com frieza pelo público.

No início de 1981, fazem algumas aparições em programas de rádio e TV, e em maio do mesmo ano é lançado o primeiro single do New Order, chamado “Ceremony”.

O compacto traz, além da faixa-título, o lado B “In A Lonely Place”, ambas as faixas tendo sido compostas ainda como Joy Division.

Em setembro, é lançada a primeira coletânea do Joy Division, “Still”, que reúne sobras de estúdio e o registro ao vivo do último show da banda.


Lançado em outubro de 81, “Movement” é o primeiro álbum do New Order.

O grupo realiza uma série de shows e observa a sua aceitação nas rádios e nas pistas de dança melhorar a cada dia.

No início de 1983, é lançado o single “Blue Monday”, que chega ao topo da parada americana e, surpreendentemente, transforma-se no compacto de doze polegadas mais vendido de todos os tempos.

“Blue Monday” mostra o princípio de tudo: das bases da dance music tal qual ela é conhecida hoje até a exploração pop dos teclados que transformou o Pet Shop Boys numa das bandas mais populares do planeta – num documentário sobre o New Order, Neil Tennant confessa ter sonhado com a batida do hit alguns dias antes de ele ser lançado na Inglaterra.

A música foi um passo importante na carreira do quarteto, que mostrou seu poder de fogo nas pistas de dança e transformou a dance music em algo acessível.

“Eu ouvia bastante ‘Street Hassie’, do Lou Reed, quando me interessei por Giorgio Moroder e Donna Summer. Achei que aquela seria a direção certa”, confessou Bernard Sumner à revista inglesa Mojo.

O sucesso de “Blues Monday” abriu as portas para “Low-Life”, o disco definitivo do New Order, ainda que o anterior, “Power, Corruption & Lies” também tenha sido importante na ruptura de alguns dogmas da era Joy Division – adotando a bateria eletrônica combinada a ritmos humanos.

No início dos anos 90, o baixista Peter Hook se lança em carreira-solo com um grupo chamado Revenge.

O primeiro álbum, “One True Passion”, e os singles “Pineapple Face” e “Slave” alcançam relativo sucesso nos EUA.


O guitarrista Bernard Sumner, unindo-se ao ex-guitarrista dos Smiths, Johnny Marr, e aos Pet Shop Boys (Neil Tennant e Chris Lowe), forma o Electronic, cujo álbum de estréia alcança o Top 40 da parada britânica.

O grupo lança ainda alguns singles bem-sucedidos, como “Getting Away With It”, “Get The Message” e “Feel Every Beat”.

Ainda em 1991, o baterista Steve Morris e a tecladista Gillian Gilbert formam em dupla o The Other Two, que lança no mesmo ano o single “Tasty Fish”, com Gillian nos vocais.

No ano seguinte sai o primeiro álbum da dupla, “The Other Two... & You”.


Em junho de 93, o New Order parte em uma tumultuada turnê pelos Estados Unidos e Europa.

Brigas e discussões pontuam a excursão, que é dada por encerrada após a apresentação no Reading Festival, na Inglaterra.

Os quatro músicos retornam para suas famílias e retomam as respectivas carreiras-solo.

Em 1996 é lançado o segundo álbum do Electronic, “Raise The Pressure”, que obtém uma pálida recepção fora da Inglaterra.

Peter Hook volta a ensaiar com o seu Revenge e, no início de 97, resolve mudar o nome do grupo para Monaco.

O álbum “Music For Pleasure” transforma-se em um inesperado sucesso mundial, e o Monaco parte em turnê pela Inglaterra e Europa.

No final do ano, Hook, Sumner e Morris se reúnem a pedido de seu empresário, com o objetivo de remasterizar toda a obra do Joy Division para o lançamento de “Heart And Soul”, uma caixa formada por quatro CDs, comemorando os vinte anos do grupo original.

O lançamento alimenta rumores de que o New Order poderia se reunir a qualquer momento.

Após cinco anos afastados, os integrantes do New Order decidem fazer seis shows na Inglaterra.

O tão aguardado retorno acontece em sua cidade-natal, Manchester, em 16 de julho de 1998.

Outras três apresentações se seguem, tendo como ápice a participação no Reading Festival 1998.

Pela primeira vez, o New Order acrescenta várias músicas do repertório do Joy Division ao seu set.

A volta aos palcos alimenta boatos sobre um novo álbum de estúdio.


Em março de 1999, é lançado o segundo álbum do The Other Two, “Superhighways”, e o Electronic aparece com o seu terceiro disco, “Twisted Tenderness”, ambos com pouca repercussão.

Em fevereiro de 2000, o Monaco lança o seu segundo álbum, chamado simplesmente “Monaco”.

O álbum obtém pouca atenção da crítica e do público.

No final de 2000, o New Order decide entrar em estúdio para gravar a sua primeira faixa inédita em mais de sete anos: “Brutal” é lançada como parte integrante da trilha sonora de “The beach” (“A praia”), e é finalmente anunciado o lançamento de um novo álbum inédito da banda.

Em julho de 2001, o novo single do New Order, “Crystal”, invade as rádios britânicas, chegando ao topo da parada inglesa, onde permaneceu por cinco semanas consecutivas.

Ainda no mesmo mês, a banda volta a se apresentar ao vivo, mas sem a presença da tecladista Gillian Gilbert, afastada em virtude de problemas de saúde de sua filha Grace.

Em seu lugar, está Billy Corgan, líder dos Smashing Pumpkins.

Em agosto, o New Order se apresenta nos Estados Unidos, durante o festival “Area: One”, organizado por Moby.

O novo álbum, “Get Ready”, é lançado no mês seguinte, trazendo pela primeira vez as participações de outros artistas nas gravações.

O hit “Turn My Way” apresenta os vocais e guitarras de Billy Corgan e “Rock The Shack” conta com a participação de Bobby Gillespie e Andrew Innes, ambos do Primal Scream.

Mas vamos voltar um pouco ao início da década de 80.

Do outro lado da moeda, alguns grupos tentavam sobreviver e exaltar a sobrevivência alheia assumindo a influência da new wave norte-americana e do ska britânico da década de 70.


Bandas como Madness, Beat e Dexy’s Midnight Runners se juntaram ao The Jam – este mais inspirado pelo mod dos anos 60 – para fazer crônicas urbanas alegres, mas sem a dramaticidade no quesito melodia.

As histórias em suas canções eram de pessoas da periferia, de amores achados e perdidos em alguma lanchonete gordurosa, de tardes de bebedeira em desolados conjuntos habitacionais perdidos lá na caixa-prego.

A vida na periferia também inspirava as letras de Robert Smith, nascido num subúrbio chamado Crawley, em Sussex.

O compositor extraiu o espírito cinza de seu vilarejo natal na música do The Cure – a falta de perspectivas e os dramas cotidianos conquistaram jovens de todos os cantos do planeta, espalhados em milhares de Crawleys da aldeia global.


Igualmente suburbano, mas com uma sofisticação maior em letras e música, o quarteto The Smiths tomou a Inglaterra de assalto a partir de 1983 e abriu o caminho para dezenas de bandas.

Naturais de Manchester, como o Joy Division, os quatro Smiths falavam de solidão sem fazer metáforas.

As clássicas melodias compostas por Johnny Marr – e seu estilo de tocar a famosa guitarra Fender – estavam longe do quase minimalismo gótico.

No palco, o letrista-guru Morrissey misturava o topete de Elvis Presley, acessórios dândis, tinha buquês de flores no bolso de trás da calça jeans e simplesmente transmitia verdade ao cantar.

Adolescentes órfãos de um ídolo à altura de seus dramas juvenis abraçaram os Smiths como religião.


Os Smiths e o Cure foram representantes da primeira geração que ficaria conhecida como “indie” – abreviatura de “independent” –, designando aquele bando de bandas sem contrato com grandes gravadoras que começam com um single gravado em fundo de quintal e vão ganhando força através do boca-a-boca e shows em pequenos bares e clubes.

Duas gravadoras foram fundamentais para o surgimento do gênero: Factory, de Manchester, e a Rough Trade, de Londres.

A Factory, de propriedade do empresário Tony Wilson, teve entre seus primeiros contratados o Joy Division.

Após o trágico final da banda, os três membros remanescentes – Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris – não quiseram quebrar o contrato e pensavam em abrir novos negócios conjuntos com Wilson.

Eles chamaram a esposa de Morris, Gillian Gilbert, para assumir os vocais e os sintetizadores, última moda entre as bandas britânicas.

Nascia o New Order, e com ele um novo gênero na música eletrônica.


O New Order também teve um papel importante como mecenas do pop: em 1982, o grupo, Tony Wilson e outros sócios abriram uma das casas noturnas mais importantes do Reino Unido, o badalado Hacienda, em Manchester.

O Hacienda ficou famoso em todo o mundo por abrigar shows de bandas como o próprio New Order, o Sisters of Mercy e o Fall.

Foi também um dos primeiros grandes templos de uma nova droga, o ecstasy, e da acid house – árvore-mãe de onde partiu toda a música eletrônica atual.

Anos depois, os membros do Happy Mondays se conheceriam ali.

Os do Stone Roses também eram freqüentadores assíduos e muito do que os irmãos Gallagher, do Oasis, aprenderam sobre música aconteceu lá dentro.

Manchester só virou o principal celeiro do pop britânico graças ao clube Hacienda.

Os sintetizadores que deram identidade ao som do New Order caminharam em vários sentidos na primeira metade da década de 80.


O Depeche Mode, por exemplo, simplesmente abusou: seus quatro integrantes eram peritos no instrumento.

Tanto o Depeche Mode como o duo Soft Cell tiveram como principal influência o Kraftwerk, seminal grupo de música eletrônica alemão.

Neil Tennant e Chris Love, dois nativos do norte da Inglaterra que se encontraram numa loja de som em Londres, em 1981, tinham outros ídolos em comum.

As preferências estavam mais próximas dos musicais da Broadway, do jazz e do soul dos anos 60.


Em pouco tempo, sob o nome de Pet Shop Boys, eles explodiram nas paradas mundiais com covers de Elvis Presley (“Always On My Mind”) e Cat Stevens (“It’s A Sin”).

O Pet Shop Boys estourou numa época em que o mercado estava mais aberto e o choque econômico do início da década já havia sido absorvido.

Foi mais fácil, portanto, para que grupos como Wham! e Culture Club se estabelecessem e fizessem seus milhões ao mesmo tempo que Madonna e Michael Jackson, do outro lado do Atlântico, iniciavam a conquista do planeta.

O mercado mais fértil também foi propício para uma série de bobagens como A Flock of Seagulls, que entrou para a história por causa do ridículo corte de cabelos de seus membros.

A única diferença entre ridicularizar uma banda por causa do cabelo e ignorar o estilo nada ortodoxo de gente como Siouxsie e Robert Smith, do Cure, estava mesmo na música.

Siouxsie tinha um pouco de punk, um pouco de diva dos anos 20 e de prostituta caidaça nos seus olhos extremamente maquiados.

Mas a qualidade de suas composições superava qualquer estranhamento.

Foi a musa do movimento gótico – movimento este que, enquanto existiu, nunca foi visto por seus próprios membros como tal.

Por gótico entende-se um conjunto de bandas de rock que valorizava baixo mais alto, uso de poucos acordes, vozes soturnas e temas idem, sobretudo morte, vampiros, morcegos e rituais pagãos.

O Bauhaus, que até participou de um filme de vampiros (“Fome de Viver”, 1983), e o The Sisters of Mercy podem ser considerados expoentes maiores do gênero, que praticamente morreu na metade da década de 80.

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