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quarta-feira, maio 11, 2011

Aula 94 do Curso Intensivo de Rock: Deftones


Em alguns momentos, cantos suaves acentuam passagens viajantes e melancólicas.

Em outros, berros caóticos acompanham instrumentais raivosos e distorcidos.

Essa antítese musical representa o Deftones, uma das revelações do novo metal americano.

“Podemos juntar algo belo e meigo a algo feio e pesado”, diz o vocalista Chino Moreno. “Poucos fazem isso. É um som novo… Bem, não totalmente, pois temos raízes no metal e em outros estilos.”

Curiosamente, ele cresceu ouvindo new wave.

As influências pop, que moldaram seu canto melódico, casaram-se com as origens metálicas do guitarrista Stephen Carpenter, do baixista Chi Cheng e do baterista Abe Cunningham.

“Aprendi a ser mais agressivo por causa deles”, admite o vocalista.

O espectro sonoro do grupo, ampliado pela entrada do DJ Frank Delgado, caracteriza bem a mente aberta das bandas pesadas atuais.

O Coal Chamber idolatra Nick Cave, o Soulfly aponta Bob Marley como inspiração, e o Limp Bizkit não esconde seu amor pelo Cure.

Mesmo honrando Slayer e Sepultura, o Deftones gravou sem medo “To Have And To Hold” para um tributo ao Depeche Mode.


O primeiro trabalho do grupo, “Adrenaline” (1995), saiu um ano após a estréia do Korn, um dos marcos desse metal moderno.

Naturalmente, Chino e seus companheiros foram alvo de comparações.

“Já tocávamos nosso estilo antes deles”, defende-se Chi, lembrando que a banda também já foi posta ao lado de Primus e Rage Against The Machine.

“Fazemos nosso próprio som, mas, se quiserem nos comparar ao Korn, tudo bem. Eles pavimentaram o caminho para diversos grupos tocarem um estilo mais pesado”, minimiza.

Com o lançamento do álbum “Around The Fur” (1997), o Deftones estabilizou sua identidade musical: andamentos arrastados, climas psicodélicos e melodias dissonantes.

Músicas pulsantes e explosivas como “My Own Summer” e “Be Quiet And Drive” colocaram a banda na rota do sucesso.

Além disso, as letras extremamente pessoais de Chino conquistaram garotos já saturados por artistas que só sabem reclamar da sociedade.


Todas as canções de “Around The Fur” têm versos em primeira pessoa, englobando amor, raiva e frustração.

“Não canto para chocar”, observa o vocalista. “Minhas letras falam de coisas que todos sentem.”

A turnê de Around The Fur durou mais de um ano e mostrou como o Deftones reflete sua música nos palcos: Chino agarra o microfone com as duas mãos e canta com tanta raiva que as veias saltam em seu rosto.

Chi e Stephen pulam sem parar, sempre acompanhando a vulcânica combinação rítmica de Abe e Frank.

Mas, cá pra nós, essa mistureba de metal, rap, grunge, funk e atitude punk ainda soa diferente?

Claro que não!

O som alternativo de cinco, seis anos atrás, quem diria, se transformou em trilha oficial.

O rap metal californiano já é o novo hard rock de FM.

Onde antes havia Bon Jovi, Skid Row e Extreme, agora há Korn, Deftones, Sugar Ray e Rage Against The Machine.

O que havia de originalidade no primeiro álbum do Rage virou caras e bocas no último disco do Sugar Ray.

Essa evolução ocorre de forma simétrica no litoral nacional.

Por isso, as bandas de rap metal californianas parecem roquinho brasileiro.

Usam até as mesmas roupas folgadas de street wear, para uniformizar a falta de identidade.

O autêntico rap metal vem de 1991, quando Anthrax gravou com Public Enemy.

Tornou-se uma tentativa de revitalizar o heavy jurássico.

Com a decadência do estilo thrash, acabou virando o rock da geração dos piercings, tatuagens e esportes radicais.

Há quem chame o gênero de ultra heavy, cortando de vez a palavra metal do contexto.



O Deftones segue mais de perto as convenções do hard rock que muitas de suas contrapartes siamesas.

Suas músicas não possuem a dinâmica típica do rap metal, que costuma alternar pauladas com momentos de calma, paradas e arranques desmiolados.

Em vez disso, aceleram numa marcha única do início ao fim.

As letras do cantor Chino Moreno demonstram obsessão por moda, beleza, sexo e a corrupção que cerca essas coisas, como os velhos Guns N’Roses, distanciando-se de declarações de ódio ao mundo.

A faixa-título de “Around The Fur” – que pode ser entendida como uma referência tanto ginecológica quanto ao mundo da moda –, “Mascara” e “MX” são o tripé sobre o qual o cantor defende seus pontos de vista.



A habilidade de passar de letras latidas às harmonias melódicas o distingue da competição.

Mesmo quando destila raiva, Moreno baseia-se em seus relacionamentos.

A faixa em que comete uma parceria com Max Cavalera é um bom exemplo.

“Headup” foi inspirada no diário de Dana Wells, o falecido enteado de Max, que era amigo de Moreno.

Foi Dana quem apresentou Deftones para o ex-cantor do Sepultura.

O Deftones realmente progrediu desde o álbum “Adrenaline”.

De filhotes do Korn, passaram a equilibrar rap com influências de roqueiros introspectivos como Smashing Pumpkins e Dinosaur Jr.

O disco “Around The Fur” não é o fim do metal, mas a absorção do peso pela geração MTV.


O Deftones paga até hoje o enorme pecado de ter dado as caras no meio da explosão da onda chamada nu-metal.

O termo, hoje, é um clichê da mistura maçante do rap com guitarras distorcidas, música sem cérebro e repetitiva e a velha fórmula: a canção começa devagarzinho, vai ganhando velocidade... velocidade... até estourar em gritos tresloucados.

Como poucos da sua cambada, o grupo liderado pelo desleixado Chino Moreno demonstrava, desde “Adrenaline” (1995), ter um gosto especial pelo desconhecido.

Faixas como “Nosebleed”, “Lifter”, a poderosa “7 Words” e o vídeo “Bored”, conquistaram os críticos e muitos fãs.



Depois de excursionar com o Korn (que ajudou a classifica-los como nu-metal), a banda entrou na trilha sonora dos filmes “O Corvo: A Cidade dos Anjos” e “Fuga de Los Angeles”, ganhando uma projeção ainda maior.

No aguardado terceiro trabalho, “White Pony”, o Deftones chuta o hip-hop para escanteio e resulta quase como um encontro do Helmet com o Faith No More.

Os climas densos, “deprês”, às vezes beirando o minimalismo, dão vazão a discursos críticos e eróticos.

Chino deixa aos poucos os berros em segundo plano e continua a experimentar suas cordas vocais como na arrasadora “Feiticeira” – não uma cover da canção do brega Carlos Alexandre, mas uma “singela homenagem” à nossa siliconada (Max mostrou uma gravação do programa O+ para Chino, que ficou indignado com o que viu).

Há ainda o duelo com a mais enigmática garganta do metal modernoso, Maynard J. Keenan (Tool, A Perfect Circle), na psicótica “Passenger”, enquanto o DJ Delgado ataca com bits e texturas a avalanche sonora dos riffs e percussão.

Se o nu-metal quiser perdurar por mais alguns aninhos, vai depender de álbuns como esse White Pony, ou do novo do Soufly (“Primitive”), que demonstram ainda a possibilidade de existir vida inteligente no meio de tanto barulho.

2 comentários:

Anônimo disse...

Deftones está muito além q qualquer rotulo...
É um som único q poucos entendem.
Aconselho a todos q procurem saber a historia e o som desses caras q mudaram minha vida!!!

Anônimo disse...

Deftones tem um som único q vai além dos rótulos...
Mudou minha vida, e para aqueles q entendem seu som sabe como esses caras são foda!!!