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sexta-feira, maio 06, 2011

Play it again, Sam!


Na 1ª fila: Eu, Paulinha Marques, Carlos Castro, Durango Duarte, Anibal Beça, Norberto Anzol e Antonio Paulo Graça. Atrás: Marco Gomes, Zemaria Pinto, Carlos Araújo, Rogelio Casado, Armando Loureiro e Marcos Figueira. Ao longe: Marcus Castro, Uézelis Macca, Rita Freire e Aldisio Filgueiras.

Em março de 1996, lancei a 1.ª edição do livro “Rock: a música que toca”, durante uma festa movida a álcool, mulheres e rock’n’roll, no Espaço Cultural do SESC, no centro de Manaus.

A banda Veneno da Madrugada, de Matheus Gondim, foi responsável pela argamassa sonora do evento.

Publicado de forma independente, o livro possuía apenas 156 pp, nenhuma foto e cobria o período 1954-1994, ou seja, os quarenta anos da criatura.

Ainda assim, para minha grande surpresa, os 2 mil exemplares se esgotaram rapidamente.


Seis meses depois, uma porrada de sujeitos já estava me incriminando por ter feito um relato bastante superficial de vários ídolos.

Um desses leitores, lá de Boa Vista (RR), teve o desplante de me enviar uma carta furiosa, questionando por que eu tinha dado apenas seis páginas sobre a história dos Beatles e quase o triplo sobre a trajetória do Lou Reed, que o tal leitor nem sabia quem era.

Para contentar os pentelhos & eternos insatisfeitos, resolvi fazer uma 2.ª versão, ampliada e melhorada.

Mas antes eu pretendia concluir a minha trilogia musical, cujo objetivo era provar que todas as variantes da música moderna tiveram origem nos tambores africanos.


O meu livro seguinte, “Funk: a música que bate”, lançado em 2000, no Espaço Cultural Valer, teve uma recepção ainda mais calorosa.

Publicado pela Editora Valer, o danado esgotou duas edições em menos de um ano, uma verdadeira façanha se levar em conta que o livro circulou somente em Manaus.

Na festa de lançamento, o DJ Marcus Tubarão garantiu a argamassa sonora com o melhor da black music de todos os tempos.


Em 2002, no Bar do Armando, lancei “Reggae: a música que pulsa”, também publicado pela Editora Valer, e dei os trâmites por findos.

O DJ Marcus Tubarão, novamente, segurou as carrapetas, em uma festança que entrou pela madrugada.

Entre os convidados especiais, Thiago Flores, vocalista da banda de reggae Johnny Jack Mesclado, e Marcelo Rato, líder da banda Deskarados, uma das precursoras do reggae em Manaus.

Em 2004, reescrevi o livro do rock para lançá-lo em julho, no cinquentenário da criatura, o que acabou não acontecendo por motivo de força maior (leia-se falta de grana).

Dessa vez, o novo livro possuía 612 páginas, 82 fotos e cobria o período 1954-2004.


O livro foi lançado no Solarium, em maio de 2006, durante a celebração dos meus 50 anos de gandaia, em uma nova festa movida a álcool, mulheres e rock’n’roll.

O DJ Ernesto Coelho foi responsável pela argamassa sonora do evento.

Os 2 mil exemplares da 2ª edição também se esgotaram rapidamente e hoje são item de colecionador.

Os dois livros do rock foram bancados com recursos próprios e a little help from my friends, mas apesar da boa vendagem não me deixaram rico.

Além de vendê-los a preço de custo, uma grande parte foi doada graciosamente para vários homeboys desprovidos de numerário.


Encerrei minha carreira de arqueólogo musical para me dedicar a uma trilogia machista (Manual do Canalha, Manual do Espada e Manual do Garanhão), condensados no grande, grosso e vibrante “Alô, Doçura!”, lançado em 2008, no Solarium, com direito a dança de ventre e coroação de novos cavaleiros da AMOAL.


De lá pra cá, não lancei mais nenhum livro.

Há alguns meses, entretanto, uma roqueira da nova era, que frequenta minha casa de vez em quando, me pagou essa, enquanto ouvíamos um velho disco de blues:

– Aê, tio, por que o senhor não lança uma nova edição do livro do rock?

Explicar a ela que não tenho mais saúde, vontade ou paciência de correr em busca de patrocínio me pareceu um despropósito.

Limitei-me a responder:

– Porque sim.

Ocorre que Madame Butterfly (esse, o nome da roqueira) não se deixa dobrar com tanta facilidade.


Nas últimas semanas, ela tem pegado muito no meu pé (para dizer o mínimo) e reclamado tanto da minha insensibilidade sobre o assunto, que resolvi surpreendê-la na faixa.

Assim sendo, quero informar aos frequentadores do mocó que a partir da próxima semana estarei publicando a história completa do rock aqui no pardieiro.

É evidente que utilizarei como carta náutica o material publicado na 2ª versão do livro, o que implica em dizer que os roqueiros rebotalhos e as bandas merdunchas dos últimos tempos vão ficar de fora.

Ou seja, vocês não vão ler uma mísera linha sobre Arctic Monkeys, Coldplay, Evanescense, The Killers, Paramore, Franz Ferdinand, Fall Out Boy, Panic! At The Disco, Simple Plan, Kings Of Leon, Snow Patrol, Kaiser Chiefs e o resto da choldra.

Não lembro exatamente o dia em que fui fisgado pelo tal de rock’n’roll, mas parece que foi ontem.

O que lembro, com absoluta certeza, é que minhas duas irmãs mais velhas, Simone e Silene, compravam muitos compactos (“singles”) da Jovem Guarda e dos Beatles, no final dos anos 60.

Era esse tipo de som que eu curtia nas festinhas (“brincadeiras”) dadas em casa ou na vizinhança.


No início dos anos 70, comecei a gostar da santíssima trindade do heavy metal (Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabath).

A voz esganiçada de Ian Gillan em “Speed King” me converteu, definitivamente, para a nova seita.

Aliás, o primeiro disco que comprei na vida foi “In The Rock”, do Deep Purple, graças a um emprego de feirante que arranjei com meu mano Wilson Fernandes (aka “Simona”), quando tinha dezesseis anos.

Todo sábado, eu ajudava o simpático Simona numa banca de verduras na Feira Livre da Cachoeirinha.

Hoje pode até soar romântico, mas na época era uma pedreira.


Simas e Wilson Fernandes, durante minha festa de aniversário em 2007. O doce Simona faleceria no ano seguinte, vítima da diabetes

De manhã cedo, eu ajudava a montar a banca, descarregava verduras e legumes e colocava os preços (com giz) nas tabuletas de compensado.

Depois, ia pegar água para “aguar” as verduras.

Aí, passava o dia inteiro vendendo hortaliças, recebendo e dando troco (existe confiança maior?), até que por volta das 10 da noite, quase um zumbie, ajudava a desmontar o circo.

Além dos trocados que ganhava, levava pra casa um bom sortimento de verduras e legumes, que ajudavam no apertado orçamento doméstico dos velhos.

Tenho orgulho daquela época.


Eu, Carlos Araújo, Mário Adolfo, Marco Gomes, Geraldo Caraíba e Dr. Santana

O jornalista Mário Adolfo, meu melhor amigo desde os dez anos de idade e uma espécie de irmão mais velho, nunca se interessou pelo rock.

Sua praia era (e ainda deve ser) a MPB, de Lupícinio Rodrigues a Caetano.

No máximo, ele se empolgou com os Beatles e a Jovem Guarda.

Nunca entendi porque ele não fez a sagrada transição e atravessou o portal do heavy metal, já que compartilhávamos o mesmo amor por gibis, contracultura, humorismo, rebeldia e literatura afins. Choses.

O certo é que dos 16 aos 20 anos ficamos muito afastados um do outro por conta de nossos gostos musicais – apesar de continuarmos “blood brothers” (“irmãos de sangue”).

Ele e sua galera (Sidão, Armandinho, Felisberto, Ruizinho, Galúcio etc.) eram da turma da serenata, banquinho e violão. Ganhavam as minas da Cachoeirinha com poesia.


A minha turma (Luiz Lobão, Paulo César Dó, Airton Caju, Gilson Cabocão, Áureo Petita, Heraldo Cacau, Marcos Pombão etc.) era da pá virada: rock e funk na veia.

Nossa praia eram as Cohabs (da Raiz e do Parque Dez) e os cafundós de São Francisco.

Ganhávamos as minas na mão grande. Nunca nenhuma delas reclamou. Tenho orgulho daquela época.

Minha devoção pelo rock começou, verdadeiramente, a partir de 1973, quando comecei a trabalhar na Sharp do Brasil, como técnico do Controle de Qualidade.

Ganhando cerca de mil dólares por mês, com apenas 17 anos e morando na casa dos meus pais, aquilo foi tipo acertar na mega-sena acumulada.

Eu dava metade do salário para minha mãe, separava 200 dólares para a vagabundagem (birita, cigarros, cinema e mulheres) e torrava o resto na compra de discos.


João Bosco Rodrigues e Graça Costa e Raimunda Nahmias e Luiz Miguel, entre outros, durante uma das famosas brincadeira em nossa casa

Comprando uma média de 30 discos por mês, em pouco tempo eu já possuía uma das melhores coleções de rock da Cachoeirinha.

Confesso que eu não era o melhor colecionador do mundo.

Tratava direitinho dos discos, mas foi muita festa em casa, muita gente tacando o dedão gorduroso no sensível vinil, um ou outro usando até mesmo para botar o copo de caipirinha em cima.

Mas os danados resistiram.


Jane Jatobá, eu, Carlos Castro e Jaques Castro

Quando, aos 20 anos, fui morar com Jaques Castro, César “Abu” Rodrigues e Rui Johnny Mathis, num “apertamento” no bairro da Glória, a coleção passava de mil LPs. Tudo coisa fina.

Apesar de ser um comprador compulsivo, eu sabia exatamente o que estava querendo ou procurando.

As três principais lojas de disco de Manaus (“Disco de Ouro”, de Sara e José Simones, “Ponto”, de Joaquim Marinho, e “Transa”, nos altos da loja “Jaú, o Camiseiro”, ali na Sete de Setembro) eram minhas velhas conhecidas.

Eu passava horas e horas escarafunchando os estoques, selecionando discos e testando as “bolachas” nas cabines de audição.

Descobria coisas que nem os proprietários sabiam que tinham. Pré-história tem disso.

Do metal pesado, eu fui de Led Zeppelin a Bad Company.

Do glam metal, de T. Rex a Sweet.

Do progressivo, de Jethro Tull a Pink Floyd.

Do rock industrial, de Kraftwerk a Tangerine Dream.

Isso, sem contar os – para mim – clássicos: Rare Earth, Credence, J. Geils Band, Slade, Grand Funk Railroad, Procol Harum, Leon Russell, Edgar Winter Group e outros metaleiros que ninguém gostava ou sequer conhecia.

Meus sets de discotecagem nas boates Danilo’s e Privé eram verdadeiros laboratórios.

Se determinada música fizesse sucesso, eu a repetiria exaustivamente nas “brincadeiras”.

Caso contrário, eu continuaria curtindo em casa, mas isolado do populacho por um potente headphone Sansui.

Para começar a comprar discos de funk e de reggae, que funcionavam melhores nas pistas de dança, foi um pulo.


Na década de 80, quando começou minha fase de casa-separa-mora-com-amigos-casa-separa-mora-com-amigos, meus discos de vinil foram sumindo, esquecidos em trocentas casas e apartamentos diferentes.

Envolvido com o sindicalismo até a medula, logo me afastei do rock, apesar de continuar acompanhando sua trajetória de uma distância razoável.

Mas parei de comprar discos.

Limitei-me a ler sobre os lançamentos em revistas especializadas.

Penso que depois da morte do baterista John Bonham, do Led Zeppelin, o tipo de rock que eu curtia ficou sem a menor graça.

Em compensação, o funk acabou gerando o hip hop e o techno, e o reggae, o dancehall e o raggamuffin’.

Acabei me envolvendo muito mais com esses dois gêneros.

De qualquer forma, chegou a hora de exumar o glorioso passado do rock.

Espero que vocês curtam e depois agradeçam a essa moleca aí embaixo.

Só mesmo uma roqueira como a Madame Butterfly para me dar essa trabalheira da muléstia.

Oh, yeah!

2 comentários:

Rebecca Wendy disse...

foi bom encontrar blog com ft de minha mâe Raimunda Nahmias

padi reload disse...

reloadpadi.blogspot.com