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segunda-feira, junho 13, 2011

Aula 47 do Curso Intensivo de Rock: Aerosmith


Outra banda americana surgida na mesma época do Kiss foi o Aerosmith, do vocalista Steve Tyler (os únicos lábios pneu de caminhão da cena roqueira a rivalizar em feiúra com os de Mick Jagger).

Herdeiro direto do passado pesado do Led Zeppelin e dos Rolling Stones, o Aerosmith estava disposto a manter viva a tradição metaleira com sua orgia de rock & adrenalina unindo seus amplificadores envenenados a distorções nos últimos limites.

O grupo surgiu em 70, como o trio Chain Reaction, e era formado por Steven Tyler (bateria), Joe Perry (guitarra) e Tom Hamilton (baixo).

Com Tyler assumindo os vocais e a adição de Brad Whitford (segunda guitarra) e de Joey Kramer (bateria), eles encontraram a formação definitiva.

Em 1973, excursionaram com a The Mahavisnhu Orchestra, de John Mclaughlin, e depois com o Mott the Hoople, divulgando o álbum “Aerosmith”, lançado no ano anterior.

Em 74, lançaram um novo álbum “Get Your Wings”, que teve melhor vendagem que o primeiro, mas não catapultou o grupo para o estrelato – a não ser na região de Detroit, onde eram considerados os representantes do som pesado da cidade.

Em 1975, com “Toys In The Attic” vendendo horrores, já eram o máximo do heavy metal americano com o guitarrista Joe Perry ensinando cabeludos do mundo inteiro que era possível tocar com virtuosismo – sem ser só uma barulheira indistinta.


Em 76, eles gravaram o álbum fundamental para seu vôo rumo ao estrelato.

Unindo violência com sedução em doses arrebatadoras, “Rocks” produziu um efeito devastador na época de seu lançamento.

Um disco pesado, mas bem balançado onde o Aerosmith somava ótimas passagens melódicas e um punch vindo da música funk à selvageria explícita dos riffs.

A faixa de abertura, “Back In The Saddle” (com sua introdução ritualística , culminada pelos relinchos das guitarras), assim como “Sick As A Dog” tornaram-se clássicos.

A voz esganiçada de Steven Tyler sugeria o grito de ordem de um sumo-sacerdote, comandando uma espécie de festival de imolações, angústias e tensões fulminantes.

A entrada macia de “Last Child” ameaçava uma balada, mas o baixo demolidor de Tom Hamilton confiscava a melodia inicial para os domínios negros do funk.

Guitarras aceleradas davam a partida para o ritmo de “Rats In The Cellar”.

A festa seguia quando “Combination” irrompia em uma levada sensual, com vocais à beira do gozo.

“Nobody’s Fault” entrava com a fúria de um touro no meio da arena e – no clímax – a voz de Tyler cuspia uma seqüência de versos encadeados.

As tensões aquietavam-se no boogie de “Get The Lead Out”, mas era retomada na floresta elétrica de “Lick And A Promise”.

Para encerrar, “Home Tonight” era uma última e desesperada tentativa de balada – desta vez bem-sucedida.

O que era uma descarga incessante de energia acabava em uma dilacerante canção de amor.


Com “Rocks”, o Aerosmith conquistou a fama de grande banda e conseguiu a forma definitiva para um som que iria seduzir multidões nos anos seguintes.

Em 1977, eles viraram os vilões do filme “Sgt. Pepper’s” de Robert Stigwood, em que contracenavam com os Bee Gees e Peter Frampton.

Sua versão de “Come Together”, de Lennon e McCartney, incluída na trilha do filme, virou cult.

Mas, em 1979, os egos de Perry e Tyler (que sempre foram parceiros de composição) entraram em choque e começou a debandada geral.

O guitarrista Brad Whitford saiu para fundar a Whitford-St. Holmes Band com Derek St. Holmes, ex-Ted Nugent.

Joe Perry também caiu fora para a entrada de Jimmy Crespo, que veio da New York Band Flame.

A bruxa estava solta.

Em 1983, Tyler sofreu um acidente de moto e ficou um ano de molho.

Sem Perry nem Whitford, o Aerosmith deixou de ser a mesma banda de antes e seus inúmeros clones começaram a lhe passar para trás.

Mas em fevereiro de 1984, os dois foram até os camarins da banda em Boston, após um show no Orpheum Theater, e entraram em acordo com Tyler.


Reataram a parceria e, em março, a formação original voltou a se reunir para anunciar sua intenção de fazer uma turnê pelos EUA.

Quando recomeçaram, Tyler teve um chilique de novo durante um show em Springfield e ameaçou detonar todo mundo.

Tudo acabou se normalizando em nome da sobrevivência da banda e eles gravaram “Done With Mirrors” pela Geffen Records.

Em 1988, eles lançam o LP “Permanent Vacation”, seu nono álbum de estúdio, dando a volta por cima com muito rock’n’roll.

Com esmerada produção, que inclui metais, cordas e percussão, acompanhando o furor das cordas e bateria, as faixas fluem agradavelmente, com destaque para “Rag Dall”, “Magic Touch” e a versão de “I’m Down”, dos Beatles.

Em 1989, nasceu Chelsea Anna, a filha mais nova de Tyler, e o vocalista-diva ficou mais manso.

Nessa altura, eles já eram lendas vivas e podiam se dar ao luxo de viver de juros e dividendos.

Em novembro do mesmo ano, pintou a primeira excursão européia em 12 anos, tour muito festejada por fãs de todo tipo – até David Coverdale foi aos camarins do grupo em Londres.


Em 1990, o Aerosmith lança o LP “Pump”, um trabalho altamente contagiante, balançado, com peso e sensualidade junto a boas harmonias vocais.

São faixas quase emendadas umas às outras, numa seqüência capaz de tirar o fôlego do ouvinte, com destaque para “Young Lust”, “Love In Elevator”, “Janie’s Got a Gun” e “My Girl”, além do blues “Don’t Get Mad Get Even”, e a balada de encerramento, “What It Takes”.

Em todas elas, mais uma vez ficava comprovada a boa forma vocal de Steven Tyler, embalada pelas aliadas guitarras de Whitford e Perry e a cozinha a cargo de Hamilton e Kramer, que conduz o ritmo com a maior segurança.

Convidados do programa Saturday Night Live, da rede NBC, fizeram uma ponta cantando o tema de abertura do quadro “Wayne’s World” – e a revista Rolling Stone os elegeu a melhor banda de heavy metal do ano.

Foi o renascimento para a crítica, que considerava a banda uma espécie em extinção.

Daí em diante, eles fizeram shows com Metallica, Black Crowes, Whitesnake, Poison, Thunder e Warrant.

O ano de 1991 confirmou a boa fase da banda: eles ganharam quatro prêmios no American Music Awards e obtiveram a melhor performance de rock pela crítica do Grammy.

Em 1993, o Aerosmith lança “Get A Grip”, um disco que ainda exalava aquela rebeldia de sempre e trazia mais do mesmo: baladonas, putaria, riffarama de comercial de Budweiser, rockão com vocal do guitarrista Joe Perry, pose de moleque peralta, umas participações especiais (de três escrotaços, Lenny Kravitz. Don Henley dos Eagles e Desmond Child, compositor de encomenda que já emplacou hits para Kiss, Bon Jovi e o próprio Aerosmith, inclusive “Dude Looks Like A Lady”).

Tudo muito adequado e absolutamente idêntico ao que eles sempre fizeram, mas que ainda assim tinha o seu valor.


Em 1997, o crítico musical Thales de Menezes, da revista Bizz resenhava assim o novo disco do Aerosmith “Nine Lives”

“Conheces Get A Grip? É um discão, obrigatório em qualquer coleção de rock que se preze.

Foi o álbum que serviu, há três anos, para garantir ao Aerosmith um lugar no panteão pop dos anos 90, mesmo depois de mais de vinte anos de estrada.

E Get A Grip tem músicas arrasadoras, que renderam um punhado de clips mais arrasadores ainda, como “Cryin’”, “Amazing” e “Crazy” – que celebrizou as deusas Alicia Silvestone e Liv Tyler.

Se você ainda não tem o disco, vá correndo a uma loja para comprar.

Se estiver em falta no estoque, não faz mal.

Peça Nine Lives, o recém-lançado e muito aguardado novo trabalho do Aerosmith.

É igualzinho. Está tudo lá: o vozeirão de Steve Tyler, a guitarra roqueira de Joe Perry, a percussão pesadíssima...

Tudo mixado sem muita sutileza, mas está bom.

O principal problema talvez seja a longa duração do álbum, com seus 71 minutos.

Rocks, clássico da banda nos anos 70, tinha apenas 34 minutos e era o máximo.

Tudo o que é demais cansa. Até o bom rock de macho do Aerosmith.”

Após mais de um ano de brigas, acusações de uso de droga divulgadas pela mídia, um colapso nervoso de um dos membros da banda, troca de produtores e agentes, e uma guerra suja nos bastidores com tantas divergências e traições capazes de encher uma série de TV, é que o disco foi lançado.

“Foi um dos discos mais difíceis que já fizemos”, disse Tyler.

A Sony só queria uma coisa: que as vendas compensassem o investimento, pois pagou ao Aerosmith US$ 30 milhões mais US$ 24 milhões pelo catálogo anterior do grupo.

Esse dinheiro todo ajudou a aumentar a responsabilidade e a ansiedade – em relação ao que todos julgaram ser um álbum crucial.

Quem saiu de cena foi o agente de longa data, Tim Collins, que orientou a banda durante uma década, mas foi demitido em julho de 1996.

Outro que caiu fora foi o produtor Glen Ballard, que fez sucesso com Alanis Morisette, mas cujo trabalho com o Aerosmith foi refeito pelo novo produtor, Kevin Shirley.

Ballard diz que não há mágoas e que ele ainda “ama o Aerosmith como irmãos”.

Ballard insinua que outros compromissos o obrigaram a deixar o projeto, mas Collins afirma que Ballard foi despedido duas semanas depois dele próprio ter sido dispensado.

Ele diz que Ballard tinha ameaçado sair antes, depois de ter sido “insultado” por Tyler.


O álbum “Nine Lives” soa como um disco que emergiu do conflito.

Basta ouvir algumas canções de batida forte como “Crash”, “Attitude Adjustment” e “The Farm”, uma trilha psicodélica que Tyler compara a uma “desesperadora segunda semana do programa de reabilitação de drogas, quando ficamos babando no babador”.

Perry acrescenta: “Em ‘The Farm’, em que Steven canta a ‘agulha no meu braço’, eu posso vê-la e senti-la. Faz parte da nossa realidade. Será que isso quer dizer que ele está usando drogas de novo? Não, apenas está se referindo a alguma coisa que conhece”.

A banda começou a trabalhar com Ballard na South Beach de Miami, onde as suspeitas de que Tyler estava voltando a usar drogas vieram à tona, principalmente depois de ele ter sido visto em festas “da pesada” das quais participavam celebridades como Jack Nicholson e Sylvester Stallone.

“É tudo mentira”, diz Tyler. “É verdade, eu saí apenas quatro vezes e uma delas foi documentada na revista People”, afirma Tyler. “Houve muitas noites em que fiquei acordado a noite inteira escrevendo e não desliguei a minha luz antes das 7 horas. Sobre isso ninguém fala”.

O baterista Joey Kramer esteve ausente das sessões de Miami, porque estava “deprimido” com a morte do pai, diz Tyler. “Disse a todo mundo que estava tendo um colapso nervoso e não podia tocar”.

O trabalho do álbum começou quando Ballard montou um estúdio portátil no Marlin Hotel de Miami.

Muitas vezes, ele e a banda trabalharam os sete dias da semana criando canções.

“Glen foi um workaholic”, diz Tyler. “Trouxe uma grande máquina de café expresso, tínhamos uma suíte no hotel, ele montou a sua parafernália de estúdio e todos os dias foram de trabalho duro”, conta ele. “Nós chegávamos, fazíamos algumas brincadeiras, tomávamos um café expresso e tocávamos, tocávamos, tocávamos. Pensávamos em alguma coisa e entrávamos no quarto para escrever as letras. Porém, foi difícil continuar sem Kramer. Um baterista substituto, Steve Ferrone (que havia feito um tour com Eric Clapton), veio para o grupo, mas lhe faltava o som trash de Kramer”, diz Tyler.


As tensões começaram a formar-se entre Tyler e Collins, que diz que o ambiente de South Beach possibilitou que Tyler “se envolvesse em um monte de coisas que prejudicaram sua serenidade”, garante. “Quando não estava trabalhando, onde ele estava? Certamente, não era na igreja”.

Collins diz que Tyler admitiu diante dele ter usado drogas novamente. Tyler nega veementemente.

“Ele é um mentiroso, pois disse a outras pessoas que eu estava me drogando com Courtney Love. Por que espalharia esses boatos falsos a meu respeito?”, pergunta. “Tim também chamou o presidente do nosso selo e disse-lhe que eu estava a todo o vapor nas drogas”. O presidente disse: “Ok, vamos chamar de volta o velho paradigma; vamos trazer Kalodner de volta para cá”.

“Não sei nada a respeito de Courtney Love transando drogas com ele”, respondeu Collins. “O que eu fiz em relação à gravadora foi chamá-los e dizer que precisávamos trazer Kalodner de volta. Disse que não sabia se Steven estava enlouquecendo com a preparação do disco ou se estava usando drogas de novo”, disse.

“Realmente, as coisas ficaram tão ruins entre nós que ele se irritava comigo a respeito de tudo. Se um avião atrasava, ele gritava comigo”.

As tensões estavam crescendo também entre Tyler e o restante da banda.

Em junho de 96, houve uma reunião entre Collins e os outros quatro componentes do grupo (Perry, Kramer, Brad Whifford e Tom Hamilton) – mas sem Tyler – no escritório de Collins em Cambridge, Massachusetts.


Mais tarde, ainda naquele mês, eles se reuniram novamente em Steps, um centro de resolução de conflitos na Califórnia e rascunharam um bilhete para Tyler comentando sobre o seu comportamento “irracional”, sem mencionar drogas.

O momento decisivo no relacionamento de Collins com a banda parece que ocorreu no mesmo mês em uma conversa telefônica entre ele e a mulher de Tyler, Teresa.

Ela perguntou a Collins se o marido estava usando drogas de novo e traindo-a.

“Se ele está, então você sabe o que ele está fazendo”, é o que Collins diz ter dito a ela, sem precisar lembrá-la de que Tyler buscou tratamento por ser viciado em sexo anos atrás, quando se internou em uma clínica no Arizona.

Mas Tyler conta uma outra história.

Diz que Collins “gritou” com a mulher dele e disse que ele estava andando com outras mulheres quando ele estava na Flórida, “escrevendo o melhor álbum que podia”.

Houve também problemas entre Collins e Perry, seu contato original com a banda.

Collins foi o agente de Perry quando ele deixou o Aerosmith para formar o Joe Perry Project, no início da década de 80.

Collins diz que, na época, Perry estava tão embotado pelas drogas que estava sem dinheiro e dormia no sofá de Collins em Waltham, Massachusetts.

Tyler, diz ele, estava também imerso nas drogas e morava em um quarto do Gorham Hotel de Nova York.

Quando Collins veio para agenciar o Aerosmith novamente reunido, Tyler admite que Collins “chegou a financiar o seu vício de um grama de cocaína por dia”.

Depois veio o bem documentado caminho para a sobriedade e uma curva ascendente de álbuns que venderam muitos milhões de cópias.

Durante esse período, Perry permaneceu leal a Collins, embora ambos, ele e Tyler, acabassem irritados com as cruzadas públicas de Collins contra as drogas.

Seus nomes eram sempre mencionados como parte das próprias confissões de Collins, pois ele mesmo já fora um drogado.

As discórdias culminaram com a dispensa de Collins.

Hoje em dia, Tyler diz que Collins “é passado” na sua carreira e na sua vida.

Perry diz que Collins ainda está tentando “nos gerenciar a distância”, mesmo depois que a banda promoveu Wendy Laister, que era assistente de gerente, poucos dias depois da demissão de Collins.

Collins observa que não recebeu um níquel da banda ou direitos autorais desde que foi dispensado.

Depois dos pesadelos do verão de 96, a banda reencontrou-se no Avatar Studios de Nova York e terminou o álbum.

Sua força indica que a banda já superou a crise – embora tenham surgido outras controvérsias.

Uma era a decisão de lançar um CD com apenas seis canções antigas exclusivamente na cadeia de lojas Wal-Mart, como uma isca para os fãs comprarem o tal disco e o novo álbum ao mesmo tempo.

A revista Billboard publicou uma reportagem em março de 1997 citando varejistas irritados (até mesmo o presidente da Tower Record, Russ Salomon) que dizem que a Wal-Mart teve uma vantagem injusta.

Independentemente de toda a confusão, Tyler esperava que os fãs de longa data apreciassem o esforço da banda para manter o seu som “clássico” intato.

“Abrimos este restaurante chamado Aerosmith para servir alguns pratos especiais de vez em quando”, diz Tyler, “mas também oferecemos o velho arroz com feijão e bife”.

Apesar de se ter moldado como uma versão americana dos Rolling Stones, Aerosmith nunca demonstra a obsessão do grupo inglês por CDs ao vivo.

Lançado em 1998, “Little South Of Sanity” foi seu quarto ao vivo em mais de 25 anos de carreira – os Stones lançaram três apenas na década passada.

Já que o anterior, “Classics Live 2”, saiu em 1988, “Little South Of Sanity” é o primeiro ao vivo a capturar sua fase MTV.

Gravado durante a turnê de “Get A Grip” (1993-94) e o início da turnê de “Nine Lives” (1997), o álbum duplo traz o equivalente a um CD inteiro de faixas que renderam videoclipes.

Ficaram de fora, por ironia, os clipes fartamente exibidos na MTV, “Pink” e “I Don’t Want To Miss A Thing”. Do resto, só faltou Alice Silverstone.

As gravações, entretanto, não correspondem à fama de shows vibrantes.

Steven Tyler desafina copiosamente ao tentar gritar como há duas décadas.

A presença de sopros disfarça o cansaço dos músicos, mas a interpretação soa tão burocrática quanto a escolha do repertório. É tudo óbvio.

Ao vivo, com fogos, gritos e 50 mil isqueiros Bic, o efeito deve ser outro.

No CD player, fica muito longe dos originais de estúdio.

“Little South Of Sanity” passa atestado de disco contratual, feito por obrigação, apenas porque a banda devia esse lançamento antes de encerrar seu contrato com a Geffen.

Uma despedida pouco animada.

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