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quarta-feira, junho 08, 2011

Aula 49 do Curso Intensivo de Rock: Iron Maiden


O começo foi meio complicado: no fim dos anos 70, quando o quente na Inglaterra era ser punk, um maluco resolveu formar uma banda de rock pesado, com canções melódicas e um pé firme na vertente progressiva adotada por UFO e Jethro Tull, e batizou a banda de Iron Maiden, nome de um instrumento de tortura da Idade Média.

De repente, outras bandas começaram a fazer o mesmo e um crítico da revista inglesa NME batizou este levante metálico de “New Wave Of British Heavy Metal”, uma sacada irônica para com a moda pop new wave em voga na época (vide Cure, B-52’s, Devo, etc.)

Por mais incrível que pareça, o Iron Maiden foi crescendo meio aos trancos e barrancos, com mudanças na formação a cada dez minutos.

O grupo começou a despontar na mídia em 1980, abrindo shows para o Kiss e o Judas Priest.

Depois que lançaram o segundo álbum (o pesadíssimo “Killers”), eles iniciaram a primeira excursão mundial da banda, com a participação de demônios em cena e a presença do desencarnado Eddie, um monstrengo horripilante que virou capa dos discos e marca registrado do grupo.


Ocorre que o tal maluco, o baixista Steve Harris, não tolerava drogas, doenças, casamentos ou qualquer outra coisa que pudesse prejudicar a harmonia do grupo, daí ter dispensado o ex-skinhead Paul Di’ Anno (que alguns saudosistas insistem em apontar como o melhor cantor que a banda já teve), o guitarrista Dennis Stratton e o baterista Clive Burr no final da excursão.

Disposto a confirmar a liderança na Nova Onda do Heavy Metal Britânico (que de onda não teve muita coisa: rendeu o Def Leppard, o Saxon e quem mais? O Diamond Head? O Anvil?), o Iron Maiden começou a fazer seus planos para conquistar o mundo.

Para ocupar a vaga de Di’ Anno, o invocado baixista convidou Paul Bruce Dickinson.

Vindo do grupo Samson, Bruce Dickson adicionou melodias assobiáveis e gritos operísticos ao som da banda, transformando-a em uma feroz máquina de heavy metal melódico.


O primeiro disco do Iron Maiden com Bruce Dickson nos vocais foi “The Number Of The Beast”, de 1982, que mostrou alguns hits depois tornados clássicos como a faixa-título e “Run To The Hills”.

No disco seguinte, “Piece Of Mind”, Steve Harris pela primeira vez permitiu que outros integrantes participassem ativamente das composições.

Aí, Bruce tirou da manga “Flight Of Icarus”, que apesar de sua temática mitológica (Harris é fã do negócio e Bruce, por uma feliz coincidência, é formado em História) tornou o som do Maiden mais radiofônico, mas sem farofar.

Sozinho, o vocalista enfiou-se novamente em seus livros e fez a bela “Revelations”.

Steve compareceu com, possivelmente, a canção que melhor define o Iron Maiden: “The Trooper”, até hoje uma das favoritas dos fãs, um avassalador ataque de cavalaria, e rocks mais diretos como “Die With Your Boots On”, em parceria com Bruce e com o guitarrista Adrian Smith, e “Where Eagles Dare”.

A tentativa-de-se-fazer-heavy-metal-a-partir-de-literatura da vez, “To Tame A Land”, baseada no romance Duna (que depois virou filme), não emplacou, mas ajudou a dar um charme extra ao disco.

Sob uma tutela menos pesada de Steve, o Iron Maiden pôde descobrir que berros no meio das canções não são imprescindíveis para se fazer música pesada.


Além de Bruce, que colocou as manguinhas de fora ao compor e interpretar, os guitarristas Dave Murray e Adrian Smith soltam os dedos nas harmonias dobradas que são a marca registrada da banda.

E, apesar de não aparecer tanto para a arquibancada, faz muita diferença a técnica do veterano Nicko McBrain, que o Maiden foi buscar na bateria da banda francesa Trust (do sucesso “Anti-Social”, regravado pelo Anthrax).

Sem demonstrar o virtuosismo que exibiria mais tarde, ele segura a onda com personalidade, completando a formação clássica da banda.

Em 1984, cada vez mais grandiloquente, a donzela de ferro tirava a poeira de múmias e faraós e lançava “Powerslave”, que trazia os hits “Aces High” e “2 Minutes To Midnight”.

Com esse disco, a banda viria pela primeira vez ao Brasil, em janeiro de 1985, quando 150 mil pessoas, de forma inexplicável até então para os integrantes da banda, cantaram os hinos da donzela com um fervor quase religioso.

Após o lançamento de seu primeiro disco ao vivo, o duplo “Live After Death” (1985), o Iron Maiden deu uma patinada com “Somewhre In Time”, lançado no ano seguinte.

Os críticos detestaram o disco. Os fãs, simplesmente amaram.


Na verdade, tudo o que o heavy pode apresentar de interessante o Maiden costuma apresentar com o máximo de qualidade.

O LP está muito mais para harmonia que para arraso (como as guitarras em “Heaven Can Wait” de Adrian e Dave) e com muito mais cuidado nos vocais limpos e melodiosos.

Bruce e seu vozeirão de narrador de contos fantásticos está à vontade até demais.

Os climas (nada demoníacos) dos temas estão bem amarrados e o baixo de Harris cavuca como nunca.

As faixas “Stranger In A Stranger Land” e a história de “Alexander, The Great” são os melhores momentos desse futurístico trabalho.

Em 1988 foi lançado “Seventh Son Of A Seventh Son”, o sétimo LP de estúdio do Maiden.

Ele é conceitual e trabalhadíssimo em todos os detalhes, desde a capa e os encartes até os temas, baseados na mística de que os carismas e poderes de um sétimo filho se transmitem de forma mais forte para o seu sétimo filho.

Esta força fica clara em “Moonchild”, na instigante “Only The Good Die Young” e em “Can I Play With Madness”, provavelmente a melhor faixa do álbum.

O Iron Maiden era então a expressão máxima do heavy metal da época, com todos os seus elementos em perfeita sintonia.

Dickinson estava aproveitando como nunca sua potência vocal. Murray e Smith exatos nas guitarras. O baixo de Harris não deixava vazios e o ritmo de McBrain continuava pesado e original.

Tudo que a pauleira tinha de bom podia despontar a qualquer momento no som do Maiden.


Em 1989, Bruce Dickson começa a dar sinais de que quer experimentar uma carreira solo: faz a trilha sonora para “A Hora do Pesadelo 5 – O Maior Horror de Fredy”, participa do Rock Aid Armenia, junto com Brian May, Robert Plant e Ian Gillan e lança um disco solo, “Tattoed Millionaire”.

No mesmo ano, Adrian Smith sai da banda e Janick Gers entra no seu lugar.

O disco “No Prayer For The Ding”, de 1991, marca a estréia do novo guitarrista Janick Gers, depois de ter participado do LP solo de Bruce Dickinson.

Sua entrada tem uma conotação um tanto diferente dos álbuns anteriores do grupo, que agora procura novas diretrizes metálicas, deixando um pouco de lado a grandiloqüência espetacular em que até então estava envolvido.

Este rebuscamento foi o que ocasionou a saída do guitarrista Adrian Smith e com o “retorno às origens” desta nova fase, a banda se revela mais coesa, viva e detonante, embora com certeza este não seja o melhor álbum de sua carreira.

O maior destaque fica com a forte e melodiosa faixa-título.

Os dois álbuns seguintes “Fear Of The Dark” (1992) e “A Real Live One” (1993), mostram que a donzela de ferro estava perdendo a graça.

Daquela banda divertida do início dos anos 80, não sobrara quase nada.

Agora, eles eram só um bando de bons músicos fazendo um metal melódico com um pé no progressivo mais rastaquera da paróquia.

Um implacável crítico da Rolling Stone anotou que “Powerslave” tinha sido o último disco decente do Iron Maiden.

Daí em diante, anotou, Bruce Dickinson tornara-se um chato e as músicas ficaram compridas e monótonas.

O disco “Fear Of The Dark” era o fim da linha.


“Aturar essa desgraça até o fim é uma tortura para o mais fanático headbanger”, detonou o jornalista. “E as letras continuam ridículas como nos velhos tempos, só que agora pretendem ser sérias”.

De qualquer forma, “A Real Live One” é um dos discos ao vivo mais honestos de todos os tempos. Não esconde os erros com “overdubs”.

O problema é o repertório. Você consegue imaginar um show da donzela de ferro sem clássicos metálicos como “Run To The Hills”, “The Number Of The Beast”, “Running Free” e “Iron Maiden”?

Zoeira com muitos solos de guitarra, mas ainda sim zoeira da boa.

Músicas como “Bring Your Daughter...To The Slaughter”, “Heaven Can Wait” e “Fear Of The Dark” (em ótimas versões), para escutar isoladas, até que são legais.

Mas uma hora só com elas soa muito rock de arena para uma das bandas mais importantes da história do metal.

Em 1994, Bruce Dickson deixou a banda e foi substituído por Blaze Barry, vocalista do Wolfsbane.

A donzela de ferro demorou muito tempo para lançar material inédito após a chegada do novo vocalista, já que Blaze ficou fora de combate por um bom período devido a um acidente de moto.

No entanto, quando lançou o disco, talvez nem imaginasse o rebuliço que isso causaria, sob os mais diversos aspectos.


Após tantos anos com Bruce, cuja voz se identificava com o som da banda de forma espantosa, o mundo conhecia um novo Iron Maiden, que se mostrava com o enigmático nome “The X-Factor”.

Ultrapassado. Esta era a palavra exata para definir o novo (?) álbum do Iron Maiden.

Era tudo tão datado no disco (riffs, solos, dedilhados, letras), que o cheiro de decadência podia ser sentido a quilômetros.

Como um defunto podre que haviam esquecido de enterrar.

O novo vocalista Blaze Bayley, sabia-se agora, era um aproveitador barato de um passado de glórias, que jamais se igualaria a Paul Di’ Anno ou Bruce Dickinson.

Canções como “Fortune Of War”, “The Aftermath” ou “Look For The Truth” soavam ridículas devido à pouca extensão de sua voz.

Parecia que Steve Harris e seus parceiros tinham parado no tempo.

O que poderia ser a ressurreição do Iron serviu apenas como réquiem fúnebre para toda a NWOBHM.

Bailey segurou a onda por cinco anos, mas todos sempre aguardaram a hora em que Dickinson voltaria ao seu lugar de honra.

Demorou, mas aconteceu, e da melhor maneira possível: com um discaço.


“Saiba que esse poderá ser o seu último suspiro”, berra Bruce Dickinson na letra de “The Mercenary”, a melhor canção do disco que marcou o reencontro do grupo.

Apesar de batizado de “Brave New World” (“Admirável Mundo Novo”), que é uma citação de Aldous Huxley no título e numa das canções, o conteúdo do disco não tem profecias insólitas.

Apenas uma poesia crua e dura, explorando coisas como a linha tênue que separa o amor do ódio.

“Perdi meu amor, perdi minha vida / Neste jardim do medo”, canta Dickinson, na música-título.

Bruce Dickinson ficou seis anos fora do Maiden.

Teve três filhos, os cabelos ficaram grisalhos, mas a voz permaneceu a mesma.

Seu retorno à banda – que também recebeu de volta o guitarrista Adrian Smith – foi uma injeção de vigor e energia no rock do grupo.

Eles retomaram até o apreço pelas grandes baladas épicas, que neste disco tem uma representante digna: “Ghost Of The Navigator”.

Esqueletos emergem de um mar desolado, fantasmas de navegantes perdidos, sereias nas pedras, morte e eternidade na letra do grupo, que traz um peso incontrolável.


Além de Dickinson e Smith, a banda tem Dave Murray e Janick Gers nas guitarras, Steve Harris no baixo e nos teclados e Nicko McBrain na bateria.

Produzido por Kevin Shirley (Black Crowes e Aerosmith), o peso clássico e classudo do Iron Maiden ganhou um pouco de modernidade, com mais guitarras, mais efeitos e mais sutilezas.

O velho mascote cavernoso zumbi Eddie, onipresente em todas as capas dos discos do Maiden, foi aposentado nesta.

Os tempos mudaram e o gênero “terrir” desbancou Eddie como um velhaco assustador.

Agora, a capa estampa uma visão futurista de Londres, que tem o céu encoberto por um espectro ameaçador – bem, no final das contas, ainda é o velho heavy metal.


Eddie foi personagem, em 1999, de um game lançado sobre a banda, Ed Hunter.

O zumbi-mascote abria alas para uma coletânea de 20 canções clássicas do grupo, que serviam de fundo para o joguinho.

O desafio do game: tiros na cabeça valem mais pontos porque são mais difíceis de acertar.

Mas não é um jogo indulgente: se você acertar tiros na cabeça de membros da banda, você ganha vidas extras.

It's only rock'n roll, but I like it...

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