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sábado, julho 02, 2011

Aula 27 do Curso Intensivo de Rock: The Who


Os teddy boys ingleses, portadores de uma violência contemporânea do rock’n’roll deram lugar a outros grupos marginais, como os rockers.

Contudo, até o início de 1963, era sobretudo a classe operária que era representada por estas gangues urbanas.

Daí provinham em grande número os mods, jovens rebeldes que estavam, aliás, em oposição aos já mencionados rockers.

Mods (abreviatura de “moderns”) era como se auto-intitulavam os novos dândis de Carnaby Street, os adolescentes moderninhos oriundos da classe operária britânica, com suas roupas impecáveis e ar invocado, que afirmavam sua personalidade através de um modo estilizado de se vestir, de um comportamento intempestivo, das gírias e, é claro, das preferências musicais – o soul da Motown e Stax, por exemplo.

Imaginem a cara de bunda das dondocas amazonenses se os office boys da cidade começassem a fazer compras nas sofisticadas boutiques do Vieiralves.

Pois era isso mesmo que os mods faziam.


Gastavam toda a grana em discos de soul (Otis Redding, Marvin Gaye, Wilson Picket) e em roupas transadas das mais caras boutiques de Carnaby Street: terninhos com paletós sem lapela, camisas de puro linho escocês que eles usavam abotoadas até o pescoço, calças bem justas importadas dos States, sapato de cromo alemão ou mocassins italianos.

Se a turma mais politizada costumava nutrir um certo desprezo pelo vil metal, a praia dos mods era esbanjar o dinheiro como se não houvesse amanhã.

“There’s no future!” (“O futuro não existe!”), era o seu grito de guerra.

Na realidade, desprezar a grana ou esbanjá-la são duas maneiras de criticar o establishment, contrariar a ordem econômica vigente e subverter o sistema de valores em que repousa o estilo de vida da classe média.

Era como se os mods dissessem: “Vivo fodido, passo fome, moro em favelas, mas tenho grana pra me vestir tão bem quanto vocês, seu bando de babacas!”

Eles eram tipicamente machistas, gostavam de esportes violentos e tinham um ódio insano pelos rockers, os avôs dos headbangers.

Com cabelos curtos, esculpidos a navalha e laquê, tecidos finos e sapatos de crocodilo, os mods gostavam de lambretas e viviam desafiando os rockers, fechados em suas jaquetas de couro, avessos a qualquer modismo e mais chegados a uma motocicleta.


O confronto entre as duas tribos suburbanas chegou a dar briga, depredação e polícia.

Os mods achavam os rockers alienados por gostarem de bandas como os Beatles que, segundo eles, além de terem se vendido ao sistema, esbanjavam dinheiro feitos sheiks do petróleo, mas nunca contribuíam com um tostão para as casas de caridade e asilos.

Os mods também tinham ligações com as drogas, principalmente as chamadas “purple hearts” (“corações púrpuras”, uma das gírias para as anfetaminas) e aprenderam a fumar maconha devido ao contato com os imigrantes negros do Caribe que viviam na periferia, onde eles iam curtir as festas de soul e ska.

Verdadeira subcultura, os mods tinham sua própria música e os seus grupos favoritos.

Um deles se chamava The High Numbers.

O grupo chegou a gravar um álbum que teve repercussão zero, mas começou a ficar famosos nos pubs da periferia onde costumava se apresentar.

Foi aí que conheceram os cineastas Kit Lambert e Chris Stamp, seus futuros empresários, que mantiveram a imagem mod e mudaram o nome para The Who (“O Quem”).

Um jogo de palavras do tipo: “Quem está tocando? Quem? O Quem.”

Depois veio a embalagem visual, na melhor linha op/pop da época: roupas estilizadas com as cores da bandeira inglesa e as instruções específicas para fazerem de cada show uma exibição de acrobacia e vitalidade física.


Assim como os Beatles só ficaram completos quando Ringo entrou para o conjunto, o Who só passou a existir como tal no dia em que um aprendiz de eletricista literalmente quebrou a bateria fazendo testes para ingressar no grupo.

Pete Townshend, guitarrista, Roger Daltrey, vocalista, e John Entwistle, baixista, gostaram tanto do ímpeto de Keith Moon que o contrataram na mesma hora.

Outros elementos foram entrando na jogada, alguns por obra do acaso como a famosa cena da destruição da guitarra.

Tocando num lugar onde o pé direito era muito baixo, Pete – com aqueles pulos malucos que já marcavam seu estilo de apresentação no palco – bateu com a guitarra no teto e o braço do instrumento quebrou.

Puto da vida, Pete começou a bater com a guitarra no palco e a jogar os pedaços para o público.

Depois foi buscar a guitarra-reserva e fez menção de continuar o quebra-quebra.

Solidário ao amigo, Keith Moon simplesmente demoliu o seu kit de bateria levando à loucura os mods presentes que pensavam que aquilo tudo fizesse parte do espetáculo.

A história circulou.

Daí em diante, o quebra-quebra de instrumentos (e de quartos de hotéis) tornou-se uma marca registrada do grupo.

Mas há também a versão de que isso tudo foi armado pelos espertíssimos empresários para reforçar a ligação da banda com os agressivos mods.

Talvez mais que os Beatles e os Stones, o Who foi o grupo que mais contribuiu para efetuar aquela síntese de influências que se tornaria a linguagem do rock contemporâneo.


O manifesto definitivo do Who viria através de uma canção de Townshend, em 1965, “My Generation”: “People try to put us down / Just because we get around / Thing they do look awful cold / Hope I die before I get old / This is my generation, baby/ Why don’t you all f-f-f-fade away / Don’t try and dig what we all say / I’m not tryng to cause a big sensation / I’m just talkin ‘bout my generation / This is my generation, baby, / My generation” (“Pras pessoas não valemos nada / Só porque estamos com tudo / A barra anda muito pesada / É melhor morrer que ficar caduco / Esta é minha geração, baby / Por que vocês todos não vão se f-f-f-foder? / Não tentem sacar o que queremos dizer / Pois não estou querendo causar sensação / Estou só falando da minha geração/ Esta é minha geração, baby, / Minha geração”).

Se havia uma canção para aprofundar o abismo das gerações, era esta mesmo.

Ao contrário de qualquer outra canção pop, a música não diminuía ou parava no final de cada chorus, mas se estraçalhava numa cacofonia prolongada e agonizante.

Pela primeira vez em dez anos desde o aparecimento do rock’n’roll, o estágio do “death wish” (“desejo de morte”) era claro e explícito.

A fase final e, em muitos aspectos, mais curiosa da revolução do rock inglês tinha começado.

No ano seguinte, o segundo álbum – “A Quick One” – e uma arrasadora turnê pelos EUA projetaram definitivamente o nome daquele bando de malucos que tocavam incrivelmente alto, detonando os equipamentos e mesmo os hotéis por onde passavam.

De volta à Inglaterra, o Who começou a preparar um novo álbum, com a principal preocupação de abortar o relacionamento entre sua música e os meios de divulgação e consumo a ela associados.

O resultado foi “The Who Sell Out”, que já revelava suas intenções a partir da capa: os quadro membros do grupo em anúncios (Pete com um desodorante, Roger mergulhado em feijão enlatado, Keith com um creme antiacne e John promovendo um curso de musculação).

A banda assumia que era só mais um produto à venda.


Musicalmente, o disco foi concebido como se fosse um dos programas das rádios piratas que na época proliferavam em solo inglês, com as canções intercaladas por jingles e anúncios diversos.

Desde a abertura com o psicodelismo de “Armenia City In The Sky” até a longa canção final, “Rael (1 and 2)” – que prenunciava as óperas-rock que se seguiram –, fica claro que Townshend direcionava o Who para outras aventuras sonoras, além de suas obsessões mods.

Músicas como “Tattoo”, “I Can See For Miles” e, especialmente, a etérea “Our Love Was, Is”, mostravam uma natural expansão da musicalidade do grupo, sem nunca perder contato com suas raízes.

Esse processo alcançaria a consagração popular com “Tommy” (68) – um fantasma que iria acompanhar a banda pelo resto de seus dias – e resultaria em mais dois álbuns essenciais: “Who’s Next” (71) e “Quadrophenia” (73), este um derradeiro tributo à geração mod.

A partir daí, apenas mais dois álbuns menos expressivos até a morte de Keith, por overdose de Heminevrin – tabletes usados no combate ao alcoolismo –, em 78.

Os discos e comebacks realizados desde então só serviram como um triste e interminável epitáfio para uma carreira tão gloriosa, até que a banda sofreu um abalo definitivo em junho de 2002: o discreto baixista John Entwistle morreu aos 57 anos, de uma crise cardíaca, num quarto do hotel e cassino Hard Rock, em Las Vegas.

O grupo ia se apresentar no local, dando início a uma turnê de três meses pelos Estados Unidos.

“Acreditamos que o ataque do coração foi causado pela significante quantidade de cocaína que o sistema de Entwistle tinha na hora. No entanto, a quantidade específica continua desconhecida”, disse o médico legista Ron Flud.

“Cocaína é uma substância diferente. Não é como álcool. Não há maneira de colocar um número nisso. Você pega uma droga letal a partir do momento que você tem um coração ruim. Isto é uma combinação péssima”.

A cocaína causou uma contração da artéria coronária do baixista que já estava prejudicada por outras doenças, explicou o médico.

Acredita-se que Entwistle estava tomando medicamentos para o coração.


Entwistle, apelidado de “Ox” pelos integrantes do grupo, deu a este um ritmo inspirado no jazz e um perfeito acompanhamento para a guitarra elétrica frenética de Pete Townshend.

Os especialistas consideravam-no um “verdadeiro gênio, um dos maiores baixistas de toda história do rock and roll”, nas palavras de Ray Manzarek, do The Doors.

Neal NcCornick, crítico de rock do Daily Telegraph, considera que “a contribuição de John Entwistle ao The Who é comparável à de George Harrison aos Beatles”.

Ox aparece como peça-chave do conjunto, visual e musicalmente.

Enquanto Daltrey cantava freneticamente e Moon batia com furor na bateria, Entwistle tocava sem se deixar perturbar por nada.

Sua calma era tanta, que num show de 1966 ele não se deu conta que Townshend tinha jogado a guitarra, que acabou acertando (e quebrando) sua cabeça.

Nascido no dia 9 de outubro de 1944 em Chiswick (Oeste de Londres), John Alec Entwistle começou a estudar piano aos sete anos, dedicando-se ao trompete e à trompa.

Membro da Middlesex Youth Opera, John trocou rapidamente a música clássica pelo rock e o trompete pelo baixo.

“Ficava realmente irritado quando via alguém montar o amplificador e tocar mais forte que eu. Foi assim que decidi tocar baixo”, explicava.

Conheceu Townshend e Daltrey no colégio. Viraram amigos. Ox tocou com eles até morrer.


Com a morte de Entwistle, permanecem apenas dois músicos da formação original do The Who – o cantor Roger Daltrey e o guitarrista e compositor Pete Townsend.

Infelizmente, o The Who é uma banda que talvez não tenha recebido o devido reconhecimento da importância que teve para a história do rock’n roll mundial.

Muitas pessoas que ouvem rock, mas não são muito ligadas à história do gênero, sequer sabem da existência da banda.

A verdade é que o grupo está entre os grandes de sua época e foi revolucionário.

É bem provável que a música pop não fosse o que é hoje se não fosse o The Who.


Nos dias de hoje, nove em cada dez canções de rock utilizam “power chords”, que são acordes formados por duas notas.

Estes acordes foram o ingrediente fundamental para as mais famosas bandas de punk rock do mundo.

Nos anos 60 não era assim, e o The Who foi um dos grandes responsáveis pela popularização da técnica.

Pete Townshend se consagrou criando músicas com “power chords” clássicos, como “My Generation” e “Substitute”.

Existem músicos que já utilizavam estes famosos acordes antes do The Who, mas na época era algo totalmente alternativo.

Ele só virou um padrão entre as bandas de rock após os anos 60.

O fato é que ser baixista de rock não uma tarefa fácil. Às vezes ela chega ser até ingrata.

Estes músicos têm que lutar para aparecer e não serem ofuscados pelos guitarristas e seus solos.

Se teve alguém que mostrou que as coisas podem funcionar diferente, esta pessoa foi John Entwistle.

Sua contribuição na banda foi algo não menos que revolucionária.

É difícil de explicar em palavras.

É preciso ouvir as músicas do The Who para compreender o que este baixista criou.

Para começar, uma boa pedida é “My Generation” e seu solo distorcido.

Tão importante quanto à contribuição de Entwistle para o baixo foi a de Keith Moon para a bateria.

De uma hora para outra, o baterista do The Who pegou todas as regras criadas para se fazer uma batida de rock e as desconstruiu completamente.

A questão neste caso não é nem o virtuosismo, até porque se sabe que Moon nunca foi muito adepto aos estudos musicais.

A revolução está nas linhas que ele criou.

Algo que nunca tinha sido feito até então.

Seu estilo influenciou bateristas no mundo todo e até hoje quando se fala em Moon, está se falando em um mito.

Até mesmo o legendário baterista do Led Zeppelin, John Bonham, chegou a dizer que ele não passava do “maior imitador do mundo de Keith Moon”.

Um álbum com começo, meio e fim

“Tommy” pode não ter sido a primeira ópera rock da história, mas com certeza foi a primeira obra do gênero a ganhar notoriedade mundial.

Sua influência é perceptível até mesmo nos dias de hoje.

Para comprovar isso basta ouvir “American Idiot” do Green Day.

A história do garoto surdo, cego e mudo, que era um fenômeno no pinball, ganhou até mesmo uma versão para as telas de cinema, que contou com a participação de nomes como Jack Nicholson e Elton John.


O The Who criou quase que por acaso um dos mais famosos clichês da história do rock, a destruição dos instrumentos.

Pete Townshend danificou acidentalmente o corpo de sua guitarra em um show.

Irritado com a reação da plateia, ele resolveu destruir o que tinha sobrado do instrumento.

Acontece que o episódio acabou servindo como uma ótima jogada de marketing para o grupo, e a partir daí não só as guitarras eram destruídas.

Keith Moon, um dos mais animados com a ideia, quase acabou gerando uma tragédia quando colocou uma quantidade acima da média de explosivos dentro do bumbo de sua bateria.

Os membros do Who saíram todos machucados do palco.

Towshend ficou injuriado quando Jimi Hendrix começou a seguir sua criação e passou a destruir suas guitarras nos shows.

Outra colaboração, mesmo que indireta, do The Who para a história do rock foi ter recusado a proposta feita por um jovem cantor que queria assumir o lugar de Roger Daltrey, que havia sido expulso da banda por agredir Keith Moon.

Acontece que este jovem era ninguém menos que Robert Plant, que mais tarde se tornaria frontman de uma das mais famosas bandas de todos os tempos, o Led Zeppelin.

Caso ele tivesse ingressado no Who, talvez canções como “Stairway To Heaven” e “Whole Lotta Love” sequer teriam existido.

2 comentários:

Anônimo disse...

vs poderiam resumir mais o texto!Não é?

Anônimo disse...

Resumir pra quê? rs. Texto tá excelente! Parabéns