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sábado, julho 02, 2011

Aula 28 do Curso Intensivo de Rock: The Yardbirds e The Cream


O skiffle estimulou o aparecimento, na Inglaterra, de uma quantidade exagerada de clubes de jazz e blues, muitas vezes funcionando em modestos pubs da periferia onde se fazia música nem sempre de boa qualidade, mas necessariamente honesta.

Alguns destes músicos sofreriam depois o impacto do rockabilly de Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, Little Richard e da sua versão mais vocal, como os Beatles.

Outros ficaram mais próximos da batida do blues elétrico, como os Rolling Stones e Eric Burdon e os Animals.

E houve os que continuaram agarrados ao “straight blues” – o blues autêntico, de raízes, sem frescuras.

O The Metropolitan Blues Quartet foi um deles.

Formado em 62 por Keith Relf (voz e gaita), Chris Deja (guitarra base), Paul Samwell-Smith (baixo) e Jim McCarthy (bateria), o grupo mudaria o nome para The Yardbirds no ano seguinte, com a entrada do guitarrista Anthony “Top” Topham.

Sob a aparência bem comportada (cabelos curtos, terninho e gravata) de mais uma banda inglesa dos anos 60, The Yardbirds (gíria inglesa para “recrutas” ou “prisioneiros” e apelido de um personagem vagabundo que vivia em meio às estradas de ferro num livro de Jack Kerouac) abriu espaço entre 1964 e 1967 para três dos maiores guitarristas de nosso tempo: Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page.

Enquanto os outros grupos apostavam em músicas de três minutos, eles já mostravam no palco os extensos “rave-ups”, solos instrumentais sem precedentes.

E se o The Who notabilizou-se por quebrar instrumentos, é só dar uma espiada no filme “Blow Up”, de Antonione, para encontrar a fúria em movimento.

Dentre as formações inglesas geradas nos anos 60, o quinteto sempre foi a mais difícil de se compartimentar.

Além de catalisador do blues rock, os Yardbirds inspiraram os adeptos do “garage sound”, colaboraram para o advento da psicodelia e estabeleceram as bases das futuras tendências hard rock e heavy metal.

A explicação é rudimentar.

Depois de uma breve passagem por grupos obscuros – Muleskinners, The Roosters, Casey Jones and the Engineers –, Eric Clapton entrou como guitarrista principal nos Yardbirds, em fins de 63, no lugar de Top Topham.

Em pouco tempo, com a ajuda da guitarra de Clapton, os Yardbirds se tornaram um dos conjuntos mais quentes nas domingueiras do Crawdaddy Club, em Londres – o mesmo que pouco antes havia projetado os Rolling Stones.

Uma turnê européia acompanhando o veterano bluesman Sonny Boy Williamson aumentou a fama do grupo e de Clapton.


Nesta época, o set do quinteto era composto do mesmo rhythm’n’blues à la Chicago adotado por outros grupos britânicos, mas com uma diferença crucial: suas versões eram mais experimentais, recheadas por improvisos – os tais rave-ups, extra-longos, às vezes até de meia hora – em que a estrela era Clapton.

Guitarra em punho, ele se transfigurava e levava o público ao delírio.

Por outro lado, à medida que o guitarrista se firmava como solista, seu relacionamento com os demais colegas se deteriorava a olhos vistos.

Clapton, mais interessado no blues do que no dinheiro (já se foi o tempo destes idealismos...) chateou-se com o primeiro sucesso comercial do grupo, “For Your Love”, um single que entrou nas paradas de sucesso européias e americanas.

O “Deus da guitarra” achava que o pop não estava com nada e tratou de procurar sua turma – no caso, John Mayall & Bluesbreakers.

Só que o pop dos Yardbirds nada tinha a ver com o “feijão-com-arroz” das paradas.

Para o lugar de Clapton, veio Jeff Beck, que assumiu a banda quando o balão estava prestes a atingir a estratosfera.

Com ele, a banda desenvolveu ousadas pesquisas em estúdio.

São os casos de “Still I’m Sad” (derivada de um canto gregoriano do século 13), cuja profusão de ecos dá a impressão de ter sido gravada numa catedral e “Heart Full Of Soul”, um dos primeiros sinais da influência da música hindu no rock – vide a simulação do som de uma cítara feita por Beck através de um pedal fuzz.

Mas a predileta do grupo era “The Train Kept A-Rolling”, uma pauleira que faz balançar até hoje qualquer estrutura metálica.

Em 1966, Samwell-Smith deixou o grupo para se tornar um produtor de discos, e o próximo maluco a entrar na banda foi Jimmy Page, já reconhecido como um dos maiores guitarristas de estúdio.

Chris Dreja assumiu o baixo e Page formou com Beck uma dupla infernal, e o próprio visual da banda (descabelados, roupas mutcho locas) já informava que se o buraco era mais embaixo, os decibéis eram bem mais em cima.

É deste período o filme “Blow Up”, onde “Stroll On” sacudiu as elocubrações existenciais do personagem de David Hemmings em um dos poucos registros do ataque dual de lead guitars da dobradinha Beck/Page.

Com a saída de Beck, o grupo perdeu a energia inicial, até que Page também picou a mula para formar o Led Zeppelin.

Quando Eric Clapton deixou os Yarddirds, ele foi chamado por John Mayall para se juntar aos Bluesbreakers.


Quase dez anos mais velho que a geração Beatles/Stones, Mayall foi um dos gurus do movimento do blues na Inglaterra.

Igualmente fluente nos vocais, nas guitarras, na gaita-de-boca e em teclados tão variados como piano, harmônico, cravo e órgão, Mayall lançaria nos Estados Unidos, no início dos anos 70, um vibrante estilo que chamou de jazz-blues fusion – a junção de músicos de jazz com músicos de rock voltados para incendiar o blues.

Clapton entrou para os Bluesbreakers na primavera de 65.

Mayall foi para ele um verdadeiro pai. Durante dois anos, instalado num quartinho na casa de Mayall, Clapton viveu só para guitarra.

Durante as apresentações dos Bluesbreakers, os fãs gritavam “dá um solo pra Deus!” e Eric Clapton não se fazia de rogado.

Foi a partir daí que as paredes de Londres começaram a ficar cobertas com graffiti proclamando “Clapton is God” (“Clapton é Deus”).

Ainda em 66, surgiu o lance maior na carreira de Eric Clapton.


Com o baixista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker ele formou o Cream, que seria um dos primeiros supergrupos de rock e abriria caminho para outros com o mesmo formato, como o Jimi Hendrix Experience, Motorhead e Ulrik Roth.

Tudo aconteceu muito rápido com o Cream.

A idéia inicial era só tocar blues em pequenos bares e clubes.

Cream (“nata”) foi o nome escolhido pelos presunçosos músicos para sinalizar o tipo de música que iriam trabalhar.

A primeira apresentação se deu em julho de 66, no Festival de Blues & Jazz de Windsom, na Inglaterra, deixando o público e os críticos completamente pirados.

Começaram então as sucessivas turnês européias e americanas.

Nos shows, muita improvisação, energia, liberdade de criação e solos (dos três separadamente), que às vezes levavam até trinta minutos.

O Cream estava mudando muita coisa, principalmente abrindo o caminho da improvisação e do som cheio de riffs, características principais do heavy metal e que até então só existia no free jazz.

Do primeiro álbum (“Fresh Cream”, janeiro de 67) ao concerto de despedida no Royal Albert Hall de Londres (novembro de 68), o grupo revolucionou o rock.

Não se tratava apenas da imitação do velho rhythm & blues, mas de um novo estilo de rock made in England.

Era um som campacto e vibrante, e uma prova de que o rock tinha se livrado do “roll” e de todos os antigos modelos para se afirmar como uma nova forma de arte emocionante e bastante “hard” (“pesada”), já que a bateria não ficava mais relegada ao segundo plano.

Pelo contrário, ela agora competia, de igual para igual, com a guitarra e o baixo.

Entre outras coisas, o Cream elevou Clapton e seus colegas à categoria de superstars.

Um símbolo do novo status era que eles só se locomoviam de limusine. Cada um na sua limusine, claro.

A loucura do psicodelismo tinha tomado de assalto o Olimpo do rock.

Bastante vulnerável, com seus traumas de infância, sua paixão não correspondida pela mulher do melhor amigo (Patty Boyd, esposa de George Harrison, para quem Clapton escreveu “Layla”), o guitarrista se deixou levar pelo vício da heroína e quase dançou legal.

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