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sábado, julho 02, 2011

Aula 29 do Curso Intensivo de Rock: Eric Clapton


No início dos anos 70, Eric Clapton passou a ser considerado o mais provável próximo morto do rock, depois de Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix.

Ele jamais imaginou que sua viagem através da escuridão do mundo da heroína seria tão devastadora, até que, após o Rainbow Concert em janeiro de 73, convencido pelo amigo Pete Townshend, iniciou um tratamento revolucionário, a base de acupuntura eletrônica para largar as drogas.

Curado, trabalhou no verão como colhedor de feno em uma fazenda para adquirir a forma física ideal. Clapton estava pronto para trabalhar novamente, e não perdeu tempo.

Em 1974, ele reapareceria com um estilo novo e lançaria o álbum agora clássico, “461 Ocean Boulevard”, que colocou o reggae “I Shot The Sheriff”, de Bob Marley, em todas as paradas do planeta.

O guitarrista estava feliz, finalmente casado com Patti Boyd, ex-George Harrison, mas infelizmente substituiu o hábito da heroína pelo álcool.

Ao longo dos anos setenta, sua vida pessoal e o trabalho de estúdio sofreram muito por causa disto.

Em 1981, ele foi hospitalizado devido a úlceras causadas por uma combinação mortal de analgésicos e quantidades prodigiosas de conhaque.

Patti Boyd começou a notar que Eric estava avançando perigosamente o sinal.

Em janeiro de 1982, convencido por Roger Forester, seu empresário e amigo pessoal, ele entrou na Fundação Hazelden, uma clínica de reabilitação para alcoólatras.

Várias recaídas e internações depois, Clapton tem conseguido permanecer sóbrio desde 1987, após ter ingressado nos Alcoólatras Anônimos.

O trabalho desta ONG multinacional na cura dos dependentes de álcool impressionou tanto o cantor que, em fevereiro de 1998, ele anunciou a abertura do Crossroads Centre, uma clínica de reabilitação de dependentes químicos, em Antígua, no Caribe.

Clapton gastou mais de seis milhões de dólares do próprio bolso neste projeto, e leiloou 100 de suas preciosas guitarras, para chamar a atenção sobre a iniciativa.

O leilão arrecadou cinco milhões de dólares.

A clínica tem por princípio, proporcionar tratamento gratuito para algumas das pessoas mais pobres do Caribe que não podem dispor de dinheiro.

Dois terços dos leitos são para os pobres.

Um dos motivos que levaram Clapton a construir o centro de reabilitação foi o elevado consumo de drogas pelos jovens ingleses.

Ele ficou indignado com a apologia das drogas e resolveu aproveitar sua própria experiência com esse pesadelo.

Entre outras coisas, ele transformou o hit “Cocaine” em um hino anti-drogas.


Em março de 1991, já divorciado de sua tão amada e idolatrada Patti Boyd, aconteceu o golpe mais terrível em sua vida.

O filho Conor, de quatro anos e meio, nascido de um relacionamento extra-conjugal, caiu da janela de um apartamento do 52º andar de um prédio em Manhattan, onde morava com a mãe.

O pesar de Clapton seria expresso na canção “Tears In Heaven”, que provocaria uma comoção mundial e teria seu lançamento no álbum “Unplugged”.

Para exorcizar seus problemas com o álcool, seus relacionamentos pessoais e tragédias, como a perda de seus agentes no mesmo acidente de helicóptero que matou seu amigo Steve Ray Vaughan, em 1990, ele resolveu lançar o CD “Pilgrim”, seu primeiro disco gravado em estúdio com músicas inéditas desde “Journeyman”, de 1989.

Mais uma vez, Clapton canta suas perdas e sua esperança.

Contraponto aos quase dez anos sem gravar um álbum de inéditas, “Pilgrim” decepcionará os fãs mais dedicados de Eric Clapton.

É um disquinho de baladas quase sempre bobas.

As que não o são – “My Father’s Eyes”, que abre o disco, tem um interessante traçado melódico – se perdem em arranjos cheios de teclados e cordas diluidoras, corinhos de fancaria.

Mesmo os solos da guitarra deixam de lado a criatividade e investem no óbvio.

É indesculpável que o disco de Clapton traga uma balada rastaqüera como “River Of Tears”, que envergonharia quem chorava com Fred Mercury (o falecido vocalista do Queen).

As duas músicas mencionadas são dele mesmo (a segunda tem letra de Simon Climie, o que pode explicar alguma coisa).

A pretensão bluesy de “River Of Tears” fica só na voz rouca do cantor – e que cantor! Tanto pior quando o disco de um grande artista resulta assim tão ruim.

A música de trabalho, “Pilgrim” (“Peregrino”) também tem letra de Climie, que programou a bateria (você deve estar começando a entender como a produção funcionou) e tocou os teclados eletrônicos (o órgão Hammond ficou a cargo de Paul Carrack), acomodando o pacote sonoro básico sob o corinho de Chyna & Simon e as cordas da London Session Orchestra.

É a faixa um pouco mais animadinha. Uma frase reincidente da guitarra salva-a do desprezível absoluto.

Curioso. Clapton nunca se mostrou afeito a modismos.

Em “Pilgrim”, parece, quis fugir à regra, modernizar a sonoridade (mas ele não precisa modernizar nada: é dono de seu pulso único, estilo inconfundível).

E segue assim, de efeitos em efeitos eletrônicos, baladas tolíssimas – “Broken Hearted”, letra de Greg Phillinganes, bateria de Steve Gadd, baixo de Natha East (um timão), “Onde Chance”, letra outra vez de Climie, Paul Waller na programação meio clubber da bateria, cordas de orquestra sinfônica, riffs de guitarra perdidos na massa sonora acumulada.

Melhor soa “Circus”, Clapton tocando violão de cordas de aço, um banho, e aqui tudo funciona. Melodia inteligente, letra idem, economia no arranjo, o baixo de Nathan East soando como deveria, Chyna fazendo a segunda voz (e fazendo lembrar as boas canções de Paul Simon, na época da dupla com Art Garfunkel).

Bom também soa “Going Down Slow”, o blues famoso de St. Louis Jimmy, e “Fall Like Rain”, de Clapton mesmo, um country cheio de brios.

O guitarrista inglês homenageia Bob Dylan, regravando “Born In Time”. Desperdiçada homeangem – sai-se pomposa demais.

Clapton só usa a guitarra com a força conhecida no blues de três acordes “Sick & Tired”, décima faixa. Parece até Eric Clapton.

A canção “Needs His Woman” é bonita, mas o coro a estraga.

Forte em “She’s Gone”, Clapton desliza novamente para a mediocridade em “You Were There”, uma canção, e “Inside Of Me”, um híbrido modernoso que o desmerece. Melhor teria sido o silêncio.


Mas para quem já não agüentava mais o Eric Clapton das baladas repletas de lágrimas no paraíso, o jeito é fazer um mergulho no passado. No mais resplandecente dos passados.

Saiu recentemente no Brasil, via Universal, o CD duplo “Blues”, compilação de canções gravadas pelo guitarrista inglês entre 1970 e 1980.

O som que saía das poderosas guitarras de Clapton, como a Stratocaster 1956 com a qual ele gravou a clássica “Layla”, está presente ali naqueles antigos blues simples, mas vigorosos, que ele gravou.

Há desde um dueto com Duane Allman em “Mean Old World”, de Little Walter, até a bela balada “Before You Accuse Me (Take a Look at Yourself)”, de Bo Diddley.

Um dos primeiros músicos brancos a ter domínio completo da linguagem do blues, Eric Clapton tem sido uma espécie de ponte pênsil entre o gênero e outros, como o pop, o rock e mesmo o reggae.

Clapton é incomparavelmente bom em clássicos como “Crossroads” e “County Jail Blues”.

Traz a audácia juvenil do tempo em que integrava o Cream e ao mesmo tempo o espírito de sedução que tornou o blues uma linguagem de renovação no rock inglês.

O disco duplo foi compilado e tem arranjos de Bill Levenson, da Universal Records (que também ganhou um Grammy pela gravação em quatro CDs de “Crossroads”, que traz a obra completa do bluesman).

Além das canções já citadas, “Blues” traz o clássico de Jimmy Reed, “Ain’t That Loving You”, que tem Dave Mason (Traffic) na segunda guitarra.

E “Further On Up the Road”, longuíssima versão de Bobby “Blue” Blands, acompanhado pelo guitarrista Freddie King (já morto).

O disco contém 15 faixas de estúdio e 10 gravações ao vivo, todas feitas entre as décadas de 70 e 80.

Houve um tempo em que o metrô de Londres ostentava em alguns lugares a pichação: “Clapton é Deus!”

Esse disco traz de volta um pouco daquele tempo.


Nascido em Ripley, Inglaterra, em 30 de março de 1945, criado pela avó, ele começou a tocar guitarra aos 15 anos. Nunca mais se separou dela.

Mentira: na virada do milênio, separou-se de uma porção delas.

A Christie, de Londres, vendeu a Stratocaster 1956 por 100 mil libras esterlinas.

Para o sujeito que deu o lance, é como se tivesse comprado uma passagem – ou uma escada – para o paraíso.

Aliás, não custa nada lembrar, foi a canção “Stairway To Heaven”, do Led Zeppelin, que fez a transição absoluta do hard rock para o heavy metal.

Mas se o lema destas bandas de rock era “sex, drugs and rock’n’roll”, onde é que estava o sexo?

Há algumas pistas: Mick Jagger, Iggy Pop, David Bowie, Jimmy Page, Steven Tyler, Elvis Costello, Joey Ramone, Brian Setzer, Debbie Harry, Rod Stewart, Gene Simmons e mais, muitos mais.

Esta lista de celebridades do rock pode ser encontrada em um lugar muito simples: a agenda de telefones de Bebe Buell.


Hoje mais conhecida por ser mãe e empresária da beldade Liv Tyler, Bebe tem nesta lista amigos, amantes e parceiros – não necessariamente nesta ordem – e resolveu contar tudo o que viveu ao lado deles nos agitados anos 70 no seu livro de memórias, “Rebel Heart: An American Rock’n’Roll Journey”, lançado em 2001, em Nova York.

A ex-groupie não vai abalar a vida de ninguém retratado no livro, mas irá revelar como se portavam os astros do rock no recesso dos quartos.

Mick Jagger, por exemplo, é descrito como bom de cama, cheio de técnica, mas paixão, mesmo, só no palco. Claudia Jimenez que o diga.

Bebe o conheceu durante um show de Eric Clapton em Nova York, em 1973.

Na época, era namorada do músico Todd Rundgren, produtor dos, entre outras bandas, New York Dolls.

Mick Jagger a cantava descaradamente e, no dia em que Bebe completou 21 anos, levou-a para jantar e depois realizou um desejo seu: apresentou-a ao amigo John Lennon.

Segundo a mais nova escritora, Jagger também conhecia muito de maquiagem e cuidados com a pele e era aficcionado por roupas.

Se não gostasse do que Bebe vestia, a mandava de volta para casa.

David Bowie era ainda mais sensível.

Pintava as unhas dos pés de Bebe, preferia se maquiar a “namorar” e era uma manteiga derretida, chorava por qualquer coisa.

Com Iggy Pop o caso não teria acontecido logo que se conheceram porque ela namorava com Rundgren – ainda que isso não tivessse sido empecilho em outras ocasiões... – e Iggy se afundava em drogas.

Rundgren, aliás, tentava detê-la, avisando sobre os perigos de rondar os famosos.

De Jimmy Page, lendário guitarrista do Led Zeppelin, Rundgren a alertou sobre as “tendências vudus” e outras esquisitices, como escalpos femininos. Não adiantou. Page também entrou para sua lista.


Steven Tyler, vocalista do Aerosmith, não só também fez parte dela, como é “co-autor” da obra Liv Tyler.

O vocalista do Aerosmith só foi saber que era pai da menina uma década depois.

Bebe diz que, no início, cogitava a possibilidade de Jagger ser o pai de Liv, por causa dos lábios...


Bebe era modelo fotográfica.

Nasceu na cidade de Portsmouth, Virginia, e foi descoberta pela dona da agência Ford Models, Eileen Ford.

Foi parar em Nova York em 1972 e, em 1974, era a primeira modelo a posar nua para a revista Playboy.

Apesar dos avisos do primeiro namorado, Rundgren, foi ele quem a apresentou aos primeiros astros do rock.

A música mesmo ela conheceu aos sete anos de idade: Elvis Presley.

A partir daí, ouvia tudo, Beatles, Rolling Stones, com direito a imitar Jagger na frente do espelho, usando uma calça apertada com uma meia enfiada no meio das pernas.

Inspirada em pioneiras como Mariane Faithfull e Anita Pallemberg, pode se dizer que Bebe é a groupie (as garotas que acompanham as bandas) por excelência.

Estava lá, trancada em camarins e quartos de hotel, pelos astros, mas gostava e, fundamental, conhecia suas músicas.

Nada pior que uma groupie que não sabe nada sobre as canções de seus ídolos.

No início, Bebe não aprovava esse termo, mas, em Los Angeles, acabou conhecendo garotas que se intitulavam groupies com orgulho – um dos efeitos colaterais do rock’n’roll.

A atriz Kate Hudson baseou-se nela e em Mariane Faithfull para criar a personagem Peny Lanne de “Quase Famosos”, filme de Cameron Crowe.

Nos anos 80, Bebe decidiu sair dos camarins para os palcos e participou de duas bandas, The B-Sides e Gargoyles.

Atualmente, é empresária de Debbie Harry, ex-Blondie.

A groupie-mor espera que sua autobiografia sirva de lição para outras mulheres e já prepara um novo livro.

Vai se chamar “The Rock’n’Roll Book of Etiquette”.

Um guia de como se portar em camarins, como conhecer e se apresentar aos famosos e até como lidar com listas de convidados para festas descoladas.

Nada mais que um tratado feito por quem conhece os meandros do rock e, principalmente, aqueles que fazem rock.

Oh, yeah!

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