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sexta-feira, julho 15, 2011

Aula 5 do Curso Intensivo de Rock: Johnny Cash


Não foi apenas o gosto por roupas escuras que fez Johnny Cash ficar conhecido como “o homem de preto”.

Nascido no dia 26 de fevereiro de 1932, em Kingsland, nos cafundós do Arkansas, ele paira como uma graúna sobre os contornos da águia americana dentro do gênero mais tradicional dos EUA: a música country.

A exemplo de Hank Williams, Johnny nunca quis saber de cantar feitos heróicos de pioneiros.

A estrada, as mulheres, a bebida, os caubóis errantes e a eterna atitude fora-da-lei sempre foram os temas recorrentes em sua profunda voz de barítono.

Filho de agricultores pobres, ele chegou a passar fome na infância.

Em 1935, sua família mudou-se para um assentamento do governo chamado “Dyess Colony”, destinado aos sobreviventes da grande inundação do rio Mississippi no ano anterior.

Esse incidente seria relembrado por ele em 1959, na canção “Five Feet High And Rising”.

Após terminar seu curso secundário, Cash passou algum tempo na Força Aérea, aproveitando para aprender a tocar violão e escrever suas primeiras canções.

Após dar baixa, em 1954, Cash casou-se e se mudou para Memphis, tornando-se vendedor de uma loja de eletrodomésticos.


Em Memphis, conheceu o guitarrista Luther Perkins e o baixista Marshall Grant e começou a tocar com eles, de graça, na rádio KWEM.

Por sorte, o empresário e produtor musical Sam Phillips escutou uma de suas sessões e ofereceu-lhe um contrato na Sun Records.

Seu primeiro single, “Hey Porter / Cry, Cry, Cry”, vendeu mais de 100 mil cópias.

Em seguida veio “Folsom Prison Blues”, outra composição sua que fez sucesso e valeu-lhe uma apresentação na KWKH Lousiana Hayride em dezembro de 1955.

Nash começou, também, uma grande turnê que, após o sucesso de 1 milhão de cópias vendidas de “I Walk The Line” e “There You Go”, campeões de 1956, conduziu-o ao palco do Grand Ole Opry, em Nashville.

Junto com Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Carl Perkins, ele foi sócio do chamado “Million Dollar Quartet”, que reunia na gravadora Sun os grandes pioneiros do rock’n’roll.

Na década de 60, morando na Califórnia, Johnny viveu anos entre drogas, bebidas, confusões e prisões.

A mais famosa delas aconteceu em 1965: foi pego pela alfândega americana, na fronteira com o México, tentando entrar com mais de mil pílulas de anfetamina no estojo de sua guitarra.

A vida bandida seguiu com um acidente de carro, uma overdose quase fatal e o divórcio da primeira mulher.


Depois da mudança para Nashville e do início do relacionamento com a cantora June Carter, com quem se casou no início de 1968, Cash livrou-se das drogas e se converteu ao fundamentalismo cristão.

Com experiências reais por trás das grades, nesse mesmo ano ele convenceu a Columbia a gravar um show na Folsom Prison, penitenciária onde esteve detido e que dava nome a um de seus primeiros hits na Sun (“Folsom Prison Blues”, com a famosa frase “matei um homem em Reno só para vê-lo morrer”).

Johnny desfilou para a platéia canções que retratavam a opressão do sistema carcerário (“The Wall”), as drogas (“Cocaine Blues”) e o corredor da morte (“25 Minutes To Go”).

O disco vendeu mais de um milhão de cópias, chegando a superar os Beatles na época.

Isso motivou a edição de um álbum semelhante em 1969, dessa vez no presídio californiano de San Quentin, revisitando temas carcerários na faixa-título (“San Quentin, odeio cada polegada sua/ Você me cortou e me deixou cheio de cicatrizes/ E vou sair daqui um homem mais sábio e mais fraco”), em “I Got Stripes”, em “Wanted Man” (de Bob Dylan), e na engraçada “A Boy Named Sue”, sobre um cara que volta para matar o pai que o batizara com nome de mulher.

O sucesso foi ainda maior e ele abiscoitou seis prêmios da CMA (Country Music Association).

Em 1980, o cantor foi entronizado no “Hall of Fame” por ter colocado mais de 130 canções nas paradas de sucesso e conquistado 8 Grammys.

Após uma década de trabalho na Colúmbia e na Mercury Records, Johnny Cash mudou-se para a American Records, estourando com o álbum “American Recordings”, onde se apresentava com sua guitarra e novo material inédito.


Do alto dos 50 milhões de discos vendidos desde que foi contratado pela Sun Records, ele poderia ficar apenas regurgitando babas para senhoras em menopausa.

Mas o cantor resolveu arriscar.

No final dos anos 90, ele confiou sua carreira fonográfica ao produtor barbudo Rick Rubin (Slayer, Run DMC) e se deu bem.

Lançado em 2000, “American III: Solitary Man”, o terceiro volume da parceria, era realmente impecável.

Rubin reuniu diversos convidados sem descuidar do que realmente importava: arranjos econômicos e repertório selecionado a dedo para valorizar o timbre grave da voz de Cash.

O disco tem “One”, do U2, mas bem mais feliz é a recriação de “The Mercy Seat”, de Nick Cave, a impressionante narração dos últimos momentos de um condenado à cadeira elétrica.

O cantor ainda regravou, com os próprios autores, “I Won’t Back Down” (Tom Petty) e “I See A Darkness” (Will Oldham, do Palace).

No entanto, a profissão de fé e o ponto alto do disco vêm de uma antiga canção (“Solitary Man”) do meloso Neil Diamond.

“Serei para sempre o que sou/ Um homem solitário”, sentencia Cash, como se fosse o caubói Shane no final do faroeste “Os Brutos Também Amam”.

Missão cumprida: hora de pegar o cavalo e voltar para o rancho.

Johnny Cash morreu de câncer no fígado em setembro de 2003.

Um comentário:

Cristian disse...

Tive a sorte como um miúdo de ouvir toda a sua história e discografia. Um dos primeiros expoentes da era do rock nova que abriu o caminho para aqueles que seguiram talvez por pessoas como eu decidi estudar para se tornar um produtor musical