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segunda-feira, outubro 31, 2011

Arte e Ciência de Entrar no Canavial sem se Machucar (Parte 1)


Com tantos motoristas filhos da puta se embriagando, atropelando e matando inocentes nos fins de semana, não se pode dizer que esta seja uma época de ouro para biriteiros.

O álcool é de novo a bola da vez e está começando a reivindicar para si a taça de vilão público número um, arrebatada na última década pelo cigarro.

Entrementes, vamos ouvir o que Charles Baudelaire, autoridade internacional em matéria de paraísos artificiais, diz do álcool, particularizado aqui no vinho: “O vinho é semelhante ao homem: não se saberá jamais até que ponto se pode estimá-lo ou desprezá-lo, amá-lo ou odiá-lo, nem de quantas ações sublimes ou de mancadas monstruosas ele é capaz. Não sejamos mais cruéis com ele do que somos com nós mesmos, e tratemo-lo como um igual”.

Pois então, tratemo-lo.


Quando Cole Porter, numa canção memorável, disse à sua amada “You go to my head, like the bubbles of a glass of champanhe...” (“Você me sobe à cabeça como as bolhas de uma taça de champanhe...”), ele se declarava em dose dupla: à mulher e à bebida, comparáveis porque sublimes, em princípio.

Mas o bardo americano poderia muito bem ter cantado o dry-martini.

E com a vantagem de que o gim, associado ao vermute branco seco (Noilly Pratt, de preferência), sobe à cabeça como uma “silver bullet” (“bala prateada”), um dos apelidos da bebida preferida do crítico e ensaísta Edmund Wilson (Rumo à Estação Finlândia), que se aboletava para escrever no bar do hotel Algonquin, em Nova York, diante de seis martinis, e só se levantava com o sexto cálice devidamente enxuto.

Nesse ponto, se as idéias do grande escritor podiam ainda se manter lúcidas, o mesmo não se diria de sua caligrafia e do controle sobre o próprio esfíncter.

Seja como for, e antes que nos percamos em divagações perfunctórias sobre qual tipo de mulher seria mais desejável – a que o faz como bolhas de champanhe ou a que nos dispara miolos adentro como bala prateada –, deixem-me dizer-lhes que o meu interesse pelas bebidas como tema não é inferior à queda que eu tenho por elas enquanto fenômenos líquidos, trabalhados pelo engenho do homem para nos dar prazer, e perfeitamente potáveis.

É um interesse legítimo, já que o próprio Cristo elegeu como seu primeiro milagre a famosa conversão da água em vinho, numa festa de casamento.

É claro que um bom vinho à mão sempre ajuda a conquistar as mulheres, ou pelo menos as melhores, dizem os experts, mas não creio ter sido essa a intenção imediata de Jesus Cristo.

O foco do milagre era mesmo a bebida, por acreditar, quem sabe, o bom Cristo que boa parte da alegria desse estranho mundo nos vem do álcool, graças a Deus.


Os gregos, como sempre, já sabiam disso bem antes de Cristo e já reverenciavam com especial carinho o deus do vinho, Baco.

Na antigüidade, Baco, ou Dionísio para os romanos, era considerado o deus do teatro e seu templo por excelência se situava no palco iluminado pelo sol e pelas estrelas das arenas gregas.

De fato, os grandes poetas dramáticos como Sófocles e Eurípedes contavam-se entre os fiéis seguidores de Baco.

Em honra dessa divindade é que escreviam seus Édipos e Medéias representados nos festivais dionisíacos, na abertura da primavera, por dias a fio, com os espectadores enchendo a cara, comendo, dormindo, defecando e copulando à vontade na platéia.

Aliás, se ainda hoje fossem assim, os teatros viveriam lotados e os templos dos neopregadores pecuniólatras andariam às moscas.


A Baco é que se creditava a inspiração, só Baco dava a seu fiel o máximo.

Só ele, quando ingerido em forma de vinho, tornava um reles mortal em deus, pelo menos até o advento da ressaca.

Por essa razão, até os nossos dias, esse deus grego é reverenciado por artistas em geral, e escritores americanos em particular.

O que escritor americano bebe não está nas calendas gregas.

Eles bebem antes, durante e depois de um grande porre.


Consta que o dramaturgo Tenessee Williams (“Um Bonde chamado Desejo”), em visita ao Brasil nos anos 50, despencou em seu hotel paulistano no vale do Anhangabaú num porre monumental.

Apagou na cama de terno e sapato e, no dia seguinte, ao abrir a janela de seu quarto, perguntou: “Mas que porra estou fazendo aqui nessa merda de Chicago?”

Esquecido da viagem, os modestos arranha-céus de São Paulo lembraram-lhe a grande cidade americana.

O que não faz o álcool...


O romancista Ernest Hemingway (“O Velho e o Mar”), outro que vivia tocado pelos eflúvios dionisíacos, foi visto mais de uma vez esfarelando empadinhas nas espáduas decotadas das mulheres madrilhenhas, durante as festas chiques dadas pela escritora Virginia Wolf em Paris, para despertar-lhes frisson e teson.

Se isso é verdade (duvido...), papa Hemingway estaria hoje confinado numa masmorra feminista levando chicotadas de uma Simone de Beauvoir vestida de espartilho, botas de salto agulha e sutiãs de aço.


Scott Fitzgerald (“O Grande Gabsty”), que sofria de complexo de pau pequeno, abria a braguilha nas festas e mostrava seu controvertido membro aos demais convidados pedindo-lhes opinião sincera: “Você acha muito pequeno? Que nota você lhe daria numa escala de um a cem? Setenta e cinco? Pare de tomar esse whisky ridículo e fale a verdade!”.

Outra versão dessa mesma história garante que Fitzgerald fez isso de fato, mas só uma vez, e com seu então amigo Hemingway, que descreveu o incidente no romance “Paris é uma festa”!.

O membro de Fitzgerald tinha proporções normais.


William Faulkner, que a julgar por sua fama tomava banho de cerveja, fazia gargarejo com gim e lavagem estomacal com bourbon todo santo dia, jurava que bebia para tornar as outras pessoas mais interessantes.

E, se não foi o Faulkner quem disse isso, foi sem dúvida algum outro escritor bebum, americano ou inglês, o que, para efeitos etílicos, é quase a mesma coisa.

E algum gastropunk espalhou que Herman Mankiewcz, romancista, dramaturgo e roteirista de Hollywood, jantando um dia na casa do patrão, Louis Meyer, big tycoon da MGM, bebeu tanto que deu um incontrolável vomitão no carpete.

Teve, porém, a fineza de tranqüilizar seu anfitrião: “Não se preocupe, o peixe saiu devidamente acompanhado do vinho branco”.


Já Truman Capote (autor da obra-prima “A Sangue-Frio”), que, fazendo jus ao nome, capotava dia sim, dia idem, emergiu, depois de um porre dionisíaco, de seu quarto de hotel nu como a necessidade.

Depois de percorrer corredores e saguões espelhados do famoso cinco-estrelas, dirigiu-se à recepção para reclamar: “Tem um sujeito pelado perambulando por aí. E o pior é que ele está me seguindo”.

Nem todas as histórias de escritor americano bebum são assim tão edificantes.


O beat William Burroughs (“Junky” e o “Almoço Nu”), por exemplo, tentando se curar do vício da heroína à base de doses tiranossáuricas de gim com anfetaminas, teve a infeliz ideia de equilibrar uma maçã na cabeça de sua mulher, Joan, e fazer mira na fruta com uma Magnum 44.

Errou por centímetros – e para baixo, explodindo a cabeça da esposa.

Amigos e seu próprio médico lhe aconselharam a voltar para a heroína.

Histórias, histórias.

As de bêbado são como as de pescador: tanto melhores quanto menos prováveis.

Não importa.

Aliás, foi Baudelaire que sentenciou cavernoso como um corvo do Edgar Allan Poe: “Um homem que só bebe água tem um segredo maligno a esconder de seus semelhantes”.


Ou, o que o poeta Paulo Mendes Campos, de certa feita, confidenciou para o também poeta Vinicius de Moraes: “Não conheço nenhuma amizade verdadeira que tenha começado em uma leiteria”.

Os escritores americanos Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald e o filósofo francês Jean-Paul Sartre tinham em comum, além do imenso talento literário, uma mesma paixão: adoravam passar horas em mesas de bar apreciando alquimias alcoólicas.

Hemingway chegou a cunhar um quase poema a respeito de seus coquetéis prediletos: “My Mojito in La Bodeguita/ My Daiquiri in El Floridita”, saudando também os dois bares mais famosos de Cuba.

Fitzgerald e Sartre foram clientes assíduos, em Paris, do Harry’s New York Bar, fundado em 1923 pelo escocês Harry MacElhone.

Nasceram nesses cenários coquetéis como o Bloody Mary.

Arte e Ciência de Entrar no Canavial sem se Machucar (Parte 2)


Para você entender porque essas poções mágicas emocionavam os escritores (e se empolgar como eles), selecionamos alguns coquetéis clássicos, com sua receita e sua história.

Mas não é para fazer em casa ou na casa de amigos nem pedir em bares, que coquetel é coisa de viado.

Como insigne membro da AMOAL, você só pode lançar mão desses truques baratos quando quiser impressionar uma mulher que realmente valha a pena comer.

As informações seguintes servem apenas como cultura geral e para lhe ajudar a ter assunto nas mesas de botecos.

Como todo mundo sabe, as frutas sempre foram parte importante da dieta mediterrânea, consumidas in natura, como doces, conservas ou em forma de bebidas.

Um grande exemplo é a uva, que desde os primórdios é transformada em vinho, e mais recentemente também em destilados como o cognac, o armagnac, a grappa ou a bagaceira.


Na Antigüidade, o vinho raramente era bebido puro, por ser considerado forte e pesado, sendo quase sempre diluído e misturado.

O ato de adicionar água ao vinho era chamado de sangria.

A referência a “sangre” (sangue em espanhol), implícita em seu nome, não é gratuita: deve-se à cor do vinho tinto e ao fato de a bebida ser “aliviada”, enfraquecida, pela água, da mesma forma que o tratamento de saúde homônimo supostamente alivia a pressão sangüínea do paciente.

O tradicional ponche, nome pelo qual também se conhece a sangria, nasceu nas casas humildes espanholas antes de chegar aos grandes salões e se transformar em um dos drinques mais populares do planeta.

Segundo o “The Oxford Companion to Wine”, sangria é simplesmente “a mistura de vinho tinto, limonada e, às vezes, destilados e frutas frescas, servidos tipicamente na Espanha”.

Dependendo dos ingredientes usados, a sangria pode ser um leve refresco ou um coquetel mais potente.


O “Mr. Boston Official Bartenders Guide” (63.ª edição) tem como fórmula oficial a seguinte mistureba: ¼ xícara de açúcar, 1 laranja e 1 lima fatiadas, 1 garrafa de vinho tinto, 1 litro de água gasosa, frutas à vontade e bastante gelo.

Na Espanha, contudo, cada família ou restaurante tem sua receita própria.

No Brasil, o drinque sofre por causa de alguns equívocos básicos: embora seja benéfico preparar a mistura horas antes, para que os ingredientes se tornem homogêneos, as frutas só devem ser adicionadas pouco antes do consumo sob pena de oxidarem e escurecerem.

Pelo mesmo motivo, deve-se usar sempre ao menos uma fruta cítrica (limão, laranja, abacaxi fresco), pois mantém a boa acidez da fórmula, que deve se contrapor ao açúcar adicionado, e ajuda a manter o frescor e a cor das demais frutas.

Além dos cítricos, os pêssegos, morangos, cerejas, maçãs, pêras, kiwis, manga, cerejas e uvas são igualmente bem-vindos.

As bananas, figos, ameixas, melões ou qualquer fruta amarga se tornam dispensáveis.

Economize no açúcar para não tornar a mistura enjoativa.

O principal é manter o espírito popular e informal da bebida, improvisando a própria receita.


Esta pode, por exemplo, levar especiarias como cravo e canela, ser adoçada com mel ou licores como o Cointreau e o Amaretto, temperada com algo picante como o Tabasco e até decorada com hortelã fresca.

Fica a critério de quem vai pilotar a poncheira.

Só não se pode esquecer do vinho, o ingrediente principal.

Não se deve usar um exemplar que seja caro, pois seria um crime diluí-lo.

Por outro lado, utilizar uma bebida intragável seria o mesmo que destruir a receita.

Se for assim, não vale a pena nem começar.


Recomendo vinhos jovens e de boa acidez, como boa parte dos vinhos brasileiros, os italianos “vino da tavola”, Valpolicella, Bardolino, Lambrusco, Dolceto, Barbera, Chiantis comuns, os franceses “vin de table” ou “vin de pays”, Beaujolais e quaisquer outros exemplares da uva Gamay, Pinot Noir, Vinho Verde, e, tradicionalmente, os vinhos espanhóis “de mesa”.

Evite os vinhos tânicos ou com paladar marcante de carvalho, pois estes tendem ao amargor.

Não se limite aos tintos: experimente brancos e espumantes para conseguir ótimos resultados.

Descarte os Chardonnays barricados e dê preferência a vinhos mais ácidos como os Sauvignon Blanc, Riesling, Trebbiano, Pinot Grigio, Tocai Friuliano, Frascatti.

Os espumantes levam vantagem por sua grande acidez.

Uma mistura de espumante com pêssegos, morangos ou cerejas, uma gota de mel e bastante gelo seria uma boa companhia para um canapé de frutos do mar com lulas ou camarões fritos.

Lembre-se de que a sangria é apenas um alívio para o verão e não uma bebida para se levar a sério.


Trata-se, no máximo, de uma diversão para embriagar e depois comer uma vadia, além de ser uma maneira eficiente de usar aquele vinho de qualidade média que está ocupando precioso espaço em sua adega.

As receitas não devem ser rígidas, mas adaptáveis ao que estiver disponível no momento e ao humor dos que bebem.

Acima de tudo, a sangria é coquetel que se adapta perfeitamente ao nosso clima quente, nossa variedade de frutas e notável capacidade de improvisação.

Também conta pontos a favor o fato de que depois que enche a cara de sangria, toda mulher quer entrar na vara.

Aí, é só sangrar o burrinho. Ou a potranca, o que dá no mesmo.

Arte e Ciência de Entrar no Canavial sem se Machucar (Parte 3)


Surgido em Paris nos anos 20, o elegante Bloody Mary foi criado pelo americano Peter Petiot, que comandava o balcão do Harry’s New York Bar.

A ideia nasceu de pedidos de compatriotas que visitavam a França e pretendiam levar para os Estados Unidos, onde imperava a Lei Seca, uma bebida cuja aparência e odor mascarasse o teor alcoólico e fosse, ao mesmo tempo, fácil de preparar.

Pelo seu forte tom vermelho, foi batizada inicialmente com o pouco sutil nome de Bucket of Blood (“Balde de Sangue”).

Só em 1934, quando passou a ser preparada também nos Estados Unidos, a mistura recebeu o nome atual, que, segundo a mais plausível das versões, seria uma referência à rainha Mary I, da Inglaterra.

A homenagem não tem nada de agradável.

Devido à implacável perseguição aos protestantes puritanos, no período da restauração do catolicismo apostólico romano, no século 16, a rainha tornou-se conhecida pelo apelido de “Bloody Mary”, ou “Maria, a Sanguinária”.

O verdadeiro Bloody Mary utiliza 1 dose de vodca, 3 doses de suco de tomate, 1 gota de suco de limão, sal, pimenta-do-reino, Tabasco e molho inglês.

Proceda da seguinte forma: coloque a vodca e os sucos em um copo grande, com quatro pedras de gelo.

Mexa bem e tempere a gosto com os demais ingredientes.

Sirva em um copo baixo, de boca larga, chamado old-fashioned, com duas pedras de gelo.

Não se esqueça que dá um azar danado servir esse drinque para vagabundas menstruadas...


Existem duas versões sobre a origem do famoso Daiquiri.

A primeira conta que ele surgiu por volta de 1900, em uma mina de ferro controlada pelos americanos e chamada Daiquiri, em Santiago de Cuba.

O engenheiro Jemiings S. Cox teria criado a bebida e distribuído drinques aos mineiros, sob o pretexto de que aquele era um perfeito remédio para combater a febre amarela.

Outra versão diz que os soldados cubanos que combatiam os colonizadores espanhóis, no final do século 19, carregavam na cintura um pequeno odre de couro contendo uma mistura de rum branco e suco de limão.

Chamavam-na de “elixir da valentia”.

Depois dos espanhóis, foi a vez de os americanos invadirem a ilha, entrando pela Praia de Daiquiri.

Os novos invasores logo aprovaram a mistura, mas adicionaram gelo picado para aliviar o calor escaldante da região – e batizaram o drinque com o nome da praia em que estavam.

A popularização do coquetel aconteceu pelas mãos do lendário barman do La Floridita, em Cuba, Constantino Ribalagua.

Segundo o cubano, um daiquiri de responsa pra vadia nenhuma reclamar leva 2 doses de rum branco, 1 dose de suco de limão, 1 colher (chá) de açúcar e 1 gota de grenadine.

Cumé qui faz?

Coloque quatro cubos de gelo numa coqueteleira, adicione o rum, o suco de limão e o açúcar e agite bem.

Sirva em um copo de coquetel, derramando uma gota de grenadine sobre o gelo, só pra deixar a mulherada à beira de um ataque de nervos.

Nenhuma vadia vai resistir a esse toque de sofisticação.


Acredite se quiser, mas a autoria do drinque Tequila Sunrise é creditada a Mick Jagger, líder e vocalista da maior banda de rock de todos os tempos, os Rolling Stones.

Jagger nunca trabalhou como barman, embora sempre tenha tido com a tequila uma grande intimidade.

No final dos anos 70, em uma turnê pelos Estados Unidos, ele foi proibido pelo médico que acompanhava a banda de ingerir qualquer bebida alcoólica.

Enganando o médico e, principalmente, o guitarrista Keith Richards, que o gozava sorvendo largas doses de vodca perto dele, Jagger passou a misturar suco de laranja com o destilado mexicano, dando a impressão de manter religiosa abstinência.

A burla só foi revelada no final da temporada, com Jagger gozando de boa saúde.

Depois, o drinque foi aperfeiçoado e recebeu a adição de grenadine ou xarope de romã.

A confecção é simples.

Em um copo longo, com pedras de gelo, misture duas doses tequila e quatro doses de suco de laranja.

Acrescente o grenadine (ou xarope de romã), sem mexer.

Decore com uma fatia de laranja e com uma cereja.

É a bebida ideal para mulheres que usam piercing no nariz ou que raspam as sobrancelhas.

Arte e Ciência de Entrar no Canavial sem se Machucar (Final)


Seco, sóbrio e elegante.

Assim pode ser definido o coquetel Manhattan, que homenageia a trepidante e charmosa ilha de Nova York.

Nos balcões dos bares, os experts contam que o Manhattan teria surgido mesmo nos Estados Unidos, não necessariamente na ilha, no ano de 1870, e que sua receita original continha apenas rye whiskey (“uísque de centeio”) e vermute.

De lá para cá, sua fórmula foi bastante alterada.

Hoje, ao lado – ou melhor, junto do rye ou do Canadian whisky e do vermute tinto, estão a Angostura e a cereja.

Mesmo simples, a receita do Manhattan exige muito rigor de quem a prepara.

Não se pode errar nas medidas.

Deve-se conhecer, por exemplo, as complexas conseqüências da maior ou menor quantidade de cada ingrediente – três, duas ou mesmo uma gota a mais de Angostura podem fazer uma amarga diferença.

Pelo seu caráter seco, o Manhattan é considerado um aperitivo ideal para ser servido antes das refeições.

Uma dica: o segredo da preparação está na rapidez, evitando contaminar o drinque com água demais.

Apesar desses cuidados, fazer o drinque não é nenhum bicho-de-sete-cabeças.

Ele pede 2 doses de rye whiskey (na sua falta use uísque americano ou canadense), 1 dose de vermute tinto, 2 gotas de Angostura e 1 cereja.

Em um copo misturador, ponha de cinco a seis cubos de gelo e todos os ingredientes, exceto a cereja.

Mexa rapidamente com uma colher longa e coe a mistura sobre uma taça de coquetel.

Decore com a cereja, que deve ficar no fundo da taça.

Não coma a cereja antes de terminar de beber, porque vai adoçar sua boca e alterar seu paladar.

Esse é o drinque ideal para exigir da menina um boquete de engarrafar o trânsito de Manhattan.


O famoso Negroni nasceu em 1919 no Casone, em Florença, na Itália.

Um dos fiéis freqüentadores do bar, o conde italiano Camillo Negroni, sempre pedia o mesmo drinque, uma mistura de bitter e vermute.

Certa tarde o conde pediu ao barman Fosco Scarcelli uma bebida ainda mais forte.

Como já conhecia seu paladar, Scarcelli apenas acrescentou gim, gelo e uma rodela de limão ao bitter e ao vermute.

O conde aprovou e passou a beber apenas a nova poção, logo popularizada entre outros clientes e, claro, batizada com o sobrenome do bebedor ilustre.

O segredo do drinque é usar um gim bem seco, o inglês de preferência.

Apesar da origem nobre, qualquer plebeu pode reproduzir a receita.

Em um copo baixo, conhecido como old-fashioned, coloque quatro pedras de gelo.

Adicione 1 dose de gim, 1 dose de Campari, 1 dose de vermute tinto e mexa bem.

Decore com 1 tira de casca de limão.

Recomendável para fêmeas pudicas e recatadas.


O explosivo coquetel Bullshot nasceu em alto-mar.

No século 17, nos navios ingleses, os marinheiros costumavam tomar um forte caldo de carne para combater o frio e evitar possíveis resfriados.

Além das doses do caldo, cada marujo recebia uma cota diária de rum.

Inevitavelmente passaram logo a misturar os dois, criando, segundo os experts, uma das melhores receitas para a cura da ressaca.

Finalmente, quando chegou aos bares ingleses, o rum foi substituído pela vodca, devido ao seu sabor neutro.

O segredo está em combinar um bom caldo de carne, com vodca de qualidade e temperos na medida exata: 1 dose de vodca, 3 doses de consomê de carne frio (existem marcas americanas já prontas, porém não se recomenda o uso de tabletes de carne), 1 gota de suco de limão, 2 gotas de molho inglês, 1 gota de Tabasco, sal e pimenta-do-reino a gosto.

Em um copo misturador, coloque quatro pedras de gelo, acrescente os ingredientes e mexa bem.

Sirva com duas pedras de gelo.

Utilize um talo de salsão para enfeitar e servir de mexedor, que pode ser comido enquanto se bebe o drinque.

É a bebida clássica para seduzir uma mulher vegetariana.


A mistura de hortelã com bebidas é muito antiga.

A exemplo do Bullshot, o Mojito teria sido criado por um inglês em alto-mar.

A diferença, nesse caso, é que a história deste drinque era contada nos bares cubanos por ninguém menos que o escritor americano Ernest Hemingway.

Segundo ele, o almirante e aventureiro inglês Francis Drake, o primeiro homem branco a aportar em inúmeras ilhas do Pacífico Sul, apaixonado pelos aromas da hortelã, teria sido o primeiro a misturar a planta com boas doses de rum.

A desculpa: essa mistura seria a ideal para proteger seus marujos dos problemas respiratórios e estomacais, tão comuns nas grandes travessias marítimas.

A receita do drinque, tal qual conhecemos hoje, é uma criação dos anos 40, do célebre La Bodeguita del Medio, em Havana, um dos bares mais famosos do mundo.

Segundo Hemingway, o drinque original leva 1 dose de rum branco, suco de meio limão, 1 colher (chá) de açúcar, club soda e 4 folhas de hortelã frescas.

Em um copo longo, coloque as folhas de hortelã, o açúcar e, com um socador, pressione levemente.

Acrescente o rum, o suco de limão, muito gelo picado e mexa bem.

Complete com club soda e decore com um ramo de hortelã.

É uma bebida ideal para os dias e as mulheres quentes.


Pouco se sabe sobre a origem de nosso drinque mais popular, a Caipirinha, que, recentemente, teve sua consagração mundial, entrando para a lista oficial dos clássicos da International Bartenders Association.

Com isso sua receita passa a ser respeitada no mundo dos profissionais, evitando-se sacrilégios como a adição de licor de laranja, praticada recentemente pelos franceses.

Acredita-se que o coquetel tenha nascido no interior de São Paulo – o que explicaria o nome do drinque –, como remédio contra a gripe.

A bebida seria, nesse caso, uma variação de beberagem muito popular no Estado, à base de limão-galego, mel e alho.

A cachaça deve ser da branquinha.

Apesar de a variedade envelhecida ser uma bebida muito boa, ela adquire nos tonéis aromas que não combinam com a Caipirinha.

Adoçar com mel é outro crime inafiançável.

No máximo, substitua o açúcar por um dedo de caldo de cana, mas sem exageros, porque sua função é apenas cortar um pouco da acidez do limão.

Os ingredientes da legítima Caipirinha são 1 limão pequeno de casca fina (taiti ou galego são os melhores), 2 colheres (chá) de açúcar e 1 dose de cachaça.

Retire as pontas e corte o limão em rodelas bem finas.

Coloque o limão e o açúcar em um copo pequeno e, com um socador de madeira, pressione apenas o centro da fruta, sem forçar a casca.

Isso evita a liberação de muito ácido cítrico, contido no sumo da casca, que pode deixar o drinque amargo.

Acrescente a cachaça, misture e complete com muito gelo.

É a bebida preferencial de mulheres que gostam de sentar na boquinha da garrafa.

Aproveite.

sexta-feira, outubro 28, 2011

Um vacilo imperdoável


O glorioso Fast Club, time de coração do advogado Felix Valois. Em pé: Antônio Piola, Casemiro, Pompeu, Marialvo, Zezinho e Zequinha Piola. Agachados: Paulo Pernambucano, Rangel, Edson Piola, Simão e Adinamar. Foto do acervo do querido Carlos Zamith, do blog Bau Velho.

Julho de 1986. Diretor da fábrica de relógios Quartz Elétron, uma das empresas do Grupo Mondaine, o advogado Décio Aparecido Fuschi era fanático por futebol e resolveu montar uma equipe para disputar o campeonato industriário do Sesi.

Funcionário da empresa, o despachante Epitacinho Almeida, cunhado do Mário Adolfo, transferiu a tarefa de montar a equipe para Áureo Petita, que ele próprio havia contratado para trabalhar no almoxarifado.

Áureo foi conversar com Décio e recebeu carta branca para contratar os melhores “peladeiros” disponíveis no mercado.

Todos eles seriam contratados para trabalhar na empresa.

Áureo Petita indicou a contratação do ex-lateral direito fastiano Antonio Piola, na época um respeitado professor de Educação Física, para ser o técnico do time.

Décio concordou.

Os dois, Áureo e Antonio Piola, foram conversar com o velho treinador nacionalino Barbosa Filho, que indicou o nome de vários jogadores do juvenil do Nacional.

Todos eles foram contratados pela Mondaine: o goleiro Tide, os laterais Edmilson (filho do brilhante meio-campista Dermilson) e Nildo, os zagueiros Pedro Jabuti e Serenildo (filho do respeitado massagista Valdir) e o atacante Beré.

Áureo indicou o volante Edmilson II (ex-Tuna Luso) e um amigo do bairro, o atacante Nilo, que depois seria jogador profissional de futebol de salão na Espanha, onde vive até hoje.

Antonio Piola contratou o ponta de lança Ricardo (irmão do ex-goleiro nacionalino Zé Carlos) e Paulinho.

Era uma verdadeira seleção.


O time da Quartz-Mondaine foi a sensação do campeonato industriário daquele ano, tendo vencido todas as partidas disputadas.

O jogo final foi contra a forte equipe da Springer da Amazônia, que tinha como treinador Paulo Feitosa e craques de muito talento como Sildomar, Cortez, Pepira e Saraiva.

O time da Quartz-Montaine venceu por 3X1, gols de Aúreo Petita (2) e Nilo, se sagrando pela primeira vez campeã do evento.

No ano seguinte, o time repetiria o feito se sagrando bi-campeão da competição, dessa vez reforçado por novos jogadores indicados pelo Áureo Petita: Paulo Menudo, Carioca, Paulo César (ex-Murrinhas), Toya, Luiz Florêncio, Pavão e Luiz Roberto.

O advogado Décio Fuschi ficou tão empolgado com o craque Áureo Petita, que o transformou em uma espécie de secretário informal.


Um dia, Áureo Petita foi chamado a sala do diretor.

Apontando para uma série de produtos eletroeletrônicos (filmadoras, aparelhos de videocassete, máquinas fotográficas, relógios digitais, etc) empilhados em uma mesa, Décio cantou a pedra:

– A minha namorada está na cidade, hospedada no apartamento 1102 do hotel Taj Mahal, lá no centro. Você vai lá, pessoalmente, entregar esses objetos para ela!

O craque não se fez de rogado.

Meia hora depois, estava apertando a cigarra do apartamento.

Uma mulher deslumbrante, vestida apenas com uma lingerie de seda azul e uma sandália de salto alto, abriu a porta e pediu para ele entrar.

– Você deve ser o craque do time da Mondaine, não é? – ela perguntou amistosamente. “O Décio fala muito de você. No dia em que visitar o Rio de Janeiro, apareça lá em nossa casa, na Barra da Tijuca, que será um imenso prazer tê-lo como hóspede!”

Áureo Petita limitava-se a sorrir timidamente enquanto descarregava as tralhas no apartamento, completamente hipnotizado pela aparição daquela mulher deslumbrante.

Ele ainda não havia ligado o nome a criatura, mas ela já era conhecida em todo o País por desfiles apoteóticos no Sambódromo do Rio e por ensaios fotográficos nus que revelavam os dotes que a natureza lhe deu.


A namorada do Décio era simplesmente a modelo Luma de Oliveira.

Filha caçula de uma família de seis irmãos, natural de Nova Friburgo, na região serrana do Rio, Luma estreou na carreira de modelo aos 16 anos, quando já se mudara para Niterói.

O irmão Men de Oliveira substituiu seu pai como tutor.

Foi uma das irmãs, a já consagrada Ísis de Oliveira, que lhe abriu as portas.

Durante um ano, ela telefonou para as agências fazendo propaganda da caçula.

Em 1987, Luma estreou na novela “O Outro” e, em seguida, atuou em “Meu Bem, meu Mal”, em 1991.

“Se tivesse seguido a carreira, poderia ter se tornado a nossa Julia Roberts”, elogiou Aguinaldo Silva, autor de “O Outro”.

Luma também fez dois filmes dos Trapalhões e protagonizou “Boca de Ouro”, de Walter Avancini, em 1989.


Na sequência da fama, Luma Oliveira trocou Décio Fuschi pelo socialite Antenor Mayrink Veiga, que depois foi trocado pelo jogador Renato Gaúcho, que depois foi trocado pelo empresário Eike Batista, com quem se casou em 1991.

A história de seu casamento com o empresário não deixou nada a dever a um conto de fadas.

Eike abandonou sua noiva, a socialite Patrícia Leal, com quem já se casara no religioso, a uma semana da união civil.

O anúncio caiu como uma bomba na alta sociedade carioca.

Convites distribuídos e presentes recebidos, o filho do ex-ministro Eliezer Batista abandonou tudo para ficar com Luma.

Ela recebeu a notícia minutos antes de entrar na passarela para mais um de seus desfiles.

“Eu só sabia que ele tinha uma namorada, mas nem desconfiava de quem se tratava”, garantiu Luma.

Dois anos depois, Patrícia casou-se com Antenor Mayrink Veiga, ex-namorado de Luma, após o Vaticano anular seu casamento com Eike.

Eike e Luma casaram-se no civil, três meses depois, em uma cerimônia para 200 convidados na cobertura onde o noivo morava, no Jardim Botânico.

“De tão apaixonados, foram embora antes da festa acabar”, relembrou Helena Brito Cunha, que organizou a recepção.

Prestes a ter seu nome incluído no livro Sociedade Brasileira, que reúne a nata dos socialites, Eike foi descartado ao deixar Patrícia no altar.

“Se tivesse casado com ela, teria sido incluído”, diz a autora Helena Gondim. “Não faria sentido depois que se casou com Luma.”


Na época, a modelo terminara um romance com o atacante Renato Gaúcho.

“Acho ela demais”, diz até hoje o jogador.

Ele acabou causando um mal-estar a Luma por ter contado detalhes do romance em uma entrevista à revista Interview, em 1992, quando a modelo já estava casada.

“Só disse a verdade”, desculpa-se ele.

Quer dizer, já que a modelo gostava tanto de jogadores de futebol, o Áureo Petita bem que podia ter se enxerido para ela, no dia em que a conheceu pessoalmente.

Craque por craque, ele sempre jogou muito mais bola do que o marrento Renato Gaúcho.

Quem algum dia o viu jogando, sabe disso.

Se a Luma Oliveira desse bola, ele teria ganho o dia e o Décio nunca ficaria sabendo de nada.

Se levasse um toco da modelo, o máximo que aconteceria seria perder também o emprego e a amizade do Décio.

Só que naquela época o que não faltava era emprego para craque de pelada nas fábricas do Distrito Industrial.

Aureo Petita não ficaria desempregado uma semana.

Em outras palavras, o craque do Murrinhas cometeu um vacilo imperdoável!

Deve estar arrependido até hoje.

Causos de Bambas: Vagau


Considerado o radialista mais famoso de Manacapuru, Felipe Oliveira (aka “Vagau”) era baixinho e marrento, mas se transformava em um gigante de ternura e bondade quando assumia os microfones da radio Princesa do Solimões, que transmitia em ondas curtas e tropicais.

Abençoado com uma voz idêntica a do cantor Barry White, Vagau entremeava seu programa de músicas românticas com recados para os ouvintes da zona rural do município.

De vez em quando cometia algumas gafes memoráveis, como esta:

– Alô, compadre Antero Lima do Repartimento do Supiá! Alô, compadre Antero Lima do Repartimento do Supiá! O seu irmão caçula, Pedro Lima, sofreu um gravíssimo acidente de motocicleta no bairro da Correnteza e seus familiares exigem sua presença aqui em Manacapuru!

Aí, achando que Antero Lima poderia não ter ficado suficientemente impressiondo com o aviso, arrematou:

– Aliás, compadre Antero Lima, acho bom o senhor vir de luto porque o acidente com seu irmão foi mesmo grave pra chuchu!

Outra vez, ele recebeu o anúncio de que havia falecido a professora Maria Amélia, uma das grandes benfeitoras do município.

O velório estava acontecendo no horário de seu programa.

Ele não teve dúvidas.

Com a voz embargada de emoção, mandou ver:

– Noticiamos com pesar o falecimento da professora Maria Amélia, um dos símbolos mais queridos de Manacapuru e responsável direta pela educação de milhares de crianças. O velório de Dona Amelinha, como era mais conhecida, está ocorrendo neste exato momento, em sua residência, no bairro Terra Preta. O enterro será às 18h no cemitério municipal. Como última homenagem a essa maravilhosa criatura que foi Dona Amelinha, ofereço o novo sucesso de Roberta Miranda, “Vá com Deus!”

E colocou a música no ar.

Os familiares da professora queria entrar na rádio pra quebrar tudo e depois tomar satisfações com o radialista.

Exposição em Paris traz retrospectiva da carreira de Sempé


De seu apartamento em Paris, o cartunista Jean-Jacques Sempé olha para os telhados da cidade.

É um lugar apropriado para um homem que prefere olhar para o mundo com visão ampla.

Mas, como revela uma nova mostra de sua obra em Paris, são os detalhes de close-up de seus desenhos, o tipo de coisa que se leva um momento para observar, que captam a essência de seus temas e ironizam a vaidade da natureza humana.

Aos 79 anos, Sempé é conhecido na França e fora do país por seu personagem irreverente dos anos 1950 “Le Petit Nicholas” (O Pequeno Nicolau), criado em conjunto com René Goscinny, autor de “Asterix”.


Mas são suas paisagens urbanas panorâmicas, desenhadas desde um ponto elevado e com um toque suavemente irônico, que fizeram sua reputação internacional, fazendo dele presença regular nas capas da New Yorker, da Paris Match e do L’Express.

Em um desenho, o espectador olha para uma esquina parisiense típica – um edifício grandioso do século 19, com café no térreo, completo com toldo sobre a rua.

Mas, à medida que o olhar vai descendo, chega a dois ônibus que colidiram na rua, e, na linha de baixo do desenho, às cabeças agitadas de dezenas de passageiros irados que desceram dos veículos para discutir de quem foi a culpa do acidente.

A cena revela muito sobre um país onde ser “do contra” é quase um esporte nacional.

Mas a visão do alto deixa você sorrindo diante da inutilidade de tudo isso.


“O trabalho de Sempé nos lembra sempre da condição humana”, disse Marc Lecarpentier, curador de “Un peu de Paris et d’ailleurs” (Um pouco de Paris e alhures), retrospectiva da carreira de seis décadas do artista francês, que abriu na sexta-feira na sede da prefeitura parisiense.

“Somos todos tão pequenos. Tentamos nos impor, ou somos vaidosos. Sempé vem nos lembrar que vamos todos morrer algum dia, então mais vale olhar para o lado positivo das coisas, em lugar de sermos mesquinhos”, disse o curador à Reuters.

A mostra, que ficará até 11 de fevereiro, inclui 300 desenhos originais da carreira de Sempé, que já produziu milhares de cartuns e mais de 40 álbuns traduzidos para 25 idiomas.

Em um de seus cartuns de temática americana, o espectador vê um horizonte urbano impressionante de grandes edifícios residenciais sob uma linda lua cheia.

Mas, ao olhar mais de perto, vê que cada uma das centenas de janelas quadradas contém um casal desenhado em poucas linhas, que olha fixamente para o mesmo televisor preto.


“Algumas pessoas enxergam o absurdo da humanidade. Algumas veem a filosofia metafísica de Immanuel Kant. Outras enxergam a relação entre espaço e tempo”, disse Lecarpentier.

É muito difícil fazer um comentário sobre Sempé.

O cartunista nasceu em Bordeaux em 17 de agosto de 1932 e trabalhou como vendedor de pasta de dente e aprendiz no comércio de vinho antes de publicar seus primeiros desenhos, em 1950.

Ao longo dessas últimas décadas, sempre fazendo seus desenhos de forma artesanal, à mão (nunca adotou o computador), Jean-Jacques Sempé se tornou uma instituição de seu país tão admirada quanto um Charles Aznavour, um Serge Gainsbourg, uma Brigitte Bardot.

No final dos anos 1970, chegou até o seleto mundo dos cartunistas americanos, desenhando capas e cartuns para a New Yorker.


“Sempé é um talento ímpar. Combina a sofisticação de (Saul) Steinberg, o olhar certeiro de (James Grover) Thurber e o senso de luz e cor de um mestre da pintura”, escreveu um redator da prestigiosa revista sobre o artista.

Sempé começou na profissão aos 18 anos, e logo desenhava para Paris Match, Punch e L’Express.

Nos anos 1950, estourou com O Pequeno Nicolau, feito em parceria com seu mestre René Goscinny, que inicialmente usava um pseudônimo, Agostini (curiosamente, nome de um dos pioneiros dos quadrinhos no mundo todo, o brasileiro Ângelo Agostini).

Há alguns anos, Sempé teve um derrame e evita viajar para muito longe, mas continua criando.

Hoje em dia, seus trabalhos são publicados na França pela Éditions Denöel, e um dos livrinhos mais recentes de sua autoria é Par Avion (2008).


Sempé diz que não parte de ideias preconcebidas para forjar seus personagens.

Apenas não admite que eles sejam demasiado didáticos, ou que não sejam capazes de transportar alguma poesia em seu trajeto.

O que chamam de “leveza” em seu traço, ele pondera, pode ser a busca de uma certa pureza.

“Não são meus personagens que ficam pequeninos, é o mundo que se tornou grande demais”, analisa o artista.


Essa entrevista com o cartunista foi feita pelo jornalista Jotabê Medeiros:

O que o sr. acha de Marcelino Pedregulho ser publicado no Brasil depois de 40 anos de sua criação?

Estou muito contente. Marcelino é uma história que se contrapõe ao discurso racista, que parte do debate sobre a aceitação das diferenças. Quando eu fiz o livro, não pensei nessa questão de se é para crianças ou para adultos. Não faço essa diferenciação.

Como o sr. se define? Pode-se dizer que é um escritor que escreve com desenhos?

Sou um desenhista que é, forçosamente, muito ligado à literatura. Então, considero o que faço como uma mistura das duas formas, e meu ponto de partida é sempre a minha própria vida, o meu próprio cotidiano.

O sr. disse de si mesmo, certa vez, que é um preguiçoso. Mas produziu compulsivamente nos últimos anos. Como explica esse paradoxo?

Mas não é justamente essa a característica de todos os preguiçosos, trabalhar enormemente? Como eu não me organizo muito bem, produzo de forma compulsiva para às vezes fazer o mesmo trabalho. Desenho o mesmo desenho obsessivamente, às vezes durante anos, como um psicanalista que fica mudando o divã de lugar, tentando ver que efeito essa mudança terá no comportamento de seus pacientes. Levei quatro anos para finalizar Marcelino Pedregulho.


O sr. poderia dizer que seus livros têm um forte componente político?

Sim, meus livros são políticos, na medida em que são uma reflexão pessoal. Mostrar o interior, a angústia e as divisões de uma pessoa são uma ação política. Eu sou muito próximo dos meus personagens, eles são facetas de mim, pedaços de minha personalidade.

Em que medida Marcelino Pedregulho é inspirado no senhor mesmo?

Quando criança, eu era gago. Tinha essa enfermidade da dicção, que eu resolvi com o tempo. Mas era bastante desagradável , na época, o jeito como as pessoas se portavam em face daquela diferença, o isolamento que isso trazia. Marcelino Pedregulho é uma história contada a partir do ponto de vista dos que são diferentes. É , por isso, uma metáfora que serve para o racismo, por exemplo.

O sr. começou desenhando para órgãos da grande imprensa, coisa que faz até hoje. Acha que a imprensa escrita está mesmo morrendo?

Não penso assim. Creio que todo dia, durante muitos anos ainda, as pessoas vão precisar ler um jornal pela manhã. A vantagem do jornal, do livro e da revista é que você os transporta com você. Eles se moldam à sua rotina, ao seu dia a dia. É a diferença ainda entre carregar um piano e um pequeno instrumento. Carregar o piano pode deixá-lo extenuado, é melhor você levar um pequeno tambor para fazer o seu tum-tum. Algo que você pode deixar depois em qualquer lugar.


O sr. viu o filme sobre o livro O Pequeno Nicolau?

Sim, eu já o vi. Se eu disser para você que gostei, vou ser impreciso. Se falar para você que não gostei, também não estarei dizendo a verdade. Então, eu prefiro esperar para ver o que dirão desse filme os leitores que se acostumaram com as histórias do Pequeno Nicolau ao longo desses anos.

E o seu parceiro no livro, René Goscinny, o que diria do filme?

Bom, ele não está mais entre nós, não me permito dar uma opinião no lugar dele.

O cartunista argentino Quino disse, sobre o seu desenho, que não faz rir da primeira vez que o vemos, mas vai nos conquistando aos poucos. O sr. concorda?

Conheço Quino, conheço a Mafalda. O trabalho dele é muito agradável, muito simpático, muito irônico. Se Quino diz isso, deve estar com a razão. Ele entende como poucos do desenho.

A direita avermelhada continua a mesma


Sandro Barsal, Gigio Bandeira e esse vosso escriba durante o cinquentenário do Careca Selvagem

Setembro de 1990. A convite do deputado federal João Thomé (PMDB), eu havia deixado o PDT e voltado a me filiar ao PMDB para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa.

Para me ajudar na tarefa, João Thomé indicou quatro cabos eleitorais: Antonio Carlos Maciel e Alfredo Rocha, ambos militantes do PCB, e Sergio Lima e Sandro Barsal, ambos ex-militantes do PCdoB.

Como eu não podia abandonar meu emprego na Philco do Brasil para correr atrás de votos, a gente costumava se encontrar depois que eu saía da empresa, por volta das 18h, para executarmos juntos os trabalhos de convencimento do eleitorado por meio de cansativas reuniões nos bairros mais periféricos da cidade.

Numa determinada sexta-feira, por volta das 22h, sugeri aos meus parceiros que a gente suspendesse os trabalhos políticos daquela noite e fôssemos encher a cara em um boteco decente.

Eles concordaram.

Nos dirigimos para o Bar Marupiara, em Adrianópolis, que havia se convertido em nova meca de peregrinação dos intelectuais locais.

A gente estava ali, conversando alegremente sobre as tarefas marcadas para o dia seguinte, quando entrou no recinto uma ruidosa delegação de militantes do PCdoB e ocupou três mesas razoavelmente afastadas da nossa.

Deviam ser uns 15 tarefeiros, com toda pinta de serem oriundos do movimento estudantil ou vendedores do jornal Tribuna da Luta Operária, porta voz oficial do partido.

Eles começaram a cochichar entre si e olhar para a gente.

Não dei a mínima.

Sandro Barsal, que sempre foi o mais politizado de nosso grupo, começou a se sentir incomodado.

Lá pelas tantas, Sandro Barsal se levantou da nossa mesa, se dirigiu ao pequeno palco onde o cantor Pereira fazia um show acústico só com voz e violão, conversou alguma coisa com o músico e aí, subitamente, pegou o microfone e mandou bala:

– Eu queria mandar um recado para esses tribuneiros que estão sentados aí na frente: avisem pra esquerda que o Sandro Barsal agora está na direita!

E exibiu orgulhosamente a camiseta branca com meu slogan (“Pessoa vota em Pessoa”) e a legenda PMDB em letras garrafais.

Rápido como um gatilho, Antonio Carlos Maciel voou da nossa mesa até o palco, tomou o microfone das mãos de Sandro e sapecou:

– O camarada Sandro Barsal está equivocado. A esquerda está onde sempre esteve. Está aqui, conosco, marchando ao lado do professor Gilberto Mestrinho. O PCdoB é que está na direita, marchando ao lado dos políticos mais reacionários do Amazonas, todos eles com bons serviços prestados ao regime militar.

Pânico no cabaré.

Os tribuneiros queriam revidar, Pereira desligou o microfone, xingamentos e provocações dos dois lados, Sandro Barsal queria sair no braço, uma zorra.

Depois de uns quinze minutos de um bate boca infernal, os ânimos serenaram.

Os tribuneiros, visivelmente putos, pagaram sua conta e foram embora.

Nós continuamos no boteco, loucos para arranjar confusão.

Deixamos o Bar Marupiara com o dia amanhecendo e de alma lavada.

Trinta anos depois, Sandro Barsal é professor da Universidade Federal do Amazonas e continua na esquerda.

Antonio Carlos Maciel é professor da Universidade Federal de Rondônia e continua na esquerda.

Sergio Lima é professor da Universidade Federal do Ceará e continua na esquerda.

Alfredo Rocha é coordenador cultural do Sesi e professor da escola estadual Marquês de Santa Cruz e também continua na esquerda.

Com a descoberta do propinoduto no Ministério dos Esportes instalado pelo PCdoB, a gente sabe de que lado os stalinistas sempre estiveram.

Winwenders e aprendenders.

quinta-feira, outubro 27, 2011

iPobre chega ao mercado para revolucionar e facilitar a vida dos pobres


Via e-mail, o antenado Lucio Menezes me envia essa maravilha da tecnologia inclusiva.

Se na próxima segunda-feira eu conseguir uma senha inferior ao número 5.793 no PAC da Compensa, vou me candidatar a obter um exemplar.

A banana mordida é o símbolo do iPobre.

O criador explica o motivo: “Maçã é fruta de rico; pobre come banana. Nada mais justo que a logomarca seja um objeto que represente bem o seu público”.


Lançado nesta semana, o iPobre – primeiro tablete brasileiro para o povo pobre – chega ao mercado custando apenas R$ 9,99.

Com o slogan “porque tecnologia também é para pobre”, o iPobre promete facilitar a vida do brasileiro, com vários recursos tecnológicos que vão, desde aplicativos do Bolsa Família à programas para receber doações online.

O aparelho promete ser uma inovação para mudar o Brasil e a forma do povo pensar.

O iPobre também mantém o usuário informado com as manchetes do “Pobre News”.

Além disso, conta com um aplicativo que permite ao dono do tablete, fazer a compra de créditos para a carteirinha do vale transporte, tudo online sem sair de casa.

O iPobre também tem previsão do tempo, para informar se o usuário deve, ou não, sair de casa sem guarda-chuva.

Tem também anotações de dívidas e serviço de busca de restaurantes self-service com preços acessíveis, bem como de lojas com descontos e promoções.

Também está incluso no tablete um aplicativo para o internauta procurar emprego.

“O iPobre veio para revolucionar a tecnologia em favor do pobre, porque pobre também merece desfrutar da tecnologia”, disse o criador da engenhoca.

Boyz II Men lança novo álbum 20 anos após “Cooley high harmony”


Em 1991 o grupo Boyz II Men chegou ao cenário da música pop com uma versão própria de R&B, infundindo harmonias semelhantes às da Motown com New Jack Swing, um gênero que fundia R&B, hip-hop e música pop.

No ano seguinte, a balada “End of the Road” levou os integrantes do grupo ao estrelato internacional.

E, na última terça-feira, eles lançaram “Twenty“, álbum duplo que comemora o vigésimo aniversário de seu álbum de estreia, “Cooleyhighharmony“.

Sim, homeboys, o álbum já está disponível para download grátis no Pirate Bay.


“Twenty” marca o reencontro de Wanya Morris, Nathan Morris e Shawn Stockman, atual formação do Boyz II Men, com o lendário Kenneth “Babyface” Edmonds, produtor de “End of the Road“.

O single mais recente deles, “One Up for Love“, cujo vídeo estreou na sexta-feira passada, foi produzido por Edmonds (confira no YouTube).

As 20 faixas do álbum incluem 12 faixas originais e oito versões regravadas de clássicos como “Motownphilly“, “I’ll Make Love to You” e “On Bended Knee“.

“Quando fizemos as canções pela primeira vez, a gente as recebeu, entrou no estúdio e gravou”, explicou Nathan Morris. “Mas agora já as cantamos há tanto tempo, e até vivemos algumas das coisas que as canções mencionam, que conseguimos expressá-las muito melhor”.

O grupo se espanta com quanto mudou nos últimos 20 anos.

“Quando a gente chegou, nem havia Internet!,” disse Wanya Morris. “Hoje tudo é digital, e é mais fácil mostrar seu talento”.

Mas ele toma o cuidado de não desmerecer celebridades como Justin Bieber, cuja carreira foi lançada no YouTube.

Bieber, que nasceu no ano em que “I’ll Make Love to You” virou sucesso, cita o grupo como sendo uma de suas influências.

Ele e o Boyz II Men gravaram uma canção juntos para o álbum de Natal do astro teen.


Muitos grupos inspirados pelo Boyz II Men, como 98 Degrees, surgiram e desapareceram nos últimos 20 anos.

Wayna Morris atribui a longevidade do Boyz ao fato de seus integrantes se conhecerem há tanto tempo, desde que eram estudantes no Colégio de Artes Criativas e Cênicas de Filadélfia.

“Geralmente, o que se vê são artistas solo que se unem para formar um grupo, muitas vezes idealizado por uma gravadora ou um empresário – simplesmente quatro ou cinco sujeitos com cara de modelos”, disse Wanya. “Nós, o Boyz II Men, nos aproximamos em função da música.”

Claro que já houve divergências ao longo dos anos.


Originalmente um quarteto, o grupo perdeu um de seus membros, Michael McCrary, em 2003.

Embora o motivo da saída tenha sido citado na época como sendo de saúde, Nathan Morris diz agora que McCrary “ficou preguiçoso” e que “não foi uma separação amigável”.

Só as cachorras!

Via e-mail, o videomaker e publicitário Edlucio Castro envia este pedido desesperado:

Amigos, me ajudem, por favor!

Vejam se podem adotar ou indicar alguém que queira adotar essa ninhada de cachorras de raça, com pedigree reconhecido em cartório.

Só não fico com toda a ninhada devido à implicância da minha família.

Abraços e obrigado

Importante: todas já estão vacinadas, mas ainda continuam mamando...