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segunda-feira, abril 25, 2011

Rock Progressivo para principiantes (Parte 1)


Música de bichos-grilos do período jurássico, trilha sonora do fim do sonho, música de penteadeira de bicha velha e sons viajandões para descerebrados terminais.

Para que não se lembra, esses eram alguns dos epítetos lançados ao tipo de rock que os hippies adoravam curtir e a critica adorava odiar.

Na atual revisão geral da década de 70, o progressivo ressurge como influencia para o heavy metal, o reggae e a dance music.

Bandas como Primus e Rancid deixam a coisa explicita: tocam covers de Pink Floyd e Genesis na maior sem cerimônia.

Os músicos do Easy Star All-Star foram mais abusados: fizeram a recriação, em dub, de um dos álbuns mais consagrados do Pink Floyd, o “Dark Side Of The Moon”, e o batizaram de “The Dub Side Of The Moon”.

E o que dizer do remix clássico do Daft Punk intitulado “Pink Floyd Proper Education”?

Será o retorno do monstro das faixas de vinte minutos?


Na verdade, ele nunca foi extinto. Seja com o nome duvidoso de progressivos seja como o muito mais vago e pretensioso de art rock, se trata de um rótulo sem limites muito claros.

De modo muito geral, pode se dizer que diz respeito àqueles grupos que incorporaram bem ou mal ou simplesmente saquearam elementos da música erudita, com algumas pitadas de jazz e o que mais aparecesse.

Dá para notar que é uma etiqueta fácil quando não se acha gaveta para uma obra muito ampla ou muito esquisita.

As produções inclassificáveis e absolutamente diversas de Frank Zappa ou dos Residents costumam cair no mesmo saco, assim como qualquer coisa mais rebuscada que tenha um sintetizador na frente.

Também porque, no final dos anos 60 e início dos 70, esse tipo de ecumenismo musical era uma mania em toda música pop.

Havia uma necessidade de sofisticação (até no soul estava rolando isso, como se pode perceber nos discos daquela época dos Temptations e de Marvin Gaye).

Hoje, à distância segura, dá para se dizer que alguns grupos se superestimaram demais, levaram muito a sério a publicidade das gravadoras.

Uns poucos fizeram coisas realmente duráveis, com massa consistente sob tanto glacê instrumental.


As origens da criatura se perdem em viagens de ácido.

Foi com a psicodelia dos sixties que os músicos de rock começaram a encompridar os improvisos.

Daí passaram a se interessar por sons diferentes do blues e do R&B.

Criou-se um gosto por mudanças abruptas dentro de uma música, por composições menos lineares, mesclando “climas” diferentes.

Ao mesmo tempo, foram descobrindo as maravilhas que a eletrônica começava a oferecer nos estúdios para realizar essas mudanças.

Não é por acaso que se costuma culpar os progressivos de terem feito uma “leitura errada” das idéias contidas no Sgt. Pepper´s, dos Beatles, que por sua vez foi inspirado em parte em outra gema de estúdio, Pet Sounds, dos Beach Boys.


A partida teria sido dada pelo Moody Blues, ao colocar uma orquestra em seu álbum Days Of The Future Passed (67).

Nessa abertura para a mistura de sons de outras origens, principalmente na “alta arte”, estava o motivo que pôs a crítica com os dois pés atrás quando se tratava de progressivo.

O rock estava deixando para trás suas raízes negras, seu balanço e seu descompromisso, ficando complicado, difícil de tocar e de se entender e, principalmente, perdendo o bom humor.

No lugar, entravam uma queda por truques fáceis para causar espanto na platéia e uma temática místico-científica de almanaque, nos piores casos.

Em sua origem, o rock progressivo foi um estilo britânico.

Boa parte de seus primeiros músicos veio da classe média inglesa, gente que estudava música e que tinha costume de ouvir clássicos e jazz.

Sua atuação, à primeira vista, parecia querer obter respeitabilidade para o rock, fazer “arte” na velha perspectiva do “sério” versus o “fútil” – o que não combinava com um ritmo associado à rebeldia adolescente.


O sintoma estava em nomes do tipo Emerson, Lake & Palmer, que procuravam a pompa de um trio de cordas ou de um conjunto de câmara.

Além dos medalhões (Pink Floyd, Yes, Genesis, Emerson, Lake & Palmer), o progressivo se ramificou bastante.

Nos EUA, proliferaram filhotes com um pé no hard rock, que alcançaram grande sucesso comercial – caso do Rush.

Muitas das bandas incorporaram elementos progressivos para envernizar um rock basicamente careta – caso do Journey.

Mas a maioria das crias veio da Europa.


Houve uma linha interessante e anárquica na França, centrada no grupo Gong, do australiano David Allen e do guitarrista Steve Hillage.

Outra voltada para o folk e o som medieval inglês (Jethro Tull e Renaissance).

Uma terceira apostou em cruzar música contrapontística e algum jazz (Gentle Giant).

E ainda existiu aquela que foi mesmo para o lado do jazz de vez (Soft Machine) ou grupos que se basearam na música erudita do século 20.

Destes últimos saíramos trabalhos de pouco sucesso pop mas de mais influência no rock posterior a 80.


Sujeitos como Brian Eno, que a começar de sua participação no Roxy Music e colaborações com Robert Fripp, do King Crimson, exploraram as novas possibilidades oferecidas pelo estúdio de gravação.

Sua pesquisa teve paralelo na Alemanha, com gente também da área progressiva, como o produtor Conny Plank e o ex-baixista do Can, Holger Czukay – todos nomes importantes para o rock pós-80.

Outro personagem veio do movimento Rock In Opposition: o guitarrista Fred Frith, ex-membro do Henry Cow.

Morando hoje em Nova York, Frith é um dos mais ativos representantes de um bando de artistas classificados como “alternativos”, que funcionam no esquema “faça-você-mesmo”.


Para contrariar a regra, o velho Genesis, uma banda relativamente pop nos padrões do art rock, pariu Peter Gabriel, hoje uma espécie de guru multimídia.

O progressivo também rendeu alguma coisa também em termos de negócios.

As turnês megalômanas do Pink Floyd, do ELP e do Yes contribuíram para a montagem do tipo de infra-estrutura que depois serviu a eventos muito mais inflacionados, como a Zoo TV, do U2.


Apadrinhados por instrumentistas como Keith Emerson e Rick Wakeman, os teclados passaram a ser equipamento-padrão do rock.

Atrás da moda, a indústria foi desenvolvendo eletrodomésticos que desembocaram nos atuais samplers (que aliás, são a versão computadorizada do instrumento típico progressivo: o mellotron).

Os conservatórios e escolas de música também fizeram muito dinheiro com a molecada que resolveu estudar algo mais que três acordes.

Os sons “de época” dos moogs e mellotrons, as estruturas musicais complicadas – mas fascinantes para quem sabe tocar – e a idéia de “viajar” numa daquelas faixas imensas estão entre as fontes da renovação de interesse pelo progressivo.

Rock Progressivo para principiantes (Parte 2)


A mística cultivada por boa parte das bandas progressivas tem tudo a ver com uma época que tomou best sellers livros como “Eram Os Deuses Astronautas?”

VaJon Anderson e Chris Squire, do Yes, por exemplo, tinham como regra ser vegetarianos e ligados em algum tipo de meditação transcendental.

Foram alguns dos que tentaram levar um “modo de vida progressivo”.

Peter Hammill, do Van Der Graaf Generator, era obcecado por reencarnação.

As origens britânicas do progressivo ainda forneciam um material de imagens e histórias inspiradas na obra de autores como J.R.R. Tolkien (“O Senhor Dos Anéis”) e Lewis Carroll (“Alice No País Das Maravilhas”).

A queda por temas medievais lembrava a arte “pré-rafaelita”, que surgiu na Inglaterra no final do século 19.


O surrealismo, outra fonte de letras e capas de discos, já aparecia no hit do Procol Harum, “A Whiter Shade Of Pale”, em 67, só que num clima depressivo, diferente do nonsense alegre dos Beatles e dos grupos psicodélicos.

Sem falar nos dinossauros e nas imagens épicas que pareciam tiradas de um gibi do Conan.

Se as músicas passavam a envolver temas complexos, ficando longas ao ponto de ocupar álbuns inteiros, as capas também teriam de fazer parte da concepção geral.


A partir de 71, o Yes passaria a ter um designer de capas e shows: Roger Dean, que deu a cara definitiva para a banda com seus desenhos misturando surreal e art déco.

Também faria capas de “filhotes” do Yes, como o Asia e outros progressivos, como o Greenslade.

Hoje, ele projeta casas “new age” na Califórnia.

Assim como Dean, o estúdio Hipgnosis faria escola nos anos 70.


Um de seus fundadores, Storm Thorgerson, foi (como Dean para o Yes) responsável pelo visual do Pink Floyd, com capas que incluíam porcos infláveis voando sobre Londres.

Com uma queda pelo surreal à Ia René Magritte, a Hipgnosis trabalhou para muita gente fora do progressivo, como o Led Zeppelin.

O Genesis também teve seu capista por algum tempo, Paul Whitehead.


Nos anos 80, esse trabalho conceitual continuaria com Peter Saville, para o selo Factory, Nigel Grierson, para o 4AD, ou Russell Mills, para o Opal.

O progressivo também teve seu lado engajado, expresso no movimento Rock In Opposition.

Eram bandas que divulgavam idéias de esquerda por um veículo “popular” como o rock, mas buscando referências no atonalismo e outras concorrentes de vanguarda da música erudita.

Seus formadores: o Henry Cow e bandas da Europa continental como Etron Fou Leloublan, Stormy Six, Samla Mammas Manna e Univers Zero.

Com eles, não tinha florzinha ou duendinho: um exemplo é a capa do melhor disco do Henry Cow, com uma foice e um martelo explícitos.

Curiosidades

Grupos de nomes esquisitos sempre foram regra no rock, mas o progressivo criou casos à parte, como o Samla Mammas Manna, da Suécia.

O guitarrista Glenn Branca, antes de sua carreira solo, tocou em um art group chamado Theoretical Girls.

Mas nesse departamento de títulos é difícil bater o brasileiro Recordando O Vale Das Maçãs.


Nem Keith Emerson, nem Rick Wakeman: o recordista de teclados ao vivo é Geoff Downes, ex-The Buggles, ex-Yes, com 21 deles entortando o palco na turnê de 83 do Asia.

Os teclados evoluíram o bastante depois disso para ele não precisar esbanjar tanto.

O ELP poderia ter sido FELP ou até HELP.

Isso porque tanto Robert Fripp quanto Jimi Hendrix mostraram interesse em participar do grupo quando ele estava em fase de formação, em meados dos anos 60.

Mas Keith Emerson não queria concorrência.

Fripp mandaria bala contra o trio em entrevistas, algum tempo depois.


O mellotron, instrumento fundamental de bandas como o Moody Blues e o King Crimson, era na verdade uma versão não-licenciada de um outro instrumento, o Chamberlin, fabricado nos EUA.

Ambos eram teclados que acionavam fitas gravadas com sons de instrumentos de orquestra.

Davam muitos problemas de manutenção, mas seu som era tão particular que hoje muitos tecladistas têm mellotrons sampleados.

Ainda no capítulo dos instrumentos: o solo de Keith Emerson em “Lucky Man” (70) foi o primeiro realizado com um sintetizador.


No caso, era um Moog 3C, um monstrinho que lembrava mais um fliperama, conhecido anteriormente pelas gravações de Bach feitas por Mr. Walter (hoje Mrs. Wendy) Carlos.

De todas aquelas “obras conceituais” do rock progressivo, a mais curiosa e engraçada é a trilogia amalucada que conta a história do planeta Gong e cujo personagem principal chama-se Zero (The Hero).

Os discos são Flying Teapot (73), Angel’s Egg (73) e You (74).


David Allen, líder do Gong e autor da história, tem um currículo raro.

Entre outras aventuras, ele musicou uma obra do poeta beat William Burroughs em 62, a pedido do autor.

Além disso, em 79, montou em Nova York a base do que seria o grupo Material, com o baixista Bill Laswell.

Nos anos 70 a música progressiva foi usada e abusada na TV, como trilha predileta para telejornais.

Dois exemplos no Brasil: “Karn Evil 9”, do ELP, no antigo Jornal Da Globo, e “Summer 68”, do Pink Floyd, no Jornal Nacional.

O Pink Floyd teve intenções de realizar a trilha sonora para “2001 – Uma Odisséia No Espaço”, de Stanley Kubrick. Não conseguiram.

Em compensação, o grupo alemão Popol Vuh colaborou bastante com o diretor Werner Herzog, em filmes como “Aguirre, A Cólera Dos Deuses”.

Rock Progressivo para principiantes (final)

Os dez grandes discos do progressivo? Impossível chegar num consenso. Mas aí vão algumas sugestões interessantes para começar a entrar no clima

Pink Floyd – Ummagumma (69)


The Piper At The Gates Of Dawn continha a criatividade de Syd Barrett, The Dark Side Of The Moon vendeu mais, mas Ummagumma trouxe o Pink Floyd mais influente, em fase de transição.

Soft Machine – Third (70)


Experiência radical no sentido do free-jazz, em álbum duplo do grupo-mestre do chamado Canterbury sound, nome comum do Soft Machine e das bandas que derivaram de suas formações.

Yes – The Yes Album (70)


Este foi o último disco do Yes antes da entrada de Rick Wakeman e foi o que mostrou os melhores resultados das colagens musicais que o grupo cultivava antes de descambar para a megalomania.

Can – Tago Mago (71)


O grupo alemão foi buscar inspiração na música erudita contemporânea, como a obra de Karlheinz Stockhausen, mas adicionou doses de anarquia e psicodelismo sobre seu ritmo minimal.

Van Der Graaf Generator – Pawn Hearts (71)


Peter Hammill pôs em música aquela típica confusão de misticismo e ciência que a revista francesa Planéte cultivava na época. Aqui, suas melhores letras encontraram a trilha apropriada.

King Crimson – Larks Tongues In Aspic (72)


O guitarrista Robert Fripp remontou sua banda (surgida em 69) e revisou sua música puxando para o free-jazz, explorando a percussão e contrastes violentos, do quase-silêncio ao heavy metal.

Emerson Lake And Palmer – Brain Salad Surgery (73)


O dino-trio na melhor forma, antes do ego inflar às dimensões incontroláveis dos álbuns seguintes. Atrás de muita pompa e circunstância, a faixa do balaco era a “segunda impressão” de “Karn Evil 9”.

Brian Eno – Before And After Science (77)


Eno e convidados como Robert Fripp, Freei Frith e Phil Collins em sua última coleção de canções até “Wrong, Way Up”, de 90. A música apontava para os caminhos do trabalho delineado por Eno como produtor ao longo dos anos seguintes.

Frank Zappa – Zappa In New York (78)


Se o estilo único de Frank Zappa coube de alguma forma no rótulo progressivo, este álbum duplo ao vivo trouxe suas melhores incursões no gênero, como “Black Lagoon” e a valsa-country “Sofá”.

Henry Cow – Western Culture (79)


O “rock de esquerda” do HC em sua versão mais rigorosa, instrumental, sem improvisos. Música complicada, clima pesado, destacando a bateria “invertebrada” do americano Chris Cutler.

quarta-feira, abril 20, 2011

Causos de Bambas: Tom Jobim


No início do ano, o Google preparou uma bela homenagem ao aniversário de 84 anos de Tom Jobim.

Tom Jobim, autor de canções como “Garota de Ipanema”, “Águas de Março” e “Insensatez” foi um dos maiores nomes da música brasileira e principal referência para grandes cantores de várias gerações.

Em 1964, mesmo concorrendo com nomes como Beatles, Elvis Presley e Rolling Stones, Tom conseguiu vencer o Grammy de música do ano com “Garota de Ipanema”.

Não bastasse isso, até mesmo Frank Sinatra se rendeu aos encantos da música do brasileiro e gravou dois discos com músicas de Jobim.

Com tamanho sucesso no mundo, Tom Jobim acabou tocando com inúmeros artistas de renome, entre eles Gerry Mulligan, Frank Sinatra, Elis Regina, Vinícius de Moraes e João Gilberto.

Vale lembrar ainda, que até mesmo a Mangueira homenageou Tom Jobim no ano de 1992.

Naquele ano a escola de samba desfilou com o samba enredo “Se Todos Fossem Iguais a Você”.


O maestro, arranjador, pianista, cantor e compositor Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 25 de janeiro de 1927 e faleceu em New York, nos EUA, em 8 de dezembro de 1994, aos 67 anos.

O que fez de Tom nosso maior representante da MPB na música mundial foi, com certeza, o brilhantismo pessoal, talvez o mesmo que o tornava o centro das atenções nas mesas dos bares.

Tom desafinou a bossa nova, cantou o amor, o silêncio do namoro, a expressão dos olhares. Cantou Heloísas, Luízas, Lígias e Teresas.

Tom Jobim musicou de maneira real e imaginária nossa terra, nossos bichos, nossas matas, suas sombras, ruídos, seus vôos e movimentos.


Um belo dia, o nosso maestro soberano estava dormindo de bruços no sofá da casa de Vinicius, uma cobertura perto da rua Faro, no Jardim Botânico.

Testemunhas oculares e auditivas: Vinicius de Moraes, Nelsinho Mota e Marcos de Vasconcellos.

Era um comecinho de tarde, logo depois do almoço.

Aí, chega um bando álacre de menininhas, todas normalistas, para lamber o poeta.

Uma delas identificou o maestro e perguntou, com unção:

- É ele? É ele?

E ajoelhou-se para a devoção, para o encaminhamento, para o êxtase.

Sem abrir os olhos, o maestro deu uma ajeitada nos fundilhos e soltou um pum no narizinho dela. Daqueles brabos.

Vinicius, Marcus e Nelsinho saíram correndo da sala.

Causos de Bambas: Roberto Burle Marx


Conhecido internacionalmente como um dos mais importantes arquitetos paisagistas do século 20, Roberto Burle Marx estudou pintura em Berlim, na Alemanha, no final dos anos 1920.

Lá, ele era freqüentador assíduo do Botanischer Garten Und Botanisches Museum Berlin-dahlem, o mais antigo jardim botânico alemão, fundado no século 17 como um parque real para flores, plantas medicinais, vegetais e lúpulo (para a cervejaria do rei).

Esse jardim foi reformado no início do século seguinte e se tornou um dos mais importantes centros de pesquisa em botânica da Europa.

Foi lá, a mais de 10.000 km de sua casa no Rio de Janeiro, que o rapaz de 19 anos notou pela primeira vez a beleza das plantas tropicais e da flora brasileira.

De volta ao Brasil, ele continuou seus estudos na Escola de Belas Artes, no Rio.

Os jardins planejados por Burle Marx eram comparados a pinturas abstratas, alguns bem curvilíneos, outros de linhas retas, usando plantas nativas brasileiras para criar blocos de cor.

Além de paisagista de renome internacional, ele também foi um pintor notável, escultor, tapeceiro, ceramista e designer de jóias.

Seu primeiro projeto paisagístico foi o jardim de uma casa desenhada pelos arquitetos Lucio Costa (que projetou Brasília) e Gregory Warchavchik, in 1932.

Dali em diante não parou mais de projetar paisagens, pintar e desenhar.


Em 1949, Burle Marx comprou uma área de 365.000 m2 em Barra de Guaratiba, no litoral do Rio de Janeiro. Ali começou a organziar sua enorme coleção de plantas.

Em 1985 ele doou a propriedade à Fundação Pró-Memória Nacional, entidade cultural do governo federal que atualmente se chama Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Hoje em dia pode-se encontrar um jardim ou uma estufa projetados por Burle Marx em várias partes do mundo, como em Longwood Gardens (Filadélfia), na Universidade da Califórnia, na cobertura da sede de um banco paulista, no aterro do Flamengo (Rio de Janeiro), em Caracas (Venezuela).

Mesmo sem ter uma educação formal em arquitetura paisagística, o aprendizado de Burle Marx na pintura influenciou a criação de seus jardins.

Ele aceitava, embora de forma relutante, que pintava com as plantas.

Mas seu trabalho não pode ser reduzido ao efeito pictórico e visual produzido por suas paisagens. Marx se autodefinia como um artista de jardins.

Conhecido por sua preocupação ambiental e pela preocupação com a preservação da flora brasileira, ele inovou ao usar plantas nativas do Brasil em suas criações e isso se tornou sua característica marcante.

Foi ele quem valorizou as bromélias, por exemplo, e tornou-as populares: hoje essas plantas naturais da Mata Atlântica se tornaram conhecidas e são cultivadas em viveiros para serem vendidas.

O estilo Burle Marx tornou-se sinônimo de paisagismo brasileiro no mundo.


Um belo dia, durante uma festa de casa grã-fina, Roberto Burle Marx exagerou no vinho e nos canapés.

Sentiu que não dava mais para manter o líquido dentro do estômago e partiu voando para o lavabo.

Abriu a porta já com a pasta aflorando na garganta e topou com uma senhora de costas, curvada, à cata de papel higiênico, traseiro exposto.

Não deu tempo. O esguicho grená foi direto na bundoca de madame.

Dona da bunda vomitada: Flor de Oro Trujillo.

Causos de Bambas: Maciel do Trombone


O mineiro Edson Maciel nasceu numa família de músicos ou, mais exatamente, de trombonistas.

Seu pai e pelo menos dois de seus irmãos tocaram trombone, sendo que o mais velho, Edmundo, seguiu carreira e, em vários momentos, participou de gravações junto com Edson.

Foi nesse meio que se deu a iniciação musical de Edson Maciel, embora não haja informações sobre com que idade, com quem e o quê aprendeu, além do trombone.

A trilha da formação de Edson Maciel reaparece em meados da década de 1950, no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, quando é citado constantemente como um dos principais músicos de sopro que ajudaram a criar a moderna música instrumental brasileira.

Junto a alguns dos maiores instrumentistas que o Brasil produziu, teve contato com o jazz e com a intensa disputa que caracteriza o convívio dos músicos de primeira linha.

Conheceu e tocou com diversos jazzistas que visitavam o Brasil e davam “canjas” no Beco, e pôde ouvir ao vivo Nat King Cole, Dizzy Gillespie, Bud Shank e outros que por aqui passaram.

Com arranjos de Tom Jobim, o disco Sergio Mendes e Bossa Rio foi um marco na MPB porque contava com uma gama de instrumentistas de alto quilate: Sérgio Mendes (piano), Edison Machado (bateria), Tião Neto (baixo), Aurino Ferreira (sax tenor), Edson Maciel (trombone de vara), Raul de Souza (trombone de válvula) e Hector Costita (sax tenor).

Maciel era um mulato sestroso, muito engraçado, cabeça meio pensa, que debochava de tudo e de todos.

Depois do sucesso do disco de Sergio Mendes, ficou mais abusado ainda.

Uma noite, o trombonista foi jantar num restaurante chiquérrimo, no Rio de Janeiro, provavelmente o Le Bec Fin (que a Ilka Soares chamava de Fim do Beco).

O maitre aproximou-se com o cardápio, ou melhor, com o menu. O Maciel perguntou:

- O que é que tem?

O maitre, suntuoso, imperial, vingando-se da Lei Afonso Arinos, responde com arrogância e desdém:

- Tudo, cavalheiro.

- Ah é? - comanda Maciel - então me traz rã com endívias, farofa de asa de morcego e suco de capim navalha com hortelã...

O maitre queria briga.

Causos de Bambas: Joel Silveira


Domingo cedo, o jornalista e escritor Joel Silveira telefona para o arquiteto e escritor Marcos de Vasconcellos, quer companhia para o uísque.

- Não posso, Joel! -, responde o arquiteto. "Tenho um compromisso em Niterói."

Joel, com aquele exagero calmo que era direito seu, merecido, pois morreu na FEB, defendendo a pátria, como ele mesmo dizia, estranhou a viagem:

- Você? Domingo? Niterói? Não combina.

E contou:

- Uma ocasião, fui com o Rubem (Braga) a Petropólis num domingo e lá visitamos o Soares Sampaio, grand seigneur, elegantíssimo, superior. O Rubem, lá pelas tantas, quis dar um passeio pela cidade. Soares Sampaio soterrou-lhe a idéia com uma sentença histórica, proferida com majestade: deixemos o domingo à patuléia.

E concluiu:

- Nada de Niterói! Venha já pra cá!

O arquiteto foi.

Causos de Bambas: Richie Havens


Casa do músico Luiz Bonfá, um grupo pequeno de amigos foi escalado para o sabido prazer de conhecer e ouvir um dos grandes cantores americanos de jazz, Richie Havens, monstro sagrado de todos os grandes festivais do mundo.

Havens não se fez de rogado e cantou horas seguidas para uma turma embasbacada.

Detalhe: ele não tinha um único dente na boca deserta, tal como pode ser visto no filme Woodstock.

Uma das moças tomou coragem e, animada pela simplicidade do músico, perguntou por que ele não metia lá a terceira dentição.

Resposta de Richie Havens:

- Pra que? Não tô a fim de morder ninguém...

Causos de Bambas: Ubiratan


Em certos hotéis na Suécia, o sistema individual de calefação só é acionado quando abastecido com moedas do país, equivalentes mais ou menos a meio dólar.

Como os aparelhos são destinados a turistas nem sempre escandinavos, cuidou-se para que fosse impossível qualquer forma de fraude ou violação, sendo praticamente impossível enganar o artefato.

Brasileiros. Equipe de basquete. Inverno em Estocolmo que quem conhece sabe que congela até rabo de foca e é inevitável a calefação, além dos mil cobertores.

No fim de semana, o gerente do hotel onde estavam os nossos patrícios foi fazer o circuito para recolher as moedas.

Em todos os quartos, os depósitos dos calefatores estavam cheios de dinheiro, nos dos brasileiros nem um níquel.

- Impossível! - pensou o pobre homem. "Ninguém sobrevive ao inverno sueco sem o quarto aquecido, mormente esse tropicais."

Foi lá um investigador investigar. Os aparelhos estavam perfeitos, nenhum arranhão, nenhum sinal de crime.

E assim foi durante toda a temporada.

A brasileirada acordava fagueiríssima, os quartos quentinhos e moeda, que era bom, nenhuma.

Fim da temporada, a turma já de partida, o gerente fez um apelo ao coração humanitário dos atletas.

E jurou que não faria qualquer retaliação, só queria saber - pelo amor de Odin! -, qual o truque.

Ubiratan Maciel resolveu contar. Afinal, não iam voltar lá mesmo.

O truque: eles compravam aquelas moedas de chocolate, usavam a embalagem como forma, faziam moedads de gelo, acionavam os aparelhos, aqueciam-se, as moedas se evaporavam.

Um crime perfeito!

Campeão mundial de basquete pela seleção brasileira em 1963, Ubiratan Maciel, morto em 2002, passou a fazer parte do Hall da Fama do Naismith Memorial, em Springfield, no estado americano de Massachusetts.

Ubiratan foi indicado para a lista no ano passado ao lado de astros como Karl Malone, Scottie Pippen e Cynthia Cooper, em anúncio que também homenageou o “Dream Team” dos Estados Unidos, que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1992 com uma equipe formada por astros como Magic Johnson e Michael Jordan.

Causos de Bambas: Bororó



Alberto de Castro Simões da Silva, o famoso compositor Bororó (A Cor do Pecado, Curare), sobrinho da Marquesa dos Santos, carioquíssimo, foi um dia visitar um amigo, que morava no 8º andar de um edifício de Copacabana.

O visitado não estava e a empregada, solícita, convidou-o a entrar e esperar o dono da casa.

Bororó ficou sentado na sala distraindo-se com um exemplar da Manchete, como sempre antiquíssimo, e afagando a barriga de um gatinho branco, angorá.

Passa-se o tempo. Mais. Passa-se muito tempo.

Bororó desiste da espera e vai procurar a empregada para despedir-se e agradecer.

A porta do corredor para os quartos e a cozinha está trancada.

A empregada tinha saído.

Bororó deixa um cartão e vai embora.

Impossível. A doméstica, esquecendo-se do visitante, ao sair, trancara a porta da rua.

Ilhado, o compositor vê aproximar-se a sua sagrada hora de ir ao banheiro que finalmente chega e não dá para segurar.

No desespero, Bororó abre a Manchete e deposita lá sua cagadinha (maneira de dizer. Estava mais para ona).

E limpa a bunda com o gato angorá.

terça-feira, abril 19, 2011

Primeiro as coisas primeiras


Uma semana sem internet pode não ser o fim do mundo, mas ajuda muito a mudar nossos conceitos sobre interatividade, interconectividade e outras deidades a qualquer prova.

A fornecedora do serviço explicou que um cabo de fibra ótica havia se partido na região do Parque Dez e ficou por isso mesmo.

Ainda bem que não sou um dependente químico dessa merda e só entro nas redes sociais se for absolutamente necessário.

Aproveitei a semana involuntária de folga para colocar a leitura em dia, lendo alguns livros pela primeira vez (as biografias de Bussunda e Ricardo Amaral, por exemplo), relendo outros pela undécima vez (Espere a Primavera, Bandini!, por exemplo).

Nas releituras, acabei esbarrando em um antigo texto do meu ídolo Millôr Fernandes, que transcrevo abaixo:


Um novo e revolucionário conceito de tecnologia de informação

Na deixa da virada do milênio, anuncia-se um revolucionário conceito de tecnologia de informação, chamado de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas - L.I.V.R.O.

L.I.V.R.O. representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, pilhas. Não necessita ser conectado a nada nem ligado. É tão fácil de usar que até uma criança pode operá-lo. Basta abri-lo!

Cada L.I.V.R.O. é formado por uma seqüência de páginas numeradas, feitas de papel reciclável e capazes de conter milhares de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantêm automaticamente em sua seqüência correta.

Através do uso intensivo do recurso TPA - Tecnologia do Papel Opaco - permite-se que os fabricantes usem as duas faces da folha de papel. Isso possibilita duplicar a quantidade de dados inseridos e reduzir os seus custos pela metade!

Especialistas dividem-se quanto aos projetos de expansão da inserção de dados em cada unidade. É que, para se fazer L.I.V.R.O.s com mais informações, basta se usar mais páginas. Isso, porém, os torna mais grossos e mais difíceis de serem transportados, atraindo críticas dos adeptos da portabilidade do sistema.

Cada página do L.I.V.R.O. deve ser escaneada opticamente, e as informações transferidas diretamente para a CPU do usuário, em seu cérebro. Lembramos que quanto maior e mais complexa a informação a ser transmitida, maior deverá ser a capacidade de processamento do usuário.

Outra vantagem do sistema é que, quando em uso, um simples movimento de dedo permite o acesso instantâneo à próxima página. O L.I.V.R.O. pode ser rapidamente retomado a qualquer momento, bastando abri-lo. Ele nunca apresenta "ERRO GERAL DE PROTEÇÃO", nem precisa ser reinicializado, embora se torne inutilizável caso caia no mar, por exemplo.

O comando "browse" permite fazer o acesso a qualquer página instantaneamente e avançar ou retroceder com muita facilidade. A maioria dos modelos à venda já vem com o equipamento "índice" instalado, o qual indica a localização exata de grupos de dados selecionados.

Um acessório opcional, o marca-páginas, permite que você faça um acesso ao L.I.V.R.O. exatamente no local em que o deixou na última utilização mesmo que ele esteja fechado. A compatibilidade dos marcadores de página é total, permitindo que funcionem em qualquer modelo ou marca de L.I.V.R.O. sem necessidade de configuração.

Além disso, qualquer L.I.V.R.O. suporta o uso simultâneo de vários marcadores de página, caso seu usuário deseje manter selecionados vários trechos ao mesmo tempo. A capacidade máxima para uso de marcadores coincide com o número de páginas.

Pode-se ainda personalizar o conteúdo do L.I.V.R.O. através de anotações em suas margens. Para isso, deve-se utilizar um periférico de Linguagem Apagável Portátil de Intercomunicação Simplificada - L.A.P.I.S.

Portátil, durável e barato, o L.I.V.R.O. vem sendo apontado como o instrumento de entretenimento e cultura do futuro. Milhares de programadores desse sistema já disponibilizaram vários títulos e upgrades utilizando a plataforma L.I.V.R.O.

sexta-feira, abril 08, 2011

Informativo do Projeto Cultural Uakti


A cada semana Manaus nos surpreende com a quantidade e a qualidade de espetáculos de alto nível, a maioria da iniciativa de particulares, de gente que quer fazer, mostrar seus trabalhos, sua arte.

Assim, está ficando cada vez mais difícil para nós, do Projeto Uakti, escolher o destaque da semana.

Pra começar no sábado teve (com pouquíssima divulgação, infelizmente) uma iniciativa fantástica da Cia. Vitória Régia de unir cultura e valorização do centro histórico de Manaus, através de um projeto denominado “Cultura na Rua do Frei”, do qual participaram Lucinha Cabral, Nonato Tavares, Regina Melo, Paulo Góes, Marinho Simoes, Moacir Parnaiba, Koia Refkalefsky e Sabrina Oliveira, além da Companhia Vitoria-Regia e Grupo de Capoeira Cativeiro, Armando de Paula, George Jucá e Raymond de Sá, entre outros.

Ainda na semana passada foi destaque a criação, pelo governo estadual, do Serviço Social Autônomo denominado Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural.

Já nesta semana Manaus se tornou a centro da moda com o Projeto Vitrine Rosa Choque (Saraiva Megastore e Elegance Festas & Convenções) que está estimulando a criação de um mercado de moda em Manaus bastante promissor. Os debates, as oficinas e a feira foram um sucesso e empregou bastante gente, inclusive artistas multi-mídia.


Na semana cultural de Manaus dois grandes destaques para a memória dos artistas e intelectuais de Manaus: lançamento de livro, debate e exposição sobre a obra do grande artista plástico Anísio Mello (Livraria Valer, amanhã, 9h00) e a criação do Prêmio de Jornalismo Narciso Lobo, pelo Sindicato dos Jornalistas do AM.


O Uakti se junta a estas justas homenagens e publica algumas fotos de ambos no Uakti, em 1989.

Já na área da música tem espetáculo para todo tipo de público e gosto. Mas o Uakti recomenda:
Hoje, dia 08/04,

1) O Show “Canções do Norte” (Fino da Bossa, 22h00), com Salomão Rossy que homenageia os grandes compositores do Acre, Amapá, Roraima, Pará e Amazonas.

Excelente idéia essa de montar um cancioneiro regional pan-amazônico; um pulo para reunir os próprios autores das músicas, como fez o Itaú Cultural com “Gente da mesma floresta”, da qual participou, pelo AM, o grande Célio Cruz.


2) O novo show do Karine Aguiar Quinteto (Chefão, 22h30) que apresenta um novo repertório, novas concepções de arranjos, muito jazz, blues, soul, samba e bossa nova.


O Quinteto é formado pelos músicos Anderson Cavalcante (piano), Emerson Marcelo Figueiredo (guitarra/violão), Felipe Romagna (sax), Miquéias Pinheiro (baixo), Ygor Saunier (bateria e percussão) e Karine Aguiar (voz). A base do quinteto que foi para Minas dentro do Projeto Cultural Uakti (vejam fotos anexas).

Já amanhã, sábado, 9, além dos “Causos e Canções” de Pedro Cesar Ribeiro e Assis Mourão às 20h30 no ICBEU e de mais uma despedida do diretor Ricardo Risuenho e da Cia. de Intérpretes Independentes “Com Shakespeare na Rua” (Parque dos Bilhares, 19 e 20h30), temos mais duas excelentes pedidas:

1) O Show “Artistas Reunidos” (Gargalo Sport Beer, 21h00), com Eduardo Dornellas, Raulnei, Márcia Novo, Cileno, Mirtes Melo, Bella Queiroz e participação especial da Banda Heroes.

Essas reuniões vão acabar dando em samba.

2) O show “Noite do Beiradão” (Aomirante, 22h00), com o Grupo Cordão do Marambaia e a Banda Tucumanus.

Essa experiência do movimento Marambaia é um ótimo filão a ser explorado em termos de música e resgate da memória cultural dos povos da Amazônia.

Tem baião, xote, carimbó, maracatu, marabaixo, çairé, marambiré, tambor de minas, lundu, entre outros.

É bom lembrar que já na segunda-feira tem ótimos debates sobre política cultural.

para conferir a programação cultural desta semana, clique aqui.

Neste sábado, tem boca livre na Livraria Valer. Prestigie!