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quarta-feira, novembro 30, 2011

Por que os cachorros são melhores do que as mulheres?


Os cachorros não choram.

Os cachorros adoram quando você traz amigos pra casa.

Os cachorros não se importam se você usar o shampoo deles.

Os cachorros acham que você canta bem.

Quanto mais tarde você chega, mais excitados estão os cachorros pra te ver.

Os cachorros não vão se importar se você chamá-los pelo nome de outros cachorros.

Os cachorros lhe perdoarão se você brincar com outros cachorros.

Os cachorros não compram nada.


Quanto mais atrasado você está, mais felizes seus cachorros ficam ao lhe ver.

Os cachorros adoram quando você deixa um monte de coisas espalhadas pelo chão.

A disposição dos cachorros permanece a mesma durante todo o mês.

Os cachorros nunca param para discutir o relacionamento.

Os parentes do cachorro nunca o visitam.

Quando um cachorro envelhece e começa a incomodar, você pode chutá-lo pra bem longe.

Os cachorros não odeiam seus corpos.

Os cachorros nunca gritam.


Os cachorros concordam que você deve gritar para impor seu ponto de vista.

É legal manter um cachorro dentro de casa.

Os cachorros não querem saber sobre os outros cachorros que você já teve.

Os cachorros não deixam os artigos de revistas guiarem suas vidas.

Você nunca tem de espera pelo cachorro: ele está sempre pronto para sair 24 horas por dia.

Os cachorros acham divertido quando você está puto.

Os cachorros não falam ao telefone.

Os cachorros não reclamam que seu dono está meio fora de forma.


Apesar do faro apurado, os cachorros não ficam perguntando “que cheiro é esse?”

Os cachorros não reclamam quando você dirige em alta velocidade.

Os cachorros não se metem a discutir futebol na frente dos seus amigos.

Os cachorros não vivem assombrados com o fantasma das estrias, da celulite e da flacidez.

Os cachorros acham engraçado quando você está bêbado.

Os cachorros gostam de sair para caçar, pescar ou correr atrás de gatas.

Um cachorro nunca irá lhe acordar à noite para perguntar: “Se eu morresse, você iria ter outro cachorro?”

Um cachorro irá deixar você colocar uma coleira nele sem lhe chamar de pervertido.


Os cachorros gostam de passear no banco de trás do carro.

Os cachorros não se emocionam com músicas bregas de duplas sertanejas.

Os cachorros não conversam com as empregadas sobre novelas do Manoel Carlos.

Os cachorros não podem falar.

Os cachorros são fiéis ao seu dono.

Se um cachorro vai embora, ele não leva a metade das suas coisas.

Tranque uma mulher e um cachorro no porta-malas do carro. Após meia hora, abra o porta-malas e veja quem está mais feliz em lhe ver.


Em que sentido os cachorros são semelhantes às mulheres?

Ambos podem comer um quilo de chocolate de uma vez só.

Ambos não sabem pra que serve aquele homem de preto em uma partida de futebol.

Ambos são bons na pretensão de nos olhar sério fingindo estar entendendo cada palavra do que a gente diz.

Ambos gostam de cheirar a nossa roupa quando a gente chega em casa.

Ambos não acreditam que um pouco de silêncio é bom.

Ambos ficam estressados se a gente não fizer um agrado quando chega do trabalho.

Ambos só param de encher o saco depois que levam um chute na bunda.


Por que na cama as mulheres são melhores que os cachorros?

Porque ainda é mais socialmente aceitável manter relações sexuais com uma mulher do que com um cachorro.

Lançada no Rio obra inédita com textos de autores negros do século 18 até os dias de hoje


Abdias Nascimento, um dos principais ícones da luta contra o racismo no país

Paulo Virgilio, da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O Ano Internacional da Afrodescendência e o Dia da Consciência Negra tiveram uma dupla comemoração nesta segunda-feira (28), na Biblioteca Nacional.

Além da assinatura de acordos de cooperação com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), foi lançada, em solenidade no início da noite, uma coletânea inédita sobre a literatura de afrodescendentes no Brasil.

A obra é resultado de dez anos de pesquisas. O evento também contou com uma homenagem póstuma ao ativista, professor, escritor e poeta Abdias Nascimento, que morreu este ano.

De autoria dos professores de literatura Eduardo de Assis Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Maria Nazareth Soares Fonseca, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, a coletânea Literatura e Afrodescendência no Brasil: Antologia Crítica reúne, em quatro volumes, textos de 100 escritores negros, do século 18 aos dias atuais.

Cada um dos textos é acompanhado de um estudo crítico feito por 61 pesquisadores de 21 universidades brasileiras, além de seis estrangeiras.

O primeiro volume é dedicado aos chamados Precursores, abrangendo o período que vai do século 18 aos nascidos até à década de 1920 do século 20.

O segundo, Consolidação, abrange os escritores nascidos nas décadas de 30 e 40, e o terceiro, Contemporaneidade, é dedicado aos que nasceram a partir de 1950 e publicaram seus primeiros textos nas últimas décadas do século passado e na primeira do século 21.

O quarto volume da antologia contém depoimentos de Abdias Nascimento e outros escritores, além de artigos em que se discute a pertinência do conceito de literatura afro-brasileira.


O escritor, compositor, pesquisador e sambista Nei Lopes

“É a primeira vez que é feito esse levantamento e, desses 100 escritores, aproximadamente dez são os mais conhecidos, como Machado de Assis, Cruz e Souza e Lima Barreto, e, entre os contemporâneos, Nei Lopes, Joel Rufino dos Santos e Muniz Sodré”, relata o professor Eduardo de Assis Duarte.

“A grande maioria, no entanto, são autores pouco divulgados, pouco conhecidos, principalmente dentro dos manuais de história da literatura brasileira”, acrescenta.

Segundo Duarte, a expectativa é a de que a publicação da antologia “jogue uma luz sobre autores até agora desconhecidos, como Maria Firmina dos Reis, do século 19”.

Ele considera que há um ponto comum entre vários autores de diferentes épocas, que é a necessidade de recuperar a história do negro no Brasil.

Entre os acordos firmados com a Seppir está a previsão de coedição, em formato eletrônico, de obras do acervo da Biblioteca Nacional, em domínio público, escritas por autores negros.

Outro acordo prevê a divulgação da literatura de autores afro-brasileiros por meio de mostras, envio de livros para bibliotecas e ações de incentivo à leitura.

Serão implantados cinco pontos de leitura em áreas habitadas por povos e comunidades tradicionais afro-brasileiras.

Para isto, a Fundação Biblioteca Nacional vai oferecer mais de 600 obras voltadas para o tema a cada um dos grupos contemplados, além de material de informática e outros, como estantes e almofadas.

Cacique de Ramos e Marquinhos de Oswaldo Cruz serão homenageados pelo Trem do Samba


Marquinhos Diniz, filho do grande Monarco e irmão de Mauro Diniz

A festa em comemoração ao Dia Nacional do Samba vai homenagear, este ano, dois ícones 'cinquentões' que levaram o samba Brasil afora: Marquinhos Diniz e o bloco Cacique de Ramos

A 16ª edição do Trem do Samba, iniciativa da Petrobrás, Prefeitura do Rio, Riotur e Supervia, vai contar com uma grande novidade: a comemoração terá duração de cinco dias.

A festa vem crescendo a cada ano e o trem, na verdade, já não é mais um.

Nesta edição, serão cinco composições, cada uma com capacidade para mil passageiros, com saídas sucessivas entre as 16h e as 19h de sábado.

“A festa cresceu tanto que acho que seria o caso de pensar, para a cidade do Rio de Janeiro, em um feriado municipal para comemorar o Dia Nacional do Samba”, defende o sambista Marquinhos Diniz, também conhecido como Marquinhos de Oswaldo Cruz, um dos responsáveis pela organização do evento.

Os shows já começaram nesta terça-feira, dia 29 de novembro, a partir de 18h30, no palco montado na Central do Brasil, com Marquinhos de Oswaldo Cruz, Velha Guarda da Portela, Monarco e Mauro Diniz.


Na quarta-feira, dia 30, às 18h30, as atrações serão Jongo da Serrinha e a Velha Guarda do Império Serrano.

No dia 1 de dezembro, o cantor Serginho Procópio, Zé da Velha, Silvério Pontes e Luperce Miranda Filho se apresentarão.

No Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro, a animação ficará por conta de Marquinhos de Oswaldo Cruz, Monarco, Nelson Sargento, Wilson Moreira e Velha Guarda da Portela, também na Central, a partir de 18h30.

No sábado, último dia do evento, haverá um mega show da Velha Guarda da Portela, Salgueiro, Império Serrano, Mangueira e Vila Isabel, além da bateria do mestre Faísca.

A apresentação terá início às 12h, na Central do Brasil.


Os trens com destino a Oswaldo Cruz sairão a partir de 17h.

A festa continua nos três palcos montados a partir de 20h.

No primeiro palco, ao lado da via férrea, a roda de samba do Nezio e Negão da Abolição vai animar o público, convidando Noca da Portela, Zé Luis do Império.

O show de encerramento será da cantora Mart´nália.

No segundo palco, na Rua Átila da Silveira, o show será dos sambistas do Pagode da Tia Doca, Mauro Diniz, Delcio Carvalho e Tantinho da Mangueira.

Arlindo Cruz encerrará a noite.


Já no terceiro palco, haverá a apresentação da Velha Guarda de Portela, Império Serrano, Salgueiro e Mangueira e o Grupo Fundo de Quintal encerrará o show, prestando uma homenagem ao bloco Cacique de Ramos.

Para Marquinhos Diniz, o Trem do Samba contribui para ressaltar a importância dos bairros percorridos pela linha férrea na geografia da música popular.

“A função maior do trem é seguir os trilhos da memória do samba, que passam pelo subúrbio carioca. Assim como Copacabana e Ipanema foram cantadas pela bossa nova, o subúrbio sempre foi cantado pelo samba”, destaca.

Para embarcar nos trens especiais, será preciso doar 1kg de alimento não perecível, em troca do bilhete, na própria Estação da Central, a partir de 17h.

As passagens serão limitadas a 3 mil pessoas.

Os alimentos arrecadados serão enviados para o Banco Rio de Alimentos, do programa Fome Zero.

Quem desejar, também poderá adquirir a passagem de trem regular.

Confira a programação completa no site www.tremdosamba.com.br.

domingo, novembro 27, 2011

Algumas digressões baratas sobre a Geração X


A mensagem abaixo me foi enviada pelo cangaceiro Ricardo Alencar, de Juazeiro do Norte (PE) e, segundo ele, o texto original veio do Chile.

O cabra da peste quer que eu leia e opine, com minha ironia de sempre, porque o tema lhe parece bastante atual.

Vamos ao texto:

A nova geração de jovens que têm agora entre 20 e 35 anos, conhecida como geração X, está tomando as rédeas da economia do mundo.

É uma geração com outros valores, que amadurece mais lentamente e que permanece com seus pais até uma idade razoavelmente avançada.

Parece ser uma adolescência que está se prolongando mais do que antes.

Os jovens não estão interessados em sair de casa e se tornarem independentes, mas ao contrário continuam buscando os benefícios da casa dos pais.

Não mostram interesse em casar-se, assumir compromissos, decidir o futuro.

Em síntese, não estão nem aí.

São jovens com menos sonhos e ideais, que não vibram com os debates, com os bons livros e com as amizades duradouras: buscam resultados imediatos, não lêem e desejam o amor passageiro e as emoções de curto prazo.

Mas um dos traços típicos desses jovens “adolescentes” de 20 até 35 anos é a busca dos benefícios econômicos que lhes oferece o que costumo chamar de “hotel da mama”.

Comida a la carte disponível a qualquer hora, roupa limpa e passada, despertar na cama com café da manhã e carinho, festas de aniversário, serviços de recados telefônicos, apoio financeiro total ou parcial, pagamento de cartões de crédito, gasolina para o automóvel, seguro, reparos e outros benefícios dignos de um sultão.

Sem contar com o apoio para os churrascos de fim de semana...

Para os que passaram dos 26 e já são profissionais, existem serviços adicionais, como ajuda na busca de emprego, serviços de secretária, computador Pentium III no quarto e reajustes de mesada em função da alta do dólar.

Se você tivesse tido esses benefícios nos anos 60, quando nos contentávamos em ir à matinê e chupar um sorvete, teria buscado a independência?

Agora temos uma geração de plástico, que busca a satisfação engarrafada e, por outro lado, faltam jovens empreendedores dispostos a ter os pés na terra e a cabeça nas estrelas.

Fernando Vigorena Pérez, Diretor da Escuela de Ciencias Empresariales, Universidad Autónoma del Sur, Temuco, Chile


Caracoles, Ricardo Alencar, mas eu concordo em gênero, número e grau com o professor Fernando Pérez.

Saí da casa dos meus pais, em 1975, com 19 anos, e nunca mais voltei porque já trabalhava no Distrito Industrial desde os 17 e podia me manter financeiramente.

Quer dizer, eu sou da geração dos anos 60, que se contentava em ir aos matinês e depois trocar gibis na porta de saída do cinema.

Não sei se a culpa é exclusivamente da geração X ou desse planeta que eles herdaram de nós, onde o desemprego de ingresso (quando o jovem conclui um curso superior e não consegue emprego) é a grande mãe de todas as batalhas.

Na minha época, a gente se demitia de uma fábrica na parte da manhã e, à tarde, já estava empregado em outra – na maioria das vezes com um salário bem mais alto.

Amigos de minha geração, que continuam trabalhando no Distrito Industrial, falam que a coisa mudou muito – e pra pior.

Quem está hoje na faixa dos 50 anos e se demite (ou, o mais comum, se for demitido porque, supostamente, seu salário está acima da média da faixa salarial do Distrito para funções de mesmo nível) dificilmente consegue entrar de novo no mercado.


Silene, Joaquim Marinho, eu e o saudoso Sinval Gonçalves, todos representantes da geração Paz & Amor

Quando fui demitido da Philco, em 1991, eu era gerente da Engenharia de Qualidade e ganhava cerca de 20 SM.

Hoje em dia, isso é salário de diretor.

Fiquei surpreso pela minha demissão, não nego, porque era um dos melhores funcionários da empresa.

Fiquei tão puto que escolhi, deliberadamente, nunca mais voltar para o Distrito Industrial – e não me arrependo disso até hoje.

A Philco acabou indo a falência na década seguinte. Deus castiga.

Além do problema do desemprego de ingresso, a geração X não enfrentou as paúras que nós encaramos: ditadura militar, tortura, assassinato de presos políticos, etc.

Fomos forjados na luta pelas liberdades civis e viver em liberdade custa caro, muito caro.

Lembro quando ironizava minhas companheiras, que se queixavam da árdua carga diária do trabalho doméstico.

Pra mim, aquilo era simples desculpa de mulher que não queria entrar na vara.

Morando sozinho há pouco mais de um ano, revi meus conceitos.

O trabalho doméstico é realmente o fim da picada – nos dois sentidos.

Tenho uma secretária que vem aqui no meu mocó fazer uma boa limpeza a cada dez dias, o que inclui lavar o banheiro, passar pano na casa, espanar móveis e catar bitucas de cigarros e latas de cervejas vazias nos locais mais insuspeitos.

Uma segunda secretária recolhe semanalmente minhas roupas para lavar, engomar e passar ferro.

As duas são pagas regiamente, claro, porque só quem faz isso de graça são nossas companheiras (obrigado por tudo, meninas!).

Quer dizer, o trabalho pesado eu consegui terceirizar.

Mas, no dia a dia, tenho que fazer compras em supermercados, pagar contas em banco, descobrir a porra de um encanador que saiba por que a água do chuveiro não está descendo pelo ralo e preparar minhas próprias refeições pilotando um prosaico forno de micro-ondas, que, às vezes, me tira do sério.

É verdade que tudo isso compensa a liberdade de poder fechar portas e janelas, ligar o aparelho de som e o ar condicionado na potência máxima, colocar um funk da ADC Band (“Roll With The Punches”, por exemplo) e encher a cara de birita até o cu fazer bico.

Moleques que passam o dia no facebook escrevendo abobrinhas num linguajar meio analfa – esporte preferencial da geração X e da geração Y – não fazem a menor idéia do quanto isso é divertido.

Mas nem tudo está perdido.


Encontro de duas gerações: o DJ Careca Selvagem e Marcus Vinicius

Meu filho caçula, Marcus Vinicius, um belo representante da geração Y, está fazendo mestrado em Design e Propaganda, na Itália, e, aparentemente, continua mantendo os pés na terra e a cabeça nas estrelas.

Não sei se reflexos da crise na zona do euro, o certo é que os italianos não queriam renovar seu visto de estudante e pretendiam deportá-lo imediatamente para o Brasil.

Eis o que ele me escreveu, via e-mail, na semana passada:

Ôi pai, bença!

Então, desta vez eu não estava conseguindo renovar a permissão de estadia porque na Delegacia de Imigração eles queriam um documento emitido pela embaixada brasileira de que eu estou autorizado a estudar na Itália, pois, no ano passado, eles nem registraram no meu cadastro que eu era da Politecnico di Milano.

Ai que vem o problema:

A embaixada italiana me disse que não existe nenhum documento para eles emitirem e que meu processo já está encerrado e arquivado, visto que já estou no segundo ano do mestrado.

A embaixada brasileira diz que eles não tem nada a ver com isso porque eles só resolvem os meus problemas no Brasil e que os documentos do Politecnico são documentos italianos, portanto já válidos.

O Politecnico vai preparar uma outra declaração dizendo que a Delegacia de Imigração não deve exigir nenhum tipo de documento porque isto não esta previsto por lei para a renovação do permesso e que eu sou aluno matriculado regularmente, frequento o curso normalmente e que possuo uma bolsa de estudo dada pelo próprio Politecnico...

Enquanto isso o tempo vai passando...

Enfim, essa semana foi bem revoltante, mas agora estou melhor e tenho respirado fundo constantemente, porque sei que no final tudo sempre deu e sempre dará certo.

E enquanto não der certo é porque não é o final ainda....

Obrigado pela ajuda novamente e espero que gostes da camisa!

Abraços de seu filho

Marcus Vinicius Marques Pessoa


Claro que estou orgulhoso do meu moleque.

Do mesmo jeito, acredito que tanto a geração X quanto a geração Y vão encontrar seu próprio caminho e entrar nessa luta de toda humanidade para construir um mundo melhor.

É só uma questão de tempo.

É só eles enjoarem do facebook.

sábado, novembro 26, 2011

A festa dos quinze anos de minha primeira musa inesquecível


Maio de 1966. Eu havia acabado de fazer dez anos e estava enfeitiçado pela Vera Helena, uma linda moreninha de cabelos negros como as asas da graúna, que morava na Vila Operária, em frente ao grupo escolar Getulio Vargas.

Havia um complicador.

A Vera Helena ia completar quinze anos e era um mulherão.

Eu era um pivete raquítico e tímido, que ainda usava calças curtas e cabelo “corte militar”.

Além disso, o mais temido garanhão do bairro, Carlinhos Playboy, também estava de olho gordo na menina.

Cinco ou seis anos mais velho do que eu, Carlinhos Playboy foi um autêntico herói pop anônimo daqueles anos 60.

Com um corte de cabelo exatamente igual aos dos Beatles no início de carreira, ele usava as roupas mais descoladas do pedaço: calças Saint-Tropez ultrajustas, botinhas sem meia e camisas psicodélicas com a gola em pé na altura da orelha.

Quando desfilava pela área externa do grupo, provocava uma hecatombe na terra desolada da adolescência feminina.

As alunas ficavam excitadíssimas, histéricas, agitadas.

Acredito, sem poder provar, que até as professoras ficavam molhadinhas.


Conheci a Vera Helena no dia em que eu e Serginho, meu colega de classe no grupo escolar Getulio Vargas, fomos dividir um prosaico guaraná Andrade em uma taberna existente nas proximidades da escadaria de cimento que dava acesso a Vila Operária.

A menina entrou na taberna para comprar meia dúzia de pães massa grossa e um pote de margarina Claybom.

Fiquei hipnotizado pelas suas coxas grossas sob uma minissaia de índigo blue.

Quando ela foi embora, resolvi segui-la, apesar dos protestos do Serginho.

Acabei descobrindo onde ela morava.

Com a ajuda de alguns homeboys da área, fiquei sabendo o seu nome e onde ela estudava (quarta série ginasial do Patronato Santa Terezinha, localizado nas proximidades da Escola Técnica Federal do Amazonas, turno matutino).

Para minha sorte, ela não tinha namorado.

Para meu azar, Carlinhos Playboy estava lhe paquerando há mais de três meses.

Na escala Richter de viver com estilo, Carlinhos Playboy dava banho até mesmo na sua turma de galalaus metidos a garanhões.


Ele foi um dos primeiros moleques do bairro a ter uma motocicleta, a mais mítica, Harley Davidson VRSCA V-Rod.

Quando sua galera ainda usava camisa “Volta ao Mundo” e calças de tergal, ele já curtia macacão Lee e camisa Hang Ten.

Quando sua galera ainda achava o máximo calçar sapato Motinha, ele já desfilava de tênis Tiger ou All Star.

Quando os mais descolados fumavam os primeiros cigarros Continental sem filtro, ele já fumava maconha “cabeça de negro” vinda do Maranhão.

Enquanto seus homeboys gamavam por suburbanas de vestidinho floral falando “Benhêêê...”, ele já descolava as loirinhas mais lindinhas da festa e arrastava para a deserta praia da Ponta Negra.

Não dava pra competir com ele.

De qualquer forma, resolvi ir de “penetra” ao aniversário de quinze anos da Vera Helena, em uma festa que movimentou a Vila Operária.


Eu andava cismado de que aquela música do Leno que vivia tocando no rádio havia sido feita pra nós dois:

“Na festa dos seus quinze anos, mais uma vela se acendeu / Você estava tão bonita, mas nem sequer me percebeu / Tão triste eu olhava pra você, eu olhava pra você / Notei que você só dançava com gente que eu não conhecia / Por fora eu me controlava, mas por dentro eu morria / De longe eu olhava pra você, eu olhava pra você”.

Foi exatamente o que aconteceu.

A Vera Helena ignorou solenemente o fedelho com alma de poeta e se derreteu de amores pelo Carlinhos Playboy.

Tomado de ódio, deixei a festa antes que começasse a valsa.

Eu é que não ia permanecer naquela maldita casa pra ver aquele salafrário encoxando a minha quase-namorada ao som de Danúbio Azul.

A música do Leno tinha um final feliz:

“Sozinho então fui pro jardim / Ouvindo a valsa começar / Tão triste nem notei você / Correr chorando e me abraçar / E a valsa nós dançamos ao luar, / Nós dançamos ao luar / Nós dançamos ao luar...”.


Naquela noite abominável, entretanto, não havia sequer luar no céu.

Era uma noite negra como a minha alma solar havia se transformado em questão de minutos.

Caminhando solitariamente em direção a casa dos velhos, com um nó na garganta e uma espécie de aperto no coração, eu não sabia se chorava ou se me matava.

Mas quando se tem dez anos, a gente não tem coragem de tomar certas decisões definitivas.


O rádio de um vizinho estava sintonizado na rádio Baré e Roberto Carlos parecia me sacanear:

“Quem não acreditar / Venha ver a multidão / Que com ela quer dançar / Ela adivinha que eu / Estou sofrendo / Também querendo / Com ela dançar / Fico em pé olhando / E esperando / Que ela se afaste da multidão / Para eu me aproximar / Com ela dançar / Do meu carinho / Do meu amor, do meu amor / Poder falar”.

Aquilo devia ser um complô.

Passei uma três semanas deprimido e macambúzio, me sentindo mais baldeado do que açude com pouca água.

Mas quando se tem dez anos, essa merda chamada tristeza passa logo.

Ainda bem.

Debate sobre a crise do capital e as perspectivas do socialismo


Em setembro de 2011, um pequeno acampamento de protesto no centro financeiro de Manhattan, nos Estados Unidos, explodiu em um levante mundial despertado por uma insatisfação generalizada em decorrência da alta taxa de desemprego, da precarização dos serviços sociais, e da reação exagerada e violenta da polícia.

Desde então, milhares de pessoas se juntaram ao movimento que ocupou as ruas das mais importantes metrópoles do mundo, se alastrando por pequenas e médias cidades em ações locais.

Ocupações em Nova York, Madri, Londres, Tóquio, Praga, São Paulo, ao lado de alguns dos maiores expoentes do pensamento radical, como Slavoj Zizek, Mike Davis, David Harvey e Tariq Ali, debatem as metas, demandas e estratégias de resistência.


Para refletir sobre os movimentos internacionais e locais, em especial o Ocupa Sampa e a mobilização dos estudantes e funcionários da Universidade de São Paulo, a Boitempo Editorial organiza um debate, no dia 1º de dezembro, no mezanino do Teatro Tuca, em São Paulo, que reunirá Francisco de Oliveira, Paul Singer, Mariana Fix, Ruy Braga e Beatriz Abramides em torno do tema Ocupar o mundo: A crise do capital e as perspectivas do socialismo.

Na ocasião, a editora também lançará a revista Margem Esquerda, que chega à edição 17 com textos de István Mészáros, Michael A. Lebowitz, Fredric Jameson, John Bellamy Foster, Paul M. Sweezy, entre outros, e o livro O enigma do capital, do geógrafo David Harvey, que explica a dinâmica do fluxo de capital no mundo, revela seus desdobramentos e aponta alternativas para superá-lo.

“O Partido de Wall Street teve seu tempo e falhou miseravelmente. Como construir uma alternativa a partir de sua ruína é tanto uma oportunidade imperdível quanto uma obrigação que nenhum de nós pode ou deveria jamais procurar evitar”, resume o autor.

Venha entender melhor as reivindicações por mudanças estruturais em um sistema que beneficia apenas 1% da população mundial!

Somos os 99% | Estamos todos juntos | Comuns dentro da diversidade



NOTA DO EDITOR DO MOCÓ

O pau cantando lá fora e o Jornal Nacional (que faz a cabeça de 70% dos brasileiros) fazendo chamadas incessantes para a mais nova lambança do Drauzio Varella: nos convencer de que fumar é um vício abominável.

E o apresentador Zeca Camargo, cada vez mais jeca, fazendo caras e bocas para endossar as palavras do guru.

Fumo desde os 16 anos e só vou parar se fecharem a Souza Cruz ou o cigarro Charm deixar de ser fabricado.

Fora isso, não quero sequer discutir o assunto com esses fascistas politicamente corretos, tipo José Serra, que me veem como o inimigo a ser destruído.

Nunca quis e não pretendo morrer vendendo saúde.

Pelo contrário.

Quando o corpo desistir da luta será porque detonei a máquina pra valer, esmerilhei com vontade esse templo do espírito, botei, literalmente, pra foder.

Mas o sempre prestativo Drauzio Varella podia tentar uma nova experiência: convencer o apresentador Zeca Camargo a abandonar o vício de dar a bunda - esse sim, para mim, um vício abominável.

sexta-feira, novembro 25, 2011

A tinta vermelha: discurso de Slavoj Zizek aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street


Slavoj Zizek visitou a Liberty Plaza, em Nova Iorque, para falar ao acampamento de manifestantes do movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street), que vem protestando contra a crise financeira e o poder econômico norte-americano desde o início de setembro deste ano.

O filósofo enviou a íntegra de seu discurso para ser publicado no blog da editora Boitempo, que segue abaixo em tradução de Rogério Bettoni.


Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui.

Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada.

Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim.

Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas.

Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que QUEREMOS.

Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente?

De quais tipos de líderes nós precisamos?

As alternativas do século XX obviamente não servem.

Então não culpe o povo e suas atitudes: o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos.

A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street.


Tenham cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem nos apoiar e já fazem de tudo para diluir nosso protesto.

Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isto aqui em um protesto moral inofensivo.

Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem.

Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta.

Dirão que somos “não americanos”.

Mas quando fundamentalistas conservadores nos disserem que os Estados Unidos são uma nação cristã, lembrem-se do que é o Cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária de fiéis unidos pelo amor.

Nós, aqui, somos o Espírito Santo, enquanto em Wall Street eles são pagãos que adoram falsos ídolos.

Dirão que somos violentos, que nossa linguagem é violenta, referindo-se à ocupação e assim por diante.

Sim, somos violentos, mas somente no mesmo sentido em que Mahatma Gandhi foi violento.

Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam – mas o que significa essa violência puramente simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento constante do sistema capitalista global?


Seremos chamados de perdedores – mas os verdadeiros perdedores não estariam lá em Wall Street, os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro?

Vocês são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe o socialismo para os ricos.

Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações de Wall Street que levaram à queda de 2008 foram mais responsáveis pela extinção de propriedades privadas obtidas a duras penas do que se estivéssemos destruindo-as agora, dia e noite – pense nas centenas de casas hipotecadas…

Nós não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que merecidamente entrou em colapso em 1990 – e lembrem-se de que os comunistas que ainda detêm o poder atualmente governam o mais implacável dos capitalismos (na China).

O sucesso do capitalismo chinês liderado pelo comunismo é um sinal abominável de que o casamento entre o capitalismo e a democracia está próximo do divórcio.

Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema.

Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas.

Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo.

Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio.


Todos nós conhecemos a cena clássica dos desenhos animados: o gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e vê o abismo.

O que estamos fazendo é simplesmente levar os que estão no poder a olhar para baixo…

Então, a mudança é realmente possível?

Hoje, o possível e o impossível são dispostos de maneira estranha.

Nos domínios da liberdade pessoal e da tecnologia científica, o impossível está se tornando cada vez mais possível (ou pelo menos é o que nos dizem): “nada é impossível”, podemos ter sexo em suas mais perversas variações; arquivos inteiros de músicas, filmes e seriados de TV estão disponíveis para download; a viagem espacial está à venda para quem tiver dinheiro; podemos melhorar nossas habilidades físicas e psíquicas por meio de intervenções no genoma, e até mesmo realizar o sonho tecnognóstico de atingir a imortalidade transformando nossa identidade em um programa de computador.

Por outro lado, no domínio das relações econômicas e sociais, somos bombardeados o tempo todo por um discurso do “você não pode” se envolver em atos políticos coletivos (que necessariamente terminam no terror totalitário), ou aderir ao antigo Estado de bem-estar social (ele nos transforma em não competitivos e leva à crise econômica), ou se isolar do mercado global etc.


Quando medidas de austeridade são impostas, dizem-nos repetidas vezes que se trata apenas do que tem de ser feito.

Quem sabe não chegou a hora de inverter as coordenadas do que é possível e impossível?

Quem sabe não podemos ter mais solidariedade e assistência médica, já que não somos imortais?

Em meados de abril de 2011, a mídia revelou que o governo chinês havia proibido a exibição, em cinemas e na TV, de filmes que falassem de viagens no tempo e histórias paralelas, argumentando que elas trazem frivolidade para questões históricas sérias – até mesmo a fuga fictícia para uma realidade alternativa é considerada perigosa demais.

Nós, do mundo Ocidental liberal, não precisamos de uma proibição tão explícita: a ideologia exerce poder material suficiente para evitar que narrativas históricas alternativas sejam interpretadas com o mínimo de seriedade.

Para nós é fácil imaginar o fim do mundo – vide os inúmeros filmes apocalípticos –, mas não o fim do capitalismo.


Em uma velha piada da antiga República Democrática Alemã, um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria.

Sabendo que todas as suas correspondências serão lidas pelos censores, ele diz para os amigos: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa”.

Depois de um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita em azul: “Tudo é uma maravilha por aqui: os estoques estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance – a única coisa que não temos é tinta vermelha.”

E essa situação, não é a mesma que vivemos até hoje?

Temos toda a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a “tinta vermelha”: nós nos “sentimos livres” porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade.

O que a falta de tinta vermelha significa é que, hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos” etc. etc. – são termos FALSOS que mistificam nossa percepção da situação em vez de permitir que pensemos nela.

Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha.



NOTA DO EDITOR DO MOCÓ

Para aqueles que se interessaram pelo conteúdo do discurso, recomendamos a leitura de “Primeiro como tragédia, depois como farsa” (Boitempo, 2011), livro no qual Zizek discute a crise financeira de 2008 e a hipótese do comunismo em nossos dias atuais.

O livro já está à venda em versão eBook na Livraria Cultura e na Gato Sabido.

Curiosidade: a camiseta vermelha que Zizek usa durante seu discurso foi um presente da editora Boitempo ao filósofo, durante sua última passagem pelo Brasil em maio deste ano.

Ela estampa a caricatura de Karl Marx e Friedrich Engels feita por Cássio Loredano para a capa de “A ideologia alemã”.

O Grande Pajé Branco strikes again


O grande pajé branco cercado de icamiabas, durante minha festa de aniversário na Cantina da Sílvia, em 1998

Março de 2004. Moradora de Maués e bastante idosa, Dona Joca, sogra do agricultor Mesquita, andava se queixando de sérios problemas de saúde: diabetes, pressão alta, insuficiência renal, angina e otras cositas más.

Numa das visitas que fez a casa de Mesquita, Orlando Tigrão resolveu fazer uma pajelança para afastar os maus espíritos que rondavam a anciã.

Depois de convencê-la a tomar um banho de sal grosso, jejuar durante 48 horas seguidas e iniciar uma rigorosa dieta alimentar com redução de proteína, o grande pajé branco foi taxativo:

– Dona Joca, a partir de hoje a senhora vai tomar um copo de chá de capitiú meia hora antes das refeições. É um santo remédio, testado e aprovado há mais de 500 anos pelos índios cambebas. Eu garanto que em seis meses a senhora vai estar com uma saúde de vaca holandesa premiada em exposição!

Desconfiado de que a anciã não estava colocando muita fé na sua peroração, o próprio Orlando Tigrão embrenhou-se nas matas do rio Marau e, depois de uma semana, retornou com um paneiro cheio de folhas de capitiú.

Nesse meio tempo, os familiares de Dona Joca, que moravam em Boa Vista do Ramos, haviam tomado pé da situação e enviado uma pequena quantidade de folhas de capitiú, já que esta planta é bastante rara naquele município.

A anciã havia preparado a beberagem e, seguindo as orientações de Orlando Tigrão, já estava se sentindo bem melhor.

Um belo dia, o estoque de folhas de capitiú vindo de Boa Vista do Ramos terminou.

Dona Joca não se fez de rogada e fez um novo chá com as folhas entregues por Orlando Tigrão.

Ela estranhou o gosto da beberagem.

Era amargo demais da conta, tinha gosto de fel!

Uma das filhas de Dona Joca, Dona Norma, comentou o fato com um amigo da família, Chico Paraguassu, índio sateré-mawé semi-aculturado, para quem mostrou as folhas.

Paraguassu foi peremptório:

– Isso não ser capitiú! Folha capitiú ter formato diferente! Isso aqui ser outra planta!

Ressabiada, a filha da anciã foi conversar com o pajé branco a respeito do problema, levando as folhas suspeitas.

Ela entrou na conversa de mansinho:

– Seu Orlando, o chá do capitiú é amargo e travoso que só a gota serena?

O pajé, que nunca havia provado do chá antes, ficou meio pensativo, mas respondeu com convicção:

– Olha, Dona Norma, existem vários tipos de capitiú... Tem uns que são mais amargos, tem outros que são menos amargos... Mas isso depende muito do tempo de cozimento das folhas e da qualidade da água usada no chá. Tem de ser água mineral, sempre...

Dona Norma bateu de trivela:

– Ah, bom! Porque me disseram que essas folhas eram muito parecidas com as folhas de timbó...

A pedagoga Soraya McComb, esposa do Tigrão, que já conhecia os remédios aloprados receitados pelo marido, entrou em pânico:

– Pelo amor de Deus, Dona Norma, não dê esse remédio pra tua mãe que esse pajé está ficando louco. Isso é bem capaz de ser mesmo timbó! Na semana passada, ele foi fazer um remédio para minha asma, à base de pólvora, álcool etílico, folha de pião roxo e mel de abelha, e a chaleira simplesmente explodiu, quase provocando um incêndio na minha cozinha!

Assustadíssima, Dona Norma foi contar a desgraceira para a velha mãe.

As folhas entregues pelo Orlando Tigrão eram mesmo de timbó.

Para quem não sabe, o timbó é uma planta tóxica de ação narcotizante, que os índios utilizam para capturar os peixes por asfixia.

Sua decocção em grande quantidade é capaz de matar um ser humano.

A Soraya desconfia de que o grande pajé branco precisa fazer urgentemente um curso de reciclagem em ervas medicinais com o Pai Carumbé, mas isso é outra história!

quinta-feira, novembro 24, 2011

Inaugurada a Villa St. Gallen, o templo cervejeiro em Teresópolis


Por Bruno Agostini

Na sexta-feira passada foi inaugurada, em Teresópolis, a Villa St. Gallen, no bairro do Alto.

Eu, que era fã das cervejas dessa empresa, agora sou ainda mais, até porque, a inauguração da casa veio acompanhada de algumas ótimas novidades, como quatro tipos de chope e duas novas cervejas criadas por Maurício Machado, mestre cervejeiro com décadas de experiência na Brahma (cada variedade é servida em copo diferente, apropriada para saborear cada versão).


Haverá, pelo menos, quatro cervejas sazonais, uma para cada estação do ano.

E, se tudo correr bem, em breve serão inauguradas novas vilas por aí, exportando a ideia do espaço temático onde tudo girar ao redor do universo cervejeiro.


Essa Weissbier, agora também engarrafada em garrafa com rolha, ficou ainda melhor.

O projeto é bem bolado e divertido: um relógio de ponto vai controlar a frequência dos clientes, que vão ganhar brindes, cervejas e até refeições completas, conforme a assiduidade.

Quem comanda a operação da casa é Vinícius Claussen, descendente de Alfredo Claussen, fundador da cervejaria.

- Em 2007, quando a empresa decidiu produzir a cerveja usando a antiga fórmula da família, teve gente que negociu o fornecimento vitalício da bebida. Tenho parentes que vão ganhar cerveja pelo resto da vida - conta o jovem, um dos idealizadores do projeto, que foi à Alemanha para estudar a arquitetura, a Oktoberfest e tudo o mais que envolve o universo da cerveja.


O lugar está lindo. São vários espaços diferentes.

Por enquanto só está funcionando o chamado Bierfest, com capacidade para quase 100 pessoas, dividido em quatro ambientes: um salão com mesas de madeira separado da cervejaria por uma parede de vidro, o Beergarten, um espaço a céu aberto com mesas e lojinhas (uma delas vende produtos regionais, como os maravilhosos queijos da Cremerie Geneve), reproduzindo uma vila suíça, um mezzanino com mesa de sinuca (e também dardo, damas, gamão e xadrez) e uma espécie de armazém do cervejeiro, onde acontecerão aulas de harmonização e cursos de produção da bebida - os mais animados poderão comprar ali os ingredientes para a fazer a bebida em casa, como lúpulo e cevada.


Aos domingos a vila vai receber uma feira de antiguidades, ao som de violino.

E, nas noites de quarta e quinta haverá música ao vivo, jazz e blues, respectivamente, em um pequeno palco.

O cardápio tem receitas típicas de países cervejeiros, como Alemanha, Bélgica e Dinamarca, uma homenagem à família Claussen.

Tem salsichão, kassler, eisbein, salmão... uma ou outra receita foge desses especialidades, e grande parte dos pratos do cardápio leva cerveja ou derivados na composição.

O lúpulo, por exemplo, tempera as coxinhas de frango crocantes e a sopa de shitake com alho leva a Therezopolis Gold, enquanto o marreco assado é servido com molho de cerveja.

- Essa de temperar a carne com lúpulo foi uma sugestão minha, sempre temperei carnes assim, fica ótimo - diz Maurício Machado, o mestre cervejeiro.

O bagaço de cevada, resultado da produção da bebida, que geralmente é usado como adubo ou para alimentar animais, acabou sendo usado no pão de casa, de maneira bem sucedida: ficou uma delícia.

O toque verde-e-amarelo fica por conta do cremoso caldinho de feijão, servido com chantilly salgado.

Vale a pena, ainda mais com uma boa cerveja escura, o que me fez lembrar de um jantar inesquecível no Bazzar.

O salmão é preparado na crosta do tal pão de bagaço de cevada, e ficou muito bom.


O kassler, produzido pelo Alemão da Serra, que faz deliciosos embutidos e carnes defumadas, fica ótimo com purê de ervilha.


Uma boa sacada foi o bolinho chamado Confrade Cervejeiro, de linguiça com bacon e cevada, servido com molho de rabanete, criado para ser uma das marcas registradas da casa.


Para encerrar, uma tortinha de chocolate com interior cremoso, servida com sorvete de framboesa, fantástica, que acabei comendo duas vezes, uma na sexta, na minha primeira visita, e outra no domingo, na terceira vez em que estive no lugar (sim, adorei: fui na sexta, com a assessora, voltei no sábado, sozinho, para almoçar, e no domingo à noite, para jantar com a filha, que adorou o lugar, e principalmente o menu infantil: comeu purê de batatas, caldinho de feijão e arroz, e adorou a torta, que escrita com o nome dela, em calda de chocolate, muito simático, especialmente para uma criança, como ela, que está aprendendo a ler.

E só não fui uma quarta vez, na noite de sábado, porque estava lotada a casa, e eu não queria enfrentar fila).

Os cardápios são divertidos, em forma de caneca de chope (para as bebidas), porco ou marreco (para os pratos salgados), e aind atem uma versão para os doces.

Em dezembro serão inaugurados o Bistrô 1912, no térreo, e a Abadia, no segundo andar, numa casa dos anos 1930 que fica bem ao lado.

Embaixo o cardápio vai ser mais elaborado, com receitas com costeleta de cordeiro e vieiras, além de um leitãozinho assado que promete fazer sucesso - o chef Rafael Rodrigues passou pelo eñe.

- Soltei muito cochinillo lá. O mais difícil é conseguir um bom fornecedor - diz o cozinheiro, que tem à disposição os mais modernos equipamentos (a máquina).


O mosaico enfeitando o Bistrô 1912, todo decorado em referência ao estilo art nouveau, faz uma homenagem à deusa Ceres, relacionada à cerveja pela mitologia romana.

É um momento oportuno para se lançar o projeto: em 2012 a cervejaria Therezopolis completa 100 anos, mas com uma longa interrupção: só voltou à ativa em 2007.

Eles editaram um belo jornalzinho, com notícias de fatos marcantes do ano de 1912, como o naufrágio do titanic, o primeiro Fla-Flu, a inauguração do bondinho do Pão de Açúcar e, é claro, o lançamento da cerveja Therezópolis, a primeira indústria da cidade.


Para encerrar, o brasão de St. Gallen, reproduzido com machado e lenha de verdade...


... e um dos muitos pôsteres da Oktoberfest que decoram o mezzanino.