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quarta-feira, dezembro 26, 2012

Epifania na casa do Gilsinho Poeta



Na manhã de segunda-feira, 24, Mestre Pinheiro apareceu no mocó para descarregar no meu computador as fotos que ele havia feito na quadra do GRES Reino Unido e no aniversário da Ângela Castro, já que sua internet movida à lenha estava pior do que a defesa do Norwich City naqueles 8 a zero do Chelsea.

Enquanto conversávamos sobre samba e MPB, seus assuntos prediletos, Mestre Pinheiro jogou a tarrafa:

– Porra, parceiro, todo ano, neste dia 24, o Gilsinho Poeta realiza um encontro de pagodeiros na casa dele, ali no Conjunto Nova República. A festança começa por volta do meio-dia e vai até o anoitecer. Vamos dar um pulo lá?...


Apesar de ser amigo do Gilsinho Poeta há mais de vinte anos, eu não havia sido convidado pelo promotor do panavueiro para participar da esbórnia.

Eu estava sendo convidado por um dos convidados.

Nessas situações, a gente deve ser o menos “intrujão” possível e fazer o máximo pra não ser confundido com um “bicão” da pior espécie.

Peguei uma garrafa de Johnnie Walker Red na reserva técnica do mocó, convenci Mestre Pinheiro a passar numa loja de conveniência para comprar gelo e água tônica, e nos mandamos pra casa do Gilsinho.

Assim que me viu entrando na sua belíssima residência carregando aquelas tralhas, o Gilsinho pagou geral:

– Porra, poeta, o Pinheiro não te avisou que aqui em casa tinha uísque e gelo?... Que não carecia trazer porra nenhuma?... Que bastava sua ilustre presença?...

Eu não sabia aonde enfiar a cara.


E o Gilsinho Poeta, que sempre foi um príncipe em receber bem as pessoas, estava coberto de razão.

Havia bebida e comida para um batalhão, com uma garçonete atenciosa e um churrasqueiro gente fina garantindo o bom andamento da fuzarca.


Mestre Pinheiro também não havia exagerado.

A nata dos pagodeiros da cidade estava prestigiando o evento.

Custei a reconhecer o querido Mestre Arnoldo, o mais carismático puxador de samba do GRES Reino Unido nos anos 90.


Assim como eu, ele ficou careca, ganhou alguns quilinhos a mais e está usando óculos – coisa que ainda não faço –, em mais um exemplo prático de que o Cazuza estava certo e o tempo não para.

Rimos muito de nossa nova aparência.


Um dos fundadores do GRES Andanças de Ciganos e o primeiro sujeito em Manaus a comandar um programa radiofônico exclusivamente voltado para o samba lá se vão mais de 30 anos, o radialista Ormando Barbosa estava em um de seus melhores dias: contou tantas histórias engraçadas sobre os pagodeiros locais, que daria para escrever um livro.


Lá pelas tantas, chegou meu brother Kokó Rodrigues, ainda festejando a conquista do Campeonato Nacional pelo Fluzão, que também é outro emérito contador de histórias engraçadas.

Quase me matou de rir.

O atual superintendente da Suframa, Thomaz Nogueira, parceiro de Gilsinho Poeta na Sefaz, também conversou demoradamente comigo sobre o vespeiro que encontrou na autarquia federal.


Fiquei de fazer uma entrevista com ele em janeiro, para veicular no site “Correio da Amazônia”, dos jornalistas Mário Dantas e Rosalvo Reis.

Antes de começar o fundo de quintal propriamente dito, Gilsinho Poeta colocou pra tocar sua mais recente composição, que está sendo finalizada por Mestre Arnoldo e conta com uma interpretação maravilhosa do estimado Assis da Aparecida.

Trata-se de uma pequena obra-prima digna dos maiores sambistas do país, que ainda vai tocar muito nas rádios e nas rodas de pagode.

O samba começou a correr solto no terreiro por volta das 14h, com vários cantores e instrumentistas se revezando no pequeno palco.


Foi uma verdadeira aula de música de raiz, que ia de Noel Rosa a Jorge Aragão, de Chico Buarque a Martinho da Vila, de Ismael Silva a João Nogueira, de Silas de Oliveira a Zeca Pagodinho.

Não me lembro de algum dia ter ouvido tantos sambas clássicos de uma tacada só.


Quando a Mara, esposa do Gilsinho Poeta, surgiu com um bonito bolo de aniversário e pediu um “break” da rapaziada, foi que entendi a história: o compositor estava aniversariando naquele dia.

Fiquei com mais vergonha ainda de ter levado uísque e gelo, mas Gilsinho Poeta, magnânimo como sempre, relevou esse meu “mico” federal.

O Mestre Pinheiro ainda me paga...

Entre os que foram dar um abraço no aniversariante, estavam Conde, Junior Pezão, Denis, Joubert, Calama, Joab, N. Silva, Carlão, Gilberto do Botecão, Campos e Meire Pithocão, Pena Poeta, Gilmar Nogueira, Marcus, Zé Picanço, Gilmar do Attack e Junior Campos.


Eu e Mestre Pinheiro batemos em retirada por volta das 18h, com a sensação de termos participado de uma sensacional epifania natalina.

Parabéns, Gilsinho Poeta e que Deus continue iluminando seus caminhos!

Abaixo, algumas fotos do balocobaco clicadas pelo Mestre Pinheiro:





























Fuzarca na casa da Ângela



Atual diretor do Hospital de Ipixuna, meu brother Jaques Castro chegou do município na última quinta-feira, 20, passou no meu mocó e já foi me intimando:

– Domingo vou fazer um churrasco na casa da Ângela! Convida o teu pessoal pra marcar presença!

O Jaques é esperto.

Ele sabe que o meu “pessoal”, ou seja, a turma com quem mais tomei birita ao longo do ano cabe dentro de um fusca (Simas Careca Selvagem, Giovanni Gigio, Áureo Petita e José Roberto Pinheiro) e que, portanto, não vai dar muita despesa.

Coincidentemente, no sábado, 22, um homeboy de Itacoatiara, membro do Partido Verde, havia me enviado um quarto de capivara criada em cativeiro e convenci meu cunhado Nelson Correa a preparar o acepipe para reforçar a churrascada do Jaques.

Além do quarteto tradicional de cachaceiros, convidei apenas o jornalista e abstêmio Mário Dantas, que é um dos últimos bastiões em defesa da autêntica culinária regional (tatu, paca, cutia, capivara, tartaruga, veado, porco do mato, anta e similares. Peixe é para os fracos!).


No domingo, 23, por volta do meio dia, eu, Gigio e Mário Dantas fomos pra mansão da Ângela, lá no Conjunto Canaã, onde começamos a biritar animadamente.

O Simas chegou logo depois, acompanhado do filho Ícaro Michel, um dos abatedores de lebres mais promissores da família e o atual Arquimandrita da Igreja Ortodoxa do Jacaré Imperial, que tem autorização da AMOAL para utilizar os protocolos secretos da organização e operar sob a égide da Sabedoria Devassa.


Frequentada basicamente por jovens de 18 a 29 anos, que estão se iniciando na senda da iluminação sagrada também conhecida como “sexo casual”, a Igreja Ortodoxa do Jacaré Imperial tem algumas regras pétreas.

Eles são ortodoxos, ou seja, só comem mulheres e estão convencidos de que “comer” implica tão somente em enfiar o bilau nos sete orifícios da fêmea.

Se algum membro for pego praticando cunninlingus, por exemplo, será expulso da igreja aos pontapés.

Ortodoxia é isso.

Os sacanas escolheram como símbolo o jacaré por dois motivos.

Primeiro, porque o jacaré é um animal onívoro, isto é, come tudo que aparece pela frente (que nem eles, cujo controle de qualidade vai pras cucuias depois da primeira dose de cerveja).

Segundo, porque “Jacaré” também é o apelido do engenheiro Luís Mário Ladeira, 72 anos, fundador e presidente perpétuo do Movimento dos Machões Mineiros (MMM) e da Banda Mole, a mais tradicional agremiação carnavalesca de Belo Horizonte (MG).

Imperial, claro, vem do compositor e agitador cultural Carlos Imperial, um dos santos canonizados pela AMOAL.


Meu sobrinho não me explicou direito como funciona o sistema de admissão de novos membros na sua igrejinha, mas, pelo pouco que entendi, trata-se apenas de uma prosaica “suruba” em que os neófitos ficam simplesmente olhando os membros ativos se divertirem enquanto servem bebidas, preparam canapés e colocam músicas animadas (forró ou funk pancadão) no aparelho de som.

O sacrifício imposto aos neófitos parece ser bastante instrutivo e talvez isso explique a baixa evasão de fiéis.

Mas voltando à churrascada do Jaques Castro.


Entre os convidados estavam Naires Rocha, Zito, Sônia (recém-chegada da Terra Indígena Maturacá, no alto Rio Negro, onde aposentou quase 300 ianomâmis), Dr. Menandro, Dr. Marcão, Dra. Eliana, Dr. Ricardo, Gleice (sempre linda e de alto astral), Coronel Augusto, Gastão, Lourencinho Borghi, Graça, Ribamar, Selma, Isabelly, Simone, Nelson e Selane, que a exemplo do Mário Dantas puxou o carro mais cedo.


Por meio da doce Bárbara, nós ficamos sabendo que a Ângela Castro, sua mãe, estava antecipando os festejos do próprio aniversário (que é hoje, dia 26, junto com o da minha irmã Silane).


Antes do “Parabéns pra você”, Jaques Castro pediu a palavra para exortar a amizade a todos os presentes e fez um rápido balanço sobre o que é passar 175 dias longe da família, enfurnado nos cus de Judas.

Aí, sim, começou o panavueiro propriamente dito.

No quesito birita, havia uísque (Johnnie Walker Red, Ballantine’s e Chivas), cachaça mineira, vodka, vinho tinto, energéticos, refrigerantes e cervejas (Itaipava, Brahma e Devassa).

No quesito rango, paella à Valenciana, galinha à Cabidela, pernil de forno, guisado de capivara, vatapá, caruru, baião de dois, arroz carreteiro e todo tipo de churrasco (picanha, maminha, fraldinha, coração, calabresa, carneiro e bisteca de porco).

No quesito canapés, queijos de vários tipos, salame, mortadela, pastéis portugueses, amendoim, ovos de codorna e empanados variados.

Abaixo, alguns registros da fuzarca feitos pelo Mestre Pinheiro: