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quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Já não se fazem mais aprendizes de filósofos como antigamente!


Setembro de 1986. O eterno playboy Odivaldo Guerra havia descoberto recentemente os pensamentos de Confúcio e estava em estado de graça.

Disposto a dividir aquela sabedoria milenar com a gente pobre e ignara da Cachoeirinha, ele chega ao clube Fazendário, durante uma animada manhã de sol, e se abarca em uma mesa dividida por Sici Pirangy e Ricardo Pinheiro (aka “Ricardão”).

Na primeira oportunidade, Guerra abre o verbo:

– Como dizia Confúcio, não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador. Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo. Quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo.

– Cuma?! – pergunta incrédulo Sici.


Guerra não dá a mínima e dispara novos mísseis balísticos intercontinentais da mais cristalina filosofia confuciana:

– Saber o que é correto e não o fazer é falta de coragem. A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido. A preguiça anda tão devagar, que a pobreza facilmente a alcança. Quem disse isso foi Confúcio!

– Porra, Guerra, a gente estava aqui conversando sobre o próximo enredo do Andanças de Ciganos e tu me chegas com esse papo aranha! – reagiu Ricardão.

Guerra não estava nem aí:

– Se queres prever o futuro, estuda o passado. Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha. Querem que vos ensine o modo de chegar à ciência verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe. Aquilo que não se sabe, saber que não se sabe. Na verdade é este o saber.


– Porra, bicho, isso está meio confuso! – argumentou Sici, sem esconder a ironia.

– Não é confuso, idiota, é Confúcio! – devolveu Guerra. “Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte? O mestre disse: Pode-se induzir o povo a seguir uma causa, mas não a compreendê-la. Quem de manhã compreendeu os ensinamentos da sabedoria, à noite pode morrer contente. Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos.”

– Então, bonitão, tu fazes o seguinte! – avisou Sici, se levantando e fazendo um gesto para Ricardão fazer o mesmo. “Tu chamas o Confúcio e fica aqui batendo papo com ele, que a gente está indo embora...”

Dito isso, os dois picaram a mula, deixando o playboy filosofando sozinho na mesa.

Já não se fazem mais aprendizes de filósofos como antigamente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Já não se fazem mais poetas como antigamente!