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terça-feira, março 06, 2012

Fúria de Titãs: banda paulistana comemora 30 anos


Pedro Antunes

Naquele abril de 1986, o estúdio Nas Nuvens, do produtor Liminha, no Rio de Janeiro, estremeceu com uma barulheira vinda de São Paulo.

Era o punk de oito malucos de roupas pretas e cabelos esquisitos, que respondiam pelo nome de Titãs.

E pensar que, um mês antes de os coturnos e as guitarras cheias de distorções invadirem o estúdio, o Paralamas do Sucesso havia gravado lá Selvagem?, disco essencial na discografia da banda – e no rock nacional.

Na ocasião, o clima era outro, bem praiano, reforçado pelas influências de ska e reggae do trio de Herbert Vianna.


Depois do álbum Televisão (1985), o octeto criaria naquele ambiente pouco condizente com seu visual – Branco Mello, por exemplo, praticamente cozinhava em seu paletó de lã – o disco Cabeça Dinossauro, tão seminal para a música brasileira quanto Selvagem?.

Revisitando esse disco na íntegra, o Titãs, atualmente formado por Branco Mello (baixo), Paulo Miklos (guitarra base), Sérgio Britto (teclados) e Tony Bellotto (guitarra solo) – e com Mário Fabre na bateria desde a saída de Charles Gavin, em 2010 –, participa do projeto Álbum, do Sesc Belenzinho, com sete datas de shows.

Os 3,5 mil ingressos disponíveis para os dias 8, 9, 10, 14, 15, 16 e 17 de março (500 por dia) se esgotaram em poucas horas, na quinta-feira.

É um começo promissor para a comemoração dos 30 anos de carreira da banda.


O ano de 2012 será titânico.

A turnê do Cabeça Dinossauro será levada para outras cidades do Brasil e se estenderá por todo o primeiro semestre do ano.

Só será interrompida pela participação deles no Rock in Rio Lisboa, em maio, novamente ao lado da banda portuguesa Xutos & Pontapés, para reeditar a roqueira apresentação realizada no mesmo festival, na edição carioca de setembro do ano passado.

Aquele encontro no Rio, aliás, ganhará um DVD pelo selo MVA, que deve ser lançado em maio simultaneamente no Brasil e em Portugal.

“Temos uma mesma banda inspiradora, que é o The Clash”, diz Bellotto. “Já fizemos turnê com os caras em 87 e 88, abrimos shows deles.”


Ainda dentro das celebrações, no segundo semestre, a cereja do bolo virá com uma turnê que percorrerá algumas capitais, com convidados especiais, além da participação dos titãs dissidentes Charles Gavin, Nando Reis e Arnaldo Antunes.

“O show do Cabeça é só um pontapé inicial. Estamos trabalhando bastante para fazer ótimos shows de 30 anos. Talvez até vire um DVD”, afirma Miklos.

O Titãs não é uma banda que vive do passado.

Os roqueiros envelheceram com dignidade, com discos inéditos, e querem continuar assim, produtivos.

Depois da turnê, será a vez de lançar o sucessor do disco Sacos Plásticos, de 2009.


“Sabemos que precisamos fazer uma coisa por vez. Soltar o disco agora seria bobagem, mas é legal para mostrar que não somos uma banda que gosta de ficar no passado”, diz Bellotto.

Até 1986, o Titãs era o que Bellotto chama de new wave brega, dadas as misturas de sonoridades promovidas pelos garotos paulistanos.

Duas situações foram fundamentais para o nascimento do Cabeça Dinossauro.

Televisão, disco anterior, não foi tão bem quanto o primeiro, Titãs (84), e foi arrasado pela estreia do Ultraje a Rigor, com o divertido Nós Vamos Invadir Sua Praia.

Era um álbum mais pop, apesar de Massacre e da faixa-título, pesadas.

Televisão não decolou.

Ao mesmo tempo, Tony Bellotto e Arnaldo Antunes foram presos por porte de drogas, em 85.

A insatisfação contra todo o sistema convergiu para um disco mais objetivo: Cabeça de Dinossauro é crítico, ácido, pesado, punk, revoltado.


Uma metralhadora com foco certo: a instituição católica (em Igreja), a política (em Bichos Escrotos e Homem Primata), a organização policial (em Polícia) e os próprios valores morais da época (em Porrada, Tô Cansado, Família e Dívidas).

Era também um momento em que a sociedade brasileira estava mudando com o fim dos duros anos da ditadura militar.

Ainda com a censura em vigor, Bichos Escrotos era pedido e executado nas rádios.

Era o povo respondendo.

“As bandas dos anos 80 estavam mais maduras”, conta Bellotto. Paulo Miklos completa: “Foi com esse álbum que nós nos encontramos com o nosso público. Até então, era difícil entender a gente”.


Entre as lembranças de Miklos sobre o Cabeça, está a cena de Branco Mello se benzendo segundos antes de cantar Igreja, com os versos: “Eu não gosto do papa/ Eu não creio na graça do milagre de Deus/ Não tenho religião”.

“Ele vai repetir isso nos shows do Cabeça. É a melhor cena da música brasileira”, diz Miklos, às gargalhadas.

Os anos podem ter passado e integrantes, partido.

Mas eles ainda parecem ser jovens brincalhões e barulhentos.

Como naquele 1986.

Um comentário:

Anônimo disse...

Enquanto nos EUA e Europa os roqueiros de verdade envelhecem fazendo bom rock, aqui os "roqueiros" Brasileiros envelhecem fazendo mpb de barzinho. "Cabeça dinossauro" e Jesus não tem dentes no país dos banguelas", os melhores trabalhos dos Titãs. O resto é o resto.