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sábado, agosto 25, 2012

Nunca antes na história deste prostíbulo



Ebert Vêncio
Da revista Bula

“Vem, novinha, delícia do papai! Que as mina tudo pira do jeito que o papai faz...”
(hit da música sertaneja)

A juventude compreende um período da vida deveras melindroso para o desenvolvimento psicossocial de um indivíduo. Quando se é jovem, nada parece impossível, inalcançável, nem mesmo os sonhos mais bestas. É fato: a mocidade está mais para poesia que prosa. Que o digam as musas e seus vates devotados. Houve uma época em que tive cabelos, e rimei muito amor com dor. Hoje, a lira foge dos meus pensamentos como o Tiago foge da cruz (Tiago é o meu vizinho ateu).

Há quase sempre muita energia vital para as atividades físicas, como esportes, pancadarias e sexo. Provocado pela efervescência dos hormônios, o cérebro juvenil funciona a mil por hora. Vive-se o apogeu da irreverência e do potencial criativo. Penando na adultícia, na chatice das encrencas cotidianas, gozando de irrisório élan, o máximo que conseguimos é enxergar, através do espelho retrovisor do tempo, o melhor de nós incrustado no passado longínquo. “Nossa... Éramos tão lindos e atirados...”. Dá até vontade de chorar ao idealizarmos fontes da eterna juventude.

Por causa da impetuosidade, outra característica do mancebo é supor que já saiba tudo. Esta convicção de semideus torna-o arrogante por natureza. Tenho um dileto amigo que hoje trabalha como Juiz de Direito. Antes de adentrar a magistratura, penou, ao longo de três anos, como Delegado de Polícia no interiorzão do Estado. Naqueles idos ainda guardava uma cara de menino.

Empolgado com a nova profissão, sentindo-se o John Wayne do pedaço, uma das primeiras e mais impopulares medidas que o inexperiente e jovial delegado tomou foi lacrar o prostíbulo da cidadezinha.

Na manhã seguinte, antes mesmo que o sino anunciasse a Missa das Onze, uma comissão extraoficial formada pela dona do cabaré, o prefeito, o secretário de finanças do município, dois ou três vereadores, um padre, dentre outros ilibados pais de família da pequena comunidade, foi-se haver com o insurgido delegado.

A turma reivindicava a reabertura imediata do estabelecimento, verdadeiro parque de diversões para os homens adultos, e que proporcionava aos moradores daquele lugarejo lazer inarredável, considerando-se a evidente escassez de opções. Era missa, novena, futebol, quermesse, cabaré... Não passava disso. De tão pacatas, as cidades interioranas, às vezes, conduzem seus cidadãos a desejos interiores incômodos, quando não, inconfessáveis.

Intrigado com a inusitada reação em cadeia, o mandatário mor da cadeia amoleceu e disse que seria autorizada a reintegração do covil, desde que as “di-menor” fossem retiradas do local. Drogas também não as permitiria (exceto, as músicas bregas com três acordes de péssima qualidade), nem fodendo (afoito, assoberbabo, inexperiente com as palavras, desapercebido ele fazia uma desagradável analogia com a fodelança).

Mesmo com engenhosos argumentos em contrário, a ressaltarem que as meninas, apesar da tenra idade, já operavam barbaridade na putaria e na libidinagem por longa data, o jovem xerife não cedeu às pressões da comitiva pró-prostíbulo, reiterando as suas condições para liberar a atividade. O pacto foi selado e todos comemoraram o bom senso do jovem doutor delegado, brindando com o licor de jenipapo trazido pelo pároco. Nos dizeres do religioso, era o Cronista Universal escrevendo certo com as letras tortas.

Uma estória puxa outra e uma crônica se constrói com puxadinhos. Por conta disso, às vezes, o texto vira muquifo. Já fui acusado de escrever muitos textos desconexos. Ainda assim, prossigamos neste arriscado enredo.

Há poucos dias, o Supremo Tribunal de Justiça retrocedeu na decisão que inocentava um sujeito acusado do estupro contra três meninas de 12 anos de idade. Anteriormente, sob a alegação da defesa de que o homem fizera sexo após o consentimento do suposto trio de putas infanto-juvenis (não foi eu quem disse isto; foi um homem vestindo beca), o STJ livrara o acusado.

Houve uma saraivada de manifestações indignadas tanto no Brasil quanto no exterior. Até a complacente ONU chiou. O esperneio certamente colocou juízo na cabeça dos juízes, que tomaram tento ao retroagirem na decisão.

Não entendo muito bem de cabarés, muito menos de leis. Mas, não é preciso ser um delegado de polícia em início de carreira para constatar que um homem adulto, ao despejar suas sementinhas (mais conhecidas como sêmen ou porra) nas delgadas grutinhas de amor daquelas crianças (anatomicamente denominadas vaginas), mesmo com seus consentimentos auferidos à base de moedas, agrados ou guloseimas, esteja, na verdade, cometendo uma atrocidade das mais abjetas que se tem notícia.

Não sei. A humanidade vive fases e fezes. A história está aí à disposição de todos os interessados em compreender um pouquinho da complexa e enigmática mente humana. Por exemplo, meu septuagenário pai conta que a sua avó fora entregue pelo pai a um noivo desconhecido, ainda aos 12 anos de idade, e demorara cerca de trintas dias até permitir ser tocada e desfrutada pelo marmanjo que já contava 34. Moraram juntos durante anos numa casinha de sapé na zona rural. Provavelmente felizes para sempre. Vá entender cabeça de gente...

Entretida com brincadeiras infantis no quintal, minha bisavó levou ene bordoadas do esposo, quando este chegava exausto dos brutos lides da roça, e não encontrava o almoço ainda pronto. Apanhou até aprender que já não era mais uma criança, embora a fantasia insistisse em fazer morada na sua cabeça. Tiveram catorze filhos: uns vivos, outros mortos; uns nascidos com a parteira, outros com o adjutório do próprio marido.

Como aos bois carreiros, o Homem é movido a ferrão, e carece ser estimulado para reagir. Se ninguém tivesse reclamado, possivelmente o meu amigo, ex-delegado novinho, jamais seria demovido (em parte) da sua decisão em interditar o prostíbulo, poupando as menininhas (frutas verdes amadurecidas à força) do desejo incontido daqueles homens de família por vaginas novatas.

Da mesma forma, se a mídia não desse o grito, a justiça brasileira talvez cometesse mais uma de suas injustiças, ao passar as mãos na cabeça de um pedófilo convincente (“Vá em paz, mas não repita mais essas atrocidades, viu meu filho?!”) sem que ninguém se apercebesse.

Se a minha bisavó ainda fosse viva, talvez achasse toda esta zorra uma coisa mais do que normal. Acostumada à miséria existencial, ela diria que “a vida é ruim assim mesmo, meu fio. Só Jesus na causa...”. E abrandaríamos sobremaneira os nossos dilemas brindando com licores de jenipapo.

sexta-feira, agosto 24, 2012

O Artur Neto que eu conheço (2)



A Passeata dos Cem Mil, realizada em 26 de junho de 1968, é considerada a manifestação popular mais importante da resistência contra a ditadura militar.

Ela marca o ponto alto do movimento estudantil e o início de sua derrocada.

“As manifestações contra os militares ganharam outra dimensão a partir morte do estudante Edson Luís Lima Souto”, afirma Paulo de Tarso, um dos estudantes envolvidos no sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick no ano seguinte.


Nascido em Belém do Pará, Edson foi baleado pela polícia no dia 28 de março de 1968, aos 18 anos, enquanto jantava no restaurante Calabouço, que atendia estudantes de baixa renda vindos de outros estados.

“A partir de então, os estudantes se mobilizaram de vez”, afirma Tarso.

Em junho de 1968, o movimento estudantil começou a organizar um número cada vez maior de manifestações públicas.

No dia 18, uma passeata, que terminou no Palácio da Cultura, também no Rio, foi reprimida pela polícia.


O resultado foi a prisão do líder estudantil Jean Marc von der Weid, ex-militante da Ação Popular e hoje diretor de uma ONG de agricultura alternativa.

No dia seguinte, o movimento se reuniu na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) para organizar novos protestos e pedir a libertação de Jean e de outros alunos presos.

“Levamos coquetel molotov, pedra, bastões”, lembra Vladimir Palmeira, um dos principais líderes daquele movimento.

Mas o resultado foi a detenção de 300 estudantes ao final da assembleia.

Algumas dezenas deles saíram correndo, indo refugiar-se no campo do Botafogo, ali perto.

Parte da imprensa foi atrás e registrou cenas chocantes, com os policiais militares espancando e humilhando estudantes desarmados e deitados no gramado.

Os jornais do dia seguinte mostrariam fotos de PMs urinando em cima dos rapazes e enfiando cassetetes nos traseiros das moças.

Dois dias depois, alguns universitários foram recebidos com violência pela polícia em uma passeata que terminou em frente à embaixada norte-americana.


A reação dos estudantes, que surpreendeu os meganhas, gerou uma batalha campal de mais de sete horas e terminou com 28 mortos, centenas de feridos, mil presos e 15 viaturas da polícia incendiadas.

Aquele dia ficou conhecido como “Sexta-Feira Sangrenta”.

Diferente da letargia conformista dos dias de hoje, a classe estudantil, em 1968, simbolizava o mais belo estandarte de luta que se empunhava contra a Ditadura Militar.

No embalo dos acontecimentos de maio, em Paris, que acendeu o pavio da revolta estudantil no mundo inteiro, aqui também tivemos as nossas barricadas de Nanterre, levantadas na Avenida Rio Branco e nas ruas México e Graça Aranha, no centro do Rio de Janeiro.

Logo depois das 13 horas do dia 21 de junho de 1968, sexta-feira, os fatos se precipitaram num desesperante torvelinho de violência.

Os ânimos, sobrecarregados pela repressão oficial de três dias, uniram populares e estudantes que avançaram contra os batalhões da polícia.


O centro do Rio se transformou num original cenário de batalha, com gente correndo em todas as direções.

Em dado momento surge a Cavalaria e depois os batalhões de choque que, passo a passo, vão ocupando a Avenida Rio Branco até encontrar as barricadas.

A polícia, sob a chuva dos mais variados objetos atirados do alto dos edifícios, avança abrindo fogo e ultrapassa a primeira barricada.

Os agentes do DOPS chegam atirando contra os manifestantes, em disparada pela rua, e contra os que se postavam nas janelas dos prédios.


Por volta das 7h da noite, o estudante de Direito Artur Neto e mais seis universitários estavam correndo pela rua da Carioca quando, subitamente, se viram encurralados pela Cavalaria, que vinha a galope de um lado, e pelos agentes do DOPS, que vinham atirando do outro.

De repente, alguém levantou uma pesada porta de ferro no meio do quarteirão e gritou para os estudantes entrarem.

Assim que eles entraram, o sujeito desceu a porta de novo e se posicionou em uma pequena janela gradeada para observar os acontecimentos.

Era o espanhol Juan Rivera, dono do Dancing Avenida, um dos mais famosos espaços boêmios da época.

Armado com um fuzil, um dos meganhas começou a berrar do outro lado da rua:

– Abre a porra dessa porta, espanhol filho da puta, que tu está na minha alça de mira e eu vou te matar!

– Não abro não! Vocês só entram aqui com mandado judicial! – devolveu o espanhol.

– Eu vou contar até três antes de te dar um tiro no meio da cabeça – insistiu o meganha. “Abre logo o caralho dessa porta se não quiser morrer!”

– Pode atirar e me matar! Essa porta só abre por dentro! Se vocês me matarem, aí é que não vão conseguir entrar mesmo! – avisou o espanhol, sem demonstrar nenhum sinal de medo.

Os meganhas dispararam mais meia dúzia de xingamentos e, após uns cinco minutos, foram embora.

Dentro da boate, os estudantes estavam quase em estado de choque.

O espanhol começou a conversar com eles.

– Quando as dançarinas começarem a chegar, eu vou lá fora dar uma olhada. Se a barra estiver limpa, eu deixo vocês saírem...

Aos poucos, para desanuviar o clima, o espanhol contou sua história.


Ele era ex-oficial do Exército e havia participado da Guerra Civil espanhola ao lado dos republicanos.

Para quem não sabe, a Guerra Civil espanhola (1936-39) foi o acontecimento mais traumático que ocorreu antes da 2ª Guerra Mundial.

Nela estiveram presentes todos os elementos militares e ideológicos que marcaram o século 20.

De um lado se posicionaram as forças do nacionalismo e do fascismo, aliadas as classes e instituições tradicionais da Espanha (o Exército, a Igreja e o Latifúndio) e do outro a Frente Popular que formava o Governo Republicano, representando os sindicatos, os partidos de esquerda e os partidários da democracia.

Para a Direita espanhola tratava-se de uma Cruzada para livrar o país da influência comunista e da franco-maçonaria e restabelecer os valores da Espanha tradicional, autoritária e católica.

Para tanto era preciso esmagar a República, que havia sido proclamada em 1931, com a queda da monarquia.

Para as Esquerdas era preciso dar um basta ao avanço do fascismo que já havia conquistado Itália (em 1922), a Alemanha (em 1933) e a Áustria (em 1934).

Segundo as decisões da Internacional Comunista, de 1935, as Esquerdas deveriam aproximar-se dos partidos democráticos de classe média e formarem uma Frente Popular para enfrentar a maré de vitorias nazi-fascistas.

Desta forma socialistas, comunistas (stalinistas e troskistas), anarquistas e democratas liberais deveriam unir-se para chegar e inverter a tendência mundial favorável aos regimes direitistas.

Foi justamente esse conteúdo, de amplo enfrentamento ideológico, que fez com que a Guerra Civil deixasse de ser um acontecimento puramente espanhol para tornar-se numa prova de fogo entre forças que disputavam a hegemonia do mundo.

Nela envolveram-se a Alemanha nazista e a Itália fascista, que apoiavam o golpe do General Franco e a União Soviética que solidarizou-se com o governo Republicano.

A República perdeu e o fascismo triunfou mais uma vez.

Fugindo da ditadura franquista, Juan Rivera havia vindo parar na Argentina e, depois, no Brasil.


Por volta das 10h da noite, o espanhol saiu da boate, conferiu que o caminho estava limpo e autorizou os moleques a deixarem o recinto.

Uma das universitárias não resistiu:

– Muito me admira que o senhor tenha toda essa coragem de enfrentar a repressão, tenha participado da guerra civil espanhola e viva hoje da exploração de mulheres, em vez de procurar um trabalho decente...

O espanhol subiu nas tamancas:

– Minha filha, assim você está me ofendendo! – avisou. “Eu não sou um gigolô e o Dancing Avenida não é um puteiro. As meninas que trabalham aqui apenas dançam com os clientes. Existem muitos homens solitários no Rio de Janeiro e aqui ele encontrarm um ambiente pacato para se divertir um pouco e espantar a tristeza. Se as meninas vão transar com eles, é daqui pra fora. Muitas das minhas dançarinas são mães de família. O trabalho de taxi-dancing é tão honesto quanto qualquer outro!

Aí, virando-se para Artur Neto, encerrou a conversa:

– Meu filho, nós perdemos a guerra lá e vocês também vão perder essa guerra aqui! – explicou o espanhol. “Mas isso não nos impede de continuar lutando porque é isso que diferencia os homens dos meninos!”

Artur Neto nunca mais esqueceu essas sábias palavras e, por isso mesmo, se transformou em um autêntico lutador, contra tudo e contra todos, para realizar essa utopia de construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Tenho muito orgulho de ser seu amigo e também de compartilhar, ainda que modestamente, dessa nobre tarefa.


O escritor Zuenir Ventura, ao registrar a memória daquele fatídico dia 21 de junho, no seu livro “1968 – O Ano Que Não Terminou”, relata que:

Ao contrário do movimento francês, não se lutava no Brasil contra abstrações como a “sociedade de opulência ou a “unidimensionalidade da sociedade burguesa”, mas contra uma ditadura de carne, osso e muita disposição para reagir.

As barricadas de Paris talvez não tenham causado tantos feridos quanto a “sexta-feira sangrenta” do Rio, para citar apenas um dia de uma semana que ainda teve uma quinta e uma quarta quase tão violentas.(…)

Durante quase dez horas, o povo lutou contra a polícia nas ruas, com paus e pedras, e do alto dos edifícios, jogando garrafas, cinzeiros, cadeiras, vasos de flores e até uma máquina de escrever.

O saldo doloroso dos fatos ocorridos na “sexta-feira sangrenta” deixou uma declarada indignação entre estudantes, intelectuais e em muitas categorias profissionais da população carioca. Como conter tanta revolta? Aquilo não poderia ficar por isso mesmo.


Artistas, jornalistas, escritores, professores começaram a articular alguma forma de manifestação que lavasse a alma de tantos ofendidos. Naquela mesma noite algumas reuniões paralelas foram feitas e nelas protagonizaram as idéias de Ferreira Gullar, Gláuber Rocha, Arnaldo Jabor, Hélio Pellegrino, Cacá Diegues, Luís Carlos Barreto, Ziraldo e outros.

Na manhã seguinte, no Salão Nobre do Palácio Guanabara, o psicanalista e escritor Hélio Pellegrino, a frente de 300 intelectuais, entre os quais Oscar Niemeyer, Clarice Lispector, Paulo Autran, Tônia Carrero, Milton Nascimento, Nara Leão, etc., solicitava ao Governador Negrão de Lima a autorização oficial para realizar uma passeata pacífica, no centro do Rio, sem a presença dos policiais na rua.

Depois de uma longa e difícil negociação, em que foi exigida, também, a libertação de presos políticos – numa referência ao diretor de teatro Flávio Rangel e ao arquiteto Bernardo Figueiredo – o Governador, esmagado pela argumentação de Pellegrino, concordou em liberar a passeata.

Na quarta-feira, 26 de junho de 1968, depois de três dias de tensas negociações com autoridades municipais e federais pela segurança do trajeto, o Rio de Janeiro iria assistir uma das maiores, senão a maior, manifestação popular de sua história: A Passeata dos Cem Mil.”


NOTA DO EDITOR DO MOCÓ


Nas duas primeiras décadas do século passado brilhavam no Rio de Janeiro, então capital federal, os cabarés, copiados de modelos parisienses.

Entre eles, destacava-se o Assirius, onde se apresentavam Pixinguinha e os Oito Batutas.

No começo da década de 30 apareceram no Rio outras modalidades de danças noturnas, como as escolas de danças onde, efetivamente, se aprendia a bailar em salão (famosíssima era a do Breno Machado, no alto do atual Cinema Palácio).

A outra modalidade foi o dancing, presumivelmente introduzido no Brasil por um espanhol ou argentino (ele se recusava a falar sobre as suas origens) de nome Antônio, que na época fundou na Praça Tiradentes o Samba Dança, primeira casa de taxi-girls que a cidade conheceu.


“Seu” Antônio vinha de Buenos Aires, de onde deve ter trazido o sistema que estabeleceu a primeira e definitiva distinção entre cabaré e dancing: o cartão a ser perfurado pelo cliente a cada rodada de dança. 

A cada furo correspondia uma quantia em dinheiro. Parte para a casa, parte para a taxi-girl.

Outra diferença é que nos cabarés as damas eram livres para aceitar ou recusar cavalheiros.

Se aceitavam participar de uma mesa como “convidadas”, tinham como obrigação e função principal – pelo menos dentro do cabaré – aumentar o consumo de bebida.

Em particular do champanha, que rolava farta naquelas épocas românticas.

Convidada, a dama era exclusividade do cavalheiro ou da mesa pela noite toda.

No dancing, as taxi-girls eram damas que tinham que dançar com qualquer um, e era-lhes vedado sentar-se às mesas sozinhas ou com fregueses.

Essa característica foi mantida até o fim.

As taxi-girls também não podiam recusar qualquer cavalheiro.

O ambiente era, porém, discreto: luz branda, lusco-fusco.

Não se permitiam libertinagens entre os frequentadores nem entre cliente e taxi-girls.

E havia mulheres tão requisitadas para dançar que trabalhavam com mais de um cartão (no fim da sua existência, os dancings, às vezes, não tinham clientes para perfurar sequer meio cartão).

Usar traje esporte era mais do que sacrilégio: classificava-se como desrespeito.

Traje obrigatório para homens: passeio completo.


As mulheres, sempre a rigor, gastando cetins, brilhos, enfeites de cabelos.

Outro dado novo introduzido pelo dancing na vida carioca: não convocavam cantores conhecidos para se apresentar.

Os cantores chegavam às salas como componentes de orquestras – crooners – e daí partiam para o profissionalismo, para o disco, quando o talento ou sorte ajudava.

Assim começou a carreira de Jamelão, no Brasil Danças.

Havia quem fosse ao Brasil Danças para ouvir os cantores e dançar.

Outros, apenas para ouvir músicos como Pixinguinha, João da Baiana, Benedito Lacerda, Vidraça, que lá trabalhavam com regularidade.

Era uma boemia que começava no Café Nice, passava pela Galeria Cruzeiro (atual Edifício Avenida Central), e aí expandia-se, de terno e gravata, até o Brasil Danças ou o Dancing Avenida.

Esse Rio de Janeiro não existe mais.

O complexo de vira-latas dos amazonenses



Na última sexta-feira, 17, o governador tucano Geraldo Alckmin ajuizou uma intempestiva Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin nº 4832/2012) contra dispositivos da Lei n. 2826/2003 e do Decreto Estadual n. 23.994/2003 que criam o “crédito estimulo” e o “corredor de importação”, com incentivos fiscais para a integração, expansão, modernização e consolidação dos setores industrial, agroindustrial, comercial, de serviços, florestal, agropecuário e afins da Zona Franca de Manaus.

Por que o governador de São Paulo demorou nove anos para ajuizar essa Adin?

Porque, além de ser sabidamente um caipira provinciano e mentalmente fronteiriço, Alckmin está jogando para a plateia.

Ele sabe que a Adin será fulminada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas, nesse meio tempo, poderá falar em alto e bom som para o eleitorado paulista que fez o que era possível para defender os interesses do seu estado.

Até aí, morreu o Neves. O papel de cada governador é puxar a brasa para a sua sardinha.

O que não dá para entender é essa cacofonia de gritos histéricos que toma conta da cidade cada vez que uma “ameaça” ronda a ZFM.

Parece que ninguém, em sã consciência, percebe a oportunidade histórica de questionar de verdade esse enclave multinacional incrustrado em nosso território que, ao longo de 45 anos, apenas aumentou assustadoramente a desigualdade econômica entre Manaus e os municípios interioranos, condenando à miséria metade da população amazonense.

“Manaus não pode ficar sem a ZFM”, berra um vereador mais afoito do que um bandeirinha de várzea marcando um impedimento.

“O fim da ZFM significa jogar na miséria 100 mil trabalhadores!”, dispara um deputado da base governista, mais sério do que cu de vaca gir durante a inseminação artificial.

“Precisamos nos unir contra mais esse crime de lesa pátria”, desconversa um empresário sulista, enquanto confere o plano de milhagem que o fará ir embora de graça dessa comédia e descobrir locais melhores para investir o lucro auferido na mal afamada zona franca.

Porto de lenha, tu nunca serás... aquilo tudo que o poeta Aldisio Filgueiras falou com propriedade já se vão algumas décadas.

Continuamos tabaréus por nossa culpa, nossa máxima culpa.


Pois é esse complexo de vira-latas, de coitadinhos, de menores abandonados ou permanentemente abrigados sob a saia encardida do governo federal, que torna os amazonenses dependentes químicos dessa verdadeira aberração chamada ZFM.

Por causa da ZFM, a capital do estado concentrou 95% das atividades econômicas do Amazonas e condenou os outros 61 municípios a uma vida em morte severina.

Do ponto de vista social, essa gritante concentração de renda não significa porra nenhuma: Manaus possui um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, ou 0,774.

A capital paraense, Belém, que nunca teve Zona Franca, tem um IDH de 0,806.

Cuiabá, capital do Mato Grosso, que também nunca teve Zona Franca, tem um IDH de 0,821.

Idem, Palmas, capital do Tocantins, com IDH de 0,800.

Não estou chutando, macacada: os números estão disponíveis no Portal ODM, que faz o acompanhamento municipal dos objetivos de desenvolvimento do milênio.

“E se a ZFM acabar, o que será de nós?”, geme um operário, como se tivesse sido pego sem calças se preparando para detonar um padreco dentro do confessionário.

Eu, particularmente, não faço a menor ideia.

Desconfio, entretanto, que a gente descobriria alguma coisa pra fazer.


Sergio Machline e seu pai, o saudoso Mathias

Eu posso falar de cadeira sobre a ZFM porque fui funcionário da Sharp do Brasil (de agosto de 1973 a agosto de 1978), da Electra Industrial (de novembro de 1978 a fevereiro de 1980) e da Philco da Amazônia (de março de 1980 a novembro de 1991).

Quer dizer, dos 17 aos 35 anos eu estive no olho do furacão.

A Sharp do Brasil foi a segunda empresa a se instalar no Distrito Industrial (a primeira foi a Electra), ambas na rua Acará.

Para se ter uma pálida ideia do pioneirismo, nós (eu, Engels, Pauderney, Pauderley, Ivaldo, Alexandre, Reinildo, Edmilson, Salgado, Augusto Cézar, etc), todos finalistas da ETFA, tivemos que pegar no pesado e montar as esteiras manualmente, uma por uma, no gigantesco galpão construído pelo engenheiro José Moura, da Coencil.

Em cinco anos, a Sharp do Brasil já faturava anualmente US$ 1 bilhão e o Grupo Machline possuía 25 empresas – todas sediadas em São Paulo.

Ou seja, o lucro era gerado em Manaus, mas reinvestido em São Paulo.

Para os tapuias nativos ficavam os salários (1% do faturamento, ou US$ 10 milhões) e os impostos (25% do ICMS ou US$ 50 milhões).

Multipliquem isso pela quantidade de empresas multinacionais que estavam implantadas no DI e terão uma boa ideia do tamanho da sangria.

Quer saber mais? Clica aqui.

Não foi a toa que uma leva de pequenos comerciantes paulistas se transformou em empresários milionários num piscar de olhos à custa do trabalho semiescravo dos nossos nativos.

Leo Kryss, por exemplo, era dono de uma lojinha de confecções na rua 25 de Março quando resolveu montar a Evadim no Distrito Industrial, com generosos empréstimos do BNDE.

Atualmente dono do banco Tendência, Leo Kryss coleciona jatinhos, iates e campos de golfe.

Leiam o que a revista Veja escreveu sobre o empresário, na matéria “Mordendo a maçã”, em agosto de 1997:

“Tímidas excentricidades se comparadas ao tríplex do empresário Leo Kryss, dono de uma indústria de produtos eletrônicos.

Cada um dos três andares de seu apartamento, avaliado em 4 milhões de dólares, tem um estilo de decoração diferente.

“Os corrimãos das escadas são folheados a ouro”, descreve uma amiga de Kryss.

Há colunas de mármores nobres, banheiros cor-de-rosa do teto ao chão e pesadas cortinas de veludo.

A cozinha, com equipamentos industriais, lembra a de um grande hotel.

O apartamentaço conta ainda com três quartos só para abrigar empregados.

As más línguas dizem que ficaria melhor em Miami.”

A Evadim nunca investiu um único centavo em Manaus.


Leo Kryss e o príncipe herdeiro Joseph, que nunca colocou os pés em Manaus

Fundada pelo remediado engenheiro eletricista Affonso Brandão Hennel, a Sociedade Eletro-Mercantil Paulista (Semp) era uma fabriqueta de fundo de quintal especializada na montagem de rádios valvulados, vendidos exclusivamente no interior de São Paulo.

 Em 1977, a empresa fez uma joint-venture com a gigante japonesa Toshiba e, graças aos generosos empréstimos do BNDE, se instalou no Distrito Industrial.

A Semp-Toshiba chegou a faturar mais de US$ 1 bilhão por ano – e com o lucro auferido em Manaus abriu novas unidades industriais em Salvador, Cajamar e São Paulo.

Em Salvador, por exemplo, a empresa produz 300 mil notebooks por ano, mas pretende elevar essa produção para 1 milhão de unidades no prazo de cinco anos.

Ou seja, a Semp-Toshiba transformou Afonso Hennel em um novo milionário, está gerando emprego e renda para os baianos e pouco se lixando para essa histeria tardia que ainda grassa nos arraiais da terra de Ajuricaba.

Sim, porque nesses 35 anos a Semp-Toshiba também nunca investiu um único centavo em Manaus.


Affonso Brandão Hennel, fundador da Semp, e Norio Sasaki, presidente da Toshiba

Eu poderia citar dezenas de exemplos semelhantes aos dos dois empresários já citados, mas não pretendo me alongar.

Mudou alguma coisa de 1991 pra cá? Acredito que não.

No ano passado, segundo dados da Suframa, o Polo Industrial de Manaus faturou US$ 40 bilhões.

Desse montante, quanto ficou no estado?

Levando-se em conta que o orçamento total do governo do Amazonas está estimado em US$ 3 bilhões, sobra menos de 10% do faturamento do DI para custear nossas demandas crescentes e perpetuar a miséria dos grotões no interior.

Portanto, somente energúmenos de galochas ou com complexo de vira latas podem continuar a defender esse esdrúxulo “modelo de desenvolvimento” que serviu (serve) apenas para enriquecer a tripa forra uma centena de empresários alienígenas.

Quando ouço essa propaganda eleitoral apelativa da nova-cristã Vanessa, em que um desajustado locutor berra, com a voz embargada de emoção, que ninguém vai nos tirar a Zona Franca, porque “a Zona Franca é nossa, a Zona Franca é de Manaus”, tenho vontade de perguntar: “Nossa de quem, cara pálida?...”

Brincadeira tem hora.

quarta-feira, agosto 22, 2012

O Artur Neto que eu conheço! (1)



Filho do advogado e jornalista Artur Virgílio Filho e da pedagoga Isabel Vitória, Artur Neto nasceu em Manaus, em 15 de novembro de 1945.

Em 1959, após seu pai ter sido eleito deputado federal pelo PTB no ano anterior, Artur Neto e a sua família foram morar no Rio de Janeiro, na época capital federal do país.

Em 1964, Artur Neto foi aprovado no concorrido vestibular de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e logo começou a militar no movimento estudantil que combatia a ditadura.

No emblemático livro “1968: O Que Fizemos De Nós” (Editora Planeta, 2008), o jornalista Zuenir Ventura falou sobre esse período:

Em 68, Artur Virgílio Neto era militante do então clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB) e diretor de Relações Institucionais do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (Caco Livre), da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. Seu pai, o então senador Artur Virgílio Filho, por também combater a ditadura, teve os direitos políticos suspenso por dez anos pelo AI-5, aos 48 anos de idade.

Esse pai nacionalista e legalista, mais do que de esquerda, ainda que sempre ligado a ela, líder do PTB e do governo João Goulart, que acreditava mais nas reformas que na revolução, foi quem influenciou na adolescência Virgílio Neto.

“Eu gostava do simpático Jango, que, vez por outra, nos visitava – ele era vice-presidente da República; admirava a bravura de Leonel Brizola, meu herói de capa e espada da Cadeia da Legalidade, de 1961, e considerava JK o caminho mais justo para o Brasil de 1965. A figura de Luís Carlos Prestes surgia distante, um pouco mártir; Fidel inspirava-me forte simpatia, e Guevara incitava ao sonho, soando-me menos político do que ídolo da contracultura”.

O golpe militar de 64, o seu ingresso no curso de Direito da então Faculdade Nacional, a repressão, a polícia invadindo seu apartamento e obrigando a mãe e os irmãos a cantar o Hino Nacional virados para a parede, tudo isso levou o jovem a se aproximar do Partido Comunista Brasileiro, o PCB – ou Partidão.

Nomeado diretor de Relações Institucionais do Caco Livre, Virgílio Neto passou a ter uma ativa militância política. “Sofri e pratiquei violência nas ruas do Rio, apanhei e bati. Ajudei a queimar carros da polícia e a derrubar cavalos espalhando bolinhas de gude pelo asfalto. Em compensação, meu curso foi retardado e padeci algumas prisões rápidas, felizmente sem tortura física”.

O senador Artur Virgílio guarda dessa época agitada muitas histórias, uma das quais o marcou até hoje. Depois do golpe de 64, refugiou-se em sua casa no Rio um jovem líder sindical, quase analfabeto, mas extremamente inteligente e corajoso. E radical. Era quem mais agitava. De repente, sumiu e nunca mais foi visto.

“Certo dia”, conta o líder do PSDB, “o centro do Rio virara praça de guerra, e me vi encurralado na rua Buenos Aires, achando que tinha chegado a minha hora”. Carros da polícia em chamas, gente machucada dos dois lados, eis que Virgílio ouve uma voz: “Deixem esse comunista filho da puta comigo. Este é meu. Cuidem dos outros”.

Com palavrões, mandou que o estudante caminhasse. Chegando à avenida Rio Branco, sussurrou: “Neto, sai correndo, vou dizer aos outros que te perdi. Não olha para trás. Devo isso à dona Isabel, tua mãe. Na próxima, você não terá perdão”. Era o rapaz que fora acolhido em sua casa. “Chamava-se Wellington Uchoa do Nascimento, e tinha virado agente da repressão”.

quarta-feira, agosto 15, 2012

Era da Modernidade versus Era da Mediocridade


Quem está mais preparado para representar Manaus durante um evento internacional do porte da Copa do Mundo de Futebol – FIFA 2014?


Um diplomata e advogado que fala inglês, francês e espanhol (Artur Neto)


Um engenheiro que fala inglês (Pauderney Avelino)


Um economista que arranha inglês (Serafim Corrêa)


Uma farmacêutica monoglota (Vanessa Grazziotin)


Um radialista monoglota (Henrique Oliveira)


Um radialista analfabeto funcional (Sabino Castelo Branco)

Dependendo da sua escolha, Manaus poderá avançar rumo à Era da Modernidade ou então se cristalizar na Era da Mediocridade.

Você decide.

segunda-feira, agosto 13, 2012

Artur Virgílio Filho, um amigo inesquecível



Em pé, o Desembargador Artur Virgílio do Carmo Ribeiro. Sentado, o Senador Artur Virgílio Filho. No colo, o atual candidato a prefeito Artur Virgílio Neto

Durante uma reunião do Congresso Nacional em dezembro de 1968, nas vésperas da publicação do AI-5, o senador Artur Virgílio Filho, ex-líder do PTB no Senado e então vice-líder do MDB, ocupa a tribuna para fazer um discurso emocionado, denunciando os horrores da ditadura militar e repetindo o que já havia dito três anos antes.

– Que nos fechem hoje, mas com o povo que nos assiste ao nosso lado, e não nos fechem amanhã, ingloriamente, com o aplauso do povo brasileiro, como aconteceu em 1937! – vociferava o senador.

Vice-líder do MDB na Câmara e amigo de Artur Virgílio de longa data, o deputado Paes de Andrade pede-lhe um aparte, para se solidarizar com ele.

Artur Virgílio faz que não vê. Paes insiste. Artur Virgílio não dá a mínima.

Quando desceu da tribuna, Paes foi lhe cobrar:

– O que é isso, Virgílio? Como é que você me negou o aparte?...

– Paes, eu hoje não fiz um discurso, fiz um requerimento. Esse discurso é um requerimento de cassação. Você não tinha nada que entrar no meu requerimento. Cumpri meu dever de trabalhista e vice-líder da oposição e sei que eles vão me cassar. Estou indo embora, mas você precisa ficar para, junto com os outros companheiros, continuarem lutando pela volta da democracia.

Dito e feito. Dois meses depois, em fevereiro de 1969, o senador Artur Virgílio Filho foi cassado e teve seus direitos políticos suspensos por dez anos por força do Ato Institucional nº 5, publicado em 13 de dezembro de 1968.


O senador Artur Virgílio Filho (em pé), durante uma reunião com o presidente João Goulart e o senador Filinto Muller

Era disso que eu estava me lembrando dentro do elevador, na noite da véspera do Natal de 1978, quando, na companhia do jornalista Mário Adolfo, estava indo ao encontro do ex-senador, que morava então, solitariamente, no edifício Antônio Simões, no centro de Manaus.

Aquela história do senador já havia ganhado contornos de lenda entre os militantes da esquerda amazonense.

Nos últimos cinco meses, minha vida havia virado de ponta-cabeça.

Em agosto, liderei uma greve na Sharp, cujo desfecho teve ampla cobertura do jornal A Crítica graças ao empenho do jornalista Mário Adolfo, mas depois de uma semana de paralisação, eu e o engenheiro Geraldo Nogueira (irmão do ex-secretário estadual de Educação Vicente Nogueira) fomos sumariamente demitidos.

Uma semana depois, as demissões atingiam mais de seis dezenas de pessoas.

Em setembro, vários amigos meus foram demitidos de outras fábricas sob a alegação calhorda de que “a primeira turma de engenheiros eletrônicos da Utam queria transformar o pacato Distrito Industrial no conflagrado ABC paulista”.

Rolaram cabeças na Evadim, Semp-Toshiba, Sanyo, CCE e Gradiente, entre outras.

E o pior é que a greve na Sharp tinha sido provocada por um problema interno da empresa...

Nas duas ocasiões (na minha demissão e na demissão dos companheiros de outras fábricas), por obra e graça do engenheiro Adalberto Mello Franco (demitido da Semp-Toshiba), amigo de longa data da família do senador, fomos nos aconselhar com Arthur Virgílio Filho.

Em novembro, o engenheiro Carlos Almeida (demitido da Evadim) foi preso autoritariamente, sem ordem judicial, quando conversávamos no bar Farol das Batidas, em frente à sede da TV Amazonas, na Cachoeirinha, numa tarde de sábado, e levado pela Tropa de Choque da PM para lugar incerto e não sabido.

E tudo por conta de um mal-entendido: Carlos confundiu um sujeito vestido de pinguim (paletó de linho branco, calça preta e gravata borboleta) com o garçom e pediu uma “caipirinha”.

O sujeito não disse nada e se dirigiu para o balcão do bar.

Dez minutos depois, ele surgiu na varanda do boteco comandando uma tropa de choque da PM armada de metralhadora e escopetas.

Era um coronel aposentado ligado à 2ª Seção.

Os meganhas não quiseram nem saber dos nossos pedidos de desculpas.

Colocaram Carlos no “alçapão” de uma camionete veraneio com extrema violência, bateram a porta e as duas camionetes com os meganhas saíram cantando pneus em direção ao bairro da Praça 14.

Foi um deus-nos-acuda.


Novamente o senador foi convocado para nos livrar da enrascada.

Graças a um bilhete e a uma série de telefonemas endereçados aos advogados do famoso escritório jurídico “Simonetti, Paiva e Valois”, conseguimos localizar e libertar o engenheiro já na madrugada de domingo.

O incidente serviu para mostrar que os pit-bulls da ditadura continuavam dando as cartas.

Agora em dezembro, eu e Mário Adolfo estávamos indo pela primeira vez visitar o senador sem nenhum “problema” guardado na algibeira.

Pelo contrário. Eu estava levando um livro do Pablo Neruda (“20 Poemas de Amor e uma Canção desesperada”) e uma dúzia de cervejas em lata.

Mário levava um livro do Vinicius de Moraes (“Antologia Poética”), uma “Carta dos Direitos Humanos”, xerocopiada, em que habilmente desenhara uma nova capa, alguns LPs e duas latinhas de castanhas de caju.

Moleques de famílias pobres, nascidos e criados na Cachoeirinha, não tínhamos a menor ideia de que “presente de Natal” dar a um senador.

Os livros tinham sido a única opção condizente com a nossa precária situação financeira.

As cervejas e as castanhas era o que havia dado pra comprar com o “troco” dos presentes.

O senador (que a gente, num arroubo de intimidade além da conta, já chamava de “tio Ártur”, acentuando a primeira sílaba, como na pronúncia inglesa, talvez porque ele tivesse a educação esmerada de um verdadeiro lorde) ficou visivelmente emocionado.

Acostumado com a solidão (seus familiares moravam no Rio de Janeiro), para ele aquela véspera de Natal seria apenas mais uma noite igual às outras. Não foi.

Conversamos sobre isso e aquilo outro, mas, principalmente, sobre política, e secamos algumas garrafas de vinho (depois que nossas cervejas foram para o espaço).

O senador era um pote de erudição e ali estavam dois ouvintes dispostos a saborear, com uma indisfarçável admiração, aquele jorro vulcânico de quem sempre pautara a vida fazendo “o bom combate”.

Quando Arthur Virgílio Filho, recitando de cabeça um dos muitos poemas de Neruda que sabia de cor, se aproximava da janela do 11º andar para observar a cidade, Mário Adolfo, automaticamente, se levantava da poltrona e ia atrás, possivelmente com medo de ver o senador se jogando pelo vazio – e o jornalista não estar a postos para evitar a tragédia anunciada.

Mas era uma preocupação infundada. Arthur Virgílio Filho amava a vida.

Deixamos o apartamento do senador, já com o dia amanhecendo, completamente em êxtase.


No ano seguinte, acho que em março de 79, o senador patrocinou uma feijoada em seu apartamento para nos apresentar seu filho mais velho, o ex-senador e atual candidato a prefeito Artur Virgílio Neto.

No ano anterior, havíamos feito campanha para Artur Neto, candidato a deputado federal pelo MDB, mas apesar da boa votação recebida ele acabara na primeira suplência.

Eu e Mário Adolfo não o conhecíamos pessoalmente, mas bastava ser filho do “tio Ártur” para ser um verdadeiro homem de bem.

Ficamos “amigos de infância” na mesma hora.

Artur Neto, que na época era militante do clandestino PCB, trazia nas veias o idealismo do pai.

Praticar “o bom combate”, vimos logo, fazia parte da carga genética da família.

Diplomata de carreira e orador brilhante, Neto ainda trazia um outro diferencial que nos enchia de inveja: era professor de inglês e de francês.

Quer dizer, ele tinha intimidade com o idioma e sabia o significado das letras cantadas pelos Beatles, Bob Dylan, Pink Floyd, Rolling Stones e tantos outros roqueiros que “traduzíamos” com uma dificuldade da gota serena.

Em junho do mesmo ano, o senador Artur Virgílio Filho, na companhia do Adalberto Mello Franco, me fez uma visita de cortesia.

Ainda desempregado, fiquei com vergonha de recebê-lo na “tapera” de madeira carcomida em que estava morando – e, o que é pior, servindo de “babá” para meus filhos gêmeos, Marcelo e Marcel, que mal haviam completado dois anos, num dia-a-dia angustiante e completamente ocioso.

Tal como ele havia previsto, meu nome estava na “lista negra” do Distrito Industrial.

Durante a tarde inteira em que ficamos conversando, o senador falou das prisões arbitrárias que sofrera como quem fala de um acontecimento fortuito, sem demonstrar uma ponta de mágoa ou ressentimento.

Para ele, aquilo tinha sido apenas um “acidente de percurso”.

E traduziu magistralmente sua disposição de continuar o “bom combate”, arriscando, se preciso, a própria vida, com uma frase inesquecível do Che Guevara: “Prefiero morir de pie que vivir siempre arrodillado” (“Prefiro morrer de pé do que viver sempre ajoelhado”).

Aquela lição de otimismo e desprendimento tem sido meu norte ao longo da vida.

– Um dia você ainda vai rir muito disso tudo, meu filho! – vaticinou, quando nos despedimos.

Acertou na mosca.

Em 28 de agosto de 1979, o presidente Figueiredo sancionou a Lei n.º 6.683, de iniciativa do governo e aprovada pelo Congresso, anistiando todos os cidadãos punidos por atos de exceção desde 9 de abril de 1964, data da edição do AI-1.

Entre presos, cassados, banidos, exilados ou simplesmente destituídos dos seus empregos, a Lei de Anistia beneficiou 4.650 pessoas, entre as quais os ex-governadores Gilberto Mestrinho, Leonel Brizola e Miguel Arraes, os ex-líderes estudantis Vladimir Palmeira e José Dirceu, e o ex-senador Artur Virgílio Filho.

Em dezembro daquele ano, durante nossa tradicional celebração natalina, Tio Ártur levantou uma interessante hipótese para “justificar” sua cassação pelos militares.


Em 1967, um dos mais badalados futurólogos internacionais, Herman Kahn, 150 quilos, QI de 130, calmo, extremamente feio, vaidoso e arrogante, esteve no Brasil defendendo a transformação da Amazônia num grande lago (ou isso ou a internacionalização da região).

Diretor do Hudson Institute, um organismo que congregava dezenas de cientistas de renome internacional, Herman Kahn defendia a construção de barragens edificadas ao longo dos grandes rios da planície amazônica.

O projeto de Kahn resultaria na interligação de cinco nações sul-americanas por meio da inundação das bacias dos principais rios (a barragem do rio Amazonas seria no estreito de Óbidos, no Pará), possibilitando o tráfego direto e permanente em toda a região.

A equipe do cientista chegou a sobrevoar trechos imensos da Amazônia colombiana, estudando a sua execução.

A criação do “grande lago” melhoraria o potencial de navegação e levaria a um grande desenvolvimento econômico na região, determinado pela circulação fácil dos produtos e mercadorias.

Isso soava como música no ouvido de muitos militares brasileiros, cada vez mais paranoicos com a necessidade de colonizar a Amazônia.

Legítimo representante da região amazônica no Congresso Nacional, o senador Artur Virgílio Filho foi uma das primeiras vozes a se insurgir contra a “ideia estapafúrdia de meia-dúzia de cientistas de araque” e logo a briosa imprensa nacional caiu de pau no lombo do futurólogo.

A ideia do “grande lago” foi abortada num piscar de olhos.

– Bom, mas aquilo não era motivo para provocar a cassação política de alguém, senador – eu intervinha.

– Pois é. Mas, quem sabe o que se esconde na cabeça desses gorilas fardados? – dizia.

Aí, enquanto acendia mais um cigarro, encerrava o assunto:

– Um dia a gente ainda vai rir muito disso tudo, meu filho!

Só então a ficha caía: por mais paradoxal que fosse, a violência contra o senador tinha sido tão absurda que ele buscava uma “justificativa” plausível em fatos surrealistas.

Era um iluminista. Ou, quem sabe, um iluminado.


Eu, Mário Adolfo e o resto dos “meninos” continuamos a frequentar a casa do tio Ártur ao longo dos anos seguintes e se embebedando daquele humanismo tão pródigo e generoso.

Quando, em 1984, a “Oposição Sindical Metalúrgica” ganhou a eleição daquele ano e fui eleito vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, telefonei para ele, para dar a notícia.

– Só estou nessa luta por causa daquela nossa conversa de 79 – avisei.

– Faça o que tem que ser feito, meu filho, só não traia seus princípios – aconselhou.

Em maio de 1985, ele foi nomeado pelo presidente Sarney para dirigir o INPS e se mudou para o Rio de Janeiro.

Foi a última vez que falei com ele, outra vez em companhia do Adalberto Mello Franco.

O senador me presenteou com um livro do Neruda, “Memorial de Isla Negra”, que tenho até hoje.

Em novembro daquele ano, para não “trair meus princípios”, renunciei ao cargo de vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, que havia se transformado em um pestilento antro de corrupção – e nunca mais deixou de ser.

Foi uma grande oportunidade de colocar em prática mais um dos tantos generosos e pródigos ensinamentos recebidos do senador.

Dois anos depois, no dia 31 de março, o senador Artur Virgílio Filho foi se encontrar pessoalmente com Pablo Neruda.

Estava com apenas 66 anos de idade.

Tenho (temos) saudade.

quarta-feira, agosto 08, 2012

Bob Marley queimando tudo em HQ



A trajetória de Bob Marley (1945-1981), músico jamaicano que revelou o reggae para o mundo, acaba de ganhar uma versão em quadrinhos.

Em “Bob Marley: O Guerreiro Rasta”, graphic novel assinada pelos argentinos Diego Agrimbau e Dante Ginevra, a história do músico, símbolo internacional da cultura rastafari, é revista.

A biografia apresenta a vida de Marley, sua origem humilde na Jamaica e sua busca pela fama internacional.

A história lembra ainda a infância do músico e o início do Wailing Wailers, banda que formou com Peter Tosh e Bunny Wailer.

Fruto da união de uma afro-jamaicana com um britânico, Bob cresceu na pobreza de uma Jamaica que buscava se libertar do domínio inglês enquanto construía sua própria identidade social e racial.

A obra será um dos destaques da V&R Editoras na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que acontece de 9 a 19 de agosto, no Pavilhão de Exposições do Anhembi.


O talento somado a sua coragem e fé permitiram que Bob Marley se tornasse uma lenda do reggae e ícone dos valores rastafári.

Suas mensagens de amor e paz são até hoje multiplicadas entre seus fãs, mesmo após 30 anos de sua morte.

Decepções, sofrimento, fé, paixões, violência, obstinação, preconceito, doenças, drogas, separações, superações, dinheiro, a ilusão da fama e um atentado – a vida de Bob Marley não poderia deixar de virar livro.

A graphic novel dos argentinos conta desde a infância do cantor, na Vila de Nine Mile, na Jamaica, durante a década de 1950 – quando acreditavam que ele podia ler o futuro das pessoas através das mãos – até a sua morte, em 1981, em um hospital em Miami.

As homenagens a Bob Marley não param por aí: um documentário sobre a vida do cantor está para chegar aos cinemas.

O futuro blockbuster “Marley”, ainda inédito no Brasil e cujo trailer você confere abaixo, dirigido por Kevin MacDonald (“O último Rei da Escócia”), foi lançado no último Festival de Berlim.


Integrante do grupo MPB4, Magro morreu aos 68 anos



O compositor, arranjador, instrumentista e vocalista Antônio José Waghabi Filho, ou Magro como era mais conhecido, faleceu nesta quarta-feira, 8, aos 68 anos, em São Paulo, onde estava internado devido a um câncer.

Magro era integrante do MPB4, o mais importante grupo vocal masculino da música popular brasileira, ao lado de Dalmo, Miltinho e Aquiles.

A morte do músico foi anunciada no site oficial do grupo: “Depois de longa luta pela vida, Antonio José Waghabi Filho, o Magro do MPB4, nos deixou. Com ele vai junto uma parte considerável do vocal brasileiro. Com ele foi a minha música”, lamentou Aquiles.

O corpo de Magro será velado até às 21h no Hospital Beneficência Portuguesa.

Amanhã, às 11h, será cremado no crematório da Vila Alpina, também em São Paulo.

A última apresentação de Magro com o grupo foi no dia 8 de junho.

O músico deixa mulher e dois filhos.

Natural do estado do Rio de Janeiro, Magro começou sua carreira musical em 1962, como vibrafonista da banda Praia Grande, um grupo que se apresentava em bailes na cidade de Niterói.


Em 1963, ao lado de Miltinho, Ruy Faria (Dalmo Medeiros entrou em seu lugar em 2004) e Aquiles, ele formou o Quarteto do CPC – que um ano depois virou MPB4, devido à extinção dos Centros Populares de Cultura (CPCs).

Batizado simplesmente de “MPB4”, o primeiro álbum do grupo veio em 1966 e apoiava-se sobretudo no repertório de Chico Buarque – nome que norteou a carreira do quarteto durante todo o tempo.

A partir de então, passaram a lançar discos quase anuais – rareando um pouco a partir dos anos 1990.

Os mais cultuados são “Deixa Estar” (1970), “De Palavra em Palavra” (1971) e “Cicatrizes” (1972), criados no período em que o grupo se tornou mais militante no embate conta a ditadura.

O talento de Magro como arranjador vocal ganhou repercussão nacional em 1967, quando ele criou a complexa trama que unia a voz de Chico Buarque às dos quatro meninos do MPB4 em “Roda Viva” (Chico Buarque), canção defendida pelos cinco no III Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record.

Também é dele o arranjo vocal da gravação original de “Cálice” (Gilberto Gil/ Chico Buarque), cantado por Chico e Milton Nascimento no álbum “Chico Buarque” (1978).

Em 1977, aceitou o convite de Chico para interpretar – não apenas cantando, mas também interpretando – o Jumento no álbum “Saltimbancos”, clássico instantâneo que alimenta até hoje o imaginário infantil.

Ali, Chico vertia para o português as canções do argentino Luis Enríquez Bacalov e do italiano Sergio Bardotti.

Na versão nacional, Miúcha interpretou a Galinha, Nara Leão, a Gata e Ruy, também do MPB4, fez o Cachorro.

Dedicado a boleros, “Contigo Aprendi”, trabalho mais recente do MPB4, foi lançado em junho passado.

terça-feira, agosto 07, 2012

Vascão perde mais um torcedor fervoroso!



O cantor Celso Blues Boy morreu na manhã desta segunda-feira, 6, em Joinville, no Norte de Santa Catarina. 

Segundo a central funerária de Joinville, o músico faleceu às 8h50.

O corpo já foi encaminhado para Blumenau para ser cremado.

O músico tinha 56 anos e sofria câncer de garganta.

Blues Boy era cantor, compositor e guitarrista.

Celso Ricardo Furtado de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, em janeiro de 1956.

Na década de 1970, com apenas 17 anos, começou a tocar profissionalmente com Raul Seixas, além de acompanhar nome da MPB como Sá & Guarabyra e Luiz Melodia.

Seu nome artístico é uma homenagem ao seu ídolo B.B. King, com quem chegou a tocar na década de 1980.

O vascaíno foi guitarrista das bandas Legião Estrangeira e Aero Blues, considerado o primeiro grupo de blues do Brasil.


Em 1980 passou a ser mais conhecido, quando mandou uma fita para a Rádio Fluminense, no Rio, voltada para o repertório roqueiro.

Quatro anos depois gravou seu primeiro disco, Som na Guitarra, que inclui seu maior sucesso: “Aumenta Que Isso Aí É Rock’n Roll”.

Entre 1986 e 2011, Celso lançou mais nove álbuns, como Marginal blues (1986), Quando a noite cai (1989), Indiana Blues (1996) e Vagabundo errante (1999).

Em 2008, foi lançado seu primeiro e único DVD ao vivo, Quem foi que falou que acabou o rock ‘n roll?, gravado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, que também saiu em CD.

Seu último CD foi lançado ano passado.

Intitulado Por um monte de cerveja, o álbum possui 13 canções, como “Beth Carvalho Quer Comprar O Meu Fuscão” e “Odeio Rock’n’Roll”, com participação dos Detonautas.

Celso Blues Boy morava há 15 anos em Joinville.


Músicos e outros artistas publicaram mensagens em redes sociais para lamentar a morte do cantor e guitarrista.

“Foi-se Celso Blues Boy: uma vez fomos induzidos a tocar Coqueiro Verde numa festa e o resultado foi hilário... Saudades”, escreveu Erasmo Carlos em seu perfil no Twitter.

O apresentador Serginho Groisman também se manifestou em seu perfil no site: “Morreu Celso Blues Boy. Tive o prazer de assistir ele tocando sua furiosa guitarra. Seu encontro com B.B.King é antológico.”

Já Humberto Gessinger, líder do grupo gaúcho Engenheiros do Hawaii, afirmou: “Putz... Segunda Feira Blues... RiP”.

O cantor Ritchie, do sucesso “Menina veneno”, foi outro comentar a morte de Celso Blues Boy: “R.I.P. Celso Blues Boy :(“.

Tico Santa Cruz, do Detonautas Roque Club, mencionou uma recente colaboração com o músico: “É com muita tristeza que recebo a noticia da morte de meu querido amigo Celso Blues Boy!! Muita muita muita! Nós fizemos o último disco dele”.

O guitarrista e vocalista do Ultraje a Rigor, Roger Moreira postou: “Noticia triste. Celso Blues Boy se foi...”.

Pelo Facebook, o cantor Leoni disse: “A Música Brasileira perdeu um de seus grandes nomes e eu perdi um amigo querido. Valeu, Celso Blues Boy!”.

Caetano Veloso faz 70 anos e ganha disco tributo de presente



Caetano Veloso, que completa 70 anos nesta terça-feira, é presenteado com o lançamento de um disco tributo inédito, uma homenagem que traz cantores de diversos países interpretando algumas de suas músicas mais clássicas.

Intitulado “A Tribute to Caetano Veloso”, o disco, que conta com 16 músicas assinadas pelo musico baiano, começa a ser distribuído hoje pela gravadora Universal Music.

Entre os convidados do disco aparecem: o uruguaio Jorge Drexler (“Fora da Ordem”), o espanhol Miguel Poveda (“Força Estranha”), a cantora portuguesa Ana Moura (“Janelas Abertas nº 2”), o americano Beck (“Michelangelo Antonioni”), a banda londrina The Magic Numbers (“You Don’t Know Me”) e Chrissie Hynde (“The Empty Boat”).

Marcelo Camelo, que interpreta “É de Manhã”, Seu Jorge, com “Peter Gast”, Os Mutantes, com “London, London”, e Mariana Aydar, com “Araçá Azul”, também fazem parte deste disco tributo.

A homenagem citada é a mais importante em uma data que Caetano decidiu não festejar publicamente.

Ao invés de celebrar seus 70 anos, o músico aproveitou para adiantar a gravação de um disco de músicas inéditas, que possui lançamento previsto para novembro.

Além do disco tributo, Caetano receberá outra homenagem da Academia Latina das Artes e Ciências da Gravação, que anunciou o cantor baiano como a personalidade do ano durante a cerimônia de entrega do Grammy Latino.


“Caetano Veloso se transformou em um verdadeiro embaixador da música e da cultura brasileira. É difícil encontrar alguém com tanto talento, paixão e dedicação a seus projetos criativos, tanto na música e nas letras como no social”, afirmou o presidente da Academia, Gabriel Abaroa, ao anunciar a homenagem há algumas semanas.

A Universal também festejou o aniversário do artista com o lançamento de uma página na internet, na qual toda sua discografia pode ser ouvida gratuitamente.

Aos 70 anos, Caetano continua bastante ativo. Além da gravação de um novo disco, o cantor, ao lado da família Caymmi, participará de um show de homenagem ao centenário do escritor Jorge Amado, que será realizado nesta sexta-feira.

Nascido no dia 7 de agosto de 1942 em Santo Amaro da Purificação, no interior da Bahia, Caetano teve sua carreira marcada pelo Tropicalismo, movimento que inovou a música brasileira em épocas de ditadura.

Diante deste contexto, o cantor teve várias músicas censuradas e chegou a ser acusado de subversão, sendo obrigado a se exilar em Londres por alguns anos.

Ele viveu no exílio em Londres de 1968 a 1972.

Nos anos 80, ampliou seu público. Gravou mais de 40 discos, publicou cinco livros, dirigiu um longa e ganhou vários prêmios.

Em 2003, participou da cerimônia do Oscar, em performance ao vivo com Lila Downs em “Burn It Blue”, do filme “Frida”, pelo qual recebeu a indicação de Melhor Canção Original.

No Grammy Latino, ele passa a integrar uma lista de homenageados que inclui Placido Domingo, Gloria Estefan, Julio Iglesias, Carlos Santana e Shakira, entre outros.