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terça-feira, dezembro 18, 2012

O dia em que Manaus foi Liverpool



Por Mário Adolfo

Liverpool – “Daqui em diante, nada de fotografias”, avisa o sorridente guia Collins Roll, um inglês sorridente que quando descobre que somos do Brasil ergue os pinhos e grita “Neymar”.

Depois do aviso, ele abre lentamente os portões de ferro da casa da Menlove Avenue, em Woolton, o bairro de classe média de Liverpool.

Você pode não acreditar, mas um grupo de nove emocionados amazonense estão entrando na casa de John Lennon, o ousado, carismático e imortal líder da banda The Beatles, que fez uma revolução no mundo sem disparar um tiro.
  
Depois de voar de Manaus para São Paulo, de São Paulo para Roma e de Roma para  Londres,  numa viagem de quase 18 horas, seguimos de trem para Liverpool, uma cidade portuária do noroeste da Inglaterra, que, graças ao seu porto foi considerada no passado “mais dinâmica que Londres”.

O dia é 9 de novembro de 2012. São 11hs da manhã e o termômetro registra 5ºC.


Eu, minha namorada Maria Raposo, meus filhos Mário Adolfo Filho, com sua mulher Mônica Mota, Marcus Vinícius Aryce, com sua namorada Natasha Omena, Adna Raposo, que viaja em companhia do filho Rafael Valentim e sua namorada Lívia somos levados por uma Van ao endereço famoso da Menlove Avenue.

Sir Collins explica que na simpática casa, Lennon foi criado por tia Mimi , irmã de Júlia, a mãe de John que resolveu não ficar com o filho porque seu novo namorado, Dicks, não aceitava o garoto.

O pai de John, Alfredo “Freddy” Lennon havia se separado de Júlia e desaparecido em Nova Zelândia.

Mimi, autoritária e conservadora tentou moldar John ao seu modo, com uma rígida educação, mas não conseguiu.

Quando Paul McCartney, ainda adolescente visitou o futuro parceiro, Mimi o obrigou a entrar pelas portas dos fundos, porque ele era filho de operários.


Ao abrir os portões, Collins comenta para os amazonenses.

– Para não contrariar Mimi, esteja ele onde estiver, vamos entrar também pelos fundos – avisa o guia, nos mostrando logo em seguida o muro que separava o quintal da casa do reformatório Strawberry Fields, para onde John Lennon pulava e passava horas brincando com os garotos nos jardins internos do antigo internato do Exército da Salvação.

Mais tarde, já famoso, o beatle reviveu esse tempo compondo a música autobiográfica em que recorda o tempo de infância, dando-lhe o  nome de “Strawberry Fields Forever”.

Encantados com a narraiva de Collins Call – que é traduziada simultaneamente por Rafael, Marcus e Mário –, estamos no interior da casa de Mimi.

Foi aqui, entre essas paredes, no sofá da sala, que John e Paul compuseram algumas de suas canções famosas, entre elas “Love Me Do”.

Foi aqui também que certa vez Tia Mimi jogou fora os poemas de John.

Revoltado, ele apenas responde que “um dia vou ser famoso e você vai se arrepender por ter feito isso”.

Foi ainda nesta casa que Lennon viu sua mãe Júlia retornar a seu convívio depois que ela se mudou para uma casa perto da casa de Mimi.

É ela que ensina o filho a tocar violão.

Mas, em 15 de julho de 1958, Júlia morre atropelada por um carro de um policial bêbado.

A partir daí John passa a adotar um comportamento rebelde e amargo.


No segundo andar, sir Collins nos apresenta o quarto de John.

Ainda estão colados nas paredes posters de Brigite Bardot e de Elvis Presley.

Sob a cama, rabiscos de desenhos e letras de poemas, que (a história agradece) não foram destruídos por Mimi.

Certa vez, acompanhado de Yoko Ono, Jonh parou o carro em frente à casa de sua infância.

Depois de contemplar o cenário de sua infância, disse à mulher: “Minha casa era aquela, mas não sei se anda posso entrar, pois ela não é mais nossa”.

Ano depois que o marido foi assassinado, em Nova York no dia 8 de dezembro de 1980, Yoko comprou a casa e doou para a National Trust, para que ela a explorasse turisticamente.

Revivendo a saga mítica dos 4 garotos de Liverpool


Naquele mesmo dia, o grupo de Manaus visitaria ainda a casa de Paul McCartney, localizada no 20 Forthlin Road, um bairro pobre habitado pela classe operária de Liverpool.

O pai de Paul, Jim McCartney, era um vendedor de algodão e a mãe, Mary, uma enfermeira. 

“Eu sempre pensei que Paul fosse de classe média alta, e John e menos favorecido socialmente”, comenta Adna Raposo, ao receber uma cópia em português com o resumo da infância de Paul na casa de Forthlin Road.

De acordo com a guia Myriam Roll (mulher de Collins), da National Trust, que hoje administra a casa, a antiga moradia do clã McCartney é a única que mantém as mesmas características de quando o beatle morou lá, entre 1955 e 1963.
  
Ao entramos na casa, vamos observando aos poucos vários detalhes da infância de Paul, fotos expostas sobre os móveis, ou em pequenos quadros de parede, instrumentos musicais, como piano e saxofone, já que os McCartney sempre foram muito ligados à música.

Conta Myriam Roll que Paul guarda belas e amargas lembranças da casa de sua infância.

Conta a guia que ali ele aprendeu a tocar os primeiros instrumentos, compôs a primeira música e viveu a sua primeira grande dor.

Aos 14 anos de idade, perdeu a mãe repentinamente, vítima de câncer.

Na lápide de Eleanor Rigby


Paul costuma visitar a casa quando está em Liverpool.

Certa vez, relata a nossa guia, foi convidado por um produtor para fazer umas fotos no local, mas reagiu:

– Não gosto de ir lá, A casa vive sendo visitada por turistas e quando eu chego gera o maior tumulto, querem autógrafos, fotos... Melhor não!

Mesmo assim o ex-beatle parou o carro com os vidros fechados a poucos metros da casa e ficou observando.

Logo um homem de meia idade bateu no vidro.

– Viu só, ele vai bem querer um autógrafo! – disse Paul, baixando os vidros.

O homem se inclina na janela e pergunta:

 – O senhor quer saber onde ele morava? É bem ali!

Às 14h30m, já sob o comando de uma terceira guia, Jackie Stencer, os beatlemaníacos amazonenses percorrem outro lugares históricos as saga mítica dos quatro rapazes de Liverpool: a histórica Penny  Lane, a rua famosa que inspirou a canção que fala sobre as coisas e as pessoas do lugar que marcaram a vida dos Beatles; a igreja de St. Peter, onde, no dia 6 de junho de 1956, Paul McCartney foi apresentado a John e ouviu pela primeira vez a banda The Quarrymen tocar; e, pasmem, estivemos no túmulo de “Eleanor Rigby”, a morta desconhecida que inspirou a canção de Paul.

A lápide com o nome Eleanor Rigby também está na lápide que aparece no clip “Free As A Bird”, conta a guia provado o que diz com a ajuda de um tablet mostrando o filme.

Uma noite no Cavern Club


O roteiro dos manauaras por Liverpool foi fechado com chave de ouro.

Uma noitada no The  Cavern Club, o lendário pub que registrou os primeiros passos da maior banda de todos os tempos – The Beatles.

Ali, entre junho e agosto, a banda tocou 30 vezes, fazendo até dois shows por dia.

Ao entrar no Cavern é quase impossível não sentir o mesmo que sentiu Brian Epstein, o empresário que assistiu os Beatles pela primeira vez em 9 de novembro de 1961, tocando naquele palco apertado .

“O interior do clube era escuro feito um túmulo, frio, úmido e malcheiroso”, relembrou o empresário.

De qualquer forma estamos no lugar histórico onde pisaram John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr.

O pub foi aberto em 1957, mas entrou para a história apenas em 1961, quando os Beatles ali fizeram uma primeira apresentação e acabaram por se tornar uma das bandas da casa.


Depois de descer dois lances de escadas, finalmente estamos diante do palco histórico e de vitrines que exibem a bateria de Ringo, a guitarra de John e George e o famoso contrabaixo de Paul.

Como não foram apenas os quatro que fizeram sucesso no Cavern, também podemos observar fotos de outros astros do rock, como Jimi Hendrix, Fred Mercury e Eric Clapton. 

Com o preço da cerveja a 2,5 libras, a aventura na casa dos Beatles acaba se tornando uma longa jornada noite adentro.

Para alegria de todos nós, beatlemaníacos, bandas cover se revezam no palco, nos transportando para a época que inspirou e influenciou os garotos de Liverpool. 









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