Pesquisar este blog

sexta-feira, dezembro 21, 2012

Pérolas musicais para celebrar o fim do mundo



Por Claudio Campos

The Gathering é uma banda holandesa de trajetória única, embora muitos grupos como eles se iniciaram também no Doom Metal e foram mudando de estilo com o passar dos anos.

No caso deles, em vez de irem para o pop ou rock progressivo, preferiram fazer uma interessante mistura de trip hop, rock alternativo e rock progressivo.

Porém, a evolução do estilo musical, coincidência ou não, ocorreu de acordo com as mudanças de vocalistas.

De início, na época em que praticavam o Doom Metal, havia vocais guturais com o vocalista Bart Smits (“Always…”,1992), depois o reforço com a primeira cantora da banda, Martine van Loon, e outro cantor, Niels Duffhuës (“Almost a Dance”, 1993), e, por fim, Anneke van Giersbergen, responsável pela popularização da banda e as influências de trip hop.

Depois dos longos anos de sucesso com Anneke (de 1995 a 2007), que saiu da banda para iniciar uma carreira solo, a difícil tarefa de substituí-la caiu nas mãos da norueguesa Silje Wergeland (ex- Sperati Octavia), que mesmo seguindo à sombra do estilo de Anneke no álbum “The West Pole” (2009), focou o estilo musical da banda com um apelo mais para o rock alternativo e progressivo.


Agora The Gathering lança “Disclosure”, segundo álbum com Silje Wergeland e décimo da discografia da banda.

Desta vez, eles conseguem trazer outras influências para o grupo – e temos uma banda se afastando cada vez mais da era Anneke van Giersbergen.

A primeira faixa é “Paper Waves”, com sua atmosfera serena e voluntariamente mais leve.

Em seguida, “Meltdown” e sua forte influência eletrônica.

No entanto, o que surpreende nesta música é que o tecladista Frank Boeijen (que escreveu a maioria das músicas) começou a cantar, dividindo o vocal com Silje.

“Heroes For Ghosts”, com seus 11 minutos, é outro destaque.

Embora um pouco arrastada, porém percebe-se acentos de Anneli Drecker (“Bel Canto”), uma pérola, provavelmente uma das obras primas do grupo.

“Missing Seasons” se destaca pelo uso de cordas (violino e violoncelo), enquanto “Gemini II” é calma e serena.

Não há mudanças radicais, e como sempre, a banda evolui lentamente.

O fato é que The Gathering não perdeu o fogo sagrado e se mantém, sem muita dificuldade, como uma das melhores bandas holandesas.

Laurel Halo contra o marasmo pop


Explorar várias modalidades da música eletrônica como o house, ambient, dub e até mesmo dream pop, é o que propõe Laurel Halo, um exemplo daqueles músicos que rejeitam a inércia que tomou conta da atual música pop e tenta mudar essa situação, criando música que além de ser um veículo de expressão pessoal, tenta proporcionar uma reflexão subjetiva.

Artistas recentes, como Oneohtrix Point Never, Tim Hecker, Andy Stott e How To Dress Well, entre outros, são alguns exemplos de gente que quer acrescentar algo novo e discursivo na música pop.

A cantora Laurel Halo se junta a eles com o lançamento de seu primeiro álbum através do selo Hyperdub.

Em “Quarantine”, Halo, de apenas 24 anos e natural de Michigan, lida com o conceito de confinamento e alienação, mas com uma rota possível de fuga da distopia atual em que vivemos e nos coloca como meros números que vivem simplesmente para o consumo.


A busca da fusão homem-máquina não é nova, porém, no geral, oferece uma perspectiva romântica em coexistência com tecnologia moderna.

“Quarantine” parece uma proposta de um novo som, uma nova trilha sonora para a ficção científica, com uma vaga sensação de que as coisas vão funcionar, eventualmente, apesar de seu som claustrofóbico a meio caminho entre o orgânico e o plástico.

Uma interação de elementos biológicos e humanos com cabos, circuitos e chips em um espaço confinado.

Um casamento perfeito entre máquina e humanos.

Até mesmo a voz de Halo é muito coerente com as intenções do disco.


As músicas “Carcass”, “Years” e “MK Ultra” (fazendo referência a um projeto secreto do governo dos EUA na década de 50 para controlar o comportamento humano através de medicamentos e métodos de tortura) são os exemplos de desconforto que o disco expele.

Por outro lado, Halo também injeta muitas passagens de sons delicados e agradáveis como a delicada e etérea introdução do álbum “Airsick”.

“Thaw” também se destaca por seu arpejo calmo, que progressivamente invade o ambiente com um colorido arsenal de brilhantes sons de lenta oscilação.

“Quarantine” é pop-art futurista, também conflituoso, ambivalente, complexo.

Ela sabe que esta é a situação em que nos encontramos e se propõe a explorá-la sonoramente.

Nenhum comentário: