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sexta-feira, julho 27, 2012

Cadê o Marius Bell?



Provavelmente todos nós já estamos familiarizados com as técnicas de bodypainting, principalmente durante os bailes de carnaval em exclusivíssimos ambientes fechados, cujo nível de criatividade lembra vagamente Sodoma e Gomorra antes da visita dos arcanjos.

No entanto, há que se separar o uísque da cachaça: há as pinturas dos artistas de rua que são feitas no carnaval para mostrar aos amigos de suruba e há aquelas pinturas com potencial de se elevarem à categoria de arte.

Craig Tracy é claramente um dos segundos casos.


Ele nasceu e cresceu em Nova Orleans (EUA), onde os corpos pintados durante o Mardi Gras (o carnaval de Lousiana) o inspiraram, desde criança, a se tornar artista plástico.

Aos 16 anos, já trabalhava como ilustrador em um shopping center da cidade e, depois de se formar em Belas Artes, continuou atuando na área por alguns anos, até abandonar a carreira por achar que ela tirava o sentido de sua arte.

Filho de pais hippies, apaixonado por pintura corporal, Tracy começou a se dedicar à técnica e levou alguns anos até que se levasse a sério – e levasse a arte a sério.

Em sua obra, Tracy busca unir algumas de suas paixões: a forma do corpo feminino e a arte de pintar sobre ele.


Com esta obra, do início da carreira, o artista teve certeza de que estava no caminho certo para se expressar artisticamente.

A paixão dele cresceu tanto, que Tracy se tornou um colecionador de obras de arte de pintura corporal.


Esta obra foi inspirada pelo filme Beleza Americana.

O artista quis eternizar o vermelho sobre o corpo da modelo.

Nesta outra obra há, na verdade, duas modelos.


O olho do animal é pintado sobre o seio de uma delas, enquanto a mão de sua irmã forma o nariz da fera.

Calhou de a modelo trazer sua irmã para o estúdio e ela, literalmente, deu uma mão.


Tracy afirma que a forma da modelo – em particular sua diminuta cintura – inspirou esta obra.

Todas as sombras foram pintadas no corpo da modelo – nenhuma luz foi usada na foto – e além do branco e preto, o artista usou algumas cores.


A natureza é também uma das paixões do artista, que começou pintando animais nos corpos femininos.

Aqui, ele manteve as “imperfeições” da pintura.

Craig leva cerca de 24 horas para completar suas pinturas em estúdio e fotografá-las.


Nesta obra, Tracy quis mostrar que o sol visto do fundo do mar – como visto pelos mergulhadores – é muito mais interessante.

O artista – que trabalha com o volume do corpo feminino – encaixa suas modelos sobre um fundo para finalizar o quadro.


Tracy conta que essa pintura – representando um caleidoscópio – foi a que demorou mais tempo na pré-produção, já que ele teve que encomendar uma plataforma para posicionar a modelo.

A posição da modelo também dificultou o processo.


Em 2006, ele abriu a primeira galeria de arte do mundo especializada em pintura corporal.

A galeria, em Nova Orleans, tem fotografias, gravuras em papel e tela, além de livros e vídeos sobre o processo de pintura corporal.

Além disso, ele dá palestras semanais sobre o tema.

Porra, Marius Bell, o que você está esperando para fazer o mesmo?



















Quase milionário, pintor de nove anos ganha retrospectiva



Com apenas nove anos, Kieron Williamson já é um artista consagrado – e agora caminha para ser um milionário.

Na semana passada, 24 de suas pinturas foram vendidas por um total de 250.000 libras (cerca de R$ 790.000), durante um leilão.

A informação foi publicada no site do jornal Daily Mail.

“Kieron Williamson, de Nortfolk, teve suas pinturas de paisagens arremadas via telefone e internet por compradores do mundo em apenas 15 minutos durante uma venda”, afirma o texto, após dizer que Kieron recebeu o apelido de “mini Monet”.

“O jovem só começou a pintar durante uma viagem de família para Devon e Corwall em 2008 – antes, ele apenas pintava dinossauros que seus pais desenhavam para ele.”

Há cerca de dois anos, Kieron faturou R$ 474 mil num leilão em que vendeu todos os seus quadros em meia hora. Na época, o trabalho do menino o levou a ser chamado de “o novo Picasso”.

Na época, o seu pai declarou à agência Reuters que, no início da carreira, o jovem artista “acordava todas as manhãs às 6h, e nós acordávamos ouvindo o tilintar dos vidros de geleia com as tintas. E ele ainda é assim”.


Nesta semana, uma exposição na cidade de Holt, na região britânica de Norfolk, mostra ao público uma retrospectiva de seu trabalho.

A exposição, na galeria Picturecraft, reúne mais de 100 obras, incluindo os primeiro quadros de Kieron, feitos quando ele tinha apenas cinco anos.

Na abertura da exibição, no dia 20, também foi lançado o livro “Kieron Williamson: Coming to Light”, em que os pais do menino contam sua trajetória.

Mas Kieron se importa com dinheiro?  “Não”, diz ele. “Mas eu gosto, um pouquinho.”

Descoberta


O talento de Kieron foi descoberto por seus pais durante umas férias da família na Cornualha, quando o garoto tinha apenas cinco anos. Desde então, só se aprimorou.

– Meu estilo mudou – ele declarou em 2010, quando obteve destaque em jornais britânicos por fazer sua primeira grande venda, no valor de 150.000 libras (R$ 474 mil).

Desde então, Kieron tem recebido centenas de pedidos de pessoas que querem uma pintura sua, inclusive celebridades e membros da família real.

– Não tenho pintado muito, mas acho que meus quadros estão melhores do que eram – diz Kieron, sentado em seu estúdio de arte em sua casa nova, em Ludham. “Meu estilo mudou e eu agora tenho todos os meios (para pintar).”

Suas paisagens, já impressionantes há dois anos, hoje têm uma grande quantidade de detalhes. Os óleos, aquarelas e pastéis mostram uma certa maturidade.

Para Kieron, seu melhor quadro é uma paisagem da cidade de Wells sob a névoa.

– Ela mostra um barco de pesca e outros barcos destacados pela luz, mas você não pode ver o horizonte por causa da névoa – diz Kieron, que diz não querer vender esse quadro.

Experimentação


Em geral, Kieron retrata paisagens, mas em seu mini-estúdio também há pinturas feitas para experimentar novos temas e técnicas. “Estou pintando mais cavalos e pessoas”, diz. “Fiz essa pintura de um homem colhendo algas. Minha mãe tirou uma foto dele e eu fiquei inspirado para pintá-lo.”

Kieron conta que costuma procurar fotos para pintar na internet antes de ir para a escola. “De vez em quando, penso sobre a imagem na escola – fico com ela na cabeça”, afirma.

A mãe Kieron, Michelle diz que o talento natural do garoto surpreendeu a todos. “Se você me dissesse há cinco anos, onde estaríamos hoje, não teria acreditado”, diz ela.

– Quando ainda era bebê, Kieron disse que seria famoso, mas não esperava que alcançasse tudo isso, para ser sincera. Ele tem a coragem e determinação do pai.

Segundo Michelle, o contador da família disse que o garoto ainda não é milionário, mas esse patamar deve ser alcançado a qualquer momento. “Ele é um garoto de sorte”, diz.






quarta-feira, julho 25, 2012

Bansky desafina o coro dos olímpicos



Londres é uma das principais cidades do mundo para ver street art, mas, com as Olimpíadas, esse traço cultural está ameaçado.

Vários desenhos têm sido apagados e grafiteiros chegaram a ser presos e proibidos de circular pelas áreas de competições até o final do evento esportivo.

Esse controle feito pelas autoridades foi desafiado pelo artista anônimo Banksy.


Em três imagens em estêncil feitas nas ruas de Londres, ele criticou os Jogos.

Em uma das obras, retratou um atleta que, em vez de um dardo, lança um míssil.

Em outra, um esportista usa uma vara para saltar uma grade e, na terceira imagem, uma criança costura bandeirinhas usadas na decoração de Londres.


As imagens, reproduzidas em seu site, seguem a mesma linha de trabalho adotada por ele, carregada de crítica social e política e de contestação.

Como ninguém sabe como Banksy é fisicamente, nem seu nome verdadeiro, ele consegue evitar punições como a sofrida por Darren Cullen.

Segundo o Guardian, esse artista de 38 anos já fez trabalhos para a Adidas, patrocinadora das Olimpíadas, e nunca fez grafite em locais não autorizados, mas, na semana passada, sofreu com a política “preventiva” contra danos criminosos.

Cullen foi preso e impedido de transitar a uma distância menor do que uma milha (1,6 quilômetro) de qualquer instalação olímpica, e ainda foi proibido de portar qualquer instrumento de pintura.


No entanto, o anonimato de Banksy não impede que a polícia apague as obras, como tem feito com várias imagens como a intitulada “Clown Town”, do grafiteiro Mau Mau.

O desenho mostrava um palhaço com as mesmas características do mascote do Mc Donald’s carregando uma tocha da Coca-Cola, com o peito estampado por marcas patrocinadoras do Jogos e o bolso cheio de dinheiro.

Mantra Novo



por João Marcos Coelho

Não é exagero afirmar que o encontro do citarista indiano Ravi Shankar, em 1966, com o violinista norte-americano Yehudi Menuhin, no visionário LP West Meets East, alterou os rumos da história da música.

Naquele momento, duas tradições se colocavam frente a frente.

Num genial corte e costura, Shankar selecionou fragmentos da música clássica ocidental e os integrou a sua maneira. Menuhin fez o mesmo, do outro lado.

O resultado ficou orgânico, quebrou paradigmas e em nada lembra uma colcha de retalhos.

Shankar logo se tornou um guru para gente como o compositor norte-americano Philip Glass, que aos 28 anos estudava com a mítica professora Nadia Boulanger em Paris, o beatle George Harrison, que já era célebre, mas renasceu musicalmente aos 23 anos, depois do encontro com o indiano, em 1965, e o saxofonista de jazz John Coltrane.

Esse último se deixou mesmerizar pelos ragas de Shankar, os diversos tipos de escalas usados para compor e improvisar.

A Glass, o citarista mostrou os talas, estruturas de ritmo repetitivo que se tornariam uma das bases do minimalismo – o estilo erudito contemporâneo que privilegia a repetição hipnótica de melodias e acordes, com modificações quase imperceptíveis.

Para Harrison, o mestre abriu um novo mundo, e o legendário álbum dos Beatles Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band não existiria sem os ragas.

Coltrane morreu em 1967, Menuhin em 1999 e Harrison em 2001. Já Shankar, aos 92 anos, está em plena atividade.

Sua primogênita, a cantora Norah Jones, cresceu longe dele.


Mais próxima, Anoushka, a caçula, revelou-se uma virtuose da cítara.

É ela quem brilha na mais recente façanha do pai, Sinfonia, peça de 41 minutos gravada com a Filarmônica de Londres e lançada agora em CD.

O modelo formal remete ao da sinfonia clássica: allegro, lento scherzo e finale.

As semelhanças, no entanto, param por aí.

Os ritmos e as escalas modais comandam uma música orquestral envolvente.

Há afinidades com Glass, é verdade. Aqui e ali também se ouvem ecos da pegada sutil de Harrison, sobretudo nos momentos de destaque da cítara. Mas atenção: o guru é Shankar.

Sua criação soa incrivelmente interessante, mesmo sendo uma continuidade do movimento que iniciou há mais de meio século.

Ele diz que “o propósito da música indiana é levar o ouvinte a um reino de consciência, em que a revelação do verdadeiro sentido do universo pode ser vivida com alegria”.

Para o maestro David Murphy, que regeu a orquestra britânica nessa bela interpretação, a obra é “uma jubilosa experiência de som melodioso, ritmicamente marcado e multifacetado”.


João Marcos Coelho é crítico de música do jornal O Estado de S.Paulo

terça-feira, julho 24, 2012

Quadrophenia ao vivo e a cores



Pino Palladino, Pete Townshend e Roger Daltrey

A lendária banda de rock The Who anunciou na última quarta-feira, 18, sua primeira turnê pela América do Norte em quatro anos, apresentando toda a ópera-rock Quadrophenia e outros hits memoráveis.

Os fundadores Roger Daltrey e Pete Townshend, acompanhados de Zak Starkey, Pino Palladino, Simon Townshend, Chris Stainton, Loren Gold e Frank Simes, começam a turnê em 1º de novembro, na Flórida, fazendo seis semanas consecutivas de shows.

Uma segunda etapa vai do final de janeiro ao fim de fevereiro.

O The Who é uma das bandas que fizeram a “Invasão Britânica” dos Estados Unidos na década de 1960, depois do enorme sucesso dos Beatles.

A formação original tinha Keith Moon na bateria e John Entwistle no baixo (ambos já morreram).

O quarteto emplacou sucessos como “My Generation” e “I Can See For Miles”, e, como muitas bandas da época, experimentou com novos estilos, o que levou à sua primeira ópera-rock, “Tommy”, de 1969, sobre um menino surdo, mudo e cego que é um ás no fliperama.

Gravado em 1973, “Quadrophenia” é considerado uma obra prima da música pop.

O enredo do disco conta a história de um jovem tendo de amadurecer à força em uma Inglaterra hostil.

Entre as canções mais conhecidas do disco estão “5:15” e “The Real Name”.

Nesta terça-feira, 24, cinemas de várias partes dos Estados Unidos exibirão em sessão única o documentário “The Who: Quadrophenia – Can You See The Real Me?”, sobre a criação desse álbum clássico.


Durante o anúncio da nova turnê nos EUA, o guitarrista Pete Towshend fez piada com o rolling stone Mick Jagger.

Ao lembrar uma referência feita por Keith Richards em sua autobiografia – de que Jagger tem um membro “minúsculo” –, Townshend contradisse o guitarrista dos Rolling Stones.

“O que eu lembro sobre o pênis de Mick Jagger é que era enorme e extremamente delicioso”, disse Townshend.

Diante das gargalhadas do colega de banda Roger Daltrey, Townshend disse que não se lembra “de nada sobre o pênis de Roger Daltrey. E nem me arriscaria a mencionar aqui. Vamos esperar que chegue à internet.”

O vocalista do The Who é considerado um dos três superdotados penianos do rock, ao lado do iguana Iggy Pop e do falecido Jimi Hendrix.

Bob Dylan e Mark Knopfler anunciam turnê conjunta



O cantor Bob Dylan planeja realizar uma turnê pelos Estados Unidos ao lado do britânico Mark Knopfler, após o lançamento do 35º disco do americano, “Tempest”, que está marcado para 11 de setembro e coincide com a comemoração dos 50 anos de carreira do artista.

Dylan, que esteve em viagem pela Europa e tem 22 shows marcados entre agosto e setembro nos EUA, prevê acrescentar em seu concorrido calendário 26 apresentações entre outubro e novembro, desta vez com a presença de Knopfler. 

A informação está disponível nas páginas de ambos na internet.

O tour em conjunto, que deve começar em 5 de outubro, será o quarto no qual Dylan e o guitarrista do grupo britânico Dire Straits tocarão juntos. 

A turnê deve terminar em 13 de novembro.

Os veteranos da música poderão somar a ampla bagagem de temas clássicos a um repertório renovado, já que ambos lançarão discos novos em setembro.

O novo álbum de Dylan chega após o recente lançamento de “Chimes Of Freedom”, um trabalho que recolhe as versões que artistas célebres como Adele, Sting e Elvis Costello fizeram das canções do consagrado compositor americano.

Já o ex-guitarrista dos Dire Straits, de 62 anos, prevê para o dia 3 setembro a estreia o álbum duplo “Privateering”, o sétimo trabalho de sua carreira solo.

A dupla já trabalhou junta em dois discos de Dylan, “Slow train coming”, de 1979, e “Infidels”, de 1983, e fez uma turnê pela Europa ano passado.

Brasil: entre o mar tenebroso e a tranquilidade enganosa



Por Enio Squeff - de São Paulo

Do Oiapoque ao Chuí há uma cultura chamada “popular” que está tão longe da mídia quanto das academias. O Brasil, nas suas profundezas, talvez esteja gerando algo, não se duvide. E se não será previsto pela grande imprensa, é porque nunca, desde que ela começou a existir, foi ela a detectar certos caminhos da história.

Quem sabe seja apenas uma pretensão imaginar que vivemos um período de ruptura, “como nunca antes na história deste país.” Ao tentar explicar a inacreditável resistência dos vietnamitas à agressão dos EUA, (desde bem antes, o país mais poderoso do mundo), um observador chamava a atenção para o rio Mekong – o caudal mais importante do Vietnã: ele seria plácido na superfície, quase um lago em sua película visível, mas extremamente agitado, com fortes correntes nas suas profundezas. O rio explicaria a serenidade de um povo pobre, mas inacreditavelmente aguerrido.

Quase nada do Brasil de hoje sugere, a propósito, algo de revolucionário sob um mar de tranquilidade. A longuíssima greve dos professores universitário federais tem recebido o tratamento como qualquer outra, em tempos de governos conservadores, ou seja, nenhum diálogo, só a reiteração de que a proposta do Planalto é a última – uma platitude sem alvoroços, tanto pela determinação dos grevistas de persistirem em seu movimento, quanto do governo de não transigir em mais nada.

Na cultura artística parece se dar o mesmo. O que se sabe é o que a grande mídia divulga: nada mais – ou menos – que os sucesso que ela mesma engendra. No entanto, talvez estejamos vivendo sobre um Meckong: sabemos dos grafiteiros – e pichadores – que estão transformando as fachadas edificadas das grandes cidades. Temos vagas notícias de que as festas juninas do nordeste são eventos que mobilizam milhões.


Do Oiapoque ao Chuí há uma cultura chamada “popular” que está tão longe da mídia quanto das academias. E a polícia, principalmente a paulista, de tanto ouvir de parte da população e dos programas televisivos que ”com bandido, é só matando”, sabemos que estaria apenas seguindo à risca a cultura brasileira da violência. Já não nos espanta que a eventual desatenção a uma ordem de parada da polícia militar, mereça menos que vinte tiros de grosso calibre ao previsível infrator.

Que isso tem a ver com a cultura artística?

Entre os muralistas mexicanos da primeira metade do século XX – Diego Rivera, Siqueros, Orozco – tudo era motivo para que lançassem a suas tintas nos grandes painéis públicos. O húngaro Bela Bartok – talvez o maior compositor do século XX – encontrava na arte popular da Europa Central e parte do oriente médio, um manancial inesgotável. Tinha para si que o povo, na sua criatividade espontânea – mas certamente permeado também pela incipiente cultura industrializada do seu tempo – era uma matéria prima sempre disponível. Em síntese: apesar dos críticos – ou por isso mesmo – a arte, a grande arte, parece ser uma torrente invisível que corre turbilhonante a despeito das águas plácidas das superfícies do mundo.

Não que o mundo esteja estagnado. Não se sabe de que forma as artes, na Europa, responderão às greves, ao racismo explícito, ou antes, ao renascimento do nazismo, de um novo o anti-semitismo (mas agora contra os árabes), e, enfim, mas sobretudo, como será vista, no futuro, a resposta artística ao cinismo estarrecedor dos governos que, ao reconhecerem que os banqueiros mentem e mentiram, nem de longe se dispõem a acabar com o subsídio escandaloso ao capital financeiro.

Há quase o mesmo no Brasil. Ao menor sinal de crise na suinocultura, o governo se apressa em liberar dinheiro. Quanto às universidades, nada. São, por enquanto, mini terremotos localizados: não se sabe com que tintas e cores, esses pontuais abalos irão colorir paredes e telas, e com que palavras e imagens, poemas, romances, peças de teatro e filmes transparecerão do período em que vivemos. Por enquanto, os ecos de 1968 parecem ser a data limite das últimas rebeliões visíveis de nosso passado imediato. No entanto, o futuro certamente não irá consignar as coisas da mesma maneira.

Woody Allen pespega bem a inconsciência que as épocas têm de si mesmas, não obstante o revolucionarismo embutido nas artes e nos acontecimento. Em seu “Meia Noite em Paris” há um diálogo entre o personagem principal e Toulouse-Lautrec numa bem pensada – e maravilhosa – cena de volta aos tempos. O personagem do século XX fica tão espantado quanto nós, os espectadores, quando o Toulouse-Lautrec assevera que a “Belle Époque”, dos impressionistas (a qual hoje veneramos, como o princípio da modernidade) seria, para ele e seus companheiros de luta, uma época estéril e decadente.


Dos que conhecem um pouco a história da arte, lembra-se que, como no filme, se nos fosse dado estar ao lado de Van Gogh em seu leito de morte, talvez não lográssemos convencê-lo de que, ao contrário do que ele dizia em seu delírio de moribundo – sua obra seria fundamental para o futuro. A arte, na modernidade e para os que a vivem, parece ser sempre um Mekong. Só que a realidade não se afigura muito diferente. Essa a questão do Brasil atual.

Na atualidade, consideramos como muito bem vindas as administrações das crises e as manifestações artísticas que consignamos à “vanguarda”. Talvez o que consideramos à frente do nosso tempo, seja justamente o que o futuro irá julgar o mais datado e sem interesse algum. Certas constatações parecem irretorquíveis: a ideia, por exemplo, de que a iniciativa privada iria provir a arte brasileira de meios para se expressar, continua relativamente uma ideia mais escassa do que no tempo dos modernistas de 22. Quanto ao caráter “revolucionário” da arte em si mesma, tudo parece se resumir a um esforço inútil de apenas “épater les bourgeois” como se dizia antigamente.

Haverá sem dúvida, e paradoxalmente, algo mais do que simples aviões “de carreira” no horizonte cultural do Brasil. O “nunca na história deste país” talvez pareça e é uma frase de efeito. Mas o Brasil, nas suas profundezas, talvez esteja gerando algo, não se duvide.

E se não será previsto pela grande imprensa, é porque nunca, desde que ela começou a existir, em momento algum, foi ela a detectar certos caminhos da história. Talvez ainda se diga e repita nos cursos de jornalismo que os jornalistas serão os primeiros a anunciar o fim do mundo. Definitivamente, não parece que serão eles os primeiros a fazê-lo: eles parecem ignorar que a realidade do Mekong é sempre mais embaixo.


Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

sexta-feira, julho 20, 2012

Pro baixista Delcimar Bezerra, que era fã do homem!



Jon Lord, tecladista e cofundador do grupo de rock britânico Deep Purple, morreu em um hospital de Londres aos 71 anos, informou seu site oficial na última segunda-feira.

“É com profunda tristeza que anunciamos o falecimento de Jon Lord, que sofreu uma embolia pulmonar fatal, hoje, segunda-feira, 16 de julho, no Clinic de Londres, após uma longa batalha contra o câncer de pâncreas. Jon estava cercado por sua amorosa família”, segundo a mensagem no site.

Virtuoso e prolixo, ele foi pioneiro na fusão do rock com a música orquestral e ficou conhecido por produzir ao lado de Ian Gillan (principal vocalista do Deep Purple) o lendário Concerto for Group and Orchestra, espetáculo de música clássica tocada pela banda e a Orquestra Filarmônica Real de Londres, em 1969.

A apresentação, conduzida por Malcolm Arnold, foi repetida em 1999, no Royal Albert Hall, desta vez pela Orquestra Sinfônica de Londres. O concerto ainda rendeu um disco e turnê mundial, que passou pelo Brasil em 2000.

Entre suas composições com o Deep Purple estão as clássicas “Smoke On The Water”, “Chasing Shadows”, “Highway Star”, além de ser responsável pelo riff de “Child In Time”.

Segundo o site oficial do artista, Lord estava acompanhado pela família no momento de sua morte. O músico, que deixou o Deep Purple em 2002, revelou sofrer de câncer em agosto do ano passado.

“Gostaria que meus amigos, seguidores e fãs soubessem que estou lutando contra o câncer e, por isso, farei uma parada em minha carreira enquanto faço o tratamento para buscar a cura”, disse o músico na época.


Jon Lord nasceu em plena Segunda Guerra Mundial, em Leicester, na Inglaterra, em 9 de junho de 1941.

Aos 5 anos, ele começou a ter aulas de piano clássico. Rapidamente, aprendeu o repertório de Bach e também temas pop.

Aos 19 anos, sonhando se tornar um ator, recebeu uma bolsa de estudos em Londres, para onde se mudou.

Ao mesmo tempo, começou a tocar em pubs, apresentando um repertório que misturava jazz e rhythm and blues, influenciado por músicos como Jimmy Smith e Jerry Lee Lewis, antes mesmo de adquirir seu primeiro órgão elétrico.

A carreira de ator foi ficando para trás enquanto Lord ia fazendo currículo com bandas como The Artwoods e Santa Barbara Machine Head, nas quais o órgão Hammond (instrumento que adotara como o seu preferido) já se destacava, conduzindo as músicas.

Em 1968, formou o grupo que o tornaria famoso, o Deep Purple (inicialmente chamado de Roundabout), ao lado do baterista Ian Paice e do guitarrista Ritchie Blackmore.

No mesmo ano, o grupo gravou o seu primeiro disco, “Shades of Deep Purple”. Depois vieram “The Book Of Taliesyn” e “Deep Purple”.


Mas foi só com a entrada do vocalista Ian Gillan e do baixista Roger Glover, em 1969, que o Deep Purple começou a chamar a atenção.

Lord teve papel fundamental no disco “The Concerto for Group and Orchestra”, com a participação da Royal Philharmonic Orchestra, numa fusão de rock e sons clássicos que marcaria o chamado som progressivo dos anos 1970.

No trabalho seguinte, porém, o Deep Purple deixava a conexão sinfônica de lado e, com “In Rock”, criava os pilares do hard rock, através de músicas como “Speed King” e “Into The Fire”.

A participação de Lord foi marcante em outro momento marcante do disco, “Child In Time”.

Ao lado do Led Zeppelin e do Black Sabbath, o Deep Purple se consagraria naquela década também como um dos precursores do heavy metal, em particular graças ao álbum “Machine Head”, de 1971.

Gravado num estúdio improvisado na Suíça, após um incêndio, ele gerou outros hits eternos do grupo, como “Highway Star” e “Smoke On The Water”.

Com essa formação, considerada até hoje “clássica” pelos fãs do grupo, o Deep Purple ainda gravou os discos “Who Do You Think We Are” e o ao vivo “Made In Japan” (ambos em 1973).

Depois disso, a banda passou por diversas mudanças internas, até o seu fim, em 1976, com Lord e o baterista Paice se mantendo em todas as formações.


Com o vocalista David Coverdale (ex-Purple), Lord ainda participou do grupo Whitesnake.

O Deep Purple ainda renasceria em 1984, com o tecladista, até Lord definitivamente encerrar suas atividades com a banda, em 2002.

Entre 1969 e 2011, Lord lançou 19 álbuns de música orquestral, solo ou ao lado do Deep Purple, sendo o último Jon Lord Live (Bucharest 2009).

Nos últimos tempos, ele participou do projeto Who Cares, ao lado de Ian Gillan, Tony Iommi, Jason Newsted e Nicko McBrain, entre outros.

Gravou apenas um single, “Out Of My Mind”. O dinheiro arrecadado com as vendas do CD foram usados em um projeto beneficente.

Ainda em 2009, o músico apresentou o Concerto For Group And Orchestra na Virada Cultural de São Paulo.

Na ocasião, o regente Rodrigo de Carvalho conduziu a Orquestra Sinfônica Municipal ao seu lado.

De grande contribuição à música, Lord foi condecorado em 2010 como membro honorário da Stevenson College, nos Estados Unidos.

Casado com Vickie, irmã gêmea de Jackie, esposa do baterista Ian Paice, ele deixa duas filhas.