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quarta-feira, junho 19, 2013

Livro de historiador expõe contradições de Malcom-X


Capitalismo e racismo andam juntos na história. Discriminações servem para dividir e oprimir grupos. Poucos personagens sorveram dessa realidade de forma tão radical quanto Malcolm X.

De pregador do ódio racial, ele se transformou em liderança pelos direitos humanos, afrontando o poder do governo norte-americano.

Era o período da Guerra Fria, e Malcolm passara a defender os países do Terceiro Mundo e a flertar com as ideias socialistas.

Percorrera a África e o Oriente Médio, enterrando o sectarismo cego que o marcara até então.

Já não satanizava os brancos nem advogava a criação de um Estado negro separado.

Os meandros dessa transformação são dissecados pelo historiador norte-americano Manning Marable em “Malcolm X, uma Vida de Reinvenções”, obra vencedora do prêmio Pulitzer de 2012, que está sendo lançado no Brasil pela Companhia das Letras.

Diferentemente de Martin Luther King, fruto da pequena burguesia instruída e endinheirada de Atlanta, Malcolm X veio do gueto urbano moderno: vivenciou a pobreza, a falta de emprego, a violência, a segregação.

Na juventude, meteu-se em arrombamentos, roubos, furtos, prostituição. Lavou pratos e vendeu maconha.
Preso, virou muçulmano.

“O crescimento econômico do pós-guerra tinha deixado muitos afrodescendentes para trás”, escreve Marable.

Malcolm incorporou a cadência do jazz ao seu estilo de oratória e levou multidões a aderir ao islã e a protestar contra a violência policial.

Leitor voraz a partir do tempo de cadeia, fazia discursos sobre o legado da escravidão, atacando o cristianismo e o governo dos EUA.

Seguindo a trajetória do líder, o historiador aponta também suas escorregadelas em entrevistas e seus erros estratégicos.

Malcolm chegou a ter encontro com a Ku Klux Klan.

O autoritarismo do seu grupo islâmico e a seita de supremacia branca eram lados de uma mesma moeda: racismo e segregação.

O pensamento de Malcolm deu um giro quando se aproximou dos embates de seus seguidores e conheceu outras experiências de luta pelo mundo.

Marable observa que o líder percebeu que só teria êxito “se se juntasse ao movimento de direitos civis e outros grupos religiosos para uma ação conjunta. Não se podia simplesmente deixar tudo por conta de Alá”.

Arrependido de ter ridicularizado King em discursos no passado, Malcolm o cumprimentou.

O aperto de mãos traduziu a mudança: o líder rebelde trocava a violência pela batalha do direito ao voto.

“União é a religião certa”, declarou. E se autodefiniu: “Não sou antibranco, sou antiexploração e antiopressão”.

O historiador afirma que Malcolm tornou-se “uma ameaça ainda maior” para o governo dos EUA após o seu rompimento com a Nação – o grupo islâmico de características xiitas que abraçara na cadeia.

O livro, rico em análises, faz uma descrição minuciosa do até hoje não esclarecido assassinato de Malcolm, em 1965.

Quatro horas após o crime, o palco onde ocorrera o delito estava lavado para um baile de aniversário.

Marable compara Malcolm a Che Guevara e cita as influências do líder no movimento Black Power e em músicos como John Coltrane.

O autor conta que começou a trabalhar na biografia no final dos anos 1980.

Desconstruindo a “autobiografia” de Malcolm, percebeu exageros.


Marable concluiu o livro pouco antes de morrer, em 2011.

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