Pesquisar este blog

quarta-feira, junho 19, 2013

Sociólogos descartam comparação com Primavera Árabe


A onda de protestos realizada em inúmeras cidades brasileiras é motivada por uma sensação de “mal-estar coletivo”, compartilhada em especial pela juventude das grandes cidades.

O fenômeno, para muitos sociólogos, é mais social do que político e concentra-se nas regiões metropolitanas, onde as sucessivas políticas públicas executadas por governantes locais teriam deixado de atender aos principais anseios da população, sobretudo os mais jovens.

Eles, no entanto, refutaram uma comparação com a chamada Primavera Árabe, a onda de protestos ocorrida no Oriente Médio, que resultou na derrubada de regimes autoritários.

Em suas interpretações sobre as causas dos protestos, sociólogos e cientistas políticos destacam a insatisfação dos jovens com a administração pública e com as condições de vida nas grandes cidades.

“Existe uma espécie de mal-estar difuso, sem um foco claro. Há uma espécie de ressentimento e frustração de ordem social, alimentados por um estilo de gestão que não oferece diálogo à população”, diz o sociólogo Gabriel Cohn, ex-diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP).

Cohn acredita que esse mal-estar também reflete “uma insegurança dos jovens em relação a seu futuro. Nos últimos anos, o Brasil passou por profundas transformações, o que gerou fortes expectativas dessa camada social, e há uma ansiedade justificada por parte deles sobre se isso vai se sustentar ou avançar nos próximos anos”.

Para o sociólogo Aldo Fornazieri, diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), os protestos são uma crítica à mobilidade urbana, sobretudo por parte dos jovens, que se ressentem da falta de representatividade nas diferentes esferas de administração pública.

“As manifestações refletem uma insatisfação sobre o modo sufocante de viver nas grandes cidades, cada vez mais hostis à população em geral. Isso cria uma espécie de uma anomalia social, uma sensação de não pertencimento. Para piorar, o poder público não está conseguindo garantir qualidade de vida aos moradores dos grandes centros urbanos”, diz Fornazieri.

A socióloga Angela Maria Araújo, da Unicamp, vê as manifestações como um protesto dos jovens contra a gestão da cidade e a falta de perspectivas geradas por uma educação deficiente.

Para ela, o movimento está principalmente relacionado “a um descontentamento da parcela da população mais jovem com as condições em que vivem nos grandes centros urbanos. O transporte é de péssima qualidade e o trânsito, caótico”, disse.

Embora admitam que a convocação dos protestos por meio das redes sociais é similar ao da Primavera Árabe, os especialistas descartaram uma semelhança mais profunda com a onda de protestos que varreu o Oriente Médio.

“Diferentemente da Primavera Árabe, as manifestações aqui não são contra o governo instalado”, diz Araújo, da Unicamp.


“Eles não querem derrubar o governante, mas ser ouvidos, ou seja, que a política pública exista através do diálogo”, afirma Ismael, da PUC-Rio.

Nenhum comentário: