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sábado, outubro 12, 2013

Chico, Gil, Caetano e Djavan: de censurados a censores


André Barcinski

Tive de ler a reportagem da “Folha” duas vezes para me certificar de que não estava delirando: Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan, Milton Nascimento e Erasmo Carlos se uniram a Roberto Carlos na campanha para exigir autorização prévia de biografados.

De Roberto Carlos não se podia esperar outra coisa.

Afinal, passou a carreira toda sem dar um pio contra a ditadura e viveu os últimos 50 anos como um verdadeiro monarca, decidindo tudo que podia ou não ser dito sobre ele (não é à toa que é chamado de “Rei”, enquanto Xuxa, outra figura pública que ainda acredita viver na Monarquia, é a “Rainha”).

Mas Chico Buarque? Um dos compositores mais censurados do país? Gil e Caetano, exilados pelos militares? Gil, o ministro do Creative Commons? Absolutamente surreal.

Na coluna de Ancelmo Gois no jornal “O Globo” de sexta, Djavan justificou assim sua decisão:

“A liberdade de expressão, sob qualquer circunstância, precisa ser preservada. Ponto. No entanto, sobre tais biografias, do modo como é hoje, ela, a liberdade de expressão, corre o risco de acolher uma injustiça, à medida em que privilegia o mercado em detrimento do indivíduo; editores e biógrafos ganham fortunas enquanto aos biografados resta o ônus do sofrimento e da indignação. Nos países desenvolvidos, você pode abrir um processo. No Brasil também, com uma enorme diferença: nós não somos um país desenvolvido.”

Brilhante. Quer dizer que, enquanto não formos um “país desenvolvido”, o melhor é recorrer à censura típica das repúblicas das bananas?

O parágrafo de Djavan é tão confuso quanto algumas de suas letras.

Ele começa dizendo que é necessário preservar a liberdade de expressão “sob qualquer circunstância”, para logo depois justificar a censura sobre “tais biografias”.

Que biografias seriam essas? As que Djavan e amigos não aprovam?

Depois, o compositor diz que editores e biógrafos ganham “fortunas”.

Não sei em que país Djavan vive.

Onde eu vivo, se um autor vende dez mil cópias, sai dando cambalhota de felicidade (o escritor ganha, em média, 10% do preço de capa, então faça as contas e verá que escrever no Brasil, com raras exceções, é coisa de maluco ou diletante).

Vivo num país onde o Luis Fernando Veríssimo diz que não sobrevive de literatura. O Veríssimo.

E não adianta Djavan e turma dizerem que não se trata de censura.

Claro que é.

Só é disfarçada de preocupação de mercado.

Em setembro, durante a Bienal do livro, Ruy Castro leu um manifesto, assinado por 47 nomes, incluindo o historiador Bóris Fausto, o escritor Cristovao Tezza, o poeta Ferreira Gullar, o cineasta Nelson Pereira dos Santos e o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, contra a suspensão da tramitação do projeto de lei que libera a publicação de biografias sem autorização dos retratados.

Um dos trechos do manifesto diz:

“A dispensa do consentimento prévio do biografado não confere ao autor imunidade sobre as consequências do que escrever. Em casos de abuso de direito, uso de informação falsa e ofensiva à honra, a lei já contém os mecanismos inibidores e as punições adequadas à proteção dos direitos da personalidade”.

Ninguém é a favor de biografias mentirosas.

Um autor que publica uma calúnia ou informação falsa deve ser punido.

Mas também ninguém pode ser a favor de um mercado de livros “chapa branca”, como os ícones da MPB querem criar.

‘Procure saber’ o que é censura e obscurantismo



Djavan, um dos fundadores do “Procure saber”

Em nota enviada ao jornal O Globo na semana passada, Djavan apresentou ideias tão nebulosas quanto suas letras.

Ou não, poderia dizer, à sua maneira, Caetano Veloso, colega de Djavan no Procure Saber, o movimento que, como dizem as colunas de notas dos grandes jornais, reúne a nata da MPB. 

A aparente confusão talvez apenas mascare um apreço decidido pelo obscurantismo.

O assunto é a necessidade de os biografados (ou seus herdeiros) autorizarem as biografias sobre si mesmos, algo previsto no Código Civil e que os editores de livros estão tentando derrubar.

A nota começa assim: “A liberdade de expressão, sob qualquer circunstância, precisa ser preservada. Ponto. No entanto…”

Se é “sob qualquer circunstância”, como pode haver “no entanto”? O “ponto” de Djavan deveria ser de interrogação.

Continuando: “No entanto, sobre tais biografias, do modo como é hoje, ela, a liberdade de expressão, corre o risco de acolher uma injustiça, a (sic) medida em (sic) que privilegia o mercado em detrimento do indivíduo; editores e biógrafos ganham fortunas enquanto aos biografados resta o ônus do sofrimento e da indignação”.

Djavan está convidado a citar um, apenas um biógrafo que tenha ficado rico no Brasil escrevendo biografias valendo-se de expedientes sensacionalistas. Basta um.

(O mais importante livro sobre um personagem da música brasileira, Noel Rosa – Uma biografia, ficou muitos anos impedido de circular por objeção da família. Alguém diria que é um livro sensacionalista? E posso garantir, por conhecê-los, que os autores, João Máximo e Carlos Didier, não enriqueceram.)

Em seguida, ele diz: “Nos países desenvolvidos, você pode abrir um processo. No Brasil também, com uma enorme diferença: nós não somos um país desenvolvido”.

Acertou em cheio. Se fôssemos um país desenvolvido, o juiz a quem cabia decidir sobre a ação movida por Roberto Carlos contra seu biógrafo Paulo Cesar de Araújo não teria pedido autógrafo ao Rei durante a sessão.

Se fôssemos um país desenvolvido, a editora que publicou o livro não teria sido covarde e feito um acordo com o cantor – contra o seu autor e seu próprio patrimônio.

Se fôssemos um país desenvolvido, Roberto Carlos não teria o direito de receber todos os exemplares e dar a eles o destino que lhe aprouver, inclusive queimá-los à maneira nazista.

Mais Djavan: “A sugestão de se estabelecer um percentual oriundo desse produto destinado ao biografado me parece razoável, mesmo acreditando que ninguém queira ver sua vida exposta publicamente de maneira predatória por dinheiro”.

Ou seja, se rolar um 10%, os artistas podem pensar em fazer negócio, ainda que não satisfeitos com as biografias.

É capaz de o “ônus do sofrimento e da indignação” render um bônus. Mediante pagamento, a liberdade de expressão pode ser preservada.

Por fim: “Essa medida, de certo modo, desmotivaria a edição desenfreada dessas biografias e nos lembraria a todos que ter direitos implica ter deveres também”.

Mas, se esses livros rendem mesmo fortunas aos autores e editores, o que custa pagar 10% ao biografado e ter o caminho livre? É jogo. E o que ele chama de “edição desenfreada”? Que onda é essa que ele enxerga e que não desagua nas livrarias?

Salvo Roberto Carlos, nenhum prócer do Procure Saber foi até hoje alvo de uma biografia não autorizada. E, sim, ter direitos implica ter deveres, mas não necessariamente o de ficar calado.

Todo esse zum de besouro seria esquecível se não estivesse sendo propagandeado que a tal “nata da MPB” comunga das mesmas ideias.

Na reportagem da Folha de S. Paulo publicada no último sábado, apenas a assessoria de Gilberto Gil confirmou o apoio.

Pois não foi Gil que, quando ministro da Cultura, queria flexibilizar os direitos autorais em nome da democratização da música e da circulação de informações?

Será que agora ele quer flexibilizar os direitos de jornalistas e escritores para que só circulem informações que o satisfaçam?

Ao lado de Gil, Caetano Veloso foi preso pela ditadura militar e exilado.

Sempre se orgulhou, com razão, de ser um libertário que resolvia as pendengas na arena pública.

Será que agora vai se esconder sob as saias da empresária e ex-mulher Paula Lavigne e se calar?

Ou vai, de fato, dizer que endossa as frases de Djavan?

Logo ele, tão cioso do bom português e que, se a memória não falha, já se opôs à decisão de Roberto Carlos de proibir o livro de Paulo Cesar de Araújo.

Quanto a Chico Buarque, possivelmente o mais censurado dos compositores sob a ditadura, apenas se ele vier a público afirmar que apoia essa causa é que isto será fato.

Por enquanto, só é possível crer que estão usando o nome dele em vão.

Em artigo disponível na página do Procure Saber no Facebook, Paula Lavigne escreve: “Longe do que vem sendo divulgado, a Associação Procure Saber, entidade representativa dos artistas que buscam estudar, entender e esclarecer assuntos de interesse da classe artística e da população em geral, não defende a censura ou a diminuição da liberdade de informação e pensamento; o que a Procure Saber deseja é apresentar uma alternativa que atenda aos escritores mas não crie uma situação de exploração da obra e da vida alheia sem a remuneração correspondente e sem que a vida privada e a intimidade do biografado sejam violados”.

Mais uma vez, ressalta-se que é preciso pagar para escrever o que se quer. E olha que quem “privilegia o mercado” são os autores e as editoras…

Além do mais, quem vai delimitar o ponto exato onde acaba o interesse público e começa a suposta invasão da vida privada? O juiz que pede autógrafo ao cantor? O artista, separando o que quer e o que não quer que se diga dele?

Em bom português – aquilo que inexiste no texto de Djavan – os nomes disso são censura e obscurantismo.

Aproveitando, Paula Lavigne: deixe “a população em geral” em paz.

Continue alimentando de notas as colunas de jornal e fazendo seus negócios, mas não advogue em nome de quem não está pedindo.

E estude a possibilidade de contratar um bom jornalista para redigir os textos do Procure Saber.

(*) Luiz Fernando Vianna é coordenador de internet do IMS (InstitutoMoreiraSalles)

A sorte e o privilégio de ter encontrado Vinicius e Sabino


Vinicius no show “Só por amor”, no Teatro Poeira

Maria Lucia Rangel

Além de grandes amigos, Vinicius de Moraes e Fernando Sabino tinham muitos gostos em comum. E adoravam música. Vinicius ia da música brasileira à americana. Fernando era apaixonado por jazz. De vez em quando viajava para curtir o festival de jazz de Nova Orleans.

Tanto o poeta como o escritor fariam anos neste mês de outubro. E ambos completariam datas redondas: Vinicius, 100 anos. Fernando, 90. Tive a sorte de ser amiga dos dois. Graças ao meu pai, Lucio Rangel, também um apaixonado por música, e a minha profissão de jornalista. Entrevistei-os várias vezes.

Fernando conheci primeiro. Eu tinha 15 anos e estava com meu pai no bar Zepelim, em Ipanema, quando ele chegou com Tom Jobim. Era fim de tarde e, depois de alguns uísques, Tom levou-nos para sua casa. Era uma casa mesmo, também em Ipanema. Lá ficamos até bem tarde, com Tom ao piano e os outros dois bebendo e falando de jazz e literatura.

Fernando gostava tanto de jazz que aprendeu a tocar bateria. De vez em quando telefonava avisando que tocaria no Hotel Marina. Lá ia eu ouvi-lo. Aliás, Fernando era bom de ouvir. Falava muito, contava casos saborosos e divertidos.

Além dos bares, encontrava-o muito na cobertura de Rubem Braga e nos lançamentos dos livros da editora Sabiá e, depois, editora do Autor. Apesar de gostar muito de ambos, com Vinicius foi uma amizade diferente.

Não lembro exatamente quanto começaram minhas conversas esotéricas com Vinicius de Moraes. Aconteciam sempre depois das entrevistas para o Caderno B, do Jornal do Brasil, onde eu trabalhei nos anos 1970. Ele na banheira cheia de espuma e, dependendo da hora, com um copo de uísque numa mão e um cigarro na outra. Eu, sentada num banco baixinho ao lado.

Ele dava uma meia pausa e introduzia o assunto: “Sabe que o fulano me apareceu?”. Fulano podia ser Antonio Maria ou Sérgio Porto, ambos mortos havia pouco tempo. E por “aparecer”, que fique bem claro, Vinicius sentia uma percepção daquela pessoa através de um copo que caía sozinho, uma luz que se apagava ou algo assim.

A história mais impressionante aconteceu durante a Segunda Guerra, ele ainda casado com Tati e morando no Leblon. Acordou de madrugada com o quarto todo tremendo. Pensou ser uma ressaca do mar. Levantou-se pé ante pé para não acordar a mulher, foi até a sala e deparou-se com um mar calmíssimo.

Voltou para a cama, agora munido de uma folha de papel e um lápis, sentou-se no escuro e sentiu sua mão riscando o papel. Riscou, riscou e terminou como se estivesse assinando algo. O quarto então parou de tremer.

Ele acendeu a luz e deparou-se com um desenho de seu amigo Carlos Scliar, assinado pelo artista. Tento agora escrever suas exatas palavras:

Fiquei tão triste, sabe? Me deu uma fossa! O Scliar era pracinha e estava na Itália. Meu primeiro pensamento foi: Scliar morreu e está me avisando. Esperei o dia clarear e fui para o Amarelinho [bar na Cinelândia onde os jornalistas se reuniam]. Dali a pouco um deles chegou com a notícia: a mãe do Scliar tinha morrido durante a madrugada no Rio Grande do Sul. Foi um alívio! Minha irmã guardou esse desenho.

Anos depois, um grupo de jovens foi conhecer Ouro Preto ciceroneados pelo poeta: Vera Hime, na época namorada de Vinicius, Wanda Sá com o namorado e arquiteto Manoel Ribeiro, Dori Caymmi e a mulher, Ana Beatriz, e eu. Tive oportunidade, então, de constatar como Vinicius “via” um morto. Todos nós “vimos” com ele.

Saímos do Rio para Belo Horizonte no trem noturno. E como era praxe com Vinicius, passamos a noite toda no vagão-restaurante bebendo e conversando. Em plena ditadura – era 1968 – levamos uma dura, ainda na estação, por conta de um beijo que Wanda deu no namorado Manoel.

Vinicius quis encarar o coronel “em nome do amor”, mas a turma do deixa-disso conseguiu dissuadi-lo.

Dois táxis nos levaram da estação mineira à casa de Eloy Heraldo Lima, médico de Vinicius e de Fernando Sabino, para um café da manhã. De lá, seguimos nos táxis para Ouro Preto.

Chegamos com a cidade repleta de jovens, em pleno festival de inverno. Vinicius e Dori se hospedaram na Pousada do Chico Rey. O belo sobrado ficava bem no centro da cidade e era frequentado por celebridades, como Zélia e Jorge Amado, Elizabeth Bishop, Pablo Neruda, o pintor Carlos Scliar. Até Sartre e Simone de Beauvoir passaram por lá.

Bem ao lado da pousada ficava a casa de Rodrigo Mello Franco de Andrade, pai do cineasta Joaquim Pedro e na época diretor do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Muito amigo de Vinicius, cedeu a casa aos mais jovens: Wanda, Manoel e eu. Passávamos o dia juntos ou passeando pela cidade com os jovens mineiros atrás de Vinicius.

Uma tarde, depois do almoço, somente nosso grupo, sentados numa mesa redonda diante da lareira, embalados pelo uísque, começamos a cantar ao som dos violões de Wanda, Dori e Vinicius. O dia foi caindo, a sala escurecendo aos poucos, iluminada apenas pelas chamas de lareira. E o assunto caiu em Dolores Duran.

Vinicius lembrou que moraram no mesmo prédio e não era raro ela bater em sua porta de madrugada com crise de depressão. E, claro, começamos a cantar músicas de Dolores. O violão passava de mão em mão, cada um lembrando uma canção. Foi aí que “vimos” Dolores.

Por acaso, eu tinha atarraxado a tampa da garrafa de uísque. De repente, no meio de uma música, a tampa pulou alto e pousou na mão de Vinicius. “Saravá”, gritou Wanda, seguida por todos. Ela preparou um uísque para Dolores, colocou na mesa e continuamos cantando suas composições, agora com sua presença.

Vinicius já era muito amigo de meu pai quando o conheci. Cursaram Direito juntos e partilhavam o gosto por literatura francesa, música brasileira, jazz e uísque. Tenho certeza ter sido este o motivo de não terem levado adiante o projeto de uma enciclopédia da música popular assinada pelos dois.

Foi em Petrópolis que conversamos pela primeira vez, na antiga Confeitaria Copacabana, ele casado com Lucinha Proença. Nesta época me convidou para um show que daria no ginásio da PUC, no Rio. E surpreendeu Edu Lobo ao chamá-lo ao palco. Foi a primeira vez que Edu se apresentou em público.

E me surpreendeu também. Ao entrar no ginásio ele já estava no palco e me acenou de longe. Tive que enfrentar os olhares de todos os estudantes.

Quando ele se casou com Nelita, a cobertura em que moravam no Jardim Botânico estava sempre repleta de jovens. E as festas eram memoráveis, só com os amigos mais chegados, como Tonia Carrero e César Thedim, Fernando Sabino, Wanda Sá, Rubem Braga e os filhos com namorados e namoradas.

Quando se separaram, Nelita continuou no apartamento. Um dia Vinicius me telefonou pedindo um favor: “Lucinha, será que você pode pedir à Nelita para me dar meu retrato feito pelo Portinari?”

Na mesma hora Nelita tirou o quadro da parede e me entregou. Saí com a tela sem qualquer proteção, colocada no chão do meu fusca. Hoje o quadro está na casa de sua filha Suzana.


Francis Hime, Dori Caymmi, Vinicius e Wanda Sá em “Só por amor”

Petrópolis era uma cidade que Vinicius adorava. A casa de Cícero Leuenroth, publicitário e pai de Olivia Hime, estava sempre aberta aos amigos da filha. O poeta às vezes chegava de táxi, sem avisar, dizendo que dormiria na “vaga”. Se alguém acordava mais cedo ele corria para a cama desocupada e tirava um cochilo.

Numa madrugada de 1971 fui dormir e deixei Vinicius e Toquinho na sala. Acordei no meio da madrugada com os dois entrando quarto adentro e me entregando um copo de uísque.

Eufóricos, sentaram-se na minha cama, Toquinho deu os primeiros acordes e começaram a cantar a música que tinham acabado de compor, “Tomara”. Foi uma alegria. Repetiram umas dez vezes, felizes com a nova parceria.

Foi em Petrópolis também, nesta mesma casa, que Vinicius nos introduziu à gnomonia, invenção de Jaime Ovalle, intelectual mais velho, autor de “Azulão” e amigo de todo o grupo de Vinicius e Fernando Sabino.

O poeta se referia à gnomonia como classificação das pessoas. E explicou o que significava ser pará, dantas, querniano, onésimo ou mozarlesco.

Os parás são indivíduos extrovertidos, ágeis, que aonde chegam vencem. O nome é porque geralmente vinham do Norte. Mas o poeta gostava de dizer que “os parás eram quase parando”.

Os dantas pouco ligam para o sucesso material. São pessoas que vivem ou tentam viver em estado de pureza.

Os quernianos são os de mais fácil identificação: impetuosos, impulsivos e estouvados. Vinicius dava como exemplo o homem que chuta a barriga da mulher grávida e pede perdão de joelhos.

Já os mozarlescos são sentimentais, choram à toa, têm boa índole. Charles Chaplin era querniano mas Carlitos era mozarlesco, ensinava Vinicius. Para nós era uma private joke.

Se estávamos numa reunião cercados de gente, Vinicius definia alguém presente através da gnomonia e ríamos muito. Um dia ele decidiu definir objetos. E adorou descobrir que o telefone era querniano.

Amoroso, gostava de contar histórias e ensinar aos jovens. Eu me lembro dele discorrendo sobre como escovar os dentes: “Escovem sempre a língua e o céu da boca para não terem mau hálito”.

Sua sensibilidade foi mais longe ainda ao detectar que eu andava com problemas: “Lucinha, você não acha que está precisando de uma psicoterapiazinha?”. Marcou então uma hora pra mim com um psicanalista amigo dele.

Ensinava também muita diversão. Quando fez o show “Só por amor” no Teatro Poeira, na praça General Osório, em Ipanema, acompanhado por Francis Hime ao piano, Dori Caymmi no violão e Wanda Sá cantando, nos levava depois a um bar na esquina da praça para oferecer caipirinha, bebida que ninguém conhecia até então.

Poderia continuar falando de Vinicius por muito tempo, como quando conheceu a cantora Maria Creuza e me fez ficar em sua casa para conhecê-la também, ou quando se apaixonou por Gesse e perdeu o medo de avião, apresentado que foi à Mãe Menininha, ou quando apanhou de uma ex-mulher e ficou com a virilha toda ferida.

Mas prefiro terminar com a dedicatória que fez numa primeira edição, rara, do livro “A casa”:

Para minha Lucinha querida, com A Casa, o poeta e tudo o que, de amor e carinho eles comportam; e o beijo mais amigo do Vinicius.


(*) Maria Lucia Rangel é jornalista.

Como se tornar um pegador virtual, se dar bem online e ver muitos peitos no Skype


Você, onanista virtual, descabelador de palhaço, Melador de teclados. Este artigo é pra você!

Vou te ensinar aqui, dicas valiosas para ser um pegador virtual e convencer a mulherada a te mostrar os peitos!

Ok, Ok! Você é um nerd, sem vida social e que a coisa mais importante que você tem são seus personagens daquele joguinho on-line que você passa horas jogando, e agora resolveu ser o descolado do seu mundo, mas não sabe como?!

SEUS PROBLEMAS ACABARAM.

É, eu sei que você tá cansado de ver vídeos de 5min no Redtube, Youporn, Megaporn e sites parecidos, que suas mãos estão com mais calos que a de um trabalhador rural e o máximo de interatividade sexual que você consegue é uma personagem feminina, que na verdade é outro nerd com tendências gays, fazendo dancinhas para você em troca de algumas moedas de ouro (pratica conhecida com prostituição-virtual em RPG’s).

Não pense que lendo isso você conseguirá sexo fácil!

NÃO MESMO, o máximo que conseguirá é alguma mulher dizendo que você é legal e em casos extremos lhe mostrando os peitinhos na webcam.

PS: Existem relatos que alguns nerds já viram mais que peitinhos, mas não existe nada comprovado! (ou não).

Local onde encontrar as gatinhas (possíveis vítimas):


Escolha chats em geral, do UOL, por exemplo. Neles você facilmente encontra meninas desocupadas e sem lá muita vida social, igualmente você. Por elas não te conhecerem são vitimas fácies, já que não sabem como você é na verdade.

Como se portar nos chats:


Seja bem legal, e tenha um Nick bem bolado, ou simplesmente seu nome. Penetrador18 ou qualquer outro Nick nerd não é aceito, na duvida escreva apenas seu nome.

Na hora de conversar, dê moral a todas as meninas, e nunca arrume problemas com os outros participantes e em pouco tempo já será alguém de certa relevância no chat.

Fale coisas divertidas, envie links de coisas legais e sempre conte coisas como se fosse pegador ou se entendesse tudo de mulher.

Como conseguir conversar privadas (O DIVINO PVT):


Como você já é uma pessoa legal, todas as meninas não verão problema nenhum em lhe passar o Skype delas.

Pedir diretamente pode ser meio ruim, na dúvida é melhor oferecer assim: “Ow, Ana, me add ai para depois falar com você, pois as vezes deixo o chat bloqueado”

Ou de uma forma mais discreta: “Ana, quero te enviar um texto massa que fiz aqui, me add ai pra eu te mandar!”

ARRÁÁÁÁÁÁÁ! Conseguiu. campeão!

Construindo uma identidade socialmente aceitável:


Você não acha que a sua vitima vai se interessar por um nerd cheio de espinhas né?! Então construa uma identidade mais aceitável.

Se você tiver alguma parte do corpo bonita, tipo os olhos ou qualquer outra parte (exceto as sexuais), tira uma foto que pegue somente essa parte e coloque no Skype para nuuuunca mais mudar. 

Caso não tenha nada bonito, escolha uma foto de algum homem bem melhor que você, mas não escolha de ninguém famoso.

Na duvida escolha uma foto daquele cara pegador da sua cidade que você morre de inveja, pois a garota é de outra cidade mesmo e não deve conhecer o vagabundo.

Como abordar a garota:


Torne-a especial, sempre que ela entrar, fale com ela e dê toda a atenção do mundo.

Escolha um dia à noite, por volta das 00:00 às 01:00 da manhã. Nessa hora os pais da sua amada virtual já estarão dormindo o que torna o clima bem mais propício à sua investida. 

Sempre a elogie, mas com elogios delicados, nada de “Caralho, tua bunda é gostosa pra cacete”, que você não tem culhões para isso.

Deixe-a se sentir a vontade, e comece a esquentar o clima, caso ela não ligue a webcam peça com delicadeza, mais ou menos assim: “Ana, posso te ver?”

Nessa hora ela vai dar algumas desculpas tipo: “Aii, eu to feia” ou “Já estou de pijamas” ou ainda “Outro dia ta? Juro!”

Insista garotão. Fale que não se importa, que ela é linda de qualquer forma, que só quer vê-la para sonhar com ela ou qualquer coisa nessa linha de pensamento.

Como ver os peitinhos:


AÊÊÊÊ! Chegamos na melhor parte. Assim que ela ligar a webcam, a elogie, diga que ela é mais linda que você pensava (mesmo que seja feia pra cacete).

Continue conversando, uma boa forma de avançar um pouquinho é pedir para ver como ela tá vestida, mulheres adoram mostrar suas roupas.

No momento que ela se exibir, elogie o corpo dela, agora já pode ser um pouco mais danadinho, diga como os seios dela são lindos e que você está apaixonado. É ridículo, mas funciona.

Aos poucos ela vai se soltando mais e você vai pedindo mais e mais, mas sempre com jeito e carinho.

PS: Nunca fique pelado na webcam primeiro que ela: ela que tem que mostrar os seios e não você.

Só ligue a webcam se ela pedir muito e, mesmo assim, diga que tem vergonha e pergunte o que você ganha se superar a vergonha e ligar sua webcam. 

É LOGICO QUE VOCÊ VAI PEDIR PARA VER OS PEITOS!

Últimos comentários:


Vá na calma, não é sempre que sua gatinha tá afim de mostrar os seios. 

UM NÃO HOJE PODE SER UM SIM AMANHÃ!

sexta-feira, outubro 11, 2013

10 livros para idiotas


Está enganado quem acha que idiotas não leem.

A verdade é que boa parte da literatura está voltada para eles, que tratam de transformar autores sem talento em milionários.

Acontece desde antes do tempo em que seu bisavô era criança. Antes disso, Schopenhauer já dizia que “Quem escreve para os tolos encontra sempre um grande público”. 

Também é notado que não só os livros ruins conseguem leitores idiotas. 

Clássicos da literatura, alguns dos livros mais brilhantes já escritos, também carregam esse fardo.

Nesta lista, elejo os 10 maiores livros para idiotas, que chamam de burro quem fala “indiota”, mas citam “Harry Potter” como um dos melhores livros já escritos na história.

O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë)


Muita calma nessa hora! Antes que me xingue, deixe-me explicar: livros para idiotas não significa o mesmo que livros idiotas. Acontece que a memória do clássico de Ellis Bell, pseudônimo da britânica Emily Brontë, está sendo perturbada nos últimos anos. Culpa dela, talvez a rainha dos livros para idiotas: Stephenie Meyer. A dita cuja teve a ideia de escolher “O Morro dos Ventos Uivantes” para ser o livro preferido do casal vampiresco de sua saga. Resultado: reedição do clássico com direito a uma das cenas mais tristes da minha vida — na capa, em destaque, uma inscrição: “O livro favorito de Bella e Edward da série Crepúsculo”. Descanse em paz, Emily.

Inferno (Dan Brown)


“Inferno”, o mais recente livro do autor best-seller Dan Brown, é a perfeita definição de “mais do mesmo”. O autor escreveu seis livros; são meia dúzia de histórias iguais com panos de fundo diferentes. Só muda o tema (às vezes nem isso) e as informações pesquisadas. Seus livros possuem personagens sempre iguais, superficiais e ordinários. Dan Brown é um autor para se ler de vez em quando, para relaxar a mente, não ter compromisso algum. Adorar Dan Brown é, digamos… idiotice.

Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche)


Um exemplo de um livro e escritor genial que é lido por um grande público idiota. Nove entre dez idiotas que querem falar sobre filosofia citam Nietzsche. A razão, confesso, desconheço, mas o fato sempre me incomodou. Talvez seja pelo seu conhecido ateísmo. Existe muito ateu fanático atualmente. Quer algo mais idiota?

A Hora da Estrela (Clarice Lispector)


Seguindo o exemplo do filósofo alemão, Clarice Lispector é a grande escritora pop dos dias atuais (mesmo falecida há décadas). Diria que ela e Caio Fernando Abreu são os autores oficiais das redes sociais, já que aparecem todos os dias citações desconhecidas assinadas por um dos dois. Ainda acaba que, por isso, muita gente se interessa e busca conhecer os autores. O livro oficial desse público é “A Hora da Estrela”, muito porque o livro não chega nem a 100 páginas. Esse status pop de Clarice Lispector se elevou ainda mais, recentemente, entre o público adolescente no Brasil por causa do seriado “Malhação”. Uma das personagens costumava soltar frases aleatórias e remetê-las a Clarice. “Então a anta pisca o olho e os burros vem atrás” — Fatinha Lispector.

Saga Crepúsculo (Stephenie Meyer)


Tanto já se disse sobre “Crepúsculo” que falar mal já virou clichê, mas uma saga que mistura história de monstros com romance platônico e que, incrivelmente, consegue ter seus livros entre os mais vendidos do mundo por anos, merece um lugar cativo entre os maiores livros para públicos idiotas.

O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)


Oscar Wilde é um dos maiores escritores da língua inglesa de todos os tempos e “O Retrato de Dorian Gray” é sua obra-prima, porém, um fator inusitado está seduzindo boa parte dos leitores do autor irlandês: a homossexualidade. Wilde era sabidamente homossexual e pode-se dizer que ele morreu por isso (foi preso por “cometer atos imorais com diversos rapazes” e, na prisão, entrou em depressão, adoeceu e quando saiu, não foi mais o mesmo até seu falecimento). O que se vê ultimamente é um culto à memória de Wilde mais pela sua herança de mártir do que pela sua capacidade intelectual. E não é incomum ouvir palavras proferidas por seus personagens na boca de seus leitores sem nenhum traço de personalidade.

Justin Bieber: A Biografia


Biografias geralmente não são grandes obras literárias e o que se pode dizer da biografia de, na época, uma criança de 16 anos? Biografias deveriam ser feitas apenas para grandes personagens da história na maturidade ou fim de suas vidas, pois praticamente toda sua estória já estaria escrita. Acontece que, para se aproveitar dos milhões de fãs idiotas que possui, Justin Bieber decidiu fazer mais dinheiro e lançar um livro sobre seus 16 anos de vida. O que me deixa horrorizado é que nem sempre são crianças que compram esse tipo de livro.

Porta dos Fundos / Não faz Sentido: Por Trás da Câmera


De sensações do Youtube para escritores best-sellers, os comediantes do Porta dos Fundos e o vlogger Felipe Neto parece que decidiram aventurar-se em novas mídias para fazer um pouco mais de dinheiro explorando seu enorme público idiota. Pessoalmente, acho que eles estão certos mesmo, errado está quem gasta seu dinheirinho com um livro que não acrescentará nada a sua vida.

Kafka para Sobrecarregados (Allan Percy)


Livros de autoajuda já são, essencialmente, destinados a pessoas idiotas. Pessoas que leem esse tipo de literatura são tipos frágeis, inseguros e com pouco autoconhecimento. O título é autoajuda, mas se isso fosse lavado ao pé da letra, não se precisaria de um livro — a solução dos problemas pessoais viria da própria pessoa e não de um livro escrito por alguém totalmente desconhecido. No caso dessa série do autor Allan Percy, que também escreveu outros títulos, como “Nietzsche para Estressados”, os livros além de almejarem ensinar o leitor a pensar em si, não conseguem nem ao menos ser originais e precisam usar o intelecto e a obra de outros autores, estes sim, verdadeiros escritores, para cumprir seu objetivo.

Cinquenta Tons de Cinza (E.L. James)


Sim! Ele ainda reina soberano entre os (as) idiotas do mundo. Um livro voltado para o público feminino em meio ao amadurecimento dos movimentos feministas que ainda ocorrem, como a Marcha das Vadias, no Brasil. Uma estória sobre o fim da insegurança e a liberdade sexual da mulher. Com essas credenciais, o livro até poderia ser chamado de um “Orgulho e Preconceito” contemporâneo. Poderia. Não pode. Não deve. Não faça. “Cinquenta Tons de Cinza” é um livro extremamente banal que, tal como a série “Crepúsculo”, busca aliciar adolescentes imaturas e mulheres inseguras espelhando suas características em uma personagem superficial que vai descobrindo sua sexualidade em meio a um relacionamento absurdo com um bilionário sadomasoquista que a trata como lixo. O pior é que a personagem descobre que ama essa vida e as suas leitoras pensam: que exemplo de mulher. Mas que exemplo de “vadia”. Que exemplo de idiota.