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quinta-feira, junho 05, 2014

Minhas lembranças de Leminski


Jotabê Medeiros

Utilizando-se às vezes de artifícios da obra mais experimental do poeta Paulo Leminski, Catatau (1975), e estabelecendo um paralelo entre a própria história de vida e a de Leminski (além de recorrer a uma espécie de recurso “mediúnico”), o escritor Domingos Pellegrini gestou um livro que, embora não deixe de ser uma biografia, vai além do gênero. É como se fosse uma transbiografia.

Minhas Lembranças de Leminski chega às livrarias 25 anos após a morte de Leminski, num momento em que a obra do artista atinge impressionante celebridade – 200 mil visitantes viram a mostra Múltiplo Leminski, em Curitiba; a exposição Ocupações Paulo Leminski do Itaú Cultural (2009), com curadoria de Ademir Assunção, foi um dos destaques culturais daquele ano; e o volume Toda Poesia (Companhia das Letras) chegou a bater best-sellers importados, como 50 Tons de Cinza.

Nos anos 1980, havia um grafite famoso no muro da Universidade Federal do Paraná: “Pau no Leminski!”. A inscrição é bastante atual hoje: o livro de Pellegrini chega num cenário em que um cruel paradoxo se desenha: apesar de toda a badalação, para se escrever sobre Leminski, um libertário, os autores encontram um paredão de censura prévia, exercida pela família.

Pellegrini (de Londrina, cidade cujos cidadãos natos costumavam ser chamados de Pés Vermelhos) desfrutou da amizade de Leminski (de Curitiba, de origem polonesa, ou polaco), a partir do início dos anos 1970. Morou com ele em São Paulo, durante investida de Leminski para conquistar o mundo pop, tempo em que tomavam quatro garrafas de vodca dupla e depois o poeta mascava bala de hortelã, “por via das dúvidas”.

Além do senso de humor, a iconoclastia militante, a profunda erudição sem vaidade e as aparentes contradições bem resolvidas, o próprio processo de produção poético de Leminski é analisado pelo amigo, que confessa não partilhar de certos gostos do autor – como, por exemplo, a admiração pelo concretismo.

Pellegrini divide Leminski em dois: um pop, com uma estratégia de divulgação pessoal calcada na poesia acessível e numa mitologia pessoal, e o intelectual, contido especialmente em sua obra em prosa, como os Ensaios Crípticos e o Catatau. A saga alcoólica de Leminski, o Polaco, aparece com grande impacto no livro de Pellegrini, o Pé Vermelho.

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