Pesquisar este blog

terça-feira, agosto 19, 2014

Não estamos tão mal assim...


Paula Minozzo (*)

Assim que a morte de Eduardo Campos foi confirmada, o nome do ex-governador de Pernambuco já era o assunto mais comentado no Twitter. Algo absolutamente normal na rotina do site, até clicarmos e vermos o que se falava sobre Campos.

Muitos estavam incrédulos. Muitos adotaram uma postura solidária, pensavam na família do político, nos filhos, compartilhavam os últimos vídeos que as crianças haviam postado para o pai. Tudo isso independentemente de discurso ou ideologia política. E alguns reforçavam isso: Eduardo Campos não era apenas um político, era uma pessoa com sentimentos, uma pessoa como nós. E eu vi todas essas mensagens. Mas é claro, que entre as milhares de menções, alguns fariam piadas de mau gosto, politicamente incorretas, insensíveis. Mas tudo isso não surgiu com as redes sociais.

O ser humano tem maneiras individuais de reagir a tragédias, ou não reagir a elas. Ou de simplesmente não sentir empatia pelas vítimas ou pelas suas famílias. Ou de deixar o fanatismo político ou seja do que for, de impedir de enxergar além disso. Mas não podemos ser tão apocalípticos: as redes sociais apenas tornaram público o que sempre quisemos esconder. A insensibilidade, o rancor ou a maldade hoje estão públicos. E prontos para serem descobertos, retuítados, curtidos e até mesmo louvados.

Hoje, temos acesso às milhares de piadas de mau gosto, e temos onde publicá-las. Seja por ingenuidade ou por impulso, ou até mesmo por hábito de não pensar no que publicamos, achamos que nossas palavras nas redes sociais nunca vão ter a repercussão ou atingir quem não gostaríamos que atingisse. É a infantilidade de lidar com algo tão novo, tão fácil e intuitivo. E tudo foi programado para ser assim.

Não pensamos antes de publicar, mas os outros que filtrem ao ler o que escrevemos. Mas também não sabemos reagir contra as publicações que expressam sentimentos que consideramos ruins, insensíveis. Muitas vezes se usa o mesmo discurso de ódio para inibir quem faz a piada de fazê-la de novo. E novamente, hoje temos como fazer isso, temos como castigar estranhos, puni-los, expor suas fotos pessoais e desejá-los tudo de ruim. Com a mesma distância e falta de empatia que condenamos.

Colocar a culpa no Twitter ou transformar as redes sociais no grande vilão pode parecer raso. É bem provável que estejamos mais impulsivos e pouco acostumados com a repercussão de nossas palavras quando se tornam publicamente acessíveis. Mas é provável também que, com os recursos e com os algoritmos, estejamos vendo apenas aquilo que queremos. Na minha linha do tempo, vi apenas manifestações agradáveis e sensíveis. Achei que essa tragédia talvez humanizasse e transformasse o cenário das eleições, que, especialmente, neste ano, seriam marcadas pela baixaria nas redes sociais. Mas também não procurei nada além disso. E quem procura, acha.


(*) Paula Minozzo é editora de Redes Sociais do jornal Zero Hora

Nenhum comentário: