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terça-feira, setembro 09, 2014

A incrível história de Mary Baker e o neo-pentecostalismo



Carlos Russo Jr.

Entre os momentos mais marcantes da História da humanidade estão aqueles em que surgem as religiões.

A ideia que brota quase sempre de um único cérebro, transborda atingindo centenas, milhares e milhões.

É precisamente esse o caso de um enorme conjunto de seitas religiosas, denominadas genericamente de “religiões neo-pentecostais”, que se desenvolveram nos Estados Unidos da América a partir da última década do século XIX e empolgam, no século XXI, parcelas crescentes da humanidade em quase todos os continentes.

Os neo-pentecostais abrangem mais de dezenove mil denominações e congregam mais de trezentos milhões de seguidores.

Possuem mídia televisiva e forte presença em todos os outros canais próprios de divulgação de massa.

Influenciam a vida política das nações, compondo bancadas parlamentares cada vez mais influentes.

Por vezes seu alvo é o Poder Central da República!

Estima-se que as seitas no geral movimentem mais de 30 bilhões de dólares anuais, boa parte dos quais com isenção de impostos e à margem de controles formais.

Encontraremos nessas crenças religiosas muitos pilares que lhes são comuns, tais quais a “doutrina da prosperidade” e a da “confissão positiva”.

Empregam conceitos comuns de que “a pobreza e a doença derivam de maldições, de fracassos, das vidas em pecado ou da falta de fé religiosa” e, em decorrência desses preceitos, um “verdadeiro cristão” deve ter a marca da plena fé, ser bem-sucedido financeiramente, possuir saúde física, emocional e espiritual.

Outro pilar comum na maior parte das Seitas é a permanente batalha espiritual entre os componentes da “Santíssima Trindade” e o Diabo, trazendo um renascer de conceitos medievais, tais como o confronto direto entre o homem e os demônios, as ditas maldições hereditárias, a posse dos crentes pelas forças “magnéticas” do mal.

Não poucas vezes aqueles “pastores” ou “médiuns” operam “curas milagrosas” para doenças psíquicas ou físicas, chegando mesmo ao ponto de negação da materialidade dos males que afligem os homens.

Desenvolveram ainda formas arcaicas de encarar a fé religiosa, tendo por foco a busca de revelações diretamente feitas por Deus ou pelo Espírito Santo a seus “pastores”, “bispos” ou “apóstolos”, relações de privilégios nas quais o rebanho é conclamado a inserir-se.

A unirem as mais variadas seitas, estão aspectos socialmente reacionários como os preconceitos claros ou encobertos contra a homossexualidade e sobre a possibilidade da mulher decidir sobre seu próprio corpo.

Muitas das seitas, numa busca que é quase sempre totalitária, anseiam pela exclusão do Estado laico, atrelando, por exemplo, a educação a formas do criacionismo bíblico.

O contraponto dessas filosofias que negam a realidade e a evolução, que mistifica o conceito do divino, é o seu mais cru materialismo assentado numa estreitíssima aliança do espiritual com o dinheiro e os créditos bancários.

Elas substituem o ensinamento de Cristo “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, por um avatar que não lhes é exclusivo, mas que em nenhuma religião é tão explícito: uma moeda onde o lado “cara” tem a figura de Cristo, e o lado “coroa” a imagem do dinheiro, preferencialmente o dólar.

A seta da história aponta para a “Ciência de Cristo”, como a inspiradora de todas as religiões neo-pentecostais subsequentes.

Essa seita, fundada em 1886 por Mary Baker-Eddy, possui ainda hoje, um século após a morte de sua fundadora e “imperadora”, quase mil e novecentas igrejas, estando presente em setenta e seis países.

A “bíblia” desse movimento, escrita pela fundadora denomina-se “Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras”, um best-seller por décadas.

Em 1995, “Mother Mary” foi incluída no Hall da Fama de Hollywood e, em 2002, uma Biblioteca com seu nome e totalmente dedicada aos seus escritos foi franqueada ao público.

A “Grande Basílica” da seita, inaugurada em 1906, com a qual o Templo de Salomão do “bispo” Edir Macedo tem a pretensão de concorrer, possui capacidade interna de recepção de vinte mil crentes.

O jornal publicado pela “Ciência de Cristo”, “O Monitor” ganhou, ao longo dos anos, sete prêmios Pulitzer, assumindo, inclusive, em determinados momentos históricos, posições progressistas e respeitáveis em defesa dos direitos humanos, após mais de 50 anos da morte de sua fundadora.

De uma maneira geral pode-se dizer que essa crença, tendo sido a grande precursora das seitas neo-pentecostais, no decorrer dos anos perdeu sua belicosidade inicial e aproximou-se daquelas correntes evangélicas mais tradicionais, tornando-se menos autoritária e excludente.

Mas suas sementes originais de intolerância e ganância gerariam milhares de outras seitas.

A “Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras” influenciará de modo direto, na primeira década do século XX, homens como E. W. Kenyor, o inspirador da “Teologia da Prosperidade” e K. Hagin o fundador da primeira “Assembleia de Deus”, que ele inaugura após um propalado batismo pelo “Espírito Santo”, em 1937.

Da mesma maneira, a “Ciência de Cristo” inspirará o tele evangelismo, que desde a década dos anos 80 frequenta diversos canais da televisão aberta, a bordo do qual embarcam prestigiadores como o já citado “bispo” Edir Macedo.

Ele, em nosso país é paradigmático: antigo pesquisador do IBGE na década de 1970, católico desde nascença, teve sua “revelação” em 1976 e fundou, em 1977, a “Igreja Universal do Reino de Deus”.

Mas voltemos a Mary Baker. Ela nasce em uma família pobre, no ano de 1821.

A menina, fisicamente frágil, tem dificuldade em acompanhar os estudos escolares e os abandonará prematuramente, antes da conclusão do primeiro grau.

Transforma-se em uma adolescente indolente que prima por chamar a atenção de seus familiares sobre si, num ar incontido de presunção e superioridade.

A cada vez que é contrariada pelos parentes, desenvolve “ataque dos nervos” os quais adotará por toda a vida, como seu método pessoal de tiranizar as pessoas.

De todos os modos, a mocinha chegará à idade adulta sem jamais haver trabalhado, nem mesmo nos afazeres domésticos.

Para alívio de seus pais e irmãos, Mary casa-se aos 22 anos com um jovem chamado Glover; viajam para o oeste e estabelecem seu lar.

Mas, por um desses infortúnios da vida, após apenas um ano e meio de casada e estando grávida, morre-lhe o esposo.

Ela regressa à casa dos pais e volta a sofrer de “ataques nervosos”.

Nascido seu filho, ela descobre que a maternidade é um “serviço” que tão pouco lhe atrai e decide desfazer-se da criança.

Novamente repetem-se as cenas da adolescência em que ninguém se atreve a contradizê-la para evitar os conhecidos achaques.

Ela seguirá levando uma vida parasitária até os 50 anos de idade, tendo sido sustentada primeiro pelo pai, depois pela irmã e finalmente pela caridade alheia.

Mas, ainda estamos longe dessa época.

Por enquanto, ela descobre poder-se acalmar em um sofá de balanço, e aos 30 anos de idade esta genial atriz de um mundo patológico, representando a paródia de o eterno sofrer, permanecerá deitada quase todos os dias e noites.

Enquanto tudo isso ocorre, na distante Portland, chega certo discípulo do alemão Messmer e traz para a América a novidade do hipnotismo, uma alternativa para a “cura” dos males do espírito.

Um relojoeiro de nome Quimby interessa-se pelo método e começa uma espécie de pesquisa em que anota todos os efeitos da hipnose sobre os “médiuns” e os enfermos.

Na sua simplicidade, Quimby percebe que pode auxiliar pessoas doentes, mesmo dispensando o recurso do hipnotismo, e, também que pode viver de suas “curas”.

O agora “Dr. Quimby” desenvolve um método próprio, que ele denomina “Cura pela Mente”, como “Jesus Cristo fizera antes dele, dezoito séculos atrás”.

Mary Baker ouve falar dos resultados desses tratamentos e ela decide que quer se curar.

Em 1862, consegue arrancar dinheiro dos familiares e viaja até Portland, submetendo-se de corpo e alma a Quimby.

Ela possuía uma predisposição para o “milagre” do Dr. Quimby.

Além disso, arranca de si mesma a “vontade de possuir saúde”, afinal, aquela era a sua última cartada para que um “prodígio”, fazendo-a “crescer acima de todos”, pudesse ocorrer.

Se voltasse no mesmo estado de enferma para a sua cidade seria desprezada e, se curada, ela seria o próprio prodígio.

Ao final de uma semana de tratamento, a inválida encontra-se completamente curada.

Rejuvenesce e faz brotar em si mesma uma energia que a fará, em breve, subjugar e fazer-se sentir por milhões de pessoas.

Faz com que Quimby empreste-lhe todas suas anotações, as tais “Perguntas e Respostas” de suas pesquisas, que ela, à noite, copia.

É a primeira vez na vida que ela demonstra uma verdadeira paixão por algo.

Ao retornar à casa da irmã, Mary Baker é, no seu próprio dizer, uma pessoa que “ressuscitou como Lázaro” e faz de Quimby “um continuador de Cristo”.

Sobre esses fenômenos dá palestras, promove demonstrações, enfim, pratica um ensaio geral sobre o que fará apenas dez anos após.

Parte de New-Hampshire onde nada e ninguém mais a amparará e viaja com sua pequena maleta para a vizinha cidade de Lynn.

Ainda faltam anos para que ela se transforme na mulher mais bem sucedida do princípio do século XX. Por enquanto, andará de casa em casa como uma parasita.

Pessoas simples a acolhem como a uma peregrina, a “profetiza” que fala de curas maravilhosas.

Mas nenhuma estada durará muito, pois Mary Baker não possui o mais tênue sentimento de gratidão para quem a ajude ou sustente.

Sempre tentará subjugar e usar a todos os que lhe deem guarida.

Seu caráter dominador, tirânico, suscita sempre conflitos e desavenças com as pessoas, inevitáveis consequências de uma presunção incontida.

Tem consciência de que seu temperamento instável e irritadiço é incapaz de “curar pela mente”.

Para tanto seriam necessários empatia, calma, ouvidos, domínio e a paciência de um Quimby. Logo, ela precisa de um mediador.

Para tanto publica anúncios em jornais, buscando aquele que “deseje aprender a curar enfermos”.

O seu primeiro discípulo aparecerá em 1870, um jovem operário de nome Kennedy.

Ela, mediante um contrato escrito em que cada um ficará com metade dos proventos, treina-lo-á em sua “ciência”.

Unem-se, então, o Cristo e o dólar. Falta-lhe o poder!

A dupla arrenda uma sobreloja, onde também residirá, ele praticando sua “medicina” (a árvore em frente ganha uma tabuleta: “Dr. Kennedy – Ciência de Cristo”) e ela escrevendo e a tudo controlando.

O êxito é tão grande que em três meses alugam também a loja abaixo.

O plágio de Quimby é absoluto.

Kennedy decora e repete: “Que o homem é divino, que Deus não quer o mal e, portanto, a dor, o mal e a enfermidade não existem. Os males não são senão imaginações, um erro de que a gente deva se livrar”.

Em determinado momento Mary Baker decide que Kennedy já não lhe basta.

Quer reunir mais apóstolos que levem ao mundo a não existência das doenças.

A mestra de a “Ciência de Cristo” começa a formar seus “médicos” em cursos de seis semanas de duração.

O êxito de Kennedy, que chega a faturar doze mil dólares por mês, atrai dezenas de operários e pequenos comerciantes para os cursos.

Ela, a princípio cobra-lhes cem dólares e, posteriormente, trezentos pelo curso e, por contrato, 10% de todos os ganhos futuros.

Mary Baker sente o fumo do sucesso e desde esse primeiro momento tenta patentear “suas descobertas” e convertê-las em dólares.

Na sua crença não existe a matéria, só espírito, no entanto, as notas bancárias são mais que reais para essa mulher.

Após dois anos de parceria Mary Baker deseja, afinal, livrar-se do pacífico Kennedy.

Do dia para a noite ela suprime a prática de se tocar no paciente, na qual Kennedy fora treinado e a qual praticava.

Era a primeira de muitas excomunhões que faria: de seus lábios convulsos brotaram todas as monstruosidades imaginárias.

Atribui a Kennedy um tal de “influxo diabólico”, que é a própria necromancia medieval renascida.

Com esse processo a sua “Ciência de Cristo” criará mais um pilar de sustentação: “o magnetismo animal malicioso”.

Mary Baker se auto promove em “a enviada de Deus para guiar seu rebanho na Terra”.

Todos os domingos ela reunirá seus discípulos para a prédica dominical, acompanhada por música coral e piano.

Ela ascende de professora a sacerdotisa, transformando sua terapêutica em sacerdócio.

Nega, desde sempre, todo o seu passado e apaga qualquer referência que um dia fizera a Quimby, “a quem jamais conhecera”.

Sendo necessário criar uma “Legenda Áurea” sobre si mesma, toda a infância da sacerdotisa é agora recontada, incluindo entrevistas com anjos e Joana D’Arc.

Ela própria define como sendo em 1866 o momento de “sua graça” (após a morte de Quimby, naturalmente), quando o Senhor apareceu-lhe diretamente e inspirou-lhe a “Ciência de Cristo” e as leis divinas da vida.

Mary Baker e sua metafísica entram para o reino do absurdo e nesse movimento lança as pedras fundamentais de todas as futuras seitas neo-pentecostais dos séculos XX e XXI.

Ela tornará a casar-se e seu terceiro marido será um dos discípulos, agora apóstolos, Gilbert Eddy, em 1887.

Apesar de enriquecida, Mary Baker-Eddy sabe que todas as religiões em seus estágios embrionários não podem se permitir cismas, que possuem a possibilidade de destruir todo seu edifício.

Contra todos aqueles que buscam caminhos independentes do seu ela, além da excomunhão, move-lhes processos na justiça dos homens.

Chegará mesmo ao ponto de processar um ex-apóstolo por bruxaria, isso quase no século XX.

O juiz encarregado do caso sorri na face daquela mulher magra e grisalha, colérica e que mal se contém de ódio, aquela que se diz “enviada pelo Espírito Santo”.

O juiz declara-se incapaz de julgamentos cabalísticos e encerra uma de suas dezenas de processos.

A imprensa começa a indagar sobre as origens de tal sacerdócio e o prestígio de Mary Baker-Eddy ameaça desmoronar na pequena Lynn.

Ela toma uma das grandes decisões de sua vida. Buscará nova cidade, grande o bastante para seus projetos.

Com todo o dinheiro acumulado irá mudar-se para Boston, carregando consigo apenas seu marido Gilbert, cuja saúde não resistirá.

A viúva, novamente só, declarará que a morte do marido ocorrera devido ao “arsênico metafísico”, um veneno mental emitido pelos demônios excomungados por sua fé.

Em Boston, ela adquire uma residência de três andares, na Avenida Colombo, a via mais elegante da cidade.

Decora cada ambiente com esmero, quadros e tapetes.

Seus alunos serão pessoas “refinadas” e não mais os pobres de Lynn.

Sua nova escola é nomeada de: “Universidade Metafísica de Massachusetts”, com uma autorização de funcionamento comprada dos agentes do Estado de Massachusetts.

Todo domingo Mary Baker-Eddy sobe ao púlpito e o público que superlota a sua Universidade-Igreja retém a respiração perante sua ardente oratória.

Desde então sua figura somente será vista em momentos especiais, criando ao redor de si uma auréola de mistério e encantamento.

Para evitar os tropeços do passado ela erguerá anteparos que a distanciem de quem foi e de quem é: serão secretários, atendentes, advogados.

Ela também conhece muito bem a América de 1890 e sabe que aquele que deseje conquistá-la deverá primeiro ganhar a consciência das massas, com o ensurdecedor ribombar da propaganda.

Sabe também, como saberão todos os futuros líderes das seitas neo-pentecostais, que qualquer produto deve buscar atender seus consumidores, identificar suas necessidades e criar novas.

Assim, Mary Baker-Eddy usará e abusará da publicidade.

Cria o primeiro serviço de atendimento telefônico-religioso; em seguida, funda o “Jornal da Ciência de Cristo”, que, com asas de mercúrio, chegará a todos os recantos de Norte-América, trazendo a boa nova das curas de Boston, um novo método de medicina universal.

Desde Nova York, Filadélfia e New Jersey chegam enfermos, muitos dos quais se tornarão apóstolos da nova doutrina.

E cada novo “doutor” trabalhará para aumentar as assinaturas do jornal.

E, desde então, novos alunos sempre acorrerão a Boston.

A engrenagem funciona a todo vapor. Deste modo, entre 1890 e 1900 teremos trinta e três “Academias para doutorado” na “Ciência de Cristo”, distribuídas por quase todo o território americano.

A bíblia “Ciência e Saúde” alcança a espantosa cifra de 300 mil exemplares vendidos.

Todo o dinheiro das doações recolhidas pela Universidade e percentagem das Academias irá para a conta bancária de “Mother Mary”.

São dezenas de milhões de dólares que serão aplicados na construção de Templos e em esplêndidas mansões de retiro.

A cobiça de Mary Baker-Eddy não encontra limites e por isso a “Ciência de Cristo” será organizada dentro das melhores bases comerciais e contará com profissionais em áreas-chave.

Logo surgirão souvenirs, imagens, fotos autografadas da fundadora, mais e mais livros, folhetos, até mesmo utensílios domésticos.

O prestígio de Mary Baker-Eddy aumenta dia a dia.

A cada aparição sua, um público de dez, quinze mil pessoas aglomera-se para ouvi-la falar.

Em Chicago ela organizará sua primeira “Festa do Espírito”, em 1888, consagrando-se de vez.

Mary assume-se como “A Profetiza” e decide construir o “Templo da Profetiza de Cristo”.

É a sua santificação!



Ao abrirem-se as janelas do século XX, a igreja de Mary Baker-Eddy estará entre as quarenta maiores empresas norte-americanas e uma das dez mais lucrativas.

É chegada a hora do profissionalismo.

Mary Baker define uma organização absolutamente piramidal de poder e de lucros.

Cria um “Board of Directors”, do qual será a Presidente, e todas as centenas de igrejas implantadas terão de manter uma obediência irrestrita à “Santa Madre Igreja”.

Instruções específicas garantem percentagens de repartição dos lucros, métodos de contabilização dos resultados e impedem qualquer tipo de heresia doutrinária.

Alguém tem dúvida a respeito do mestre que realmente inspirou um Edir Macedo?...

Assim como o juiz de Lynn desnudara-lhe a hipocrisia e a paranoia pecuniária, agora surgiria a voz do jornalista, humorista e intelectual Mark Twain desmascarando-a: como Mary Baker dizia que o livro “Ciência e Saúde” lhe havia sido ditado por Deus, por que cobrava direitos autorais sobre algo que só à divindade seria devido?

Mark Twain jamais a abandonaria em suas críticas enquanto ela vivesse.

Ele denuncia na imprensa como sendo uma patranha a religião que somente se ocupa em acumular dinheiro para si mesma e para seus próprios membros, sem jamais preocupar-se em praticar a caridade ou em possuir um mínimo de altruísmo.

As respostas de Mary Baker-Eddy, a quaisquer questionamentos, sempre foram de um total cinismo, quando não de cólera.

Por exemplo, diz que “Deus ordenara-lhe a cobrança para cada graça requerida, pois o cordeiro, para obter a graça, teria que sacrificar-se antes, pagando”.

Hoje não ouvimos essa mesma frase reverberar nos templos Neo-Pentecostais?

Apenas e tão somente a vida será capaz de desmistificar aquela grande charlatã: ela envelhece, perde seus dentes, os membros se entorpecem, surge a dificuldade de fala e já não escuta o que lhe dizem.

Os cabelos escasseiam e as rugas se aprofundam.

Mas não é a sua religião que afirmava que a doença e a velhice não existiam?

Ao mesmo tempo, as proporções de seus negócios são colossais.

Quando a fundadora completa seus 80 anos, a sua igreja contava com mais de 100 mil discípulos praticantes e os seus templos de pedra e mármore se disseminavam pela América.

De toda a Europa surgiam mais e mais adesões e a fortuna pessoal da “Mother” era estimada em mais de dez milhões de dólares, aos valores da época.



A Igreja Mãe da Ciência Cristã, Boston, Massachusetts

Aos 82 anos, Mary Baker-Eddy encara um novo desafio, lançado pelo já fundado Templo de Nova York: erguer uma Basílica, muito maior que o templo novaiorquino, para a Congregação das Igrejas.

Essa Basílica, que constitui ainda hoje um dos mais belos edifícios de Boston, foi construída com doações que chegaram a dois milhões de dólares, com acomodações para vinte mil crentes.

Foi inaugurada em 1906 ao som do hino: “Pastor, indica-me o caminho”.

É um hino modificado ao sabo dos interesses, mas sempre repetido pelas novas seitas nos últimos cem anos.

A muitas vezes multimilionária Mary Baker-Eddy morre no auge de sua fama, dona de imenso poder não somente sobre sua religião mas, também, sobre grande parcela dos Congressistas americanos, aos 89 anos de idade, no ano de 1910.

A senda por Mary Baker-Eddy aberta é disputada nos dias de hoje, por quase dezenove mil seitas, algumas de grande sucesso, utilizando as mesmas bases metafísicas que ela introduziu há mais de um século e que podem ser resumidas na união maquiavélica e perniciosa da religiosidade com o dólar, na exploração da crendice popular e na busca pelo poder terreno!

Fica a pergunta que não quer calar: quem irá mesmo queimar no inferno?...

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