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quarta-feira, janeiro 07, 2015

Esquentando os tamborins (Parte 5)


Denise Carla
Em 1935, o Cordão dos Laranjas construiu um salão, em forma de navio, que “atracou” na Esplanada do Castelo, e ali se realizariam alguns dos mais alegres bailes de três ou quatro carnavais. 
Enquanto o Teatro Municipal iniciava concursos de fantasias de luxo (a princípio só femininas, e, depois dos anos 50, também masculinas), os bailes que atraíam multidões eram os do Botafogo, Fluminense, Flamengo, Vasco da Gama e América. 
Bem familiares em suas primeiras versões, reunindo a sociedade abastada em trajes de gala, foram-se tornando cada vez menos bailes de fantasia. 
Já não se conseguia dançar, apenas pular, e à casaca e ao smoking juntavam-se o traje-esporte e o mulherio semidespido. 
E existiam os bailes gremiais, como o das Atrizes, o Vermelho e Preto, o dos Pierrôs etc.
Nos bailes, as danças variavam de polca, lundu e tanguinho a sambas, marchinhas, frevos, jongos e cateretês, com todos os participantes cantando, pulando e “fazendo cordão”. 
Já nos banhos de mar à fantasia, porém, os foliões cantavam a plenos pulmões as músicas de sua preferência e também aquelas que eram divulgadas por discos e nos coretos municipais animados por bandas de música. 

Os banhos de mar à fantasia criaram hábito no intervalo entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. 
Os blocos e foliões trajavam fantasias de papel crepom e, após desfilarem nas praias, caíam na água, tingindo-a por horas, pois as fantasias de papel desbotavam fortemente. 
Havia, é claro, outro traje de banho, normal, sob aqueles trajes carnavalescos efêmeros.
A serpentina, aquela fita colorida de papel que é arremessada sobre os brincantes, tem origem francesa e chegou ao Brasil em 1892. 
No mesmo ano, também chegou o confete, de origem espanhola. 
Já o lança-perfume era uma bisnaga de vidro ou metal que continha éter perfumado, também de origem francesa, mas só chegou ao Brasil em 1903. 
Utilizados inicialmente nos bailes de carnaval de salão, o confete, a serpentina e o lança-perfume contribuíram enormemente para o êxito dos corsos que deram vida ao carnaval de rua. 
E, neste novo tipo de entretenimento, as batalhas de confete constituíam o momento culminante. 

A moda do corso, iniciada timidamente logo após a chegada dos primeiros automóveis, atingiria seus momentos de glória entre 1928 e a década de 1940. 
O corso consistia de uma passeata carnavalesca de carros de passeio conversíveis, de capota arriada, enfeitados de panos coloridos e bandeirolas, conduzindo famílias ou grupos de foliões que se sentavam não só nos assentos, mas também sobre a capota arriada, sobretudo as moças fantasiadas de saias bem curtas, cantando ou jogando serpentinas e confetes nos pedestres, que se amontoavam nas beiras das calçadas para vê-las passar.
Essa gente motorizada brincava também com os ocupantes dos carros vizinhos e, por vezes, com os veículos rodando lentamente, emendavam o cortejo atirando montes de confete e milhares de metros de serpentina que enlaçavam os carros e se acumulavam no asfalto das avenidas a cada noite. 
O lança-perfume também era usado em profusão, enquanto a confraternização com os pedestres se ampliava não só pelos jatos de lança-perfume – o que abria caminho para conhecimentos mais íntimos, namoricos e paqueras – como também de caronas momentâneas na disputa de músicas entoadas por uns e por outros. 

Cada cidade possuía seu local de corso. O do Rio de Janeiro ocorria, principalmente, na Avenida Rio Branco (antiga Avenida Central), mas a certa altura, em vários carnavais, o corso se prolongava à Avenida Beira-Mar, atingindo o Flamengo e Botafogo até o Pavilhão Mourisco, no final da praia.

Quase consequência do corso, que desapareceu com o advento das limusines e carros fechados, as batalhas de confete ocorriam em locais determinados que possuíssem torcidas de bairro organizadas ou blocos suficientemente fortes para desenvolver a disputa – uma competição de canto, dança na rua e corso (nem sempre). 
Nas semanas ou meses que antecediam o tríduo de Momo, essas torcidas ou blocos organizavam as festas em que se gastavam quilos de confete e serpentina, litros de lança-perfume, e em que se dava a disputa entre as músicas preferidas de cada agremiação. 
Tais batalhas se prolongavam, às vezes, até o amanhecer, algumas superando a empolgação dos dias de carnaval “legítimo”, porque ali se exibiam os blocos, os ranchos e os foliões avulsos.

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