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quinta-feira, janeiro 28, 2016

Paulo Mamulengo e os bonecos da BICA


O ventríloquo, repentista e bonequeiro paraibano Paulo de Tarso (aka “Paulo Mamulengo”) chegou ao Amazonas em 1988. Veio com uma missão designada pela coordenação nacional do Morhan (Movimento de Reabilitação dos Portadores de Hanseníase): descobrir o porquê de o Amazonas ser campeão absoluto em casos de hanseníase, uma doença terceiro-mundista mais conhecida como “lepra”.

Paulo esteve no centro do furacão (Lábrea e Humaitá) e voltou para contar o que tinha visto – e que todo mundo sabe de cor e salteado, menos os nossos governantes: a lepra é resultado, basicamente, da falta de condições mínimas de higiene e alimentação.

Em Manaus, Paulo ouviu falar que o primeiro leprosário do Estado foi erigido no distrito de Paricatuba, no município de Iranduba, e que estava localizado na margem direita do rio Negro, a cerca de 50 quilômetros da capital.

Descobriu, também, que o hospital-colônia de tratamento, mantido por religiosos italianos durante seis décadas, foi posteriormente desativado, nos anos 50, sob o argumento idiota de que os leprosos estavam contaminando o rio e, por extensão, a capital, já que a estação de captação de água de Manaus, localizada na “Ponta do Ismael”, ficava abaixo de Paricatuba.

O governador responsável pela tragédia foi Álvaro Maia, um poetastro medíocre também conhecido como “Cabeleira”, que na época era governador do Amazonas.


Paulo Mamulengo visitou o lugar e conversou com vários leprosos que haviam sobrevivido ao “pogrom”. Na época, quase todos os portadores de hanseníase foram trancafiados em barcos regionais, remetidos para Manaus e isolados num complexo hospitalar chamado Colônia Antônio Aleixo, que hoje virou um dos maiores bairros da Zona Leste.

Em Paricatuba, só escapou quem se escondeu no mato. Qualquer alusão aos quilombos não é simples coincidência. Revoltado, Paulo Mamulengo resolveu encampar a luta dos hansenianos daquele distrito.

Ele comprou uma casa, cujo quintal é o próprio rio Negro, e se estabeleceu no lugar, junto com sua esposa Rô, e os dois filhos do casal, Artur e Alberto. Apesar de ele ser portador do mal de Hansen, seus filhos e sua a esposa são absolutamente normais, o que derruba outro preconceito besta: o de que alguém “pega” lepra pelo simples contato físico.

Mais esclarecido sobre a doença que muitos “doutores” do Instituto Alfredo da Matta, Paulo Mamulengo logo se tornou porta-voz de Paricatuba.

Na companhia de seus bonecos mamulengos recitando textos mezzo-humorísticos, mezzo-dramáticos, ele, à sua maneira, começou a conscientizar a comunidade sobre os seus direitos.

Tendo confeccionado o seu primeiro boneco de manipulação aos oito anos de idade, Paulo de Tarso percorreu vários caminhos até encontrar-se com a arte popular do mamulengo.


Em 1992, no Espaço Cultural Mar Azul, do capoeirista Joãozinho da Figueira (atualmente morando em Londres), que funcionava ali no bairro da Alvorada, Paulo de Tarso e o boneco Albino Caburé da Silva (aka “Negão”) apresentaram o espetáculo “Na Grota do Istopô Kalango”, em que a dupla recitava poemas, contava causos, desfiava repentes e canções populares e improvisava textos feitos na hora, a partir do noticiário dos jornais do dia.

Assim que começava o espetáculo, Paulo de Tarso falava para a plateia sobre sua experiência de vida, que vou tentar reproduzir ao sabor da memória:

– Posso ser considerado um recordista de vestibulares! – avisava. – Fiz cinco e passei em todos eles. Iniciei minha carreira de estudante na Universidade de Brasília, em 1972, onde fiz vestibular para Psicologia. Estudei menos de um ano. Só fiquei no curso até o dia em que me levaram para um laboratório e me mandaram abrir um rato! Que psicologia barata eu podia aprender com aquilo? Se fosse pelo menos um preá ou uma cutia...

– É mermo, macho? – intervia o boneco Negão.

– Tô te falando, Negão! – continuava o bonequeiro. – Voltei para a Paraíba e estando lá de bobeira resolvia fazer vestibular para Educação Física. Era época de Olímpiadas e eu era um rapaz lindo, bonito e joiado. Resolvi ser atleta. Mas quando soube que tinha de acordar às 5h da manhã para correr 16 quilômetros todos os dias, desisti. Pulei para Educação Artística, porque queria ser artista. Lá encontrei um bocado de professores conservadores e metidos a catedráticos, ensinando alunos que estavam mais interessados em aprender tricô e crochê para ensinar aos aleijados. Era esse o conceito que se tinha de Educação Artística no governo militar e acho que de lá pra cá não mudou muita coisa...

– É mermo, macho? – intervia de novo o boneco Negão.

– Tô te falando, Negão! – continuava o bonequeiro. – Aí voltei pra Brasília e fiz vestibular para Arquitetura. Estudei três anos. Eu passava oito horas diante de uma prancheta aprendendo a desenhar casa com piscina no lago Paranoá e depois pegava dois ônibus para ir dormir numa favela na Ceilândia. Não deu outra. Desisti.

– É mermo, macho? – intervia pela terceira vez o boneco Negão.

– Tô te falando, Negão! – continuava o bonequeiro. – Aí, fiz vestibular para a Escola de Teatro Dulcina, também em Brasília, mas fiquei traumatizado porque todos os atores eram boiolas e as atrizes, sapatões. Resolvi seguir meu destino e retornei a Paraíba, para aprender com o Mestre Lucas a arte do mamulengo. É por isso que nós estamos aqui...

– Então vamos começar a fuleiragem, cabra da peste! – berrava o boneco Negão, já meio injuriado com tanta ladainha.

E haja causos. Dois deles, que achei altamente filosóficos, também vou transcrever de memória:


Desde pequeno Paulo Mamulengo reparava na mãe olhando o céu, catando sinal do tempo. Pôr do sol vermelho é geada braba. Picumã caindo, sol chorando, é chuva certa. “Neblina na serra, chuva na terra”, dizia um. “Neblina baixa, sol que racha”, repostava o outro.

Um dia, ainda moleque, capinava junto com o pai. A enxada batia no chão seco, tinia, repicava. O silêncio deles só pedia a chuva que não vinha. Olhavam pro céu, nada.

De repente, Paulo apurou o ouvido e abriu o verbo, satisfeito:

– Vai chover, pai. Sabiá cantou. Acabei de ouvir.

Seco, seu pai contestou:

– Qual o quê?... Sabiá não é Deus... Se ainda fosse macaco guariba, vá lá...

Até hoje o bonequeiro não entendeu a lógica do velho.


Numa outra ocasião, Paulo foi flagrado pela mãe sendo enrabado por um moleque da sua idade. Levou uma surra de criar bicho. Sua mãe contou ao seu pai o motivo do castigo infligido ao garoto. O velho não disse nada.

Uma semana depois, Paulo foi flagrado novamente pela mãe, dessa vez enrabando o referido moleque da sua idade. Levou outra surra de criar bicho. Sua mãe contou pro pai o motivo do castigo infligido ao garoto.

O velho se encrespou:

– Ô, mulher, desse jeito ocê vai dar um nós nas tripas no cerebelo do menino. Ele agora não sabe mais se é pra dar o cu ou se é pra comer, já que apanha do mesmo jeito... Não se meta mais nisso não, que eu mesmo vou conversar com ele...

Graças aos sábios conselhos do pai, Paulo Mamulengo se transformou em um espada matador de carteirinha com registro em cartório.


É dispensável falar que desde aquele dia em que o vi pela primeira vez no Espaço Cultural Mar Azul nós nos transformamos em amigos de infância.

Por minha sugestão, Paulo Mamulengo fez várias apresentações no Bar Calígula, do escritor Rui Sá Chaves, ali no bairro de Aparecida.

Hoje em dia, os bonecos gigantes já fazem parte do carnaval amazonense, tanto na capital como no interior, mas nem sempre foi assim. Vamos recordar rapidamente como essa história aconteceu.

Em 1994, durante um canavial no Bar do Armando, eu e Paulo Mamulengo começamos a conversar sobre os bonecos gigantes de Olinda, que saíam no Bloco do Homem da Meia-Noite.

Paulo Mamulengo me contou que era amigo do mestre bonequeiro Silvio Botelho, responsável pela confecção dos bonecos gigantes de Olinda, que hoje conta com mais de mil criações no currículo.

Segundo ele, Silvio Botelho nasceu no dia 14 de maio de 1956, no bairro do Amparo, em Olinda, Pernambuco. Autodidata, desde cedo começou a trabalhar com esculturas em madeira, gesso e barro, influenciado pelos ceramistas de Caruaru, principalmente pelo Mestre Vitalino.


Aprendiz do artesão olindense Roque de Lima, conhecido como Roque Fogueteiro, Silvio aprendeu com ele diversas técnicas, como a implantação de cabelo nos bonecos, fazer a massa da modelagem, combinar cores, misturar solventes e tintas, além de preparar pólvora para os fogos de artifícios. Posteriormente, foi descobrindo outras técnicas em viagens pelo Brasil.

Ele iniciou-se em projetos carnavalescos na década de 1970, confeccionando máscaras e alegorias. Em 1974, criou seu primeiro boneco gigante O Menino da Tarde, “filho” do encontro entre O Homem da Meia-Noite e A Mulher do Dia.

Paulo Mamulengo lembrou mais ou menos da conversa do amigo:

“O primeiro boneco que fiz foi O Menino da Tarde. Ernandes Lopes foi a pessoa que me pediu para fazer. Nessa época, só existia O Homem da Meia-Noite e A Mulher do Dia. Era o filho dos dois. O maior desafio foi entender o que era fazer um boneco gigante. Um boneco com 2 metros e 90 centímetros de altura. Em dois meses O Menino da Tarde ficou pronto. O boneco pesava 35 quilos e foi confeccionado em madeira, capim, papelão duro e papel. Ao ver o resultado, o renomado artesão Roque Fogueteiro ficou impressionado com a beleza da obra e me aconselhou a prosseguir no caminho da arte”, explicou o mestre bonequeiro.

De lá pra cá, Silvio Botelho vem aperfeiçoando cada vez mais a sua técnica de criação de bonecos, evoluindo da tradicional modelagem em barro para a modelagem direta em bloco de isopor, conseguindo leveza e versatilidade nos gigantes. O corpo é feito com fibra de vidro. Atualmente, os bonecos chegam a medir três metros de altura e pesar de treze a quinze quilos, bem diferente dos primeiros que pesavam cerca de cinquenta quilos.


Paulo Mamulengo garantiu ainda que Silvio Botelho, durante uma oficina que ministrara em Olinda, havia lhe ensinado o pulo do gato.

Perguntei se ele tinha condições de fazer um boneco gigante imitando o Armando Soares. Ele falou que sim, que poderia fazer desde que alguém fizesse uma caricatura de frente e de perfil do comerciante. Chamei o artista plástico Jorge Palheta, que resolveu a bronca em dez minutos.

Paulo Mamulengo falou o preço (hoje, algo em torno de R$ 1 mil), conversei com a diretoria da BICA, fizemos uma cota e pagamos pra ver.


Em 1995, o primeiro boneco da BICA fazia sua aparição no carnaval amazonense. Os biqueiros adoraram a novidade e Paulo Mamulengo foi incumbido de fazer mais dois novos bonecos para o ano seguinte. 

O artista plástico Jorge Palheta se transformou no caricaturista oficial dos mamulengos.

Em 1996, Frei Fulgêncio, comandante-em-chefe da Igreja de São Sebastião, e Petronília, nossa eterna musa inspiradora, entraram em campo e também fizeram bastante sucesso.




Em 1997, foi a vez do general-da-banda e jornalista Deocleciano Souza e de Dona Lourdes, a nossa eterna garota Socila.  Ela, evidentemente, odiou o boneco.

A Banda do Cinco Estrelas também entrou na roda e providenciou dois bonecos: Charles Stones e Eliezer Leão, ou seja, o patrono e o presidente da banda.




Em 1998, foi providenciado um novo boneco da BICA: o do advogado Félix Valois, por conta do enredo que versava sobre um velho comunista que se aliançou. Por algum motivo, o boneco sumiu no final do desfile.


Em 1999, mais dois novos bonecos foram providenciados pela banda: o da agitadora cultural Celeste Pereira (que havia falecido quando ainda estava gestante) e o do escritor Antônio Paulo Graça. Os dois bonecos também desapareceram no final do desfile.



Em 2004, eu paguei sozinho pelo boneco do advogado Alberto Aleixo e a diretoria da BICA pagou pelo boneco do advogado Nestor Nascimento. Os dois bonecos desapareceram tão rapidamente, no meio do desfile, que não sobrou sequer um registro fotográfico...

Dizem as más-línguas que os bonecos “desaparecidos” eram repaginados rapidamente no ateliê de Paricatuba e depois revendidos para bandas carnavalescas de Coari, Tefé, Benjamin Constant, Tabatinga, Eirunepé e adjacências, a tempo de participarem do desfile no sábado gordo.


Nunca conversei com o Paulo Mamulengo sobre esse assunto. Amigos são pra essas coisas...

terça-feira, janeiro 26, 2016

O incrível Diabo Louro


Eu e Cassianinho durante um canavial no Sollarium

Novembro de 1983. Cheio da manguaça, Cassianinho Anunciação estava brincando de sinuca no Bar do Aristides com alguns amigos, numa tarde de sábado, quando surgiram três sujeitos desconhecidos e ficaram observando a brincadeira. De repente, um deles cantou a pedra:

– Eu aposto no taco desse meu amigo aqui como ninguém aí nessa mesa ganha dele...

Cassianinho não deixou barato:

– Então, manda ele pegar logo um taco, que vai ser eu contra ele. Mas é aposta de mil cruzeiros, casada aqui na mão do meu compadre Nei Parada Dura.

O sujeito mais corpulento dos três pegou um taco, passou giz na ponta e entrou no jogo. Em menos de três horas, Cassianinho já havia embolsado 15 mil cruzeiros. Os sujeitos começaram a ficar nervosos. Lá pelas tantas, quando Cassianinho se preparava para matar uma bola, seu braço esbarrou sem querer em outra bola, que estava colada na mesa. Um dos sujeitos estrilou:

– Ah, é por isso que esse vigário está ganhando... Ele descola as bolas da mesa com o braço... Assim, até eu...

Cassianinho ficou mordido. Jogou o taco em cima da mesa e partiu pra cima do coiote:

– Eu dou porrada em vocês na sinuca e no braço também. Quer ver, mete a cara!

O sujeito não se intimidou:

– Tu só tá falando isso por que está no meio da tua turma... Quero ver essa tua marra num campo neutro...

Cassianinho se embocetou de vez:

– Meu irmão, eu dou porrada em vocês aqui, ali, acolá, onde vocês se escolherem. Querem brigar comigo aonde?...

– Vamos lá pro Pontão das Lavadeiras, em Petrópolis... – avisou o sujeito mais corpulento.

– Só se for agora! – concordou Cassianinho. – E eu faço questão de pagar o táxi.

Os sujeitos fizeram sinal para um táxi que ia passando, o táxi parou e os três embarcaram dentro do fusquinha. O mais corpulento foi no banco do carona. Cassianinho, no banco traseiro, sentado entre os outros dois sujeitos. Quando o táxi ia passando em frente ao Grupo Escolar Carvalho Leal, caiu a ficha: porre pra caralho, ele, Cassianinho, estava indo brigar sabe-se lá com quantos caras e num local completamente estranho. Que bobajada era aquela?

Na mesma hora, ele deu um murro no queixo do sujeito que estava à sua esquerda e uma cotovelada na boca do que estava à direita. Ouvindo os urros dos comparsas, o sujeito que estava no banco do carona se virou pra trás e meteu um contravapor no meio do olho esquerdo do Cassianinho, que lhe deixou meio grogue. Assustado com aquela confusão, o taxista parou o carro, abriu as duas portas dianteiras e começou a gritar pedindo ajuda.

Ainda meio grogue, Cassianinho deu uma joelhada nas costelas do sujeito que estava à sua esquerda, deu um pisão no saco do que estava à direita, voou em cima do sujeito que estava no banco do carona, deu-lhe uma gravata e, como a porta estava aberta, os dois foram parar embolados no meio da rua.

Um monte de gente que estava fazendo compras na Feira Livre da Cachoeirinha correu para ver a presepada. Cassianinho havia encaixado um mata leão no sujeito e estava prestes a mata-lo sufocado, quando a turma-do-deixa-disso resolveu intervir. Os brigões foram separados. Os três sujeitos meteram o pé na carreira em direção à Rua Codajás.
Cassianinho pagou a corrida de táxi, pediu desculpas ao taxista e voltou a pé para o Bar do Aristides. Seu olho esquerdo quase não abria, ele estava suado, cansado e meio estropiado, mas ainda assim foi recebido como um verdadeiro herói. Manguaça é foda!

sexta-feira, janeiro 22, 2016

Diabos maconhados ou maconheiros endiabrados? Você decide...


Tibica e Oliveira no pré-aquecimento do desfile

Fevereiro de 1981. Se preparando para o desfile do bloco Andanças de Ciganos daquele ano, minha irmã Simone havia aproveitado uma viagem ao Rio de Janeiro para comprar uma ala inteira (60 kits) no badalado Saara, meca dos carnavalescos cariocas. Os kits, entretanto, só chegaram a Manaus uma semana antes do desfile. Não daria mais tempo de vender as fantasias aos brincantes.

Para não ficar no prejuízo, ela me revendeu a ala inteira pelo preço de custo (em valores de hoje, talvez R$ 600), com a recomendação expressa de que fosse a última ala a desfilar. Os kits eram unissex: calça de cetim vermelho, camisa sem manga de cetim vermelho com um signo zodiacal prateado em alto relevo no meio do peito e bandana dourada. Comecei a convidar um monte de gente para desfilar na ala. Quem aceitasse desfilar, recebia a fantasia de graça. Nenhuma mulher topou a oferta.

No dia do desfile, 60 machos fantasiados de diabinhos-da-garrafa meio fakes (o cramunhão original usa vermelho da cabeça aos pés) estavam batendo ponto no Top Bar para fazer o pré-aquecimento à base de manguaça. Um ônibus com ar-condicionado foi colocado à nossa disposição. Por volta das 19h, embarcamos no ônibus para se dirigir ao local do desfile.

O ônibus ainda não havia chegado ao Grupo Escolar Carvalho Leal quando Enedino Major, meu companheiro de batente na Philco da Amazônia, se levantou de um dos últimos bancos, se dirigiu ao motorista e mandou um papo reto:

– Motora, desliga o ar condicionado e abre as janelas do busão, que a jiripoca vai piar!

Dito isso, ele puxou do bolso um “constelation” (um charo de 20 cm de comprimento por 5 cm de diâmetro), acendeu, deu uma puxada de responsa e cantou a pedra:

– Vamos iniciar a nossa sessão de descarrego para fazer um grande desfile! Isso aqui é coisa boa, moçada! Veio diretamente da ilha de Alcântara, no Maranhão! Cada um dá um pauzinho e passa pro companheiro ao lado, que tem pra todo mundo!

Aí, esticou o charo para Ailton Santa Fé. Ele deu um pau e passou pro Tibica. Tibica deu um pau e passou pro Oliveira. Oliveira deu um pau e passou pro Luiz Lobão. Luiz Lobão deu um pau e passou para o Marquinho, etc., etc. Em dez minutos, o charo já havia dado a sua primeira volta olímpica dentro do ônibus.

A bola voltou pro Enedino. Ele deu um pau e passou pro Ailton Santa Fé, que passou pro Tibica, que passou pro Oliveira, etc., etc. Quem recusou polidamente a oferta (eu e mais meia dúzia de brincantes) viajou na maresia, já que o nevoeiro de diamba envolvia completamente o interior do veículo. Quando o ônibus estacionou nas proximidades do Cemitério São João Batista, todo mundo já estava alucinado.

Não há registro nos anais da história do bloco Andanças de Ciganos de que tenha existido alguma ala mais animada do que aquela. Os diabos maconhados (ou os “maconheiros endiabrados”) pintaram, bordaram, cerziram e chulearam na Avenida Djalma Batista. As coreografias inventadas na hora eram de tirar o fôlego.

Foi a única ala da escola a receber nota dez de todos os jurados. Os diretores do bloco foram nos agradecer pessoalmente, mas a gente não conseguia parar de rir.

Constelation maranhense é pedra de responsa, zifio!

Terrorismo Poético


Obra clássica do grafiteiro Bansky e Hakim Bey in concert

Hakim Bey

ESTRANHAS DANÇAS NOS SAGUÕES de Bancos 24 Horas. Shows pirotécnicos não autorizados. Arte terrestre, trabalhos- telúricos como bizarros artefatos alienígenas espalhados em Parques Nacionais. Arrombe casas, mas, ao invés de roubar, deixe objetos Poético-Terroristas. Rapte alguém e faça-o feliz. Escolha alguém aleatoriamente e convença-o de que ele é herdeiro de uma enorme, fantástica e inútil fortuna: digamos 8.000 quilômetros quadrados da Antártida, ou um velho elefante de circo, ou um orfanato em Bombaim, ou uma coleção de manuscritos alquímicos. Mais tarde, ele irá dar-se conta de que acreditou por alguns poucos momentos em algo extraordinário, & talvez, como resultado, seja levado a buscar uma forma mais intensa de viver.

Pregue placas comemorativas de latão em locais (públicos ou privados) onde experimentaste uma revelação ou tiveste uma experiência sexual particularmente especial, etc.

Ande nu por aí.

Organize uma greve em sua escola ou local de trabalho, com a justificativa de que não estão sendo satisfeitas suas necessidades de indolência & beleza espiritual.

A arte do grafitti emprestou alguma graça à metrôs horrendos & rígidos monumentos públicos. A arte Poético-Terrorista também pode ser criada para locais públicos: poemas rabiscados em banheiros de tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte xerocada distribuída sob limpadores de pára-brisa de carros estacionados, Slogans em Letras Grandes grudados em muros de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários aleatórios ou escolhidos (fraude postal), transmissões piratas de rádio, cimento fresco...

A reação da audiência ou o choque estético produzido pelo Terrorismo Poético deve ser pelo menos tão forte quanto a emoção do terror: nojo poderoso, excitação sexual, admiração supersticiosa, inspiração intuitiva repentina, angústia dadaísta – não importa se o Terrorismo Poético é direcionado a uma ou a várias pessoas, não importa se é “assinado” ou anônimo; se ele não muda a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.

O Terrorismo Poético é um ato em um Teatro de Crueldade que não tem palco, nem assentos, ingressos ou paredes. Para funcionar, o TP deve ser categoricamente divorciado de todas as estruturas convencionais de consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas guerrilheiras Situacionistas de teatro de rua já estão muito bem conhecidas e esperadas, atualmente.

Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberadamente mais bela: este pode ser o Terrorismo Poético definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um aproveitador barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.

Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que acabaste de fazer é arte. Evite categorias artísticas reconhecidas, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida – mas só seja espontâneo quando a Musa do TP tenha te possuído.

Fantasia-te. Deixa um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte.

sexta-feira, janeiro 15, 2016

Memória de elefante


Setembro de 1983. Planejando abandonar aquela dura vida de rotista do bicheiro Ivan Chibata, Vladimir Brother começou a decorar números de telefones, com o objetivo de figurar no Guiness Book e se transformar em uma nova celebridade mundial paga a peso de ouro por conta de sua memória prodigiosa. 

Levou uma semana para decorar 100 números. Com um mês, já sabia 200 números de cor e salteado. Em toda e qualquer hora de folga na fortaleza do bicheiro, era somente nisso que Vladimir Brother se concentrava. Os outros rotistas começaram a desconfiar que ele havia colado o platinado.

Seis meses depois, Wladimir Brother já havia decorado 600 números de telefones, tanto de pessoas físicas quanto de jurídicas. Seu parceiro de rota, Mário Bocão, era o seu principal interlocutor. Quando os dois saíam para fazer uma rota, Brother pilotando, Bocão na garupa, o piloto soltava a senha:

– Pergunta, parente, pergunta!

– Hospital Adventista? – indagava Mário Bocão, consultando uma planilha.

– 2379815

– Correto. Credilar Teatro?

– 2569512

– Correto. Paulo Anastácio de Souza?

– 6474256

– Correto. Paulo Anastácio Corrêa?

– 6639087

– Correto. Loja dos Lustres na Compensa?

Enfim, os dois passavam horas e horas testando a memória do piloto. O bicheiro Ivan Chibata ficou sabendo da presepada e deu a maior força para o funcionário. 

Empolgado como nunca, Vladimir Brother atingiu a estonteante marca de 800 telefones decorados, após um ano de dedicação exclusiva ao assunto.

Um belo dia, quando os dois participavam de mais uma rota, Mário Bocão abriu um chiclete Ploc, deu uma olhada na figurinha que acompanhava a goma de mascar, guardou no bolso e não falou nada. Na verdade, ele continuou perguntando pelos telefones e conferindo as respostas. 

Quando os dois voltaram para a fortaleza do bicheiro, Mário Bocão foi até a sala do Ivan Chibata, tirou do bolso a figurinha do chiclete Ploc, entregou ao bicheiro e arrematou:

– Passa o pano no nosso bestão... – se referindo, evidentemente, ao Vladimir Brother.

Ivan Chibata leu a curiosidade estampada na figurinha do chiclete Ploc: “Dono de uma memória prodigiosa, o chinês Chun Tang Wu sabe de cor e salteado o número de 30 mil telefones da Província de Shizan. Ele quer atingir a marca de 40 mil telefones em três anos.”

O bicheiro chamou Vladimir Brother, entregou-lhe a figurinha do chiclete Ploc e foi sincero:

– Se depender desse chinês, meu jovem, você só vai deixar de ser rotista daqui a 50 anos...

Vladimir Brother abandonou o hobby no mesmo dia.

quarta-feira, janeiro 13, 2016

A história do Charlie Show Clube


Em pé: Paulinho Cão, Glauber, Donga, Paulo Pacu, Caboquinho e Petrônio. Agachados: Coteiro, Chicuta, Zé Brilha, Zezinho Alnecy, Hiran Queiroz e Pinto.

Agosto de 1974. No mesmo mês em que o Murrinhas do Egito era fundado, no canto das ruas Parintins e Borba, na média Cachoeirinha, para se transformar em uma das sensações do Peladão daquele ano, em outra parte do bairro, mais precisamente no canto das ruas Maués e Codajás, uma outra turma de moleques, capitaneada por Donga e Hiran Queiroz, sonhava com um projeto ainda mais ambicioso: se transformarem nos “Harlem Globetrotters” dos peladeiros do bairro.

Um dos moleques mais novos da turma, Afonso Pavão (irmão caçula do folgado Tobias), na época um pivete de 13 anos, vinha se destacando desde os oito anos pelas gaiatices que fazia com uma bola no pé. No começo, ele era chamado de “Zé Bonitinho”, depois foi rebatizado de “Charlinho” (em homenagem ao Charles Chaplin) e, finalmente de “Charlie Show”. Mas Afonso Pavão só sabia fazer isso: malabarismos impressionantes com uma bola no pé. Foi o precursor do Red Bull Street Style, a Copa do Mundo de Futebol Estilo Livre. Em homenagem às façanhas do moleque, o novo time foi batizado de “Charlie Show Clube”.

A equipe principal era formada por Glauber (goleiro), Donga, Paulinho Cão (meu ex-companheiro no infanto-juvenil do São Raimundo), Paulo Pacu e Caboquinho. Dos zagueiros, o que menos batia seria professor honoris causa dos vascaínos Brito e Moisés. No meio-campo, dois volantes carniceiros (Pinto e Zé Brilha) e um divino Ademir da Guia (Mário Pombão) armando o time. No ataque, três baixinhos estilo Romário, mas com piques de velocistas jamaicanos: Chicuta, Coteiro e Hiran. No banco, Zezinho Castanheira, Zezinho Alnecy, Petrônio, Américo, Valdir e Tuca. 

A tática do time era simples: tomar a bola do adversário na base do sarrafo, passar para o Mário Pombão e aguardar o lançamento dele para o campo adversário. Dos três baixinhos, o que chegasse primeiro na bola só ia parar dentro do gol do adversário tal a velocidade de cruzeiro dos filhos da puta. Além de velocista, Coteiro era um excelente cabeceador e, por ser ambidestro, chutava forte com os dois pés. Chicuta e Hiran Queiroz eram habilidosos dribladores e gostavam do chute colocado. Juntos, os três eram uma usina de gols permanente.

A primeira façanha do Charlie Show Clube: ganhou um torneio patrocinado pelo Fast Clube, no campo do Fast Clube (onde hoje está a Semsa, na Rua Recife), vencendo o time infanto-juvenil do Fast Clube, na partida final, por 2 a 1 (gols de Chicuta e Hiran). O time infanto-juvenil do Fast Clube, campeão amazonense da categoria na época, era treinado pelo professor Nazareno, que deu muitas “alegrias” aos moleques do Colégio Estadual Rui Araújo.

Empolgados com a presepada, a molecada do Charlie Show Clube resolveu testar sua força no competitivo campeonato infanto-juvenil realizado no campo do Albatroz (atual “Gilbertão”), que reunia 24 equipes. Durante três anos seguidos, de 1975 a 1977, eles foram vice-campeões, perdendo todas as três finais para o invocado Barés Futebol Clube.

Desistiram da empreitada e resolveram voltar à concepção original: ser um time de demonstração do futebol-arte e excursionar pelo interior do estado. O acerto era simples: reuniam jogadores, torcedores e familiares, faziam uma “vaquinha”, fretavam um barco e saíam em busca de emoções fortes pelos rios, furos e paranás no entorno da cidade.

Uma das paradas mais indigestas foi encarar um torneio patrocinado pelo Botafogo, de Terra Nova, valendo um novilho. Havia 32 times inscritos. Jogos de 20 minutos sem mudança de campo, no estilo mata-mata. O torneio ia começar às 8 horas da manhã de um sábado e se prolongar até às seis horas da tarde, porque o campo na beira do rio não possuía refletores. Se ocorresse algum atraso (por exemplo, a bola caiu no rio e ninguém conseguiu pegar de volta, aconteceu um dilúvio torrencial e umas das traves – de samaumeira – foi atingida por um relâmpago, um jogador foi se molhar no rio e levou uma ferrada de arraia, alguém foi esfaqueado durante uma discussão banal por conta de um erro do juiz, essas coisas), o torneio seria reiniciado no dia seguinte.

O Charlie Show Clube era o solitário representante de Manaus. Os demais times eram oriundos do Manaquiri, Catalão, Careiro da Várzea, Careiro-Castanho, Iranduba, Janauary, Cuieiras, Recanto do Buriti, Pau Rosa, Boqueirão, Comunidade do Jacaré, Lago do Limão, etc. Na hora dos capitães de equipes se reunirem com os juízes para acertar os detalhes do torneio, Donga resolveu bagunçar o coreto:

– Olha, moçada, desculpem qualquer coisa, mas, na real, a gente só veio aqui pegar esse novilho pra fazer um churrasco na Cachoeirinha porque está faltando carne na cidade...

Automaticamente, o time manauara virou a equipe a ser batida pelas outras 31 equipes do torneio, já que os caboquinhos não eram bestas de deixar aqueles folgados da capital colocarem a mão no prêmio. O torneio foi uma verdadeira guerra, com os jogadores do Charlie Show Clube sendo caçados em campo sob a vista grossa dos juízes para delírio da torcida local. Fazendo das tripas coração, o time do Donga venceu três partidas no tempo normal e se classificou para a grande final contra o próprio Botafogo, quando um temporal diluviano suspendeu a competição. A partida foi remarcada para a manhã de domingo.

Na manhã de domingo, outra surpresa: havia novamente 31 equipes inscritas (“são os retardatários de ontem”, explicou candidamente seu Godofredo, o organizador do torneio). O time da Cachoeirinha não quis aceitar a mudança no regulamento. Discute daqui, discute dali, o salseiro se formando, até que Hiran Queiroz reuniu a equipe e cantou a pedra:

– Bem, moçada, pra que já está no inferno não custa nada dar um abraço no Cão... Vamos à luta!

O Charlie Show Clube continuou vencendo suas partidas no tempo normal quando, por volta das 16 h, seu Godofredo parou a competição com outra novidade.

– Olha, como acabam de se inscrever mais 12 equipes, a disputa agora vai ser na base do pênalti...

O torneio se transformou num ganha-chama à base de pênalti, com o Charlie Show Clube ganhando e chamando seus adversários. Não havia a menor hipótese de os folgados da capital colocarem a mão no prêmio. A tarde já estava escurecendo e a ladainha continuava a mesma: Chicuta batia no canto, fazia o gol, Glauber ia para o gol, defendia a cobrança, o Charlie Show Clube ganhava mais uma e já havia outro adversário em campo. Na verdade, eles ficariam naquela ladainha durante uma semana se o capitão Donga não enquadrasse seu Godofredo:

– Chefe, vamos fazer o seguinte: vamos considerar os dois times campeões, matar esse novilho e fazer um churrasco aqui mesmo. Não vamos levar porra nenhuma pra Manaus!

Seu Godofredo concordou com a decisão salomônica, o churrasco foi feito, o Charlie Show Clube voltou pra Manaus por volta das 9 h da noite e nunca mais quis jogar na Terra Nova.

quinta-feira, janeiro 07, 2016

Alex Castro mata a cobra e mostra o pau


Conheço o Alex Castro de outros carnavais. Fui um dos leitores que comprou seu genial livro de crônicas Liberal, Libertário, Libertino e o não menos genial e-book Radical Rebelde Revolucionário, em que ele mostra sua experiência de seis meses como pesquisador militante em Havana. É de morrer de rir.


Pois agora, o antropólogo Luiz Barreto, lá do Pontal de Paranapanema (SP) me manda um link saborosíssimo em que Alex Castro tenta colocar um pouco de ordem na zoeira baixo astral em que se transformou o humorismo brasileiro a partir dessas bobajadas chamadas CCQ, Viva a Noite, Rafinha Bastos, Pânico, Zorra Total, etc, etc, etc..

Curtam, pois, clicando aqui. Eu recomendo!

quarta-feira, janeiro 06, 2016

Pois é! (um quase samba)


Paulo Mendes Campos

Nossa Senhora da Paz, da praça do meu amor de Ipanema, santa luminosa de meu descaminho, eu tenho, confesso, engrandecido, quase tudo nesta vida. Tenho a esperança de não ser uma crispação permanente. Tenho quase a certeza de ser, tão-só, um espantalho, batido de chuva e de vento, nas areias movediças da Guanabara.

Tenho a consoladora certeza de não ser grande coisa. Nem tão mau quanto imaginam. Nem tão perdoável quanto diz o meu amigo. Sou só ansiedades que me esbraseiam. E às vezes me consomem. Ansiedades de que extraio, como de uma vaca doméstica, meu precário equilíbrio.

Tenho a confiança. Doce e furiosa. Tenho a confiança dramática no homem que se escreve com o agá minúsculo do anonimato.

Nossa Senhora da Paz, da praça do meu amor de Ipanema, tenho tantos defeitos. E tenho convicções ardentes e simples.

Creio na Pátria, Nossa Senhora. Creio no óleo da Pátria. Creio no coração da Pátria. Creio principalmente nas entra­nhas da Pátria.

Creio no cara do Norte. Creio no cara do Sul. Creio na gente songamonga do Araguaia.
Nada de essencial me falta, Nossa Senhora da Paz. Um cavalo talvez. Uma roça. Mas deixa isso pra lá.

Filhos, tenho dois. Tenho livros. Tenho discos. Tenho o sentimento do mundo. Tenho – tantas! – lembranças. Lembranças vermelhas, azuis, negras e cinzentas. Até lembranças alaranjadas eu tenho.

Tenho uma melancolia paciente. Salvo em certos dias de névoa seca, quando Maria gosta de voltar.

Para o animado martírio do verão carioca, tenho uma excelente geladeira. Tenho vinho tinto dentro de uma arca. Tenho um aparelho de fondue. Tenho fotografias engraçadas. Tive ainda mãe.
Tenho, Senhora, esta máquina de escrever e uma outra. E irmãos. E amigos. E um pai que bebe cerveja comigo. E a mulher.


Tenho até janela para o mar. A poucos metros daqui é o oceano de que os mineiros tanto gostam.

Como se vê, Nossa Senhora da Paz, Nossa Senhora da Praça do meu amor de Ipanema, não me lamento. De profundis clamavit, mas não me lamento. Não me lamentaria nunca, se não me faltasse um elemento. Um elemento indispensável ao rico e ao pobre, à indústria e ao campo, ao ócio e ao amor, ao sofrimento e à ilusão.

Nossa Senhora da Paz, não tenho tempo. Tenho tudo. Mas não tenho tempo.

Vou vendo os ônibus a caminho da cidade. Vou vendo os barcos a caminho do mar. Vou vendo os aviões a jato, tão ativos nas suas rotas. Vou vendo os homens falando e progra­mando. Mas eu não vou. Fico sempre à beira do cais. Fico sempre à beira de mim. Sem poder seguir a viração do meu dever. Sem seguir a tempestade do meu destino. Pois não tenho tempo.

Decerto, grato reconheço, ao ser distribuída a loteca do mundo, muitas coisas foram colocadas em meu percurso. Mui­tas e variadas. Mas não ganhei tempo. Não ganhei, pelo menos, a qualidade de tempo que se casasse comigo, que me servisse como calça, que estivesse de acordo com meu corpo pequeno. Ou com o meu extraviado pensamento.

O tempo. O tempo me sobra demais ou me falta. Uma branca eternidade de horas atadas. Uma braçada de horas iguais e inúteis. Ou esta pausa indefinida de quem espera o beijo de um anjo. Ou a campainha de um telefone.

Nossa Senhora da Paz, da praça do meu amor de Ipanema, nunca me deram tempo. Acho que nunca terei tempo.

Confira a programação de blocos e bandas de rua do Carnaval 2016 de Manaus


Este ano o Carnaval chega mais cedo e a folia nas ruas e avenidas de Manaus já começa no último sábado de janeiro.  Os dias da festa momesca coincidem com as férias e, por isso, as bandas e blocos de rua prometem superar as expectativas dos brincantes, desde os tradicionais aos mais jovens.

Um dos bares ícones da capital, recentemente tombado como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado, promete resgatar a tradição do passado e trazer Banda Independente Confraria do Armando (Bica) em um formato mais saudosista. E apesar de ser uma edição comemorativa por causa do aniversário de 30 anos da festa, a temática deste ano não poderia deixar de ser polêmica.

“Bar do Armando é patrimônio cultural, mas continua metendo a BICA em político lalau”, foi o tema escolhido. “Optamos por fazer algo bem tradicional para resgatar aqueles brincantes que praticamente fundaram a banda”, conta Roberto Carvalho, um dos organizadores do evento.

Neste ano, a bateria da escola de samba do Reino Unido da Liberdade abrirá a festa, seguida da banda Cauxi Eletrizado, com muito frevo e marchinhas, encerrando com a banda Adal, que continuará no embalo das tradicionais marchinhas.

Banda da Difusora

No mesmo sábado (30), a banda da Difusora dará sua grande festa, como têm feito há 20 anos. O local ainda está indefinido e, por conta da reforma na avenida Eduardo Ribeiro,  no Centro, a banda poderá ser realizada no Sambódromo em 2016.

Três bandas estão confirmadas, entre elas a banda ‘Marrakesh’, ‘Bateria Show da Aparecida’ e ‘Os Embaixadores’. No próximo domingo os organizadores anunciarão o local onde a festa será realizada.

Banda do Boulevard

A tradicional banda do Boulevard, na Zona Centro-Sul da cidade, homenageará as Olimpíadas 2016, cujos jogos de futebol também acontecerão em Manaus. Com o tema ‘Boulevard nas Olimpíadas: Manaus, minha medalha é amar você”, os organizadores esperam centenas de foliões de todas as zonas da cidade no último domingo do mês (31).

Bloco das Piranhas

Na mesma ‘pegada’ de resgatar a tradição, a 36º edição Bloco das Piranhas, que reúne um público de aproximadamente 80 mil pessoas,  será no domingo gordo de carnaval, 7 de fevereiro, como de costume. O evento será no Sambódromo e a entrada é franca, porém, quem quiser pode doar fraldas e latas de leite para serem entregues à instituições sociais.

Bloco do Caldeira

Assim como o Bar do Armando, o Caldeira também foi tombado como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. O bloco na segunda-feira de Carnaval, como já é tradição desde os anos 60, terá muitas novidades na próxima edição. O projeto da festa prevê um público de 20 mil pessoas e envolve espaço kids com monitores, para que os pais pulem o Carnaval sabendo que os pequenos estarão em segurança e estacionamento.

Galo de Manaus

Uma das principais e mais esperadas festas de Carnaval de Manaus, o Galo de Manaus, mudou de data para proporcionar ao folião ainda mais alegria. Agora, a festa será na terça-feira de Carnaval, que em 2016 cai no dia 9 de fevereiro.

Os foliões que já esperam para caminhar 1,5 quilômetros ao som de muito frevo, devem se preparar, também, para a mudança no horário. Antes, o evento iniciava às 10h. Em 2016, de acordo com o organizador Theo Alves, a festa começará às 14h. “As mudanças foram para buscar o melhor para o público. Como a festa vai ser em um feriado, não atrapalhará os comerciantes ou o trânsito e todos poderão participar”.

Manaus Fantasy

A melhor e mais esperada festa à fantasia já está garantida na segunda-feira gorda de Carnaval. Em 2016, o Manaus Fantasy dará R$ 20 mil em prêmios, dividido entre todas as categorias, aos foliões que mais abusarem da criatividade para desfilar na pista da tradicional festa à fantasia.

‘Super-Heróis na folia’ foi o tema escolhido para 2016. Os brincantes já podem ir se inspirando em seus heróis preferidos ou mais inusitados para produzir as fantasias. Como em todos os anos, a festa será na piscina do Tropical Hotel, na Ponta Negra, Zona Oeste de Manaus. 

Baile infantil do Tropical

No dia seguinte, na terça-feira de Carnaval, é a vez dos pequenos foliões brilharem com suas fantasias criativas.  O tradicional Baile Infantil do Tropical Hotel entrará em clima de Olímpiadas e proporcionará, às crianças, uma festa com decoração temática e convidados super especiais para o baile.

Super-heróis e personagens dos principais filmes infantis divertirão a criançada a partir das 16h30 do dia 9 de fevereiro. Um estúdio com cenário olímpico será montado e os pais poderão registrar o momento de alegria e diversão de seus filhos. Desde 1995, o baile também realiza concurso de fantasia.


Fonte: Portal A Crítica

sábado, janeiro 02, 2016

Eles estão estarrecidos!


Mouzar Benedito

“Estarrecido” é uma palavra que me sugere pavor total, horror dos horrores, não sei porquê. Há algum tempo comecei a desconfiar que não é tanto assim, porque, pelas cartas de leitores nos jornais, e também por artigos publicados neles e em revistas, tem gente “estarrecida” a toda hora e por qualquer motivo nem tão estarrecedor assim.

O preço do tomate, o ônibus que demora demais para passar, um problema no metrô, o trânsito engarrafado, uma charge do jornal, uma crônica de um colunista… Por isso e muito mais ou muito menos, as pessoas se declaram “estarrecidas” hoje em dia. Com a corrupção, então, nem se fala.

Bem, nesse ponto, concordo com os “estarrecidos” em geral, menos com o fato de parte deles ter um estarrecimento seletivo, conforme o partido político do corrupto.

Algo interessante aconteceu no metrô que peguei no bairro do Paraíso em direção à Vila Madalena, em São Paulo, no começo de dezembro. Ocupei um banco para velhos, desfrutando uma das poucas vantagens dessa coisa de DNA (data de nascimento antiga).

Na estação Consolação, desceu quase todo mundo e entraram algumas pessoas. Entre estas uma moça e um rapaz que ocuparam um banco ao lado do meu. Estava lendo um livro, mas não pude deixar de ouvir a conversa deles. Pelo jeito, eram irmãos. E falavam da maldita corrupção. Daí surgiu a palavra também maldita, “estarrecido”. O rapaz disse que até um tio deles, de não sei onde, estava “estarrecido” com a corrupção e achava que cadeia era pouco para os corruptos. Queria pena de morte, depois de um julgamento sumário. Aí a moça, com voz firme, falou: “Se fossem condenar à morte todos os corruptos, um dos condenados seria o próprio tio. Bandido! Pensa que a gente não sabe que ficou rico fazendo contrabando e traficando drogas”.

Moça coerente, pensei. Que a pena seja a mesma para todos os bandidões. Ela pensa bem diferente de um bando de ricos que fizeram fortuna roubando, traficando e matando, ou de herdeiros de gente que fez isso.

Um dia, há uns três anos, num bar, fui apresentado a um sujeito quase da minha idade que estava indignado porque os sem-terra ameaçavam ocupar a fazenda do pai dele, no Pontal do Paranapanema.

“Naquela região, quase tudo quanto é fazenda foi grilada… Teve caso de gente que arrumou escritura em cartórios de corruptos, matou os índios que estavam lá dentro e agora é fazendeiro que se diz honesto… Não estou dizendo que este seja o caso da fazenda do seu pai”, falei. A reação dele me pareceu que era o caso, sim. Ficou irritado, dizendo que “se for pensar nos crimes do passado” não se salva ninguém. O que foi feito antes tem que ser esquecido.

São comuns casos assim. Matança de índios e posseiros para se apossar de terras deles constituíram o método para tornar certas famílias ricas e “respeitáveis”. Gente que depois se sente no direito de ficar “estarrecida” com a corrupção alheia.

Herdeiros de latifúndios ou fortunas urbanas originadas de maneiras estranhas não incluem entre as personalidades que lhe causam estarrecimento os próprios pais.

Não coloco no mesmo saco grandes ladrões e gente que comete uns pequenos ilícitos, mas fico muito irritado quando alguns desses se fingem de puros, impolutos, imaculados, e fazem pose de “estarrecidos”.


Por exemplo: numa lan house que frequento, enquanto mandava mensagens pela internet, incluindo um arquivo que estava num pendrive, ouvi um sujeito que ocupava o computador ao lado, conversando pelo skipe, que se dizia estarrecido com a impunidade dos corruptos.

Saí, andei uns dez minutos e notei que havia esquecido o pendrive conectado no computador. Voltei lá e o pendrive já não estava mais nele…

Uma moça me contou que notou que logo que saí o “estarrecido” mexeu no computador que eu havia ocupado e saiu rapidamente. E concluímos: roubou meu pendrive.

O estarrecido contra a impunidade dos corruptos, rapaz com roupas de classe média e usando um vocabulário de gente que poderia se autoclassificar como bem formada, não achou que é corrupção roubar um pendrive, que custou pouco mas é instrumento de trabalho alheio.

Aliás, já soube de gente que vai a festas em casa de amigos e sai dela com discos, livros, garrafas de bebidas e mesmo objetos de valor… Gente que rouba quem o recebe em casa e acha “normal”, não se “estarrece” com isso.

Fiquei me lembrando de um monte de gente que nunca se “estarreceu” com suas próprias ações corruptas, mas certamente estariam “estarrecidas” agora com as corrupções alheias. E voei no tempo. Primeiro para quando era criança e trabalhava como engraxate na barbearia do meu pai. Era no tempo em que se construía Brasília. Diziam que havia muita corrupção na execução daquela obra considerada faraônica. E havia mesmo, inclusive por parte de gente que se vangloriava disso.

Minha terra é perto de Itaú de Minas, onde se produz cimento. Já era uma grande produtora na época, e caminhoneiros das cidades vizinhas, inclusive de Nova Resende, foram contratados para levar cimento para as obras de Brasília. Ouvi de alguns deles, na barbearia, muita contação de vantagem sobre a grana que estavam ganhando com mutretas. É um coisa de um passado distante, mas que me grudou na memória.

Um deles foi bem didático. Contou que para cada carga de cimento que transportava para Brasília levava duas notas fiscais. Na entrada da área havia uma espécie de portal, onde funcionários da Novacap, empresa responsável pelas obras, conferia a carga de cimento, carimbava a nota fiscal, ficava com uma via e devolvia a outra via ao caminhoneiro, que levava de volta para a empresa. Nesse portal, recebia instruções sobre o local que devia descarregar o cimento. Mas, em vez de descarregar, ele dava uma volta por uma estradinha secundária e no dia seguinte passava com a mesma carga de cimento pelo portal, num horário diferente do dia anterior, para não coincidir de dar de cara com o mesmo funcionário que conferia, carimbava a nota etc. etc., e aí sim, ele descarregava e voltava para Itaú. A empresa recebia duas vezes pela mesma carga de cimento (não sei se era uma “política da empresa” ou mutreta de algum dirigente) e ele recebia uma boa comissão.


Aí, minha lembrança andou um pouco pra frente, para os meus 16 anos, quando já morava em São Paulo. Trabalhava num supermercado e lá havia um sujeito muito legal, simpático, amigo do meu irmão mais velho, que se tornou meu amigo também. Digamos que ele se chamava Zé.

Alguns meses depois que eu trabalhava lá, ele pediu demissão e foi trabalhar numa loja de departamentos, a Sears. Essa loja tinha também um departamento para manutenção dos eletrodomésticos que vendia. Passado o prazo de garantia, pagava-se pelos consertos. O Zé tinha como função fazer orçamentos para os clientes atendidos fora do prazo de garantia.

O cliente telefonava ou ia à Sears pedir orçamento, o Zé ia até a casa dele, via o problema da geladeira, enceradeira, máquina de lavar ou qualquer outra coisa, e fazia orçamento. Se o cliente concordasse com o valor, um técnico ia lá e consertava na própria casa dele.

Um tempo depois, talvez uns três anos, reencontrei o Zé. Estava “bem de vida”. Contou o que fez para ganhar mais. O melhor técnico da oficina da Sears pediu demissão e abriu uma oficina própria, para consertos de eletrodomésticos. E o Zé era uma espécie de sócio-fantasma dele. A partir daí, na hora de fazer orçamentos, principalmente de alguns trabalhos mais caros, exagerava nos preços. O cliente reclamava, dizia que era muito caro e ele, pedindo segredo, dizia que conhecia um técnico excelente que faria o trabalho por um preço muito menor. E dava o número do telefone do sócio. O custo era realmente muito mais barato, e o cliente optava por ele.

Mais um tempo depois, o meu irmão me contou, não “estarrecido” mas um tanto assustado, que havia encontrado o Zé. Como havia me contado com a maior tranquilidade sobre o que fazia na Sears, contou então que tinha comprado, com seu sócio da oficina, um posto de gasolina na via Anhanguera. Tornou-se o posto preferido por muitos motoristas de caminhão-tanque, que transportavam gasolina.

Havia um motivo para isso: o Zé e seu sócio tinham descoberto como retirar um pouco de gasolina sem romper o lacre da tampa do tanque. Combinaram com os caminhoneiros: eles ganhariam um almoço ou jantar de graça, com direito a uma cerveja, em troca de deixar que retirassem um pouco de gasolina de sua carga. Os caminhoneiros topavam, confiando que a falta de algumas dezenas de litros de gasolina de sua carga não seria vista como um roubo pelo comprador e pelo vendedor do combustível, pois o lacre não havia sido rompido. E o Zé foi ficando rico.

A última notícia que tive do Zé, na década de 1970, uns catorze ou quinze anos depois que eu o conheci, era que ele tinha uma imobiliária em São Paulo. O cara que me contou disse que desconfiava que os loteamentos que fazia na periferia incluíam alguns terrenos grilados.

Se já tiver se mandado desta para uma melhor, deve ter deixado herdeiros muito “bem de vida”, não? Possivelmente, algum deles “estarrecido” com a corrupção dos políticos.

Como disse, muitas famílias “respeitáveis” de hoje fizeram fortuna com métodos parecidos ou piores. Sobre isso, recomendo o livro Coronéis e Carcamanos, de Júlio Chiavenatto, ambientado em Ribeirão Preto das grandes fazendas de café do início do século passado.

“Ah… Só ele que nunca fez mutreta”, deve ter alguém pensando e ironizando. Nada disso. Não sou impoluto, imaculado… E acho uma chatice gente puritana demais. O que não significa conformismo ante escândalos de corrupção.


Só que todos (ou quase todos) fizemos pequenas safadezas. Lembro-me de que, quando criança, roubava frutas. Sabia de cor, assim como outros moleques, os quintais que tinham mangueiras, pessegueiros, laranjeiras… Já jovem, às vezes participava de um grupo que de vez em quando roubava frangos para cozinhar num boteco, com arroz e “cear” de madrugada.

Numa época em que precisava de uma coisa chamada “antecedentes políticos e sociais”, emitido pelo Dops, que as empresas e o próprio governo exigia para nos dar emprego, comprei duas vezes esse papel, mais conhecido como “atestado ideológico”. E tem mais: num tempo de dureza, cheguei a fazer uma coisa chamada “dar pinote”. Muita gente fazia, o que não me absolve. Sem dinheiro e muito a fim de tomar umas, fui algumas vezes a bares caros, bebi e saí correndo sem pagar a conta. Só tive a consciência de escolher bares careiros, de gente rica.

Se acho normal isso? Mais ou menos. Repito: não significa concordar com a corrupção, principalmente envolvendo dinheiro público, mas também com a corrupção privada. E tem o volume de grana. Há diferenças, claro. Tem aquilo de quantos hospitais, quantas escolas etc. poderiam ter sido construídos com o dinheiro que vai para o ralo por causa da corrupção. Se o dinheiro for utilizado para essas coisas, né? Então, pau nos corruptos. Em todos, sejam políticos de qualquer partido, empresários, banqueiros o que for.

Sempre houve uma posição dura de órgãos governamentais federais, estaduais e municipais, quando o “sonegador” não tem advogados especializados e contadores para defendê-lo, ou seja, quando ele é pobre. Quem sabe, agora eles se dediquem a “perseguir” grandes sonegadores e deixe em paz (ou pelo menos não persiga) bagrinhos, que às vezes por erro ou esquecimento “sonegam” alguns reais de imposto.


Ora, comecei a falar de “estarrecidos” por motivos nem tanto “estarrecíveis” e vim parar? Viajei…

Bye bye 2015, hello 2016, que vengan los toros!


O nosso réveillon desse ano continha uma tripla celebração: o primeiro livro lançado pela minha sobrinha, a advogada e professora universitária Thandra Pessoa, que aniversaria no dia 31, e o livro sobre o saudoso senador Fábio Lucena, escrito por mim e pelo meu cunhado, o ex-vereador Antonio Diniz, que durante muitos anos foi assessor parlamentar do Fábio.


O livro da Thandra foi lançado na sede da OAB-AM. O nosso, no Bar Caldeira, do empresário Carbajal Gomes, e contou com a presença da Fabíola Lucena, filha caçula do senador..


O regabofe do réveillon foi realizado no restaurante Paxicá, do João Ricardo, irmão da Thandra, e contou com a presença da parentela e de alguns poucos convidados, sob supervisão direta do Pai Simão, no auge de seus 92 anos


No cardápio, creme de bacalhau, paella valenciana (cortesia do professor Duarte, diretor do campus da UEA em Lábrea), caruru, vatapá, strogonoff, pernil, bacalhau à portuguesa, maniçoba (esses meus primos paraenses não perdem a oportunidade de exibir a gororoba...), galinha escandalosa e paca no leite de castanha (para desespero dos poucos veganos presentes no panavueiro...).


Depois da queima de fogos (duas montagens acopladas de 480 tiros de morteiros cada uma, disparada da laje do restaurante), o DJ Adriano Soundbalster assumiu o controle das carrapetas numa sequência que misturou rockabilly, disco music, pagode e carnaval. Deus que te livre!


Chato mesmo foi, já com o dia amanhecendo, receber uma aula sobre mixagem dada pelo ex-boleiro Áureo Petita, o mais novo luminar de música eletrônica da cidade. Eu mereço...


Abaixo, mais alguns flashes da efeméride: