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terça-feira, maio 31, 2016

Ou Temer se comunica ou se estrumbica


Arnaldo Jabor

Converso com muita gente culta, de gravata, e concluo: três milhões de pessoas foram protestar nas ruas, mas pouca gente entende realmente o que está acontecendo no Brasil profundo. Profundo no sentido de detalhes contábeis, dos segredos de gaveta que só os carunchos conhecem. Ninguém sabe nada. Essa deficiência da opinião pública é que os petistas usarão para arrasar o governo do Temer.

Como o presidente em exercício tem pouco tempo, e como a cagada deixada por Dilma e PT foi imensa, teremos dois anos (se Deus ajudar) para reorganizar a economia, que teve perda quase total. É difícil, por causa das sabotagens e da lentidão brasileira. Por isso, Lula está adorando o impeachment de Dilma. É a melhor coisa que podia lhe ter acontecido.

O Sarney disse outro dia na gravação que Lula estava muito deprimido. Deve estar, mas não é uma melancolia inócua, passiva, sem rumo; não, Lula está se preparando para sapatear em cima dos erros e dificuldades inevitáveis desse governo.

Agora, ele e seu PT podem partir para a oposição, contando com uma população imensa de imbecis que serão convencidos de que o impeachment foi só para acabar com a Lava Jato.

A narrativa deles será a de que todo mundo sempre roubou e que eles só entraram na regra do jogo. Mentira. A corrupção do PT inventou algo novo: corromper para governar, pois revolucionário pode roubar em nome do Bem. E, assim, bateram um recorde mundial: nunca na história do mundo houve uma roubalheira organizada como essa.

Temer tem a difícil tarefa de andar na corda bamba, no fio da navalha entre uma equipe econômica de primeiro time e um restolho de vagabundos, que aparelharam ministérios e repartições em geral. Se bobear, Temer pode eleger o Lula em 18, se o ‘grande líder do povo’ não for em cana.

Uma transição de governo intempestiva gera medo, mas também uma esperança de mudança imediata. “Ahhh…, acabou o PT, o ‘petrolão’ – agora seremos felizes.” Auriverde ilusão de minha terra…

O problema é que a herança maldita dessa terrível senhora é um emaranhado infernal para se consertar. Em dois anos, seríamos uma Venezuela. E esta é a felicidade do Lula: a expectativa dos mal informados (que são a maioria) vai se esfarinhar e o Temer será culpado pela cagada que o PT deixou no meio-fio. A culpa vai ser dele em pouco tempo.

Brasileiro ‘assiste’ ao Brasil. Brasileiro assiste à política como um Fla x Flu, torcendo, xingando juiz, mas quer que o Estado resolva tudo, pois não sabe que o Estado é o problema e não a solução. A sociedade protesta, mas não sabe como tomar as rédeas.

Este governo tem um só caminho: conquistar um apoio da sociedade, para que ela entenda que não se trata de ideologias e, sim, de uma tragédia contábil. “É a economia, estúpidos!” (citando o refrão batido do James Carville.)

Temer vai ter de arrumar as contas. Só. E, aí, vem a esparrela: como expulsar 100 mil vagabundos aparelhados no governo? Como impedir que volte a lama debaixo do tapete? Nosso complexo de impotentes renasce feito rabo de lagarto. Debaixo de nossos olhos, a máquina da sordidez nacional ressuscita, como um monstro de ficção científica, um “Alien”.

Os escândalos, cada vez maiores, não podem encobrir o dano nas contas públicas. E tem mais: vai haver aumento de impostos, sim. Não adianta chorar. É impossível, só com ajustes e cortes, resolver o buraco da Dilma de R$ 170 bilhões jogados no lixo. E aí? Como explicar?

Esse é o maior perigo: a teia de escândalos pode mascarar os urgentes acertos da República devastada.

Precisamos que o Temer dê certo, ao menos na economia. Porque ninguém vai às ruas apoiá-lo. Todo mundo tem medo de apoiar governos. É impossível imaginar que brasileiros vão às ruas para defender o ajuste fiscal: “Queremos ajustes!”. É mais fácil ser contra. A oposição enobrece, a adesão é humilhante.

Por outro lado, os militantes pagos da CUT, do MST e outras siglas vão para as ruas, gritar contra. Rolam boatos fortes de que o PT está reunindo muita grana para comprar uns três senadores. É possível.

Por isso, acho que uma das coisas mais sérias que este governo tem de buscar é a comunicação com o país.

Vi outro dia o Temer falando e achei que ele está imbuído de um desejo real de entrar para a história como um cara que ajudou a consertar o Brasil. Houve momentos em que ele mostrou uma virilidade legal. Por exemplo, quando disse que já tinha sido secretário de Segurança em SP e que não tinha medo de bandido. Ali, o povo gostou.

Acho que gostou também quando ele disse que não tem medo de errar e que, se errar em algo, consertá-lo-á. Acho ótimo um presidente falando em mesóclises. Melhor que a Dilma na mandioca. Temer tem de falar, muito, explicar para a população o que significa esta fase de nossa vida, muito além de corrupção ou ideologias.

Tem de explicar. Olho no olho. Sem propaganda. Tem de conquistar um carisma. Tem de explicar, como numa gramática, o que é dívida pública, gastos inúteis, aparelhamento do Estado; as pessoas têm de saber contra o que estão gritando ou marchando.

A corrupção imensa, pavorosa, não é o núcleo da questão. Ela nasce das condições arcaicas de dentro da organização política e administrativa. Nossa formação patrimonialista está explodindo agora, depois de séculos. É preciso criar um espaço simbólico para esta presidência transitória.

FHC não explicou com clareza o que estava fazendo em seu governo. FHC não conseguiu criar um espaço reconhecível pela opinião pública, que não pode ser confundido com propaganda ou marketing.

Por isso, seu excelente governo, que acabou com a inflação e nos jogou num novo mundo administrativo, acabou arrasado pela oposição do PT diante de uma opinião pública desinformada, aérea. É preciso que as pessoas se sintam passageiras no trem do seu governo.

É importante que o lado ‘espetaculoso’ das denúncias não crie uma institucionalização da zona. Há um velho hábito de acharmos que o Brasil não tem jeito. O perigo é ficarmos cínicos, fatalistas e desesperados. Se não der certo, estamos fodidos.

Por que Dilma não pode voltar


A presidente Dilma Rousseff parece acreditar que, ao se manifestar sobre seu governo e seu afastamento, angaria simpatia e, assim, afasta a hipótese altamente provável de seu impeachment. Sempre que a petista abre a boca, porém, fica claro para o País que, se seu governo já foi desastroso, seu eventual retorno à Presidência seria um cataclismo, pois a administração seria devolvida a quem se divorciou completamente da realidade.

No mundo em que vive, Dilma se confunde com Poliana: não cometeu nenhum erro, não é responsável pela pior crise econômica da história brasileira e só foi afastada em razão de um complô neoliberal operado pelo deputado Eduardo Cunha, e não porque a maioria absoluta dos brasileiros exige seu impeachment.

“Temos que defender o nosso legado”, disse à Folha de S.Paulo a presidente responsável por recessão econômica, desemprego crescente, inflação acima da meta e contração da atividade, do consumo e do investimento, além de um rombo obsceno nas contas públicas.

Foi essa herança, maldita em todos os sentidos, que criou o consenso político em torno do qual o Congresso faz avançar o impeachment.

Assim, quando fala em seu “legado”, não é à dura realidade que Dilma está se referindo, mas sim à farsa segundo a qual seu governo beneficiou os mais pobres – justamente aqueles que mais sofrem com a crise que ela criou.

Na entrevista, Dilma sugere que seu “legado” é a manutenção de programas sociais, o que estaria sob risco no governo de Michel Temer, instituído como parte de uma conspiração para instalar no Brasil uma “política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto”. A desmontagem da rede de proteção aos mais pobres seria, segundo ela, o objetivo dos “golpistas”.

Dilma atribui aos adversários a intenção de fazer o que ela própria já estava realizando na prática: todos os principais programas sociais de seu governo sofreram cortes nos últimos anos, em razão da falta de dinheiro.

Especialista em destruir os fundamentos da economia, Dilma achou-se autorizada a comentar as possíveis medidas do governo Temer para tentar recuperar um pouco da racionalidade econômica que ela abandonou. Dilma disse ser “um absurdo” a possibilidade de que a imposição de um teto para os gastos públicos atinja áreas como educação.

Para ela, “abrir mão de investimento nessa área, sob qualquer circunstância, é colocar o Brasil de volta no passado”. Foi esse tipo de pensamento, segundo o qual há gastos que devem ser mantidos “sob qualquer circunstância”, que condenou o Brasil a um déficit público superior a R$ 170 bilhões.

Ainda em seu universo paralelo, Dilma disse que em 2014 ninguém notou que o País já passava por uma crise, embora o descalabro estivesse claro para quem procurou se informar. “Quando é que o pessoal percebeu que tinha uma crise no Brasil, hein? A coisa mais difícil foi descobrir que tinha uma crise no Brasil”, disse ela, desafiando a inteligência alheia de forma grosseira até para seus padrões.

Bastaria ler os documentos de análise da economia produzidos regularmente pelo Banco Central para constatar o desastre desde sua formação até o seu fiasco final com o episódio Joaquim Levy. Ela prefere imputar as mazelas da economia em seu governo à desaceleração da China, à queda do preço do petróleo, à seca no Sudeste e a um complô da oposição e de Eduardo Cunha, que, segundo suas palavras, é “a pessoa central do governo Temer”. Ou seja: para Dilma, se Cunha por acaso não existisse, ela ainda estaria na Presidência, e a crise, superada.

“A crise econômica é inevitável”, ensinou Dilma na entrevista. “O que não é inevitável é a combinação danosa entre crise econômica e crise política. O que aconteceu comigo? Houve uma combinação da crise econômica com uma ação política deletéria.”

Segundo a petista, o Congresso, dominado por forças malignas que tinham a intenção de criar um “ambiente de impasse propício ao impeachment”, sabotou todas as “reformas” que ela queria aprovar.

Ou seja, Dilma teima em não reconhecer que o clima hostil que ela enfrentou no Congresso foi resultado de sua incrível incompetência administrativa, potencializada por descomunal inabilidade política e avassaladora arrogância. Prefere denunciar a ação de “inimigos do povo” contra seu governo.

Finalmente, convidada a dizer quais erros acha que cometeu, Dilma respondeu: “Ah, sei lá”.

O ministro da falta de transparência e a cultura do estupro


Vlady Oliver

A histeria coletiva que tomou conta da imprensa parece ter o mindinho de lulão e seus sequazes, não é mesmo? Fui obrigado a discutir com mais pessoas do que eu gostaria, que afirmavam coisas do tipo “coitada da minha esposa” só porque me recuso a acreditar na história de um estupro perpetrado por trezentas pessoas, duas girafas, um anão de jardim e três cineastas desempregados. Já disse aqui mesmo que esse tipo de violência contra a mulher É CRIME HEDIONDO, não importando se cometido por um ou duzentos cretinos.

Me parece que finalmente uma delegada foi chamada para levar a brincadeira sórdida a serio e promover as prisões e investigações que se fazem necessárias. Já não era sem tempo. É justamente a falta do poder público nessas horas que permite toda sorte de conjecturas e ilusionismos. A imprensa é culpada, sim, por entrar de gaiato no navio, dar versões fantasiosas dos fatos e promover as marolas com que essa gente pretende desestabilizar o novo governo.

No momento em que o presidente Temer pede calma e união nacional – solicitações bastante louváveis diante do carnaval que se institucionalizou por aqui – todas as leitoas, lobos e companhia resolveram apostar que os senadores estariam chantageando esse governo, com a não votação do impeachment. ACUMA? Qual será o senador que gostaria de ser visto “para o resto do sempre” como o responsável por trazer de volta aquela jamanta emborcada no governo?

O ministro transparente caiu. Pediu basta. Não sem antes afirmar o que todo jurista já sabe: não há crime nas tais gravações em que foi flagrado. Não que eu defenda sua permanência no cargo ou sua mera existência política; também não defendo estupro algum. O que não dá pra encarar é a tentativa da imprensa marreta de pautar o governo e inviabilizar sua administração, na base dos gritinhos histéricos e do cacarejo indecente.

Até agora parece que estão logrando resultados, o que aconselha o presidente em exercício a exercitar logo sua capacidade de defenestrar toda essa escumalha de esquerda aboletada nas tetas públicas. Essa é a verdadeira cultura do estupro professada por aqui, meus caros. Custou-nos a bagatela de 170 bilhões, quebrou o país, endividou até a geração dos nossos filhos e somos obrigados a ouvir o cacarejo indecente de um PSOL, questionando o custo de um Cunha sem questionar o custo de uma Dilma para o país.

Já disse e repito: se há algo de bom nessa tragédia em que nos metemos é conseguir ver claramente quem são os comparsas aliados nessa ladrocracia. Não escapa ninguém. A república das fanchonas está em polvorosa. As minorias sem mortadela também. Mais que temer as ameaças vagabundas desses movimentos dos quadris, desses sindicatos do crime e dessas seitas picaretas, temos que temer mesmo é a canalhada pendurada no poder público, aliada à imprensa marreta.

Já deu pra ver do que são capazes. Na falta do que fazer, acabam até gravando as orgias uns dos outros. Ou será que o Machado de Sérgio e aquele gaiato que postou o estupro numa rede social diferem no voyerismo escabroso? Vai indo, Brasil. A pirambeira nos espera adiante.

segunda-feira, maio 30, 2016

Blogueiros chapa branca


Depois de três dias de discussões sobre a crise do País, os participantes do 5.º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais – que contou com a participação da presidente afastada Dilma Rousseff numa de suas sessões – lançaram uma carta aberta à sociedade cujo teor parece ter sido inspirado em escrachadas patuscadas da televisão ou em chanchadas do cinema.

Escrita com o objetivo de denunciar o “golpe parlamentar” que afastou Dilma do poder e denunciar a ilegitimidade do governo do presidente interino Michel Temer, a carta, escrita em português precário – meio parecido com o que a presidente afastada fala, o que mostra que fez escola –, raciocínio tortuoso, viés ideológico e aversão à verdade, é mais do que um besteirol. 

Retrata de modo inequívoco o nível de indigência intelectual e moral dos integrantes da máquina de difamação que, sustentada por dinheiro público durante os 13 anos e meio do lulopetismo, se especializou em contar mentiras, plantar boatos, caluniar adversários políticos do PT e agredir moralmente repórteres e colunistas dos grandes jornais, sempre sob o pretexto de defender a “democratização da comunicação”.

A carta aberta começa acusando o Supremo Tribunal de Federal de ser um “poder acovardado”. Prossegue afirmando que o governo Dilma teria subestimado a força dos jornais, revistas e televisões “a serviço do conservadorismo”.

Alega que Temer é elitista e machista, por não ter indicado nenhuma mulher, negro ou trabalhador para seu Ministério. Diz que ele destruirá as empresas estatais do País e entregará os recursos do pré-sal “às multinacionais do petróleo, recolocando o Brasil na órbita dos Estados Unidos”.

Criticam, ainda, a demissão do presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que havia sido nomeado por Dilma dias antes da votação da abertura do impeachment pelo Senado. Aparelhada pelo PT, a empresa é uma tevê estatal disfarçada de televisão pública que foi criada em 2007 pelo governo Lula.

Apesar de ter consumido mais de R$ 3,6 bilhões de recursos federais nos últimos anos, só conseguiu chegar a 1% da audiência duas vezes – quando mostrou um documentário sobre o Rio Reno e quando apresentou um filme de Mazzaropi.

Nos demais dias, a EBC – que emprega a peso de ouro alguns participantes do 5.º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais – jamais saiu do traço.

A carta aberta também apoia ocupações de prédios públicos, como forma de “resistência contra o governo golpista”. Propõe ampla cobertura das manifestações contra Temer, das ações que permitam o retorno de Dilma ao Palácio do Planalto e das notícias que mostrem mulheres, jovens negros, militantes da reforma agrária e povos indígenas como “vítimas mais imediatas da escalada autoritária”.

Dois parágrafos da carta aberta merecem destaque. Um é o que afirma que o governo interino priorizará a “comunicação chapa branca, favorecendo a Globo na distribuição de verbas públicas e usando dinheiro do contribuinte para salvar organizações moribundas, como a editora Abril e o ex-Estadão” (sic), cujos proprietários, além de participar do “sistema corrupto de poder que tenta se perpetuar sob a presidência de Temer”, seriam “beneficiários de contas suspeitas em paraísos fiscais”.

O outro afirma que o golpe faz parte de uma “estratégia de recolonização do continente e de desestabilização dos Brics” – plano esse que teria entre seus líderes o titular do Ministério das Relações Exteriores, José Serra, que é classificado como “conspirador parceiro da Chevron”.

Na parte final da carta, os blogueiros são taxativos. “Não daremos trégua à Globo, a Temer, aos traidores que se dizem sindicalistas, nem aos tucanos e empresários da Fiesp, que agiram a serviço do golpismo. Resistiremos nas ruas e nas redes”, prometem eles.

Se alguém deve recear essas ameaças certamente são os redatores de programas de humorismo da televisão. Agora eles têm nesses blogueiros e ativistas fortes concorrentes.

A dívida dos jornalistas


Fernão Lara Mesquita

Os batedores de bumbo do PT nunca estiveram tão exultantes, desde Waldir Maranhão, com os últimos golpes para “provar que é golpe” a operação que se ensaia para deter o livre despencar da miséria brasileira nas profundezas do caos político e das finanças públicas destroçadas que seu partido nos legaram.

Lá virá a ladainha de sempre para demonstrar que alhos são bugalhos mas é tempo perdido. O que derrubou o PT foi a paralisação da economia, o que paralisou a economia foi a mentira institucionalizada, Temer está onde está porque é o sucessor constitucional no posto do qual o Brasil apeou Dilma, a Lava-Jato não vai parar. Só o Brasil tem força para desencadear ou para suspender processos como esses.

O PT passou 13 anos operando só para si e nas sombras e deu no que deu. Temer começa falando só de Brasil mas ainda hesita em expor-se inteiro ao sol. Vai em busca de sua legitimação junto à única fonte de onde ela pode vir. Pede humildemente endosso da opinião pública à lógica das suas soluções; dispõe-se a adapta-las para consegui-lo.

Por esse caminho é certo que pode dar certo. Mas se, e somente se, a aposta na transparência for absoluta.

Ninguém atravessou a “Era PT” impoluto. O país conhece os políticos que tem e sabe que é com eles que terá de contar. O fato de todos eles estarem discutindo a Lava-Jato, como o resto do Brasil, não significa, em si mesmo, rigorosamente nada.

Do presidente em exercício para baixo, na equipe política e na equipe técnica, são as mesmas pessoas que serviram o PT que se dispõem, agora, a servir antes o Brasil como poderia ter sido sempre se o governo anterior o tivesse desejado. Muda a música que se toca, muda a dança que se dança.

Gravações? Haverá outras mil. Nesse departamento vivemos o clássico dilema do ovo ou da galinha. Se a imprensa continuar sinalizando que disparará em manchete toda gravação que qualquer chantagista lhe enfiar na culatra a política seguirá, como hoje, sendo movida exclusivamente a gravações de chantagistas. E mata-se o Brasil.

Se passar a investigar e dar manchetes para o maior problema brasileiro, a política nacional passará a girar em torno do maior problema brasileiro. E o Brasil ressuscitará.

Explico-me com um pouco de história. Em 1976, em pleno regime militar e no auge da censura, o Estadão publicou a série “Assim vivem nossos superfuncionários”, que ficou conhecida como a reportagem “das Mordomias”.

Ela expôs em detalhe à miséria nacional o universo obsceno de fausto e desperdício que ela sustentava sem saber e que drenava todo dinheiro público que deveria estar sendo investido em infraestrutura e serviços essenciais à melhoria continuada do desempenho da economia e, consequentemente, do valor do trabalho.

Dado o sinal à nação de que havia quem se dispusesse a publicá-las choveram denuncias na redação durante meses a fio revelando as infinitas formas que assumia a ordenha do Estado mal disfarçada na soma de salários e benefícios estratosféricos, no assalto a longo prazo ao erário mediante a “anabolização” de último minuto em aposentadorias que perdurariam por décadas e se desdobrariam em pensões vitalícias transmitidas de pai para filho e nos outros ralos mil abertos por agentes corruptos dos três poderes que viviam de vender esse saque institucionalizado do Estado.

Materializada na exposição direta dos modos de vida que esses esquemas sustentavam, a discussão saiu do nível abstrato. Cada brasileiro, lá do seu barraco, pôde ver com os próprios olhos como e por quem vinha sendo estuprado, e no que se transformava, na realidade, a estatização da economia que a esquerda, de armas na mão, de um lado, exigia que fosse total, e os militares da direita, lá pelo deles, concretamente executaram como nunca antes na história deste país criando mais de 540 estatais. Mas nem a famigerada ditadura militar resistiu à força dos fatos e imagens revelados.

Muitas outras reportagens semelhantes foram produzidas país afora e, já em 1979 os generais, pressionados, tinham criado um ministério inteiro para começar a desmontar a privilegiatura.

Quando o país emergiu para a redemocratização, em 1985, sabia em que direção tinha de caminhar. A luta para desprivatizar o Estado e devolvê-lo ao conjunto dos brasileiros veio até o governo FHC e a Lei de Responsabilidade Fiscal cujo desmonte – e consequências – pôs um fim à “Era PT”.

Esse continua sendo o maior problema brasileiro. Desde 2003 o PT reelegeu o loteamento do Estado como moeda única do jogo político e, ao fim de 13 anos de um processo desenfreado de engorda, cada emprego pendurado no cabide vem desaguando, obeso, na Previdência.

O governo Temer aponta vagamente “a Previdência” como o “X” do problema brasileiro e está certo. Mas, pendurado ainda no ar, sabe que tomar a iniciativa de por esse bode na sala é morte certa.

É por isso que, nem Henrique Meirelles, nem seu chefe se permitem completar a frase: é a Previdência do setor público, valendo 33 vezes o que vale a outra, que é o “X” do problema brasileiro. E sem mexer profundamente nela o Brasil não desatola.

Não há um único jornalista, especialmente em Brasília onde o despautério é mais visível a olho nu, que não saiba disso. E, no entanto, persiste a cumplicidade com essa mistificação quando até o PMDB já está claramente pedindo o empurrão que falta para que esse tema indigesto suba à mesa.

Para poder voltar a andar o Brasil não precisa, exatamente, de uma reforma da Previdência, espremendo um pouco mais a miserinha que ela distribui depois da festa dos aposentados do Estado na qual, diga-se de passagem, os do Judiciário são reis.

Mais do que justiçamentos o Brasil precisa de justiça, que é uma ideia bem mais fácil de vender, desde que antes o jornalismo, em vez de só barulho, faça a sua obrigação de mostrar em todos os seus escandalosos pormenores o tamanho da injustiça que é necessário corrigir.

Corpo do vocalista do Grupo Fundo de Quintal é enterrado na Grande SP


O cantor Mário Sérgio, que morreu no último domingo em um hospital do RJ

O corpo do cantor Mário Sérgio, vocalista do Grupo Fundo de Quintal, foi enterrado na tarde desta segunda-feira (30) na cidade de Cotia, na Grande São Paulo, em cerimônia realizada no Cemitério Jardim das Flores, por volta das 17h. Ele morreu na tarde deste domingo (29) em um hospital do Rio de Janeiro.

Segundo a produção da banda, Mário Sérgio estava internado havia mais de dez dias em um hospital de Nilópolis, na Baixada Fluminense, para fazer exames e tratar um linfoma. A morte foi anunciada pelo site do grupo e suas páginas nas redes sociais.

O grupo era formado por Bira Presidente, Sereno, Ubirany, Ademir Batera, Mário Sérgio e Ronaldinho. Já gravou 32 álbuns, com 15 discos de ouro e quatro de platina. Nasceu do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro, e é berço de artistas como Jorge Aragão, Sombrinha, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Walter Sete Cordas, Cléber Augusto e Neoci.

Mário Sérgio era compositor, cantor e cavaquinista, de acordo com o site Dicionário Cravo Albin da Música Brasileira. Ainda segundo a página, o músico era considerado um dos principais compositores Fundo de Quintal, sendo o autor de diversas composições como “Além dos Sonhos da Ilusão”, “Brasil Nagô”, “Menina da Colina” e “Ira de Hortelã”, entre outras.

Em toda a carreira, Mário Sérgio participou, ao menos, da produção de 11 discos. Entre eles, “Fundo de Quinta – Cacique de Ramos”, de 2002, no mesmo ano do CD “Jorge Aragão Ao Vivo”, “Papo de Samba”, de 2001, e “Simplicidade”, do Fundo de Quintal, em 2000.

Artistas lamentam a morte de Mário Sérgio

A morte do vocalista do grupo Fundo de Quintal, Mario Sérgio Ferreira Brochado, de 58 anos, fez sambistas prestarem homenagem pelas redes sociais. Veja abaixo:

Thiaguinho: Luto! Nosso amigo e referencia musical, se foi... Mário Sérgio (Fundo de Quintal), sentiremos saudades de você, mas suas lindas canções estão eternizadas aqui nos nossos corações... Muito obrigado por cantar em meu casamento... Muito obrigado pela companhia em Buenos Aires... E, pode ter certeza, vou terminar aquela canção que estávamos compondo... Estou muito triste! Sou muito fã! Vai com Deus, Marião!

Mumuzinho: O samba está em luto e o céu em festa. Um grande homem, um grande intérprete, um grande poeta. Sinceros sentimentos á toda família. Descanse em paz, Mario Sergio.

Zeca Pagodinho: Eu gravei duas ou três músicas deles. [A morte] Pegou de surpresa. Inclusive, fizemos um show no mês passado, no Cacique de Ramos. Era um grande músico, grande cara, gente boa. É a vida que segue.

Xande de Pilares: Mário Sérgio foi um grande amigo! Foi um exemplo! Tivemos várias histórias no carnaval da Bahia , no pagode da tia Gessy , no próprio Cacique [de Ramos], em São Paulo... Nossos últimos momentos foram no carnaval de Salvador e no último DVD do Fundo de Quintal, no Circo Voador.

Os salários pagos pela TV Brasil ajudam a explicar o petismo feroz de alguns jornalistas contratados


O diretor Aderbal Freire Filho e a atriz Marieta Severo

Reinaldo Azevedo

A TV Brasil na forma em que existe é uma das invenções mais caras da era petista. Dá traço de audiência, mas paga salário de gente grande. Não é por acaso que custa R$ 1 bilhão por ano. Num país quebrado.

Aderbal Freire Filho, que acha que o impeachment é golpe, tem um programa sobre teatro chamado “A Arte do Artista”. Para dar pinta lá uma vez por semana, recebe R$ 68 mil mensais. Tem contrato até o fim do ano.

Aderbal é casado com Marieta Severo, aquela que cantou as glórias do PT no “Domingão do Faustão”, ex-mulher de Chico Buarque, que exalta os feitos da legenda em toda parte.

Outro que não passa apertado é Luis Nassif, com um programa também semanal chamado “Brasilianas.org”. Embora ninguém veja a defesa que ele faz do governo — não na TV ao menos —, tem um contrato anual de R$ 761 mil — mais de R$ 63 mil por mês. Ou R$ 15.750 por programa!

Nassif até tenta fingir diversidade com alguns temas de interesse geral. Quando envereda para a política e para a economia, é mero porta-voz do governo petista. Lúcia Mendonça, diretora do seu programa, tem um contrato de R$ 289 mil/ano.

Paulo Markun também fez um bom acordo para um programa semanal: R$ 585 mil anuais. Em favor de Markun — e não tenho nenhum problema em dizer isto —, observo que mantém ao menos uma pauta plural em “Palavras Cruzadas”.

Não é o caso de Paulo Moreira Leite, também com uma, por assim dizer, atração por semana chamada “Espaço Público”. Tem um contrato anual de R$ 279 mil. Só entrevista esquerdistas e governistas — na maioria das vezes, petistas.

E Emir Sader, o grande intelectual de um país chamado “Emirados Sáderes”, que desenvolveu até uma gramática própria? Para fazer alguns pequenos comentários — em que fala bem do PT e das esquerdas do Brasil e do mundo e mal de todos os seus adversários, recebe R$ 227 mil por ano. Tereza Cruvinel, que hoje só dá alguns pitacos políticos, mantém um contrato anual de 182 mil.

Exceção feita a Aderbal — não entendi ainda por quê —, todos os outros contratos estão suspensos para ser renegociados.

A questão particular

Não sei exatamente o que o novo comando da TV Brasil entende por “renegociação”. Não entro no mérito das convicções políticas de um Paulo Markun, por exemplo, porque não sou policial de consciências. Havendo uma TV Pública, ele tem trajetória, estofo e biografia para fazer um programa plural. Se o novo valor que lhe vai ser proposto é ou não aceitável, isso é com ele.

Nunca vi o seu programa, mas ele é um entrevistador competente. A pauta de “Palavras Cruzadas” evidencia não se tratar de mero prosélito do petismo.

Nos outros casos, lamento, basta uma pesquisa rápida para a gente perceber que não se trata de jornalismo, mas de militância política. E feita com o nosso dinheiro. O “jornalismo” que essas pessoas fazem, inclusive fora da TV Brasil, não as habilita a estar numa TV Pública — a menos que esta sirva de cabide de emprego e de remuneração por serviços prestados fora dali.

Elas têm simplesmente de ser demitidas a bem do serviço público. O nome disso é aparelhamento do estado.

A questão geral

Eu não seria eu se não dissesse o que penso, certo? Sou contra a existência de uma TV que consome R$ 1 bilhão por ano para ninguém ver. Deveria ser simplesmente fechada. Mas sou realista: acho difícil que aconteça.

Que Laerte Rimoli, novo presidente da EBC, à qual se subordina a TV Brasil, chame especialistas da área para estudar e implementar um modelo de TV pública que não assalte os cofres e não sirva de cabide emprego — de petistas ou pessoas de quaisquer outras legendas.

Reitero: eu não acho que a TV Brasil deva deixar de ser a emissora do PT para ser a emissora do PMDB. Como ente público, tem de ser a emissora que respeite os valores da Constituição. E o bom mesmo é não haver uma TV Brasil. Se ninguém vê, pra quê?

Alexandre Frota é indicado para a Academia Brasileirinhas de Letras


Gustavo Almeida

O mais novo intelectual do Brasil, recebido hoje para debater o futuro da educação com o ministro Mendonça Filho, Alexandre Frota já tem um lugar marcado no grande panteão dos nomes nacionais.

A partir da semana que vem ele vai entrar para a Academia Brasileirinhas de Letras, onde estará lado a lado com enormes nomes como o Negão do Whatsapp e Kid Bengala. Frota, porém, não teria essa grandiosidade toda mas estaria aproveitando o momento.

De acordo com fontes no setor, Frota já está preparando o seu discurso de posse. Aécio Neves já teria procurado saber a data para sair de perto de Frota. De acordo com amigos próximos, Frota já prepara uma lista de assessores para o seu trabalho no ministério da Educação. Ele quer reunir grandes artistas a seu lado, como Luciana Gimenez.

Na semana passada, após um encontro com o Ministro da Educação para levar propostas para o setor, Alexandre Frota deu uma coletiva onde anunciou as propostas que fez na sua visita ao MEC.

Dentre as idéias apresentadas por Frota se destacou a substituição do ENADE pelo ENUDE. Em vez de prestar o tradicional Exame Nacional de Desempenho, o estudante universitário agora precisaria apenas mandar um nude para o MEC ao ingressar ou sair da faculdade.

Alexandre Frota também teria proposto que além do ENEM o estudante passe pelo ENEMA, para que já comece a vida acadêmica preparado para uma possível carreira cinematográfica como a sua.

O amor pelos livros e outras reminiscências de infância


Ruth Barbosa Sampaio e Jorge Álvaro Marques Guedes

Jorge Álvaro (*)

Morávamos na avenida Joaquim Nabuco, casa de nº 1.261, próximo à Primeira Igreja Batista de Manaus, que ainda hoje recebe seus frequentadores no mesmo endereço. Era o ano de 1960. As casas daquele quarteirão ficavam com os fundos para a avenida Getúlio Vargas. Menino de três anos de idade, entre curioso e extasiado, dependurado no muro de trás, assistia aos trabalhos dos tratores e máquinas que cobriam as pedras daquela rua com o negro asfalto da moderna urbanização que escurecia as cores da cidade.

Na tríplice esquina com a rua Tarumã, onde atualmente existe um posto de combustível, havia um terreno baldio que servia para a realização dos comícios políticos que aconteciam em época de eleições. Obviamente que aquelas manifestações em nada se comparam com as de hoje, que tem a participação de um considerável número de pessoas. Dali ouvi os primeiros xingamentos entre políticos e seus correligionários. Lembro pelo menos do embate entre Plínio Ramos Coelho e Paulo Pinto Nery, ou entre o Partido Trabalhista Brasileiro – PTB e o Partido Social Progressista – PSP, isso na período pré-eleitoral para o governo do Estado, em 1961.

Minha tia Maria, professora do Grupo Escolar Luizinha Nascimento, que até hoje funciona no bairro da Praça 14 de janeiro, era ferrenha defensora das ideias do “Dr. Paulo”. O primeiro foi governador do Estado em dois mandatos, até sua cassação pelo governo militar em 1964, sucedido por Arthur Reis e, o segundo, deputado federal, prefeito de Manaus e, por último, vice-governador do Estado em 1978 na chapa de José Lindoso, do Partido Democrático Social – PDS, assumindo o governo em pequeno período, de 1982 a 1983.

Naqueles anos 60, as residências recebiam costumeiras visitas dos padres católicos, que sempre tiveram a missão de arrebanhar fiéis. A nossa casa não ficou imune a isso. Aprendi a ler com cinco anos de idade. O caminho inicial que me impuseram foi a cartilha “ABC dos Animais”. A letra “A” era representada pela águia, a “B”, borboleta e por aí adiante, até chegar ao “Z de zebra. Difícil para mim era o “D” de dromedário – que palavra horrível de soletrar!

Voltemos à visita do padre. Não lembro ou não me foi dito o seu nome. Deu-me o meu primeiro livro. Era um desses catecismos, onde estão resumidos os dogmas e as orações da Igreja. Ao sair, com o olhar severo dos mestres, disse que voltaria na semana seguinte, a fim de saber se eu havia aprendido as orações do catecismo. Com o pavor de ser considerado um pecador, cujo destino seria o fogo dos infernos, pus-me a decorar as orações do pai nosso, ave maria e salve rainha, essa última a mais difícil para mim.

Na semana seguinte esperei pela visita, inutilmente. O padre, ao que parece, morreu ou acreditou que eu sucumbiria sob o seu já dito olhar severo de mestre. Até hoje, ou pelo menos até mudarmos para outro endereço, jamais retornou, frustrando o que deveria ter sido a minha primeira prova oral.

Com a leitura já fácil, lia tudo que me chegava às mãos ou aos olhos, dos livros de bolso ou fotonovelas, preferidos de minha mãe, até aos nomes dos poucos ônibus que circulavam na cidade. Alguns dos livros sofriam a censura materna e eram escondidos debaixo do colchão da cama, mas eu, sabendo de tal esconderijo, várias vezes burlei a legislação doméstica para entrar no mundo da fantasia, imaginando os personagens de cada uma das histórias e criando suas fisionomias.

Até hoje acho que o leitor é um eterno cúmplice do escritor, pois é ele quem faz o “acabamento” de cada um dos personagens, dando novas feições a eles e até modificando mentalmente o que já possa ter sido criado. Se hoje a facilidade tecnológica nos traz em segundos tudo o que possa ser lido, imaginem a dificuldade de acesso para os leitores daquela época. Pra mim, a salvação da lavoura foi a pequena biblioteca da tia Maria, uma estante de madeira que deveria conter cerca de cem livros.

Lá encontrei Machado de Assis, com Dom Casmurro, Jorge Amado e os seus Subterrâneos da Liberdade, Érico Veríssimo com O Tempo e o Vento e, quem diria, O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, dentre outros. Como era bom ler todos. Do colchão da cama, as inesquecíveis fotonovelas italianas das revistas Capricho, Ilusão, Noturno, os gibis X-9 e os livros de bolso das histórias do faroeste americano. Não encontrei nenhum Schopenhauer ou Nietzsche, a quem só fui apresentado décadas depois.


(*) Jorge Álvaro é desembargador do Tribunal Regional do Trabalho e fundador da Banda Independente Confraria do Armando (BICA)

quarta-feira, maio 18, 2016

Coisas sobre sexo que você nunca quis saber, mas que eu faço questão de divulgar (3)


A putaria e a política foram feitas uma para a outra. De um lado, encontramos mocinhas que só pensam em sacanagem como fonte de renda, enquanto de outro, senhores afoitos que fazem, como fonte de renda, a mesma sacanagem. O ex-secretário de Estado Henry Kissinger chegou a proferir uma frase célebre: “O melhor afrodisíaco do mundo é o Poder, porque quem tem o Poder pode foder todo mundo...”

CUNHADA COBIÇADA
Por mais que o caçador de marajás tente negar, sabe-se que o ex-presidente Fernando Collor ficou muito mais enlouquecido do que costume ao levar uma desfeita da cunhada. Queria convencê-la de que seria possível conhecer as coxas mais cobiçadas do país sem trair o irmão Pedro. Como na época seu irmão estava – e era também – muito vivo, o sonho se desfez. A partir daí, o castelo collorido começou a cair.

TESÃO PRESIDENCIAL
Em novembro de 1960, John F. Kennedy comemorou sua vitória nas eleições americanas entre quatro paredes, na companhia de duas garotas deslumbrantes, estrelinhas desconhecidas de Hollywood. Seu refinado gosto por uma boa sacanagem era tanto, que a certa altura do campeonato, ele sugeriu um “ménage” a Jackie K., afirmando ter certeza de que ela adoraria. A futura Sra. Onassis não topou.  Mulheres bonitas não faltaram ao leito presidencial de JFK, passando por Mary Pinchot Meyer (pintora que afirmou ter fumado maconha com ele) e Jane Mansfield (a peituda mais peituda de Hollywood).

CAMINHOS DA FAMA
A atriz Marilyn Monroe, a loira mais linda e gostosa de Hollywood, rolou também pela cama dos Kennedy. Transou com o presidente John e com seu irmão senador Bob. Nunca revelou quem era o melhor, mas chegou a confessar que não gostaria de passar mais pela trilha que a tornou famosa.

MAO ERA BOM DE CAMA
Mao Tsé Tung tinha um apetite insaciável por qualquer forma de sexo. Às vezes se divertia na cama com quatro ou cinco mulheres ao mesmo tempo. Costumava ofertar um manual taoísta de sexo para suas parceiras lerem. Não se importava com o fato de o sexo grupal espalhar doenças venéreas entre as jovens. Mais ainda: ele também se relacionava sexualmente com rapazes. Tudo isso foi revelado pelo seu médico particular.

SANTO REMÉDIO
O mesmo presidente Kennedy deixou que algumas de suas intimidades sexuais viessem à tona. Tornaram-se absolutamente públicas suas investidas às mulheres do país inteiro, sempre com o pretexto de curar a enxaqueca. “Trepar é um santo remédio para esse problema”, costumava dizer.

TOALHA MOLHADA
Deu na impressa: ao descobrir que seu marido, o então governador de Alagoas Geraldo Bulhões, tinha uma amante, a primeira dama, dona Denilma, deu-lhe uma boa surra de toalha molhada.

SEXO NAZISTA
Adolph Hitler, um dos líderes mais temidos e execrados do século XX, levou para abaixo dos sete palmos algumas versões, verdadeiras ou não, sobre sua sexualidade. Nunca foi muito evidenciada sua convicta heterossexualidade, da mesma forma como muito se anunciou que fazia questão de transar de botas. Consta também que ele colecionava fotos das amantes, sempre nuas, com a bunda em close, para que não fossem reconhecidas em caso de extravio. Há notícias de que era chegadíssimo a um sadomasoquismo perverso. E ainda, estranhamente, a maioria de suas amantes morreu por suicídio.

SEXO FACISTA
Benito Mussolini, o mais jovem Primeiro Ministro da história italiana, ficou conhecido como o “rapidinho”, pelas performances sexuais em seu gabinete, que eram tão ligeiras, que sequer tinha tempo de tirar os sapatos e as calças. Imagine que o homem evitava a todo o custo que as mulheres passassem uma noite com ele, por medo que elas rissem da sua “camisola de dormir”.

TANGO E PODER
Eva Peron vivida por Madonna no filme “Evita”, em memorável produção norte-americana, foi implacável na sua carreira sexual, mostrando-se amante de uma série de homens que subiam na vida. Supostamente era muito boa de “boquete”, e iniciou sua carreira sexual, como prostituta. Tanto que aos 14 anos de idade, ela ofereceu seus serviços sexuais para um cantor de tango, de segunda categoria, chamado José Armani, contanto que ele a levasse para Buenos Aires. Os que a conheceram dizem que Evita era uma mulher assexuada, fria e matreira, cujo interesse era o poder.

PRIMEIRA EMPREGADA
Thomas Jefferson, ex-presidente dos Estados Unidos não dispensava nem a empregada de casa. Consta que o bacana teve um longo caso com a mulatinha Sally Hemings, que era filha da empregada. Cobravam-lhe o título de “primeira-empregada” a ela, já que existia o de primeira-dama.

CORRENDO ATRÁS

Segundo o noticiário sensacionalista, consta que o ex-presidente do Brasil, Jânio Quadros, certa vez foi flagrado correndo atrás da sua secretária particular em pleno gabinete, rodando feito galo doido, com as piores intenções possíveis para com a mocinha. E, em seguida, proibiu biquíni na praia.

Café do Pina é tombado como bem imaterial de Manaus


A Câmara Municipal de Manaus (CMM) aprovou o Projeto de Lei do vereador Mário Frota (PHS), que torna a marca Café do Pina como Patrimônio Imaterial da Cidade de Manaus. O Café do Pina, localizado na Praça Heliodoro Balbi – também conhecida como Praça da Polícia – foi inaugurado no dia 3 de maio de 1951 e hoje faz parte da história da cidade de Manaus por abrigar movimentos culturais e políticos como o Clube da Madrugada e o Projeto Jaraqui.

Na sua justificativa o vereador Mário Frota esclarece que a família Pina chegou ao Brasil na década de 20, fugindo do lastimável estado da economia portuguesa, depois da implantação da República, que transformara Portugal em um país arrasado economicamente, com desemprego em massa.

Foi nessa época que três portugueses, oriundos de Loriga, Serra da Estrela, chegaram a Manaus. Dois eram irmãos: José Pina e Carlos Pina; o outro, Antônio Pina, era primo dos dois. José Pina fundou o Café do Pina, tornando-se famoso na cidade por tratar todo o mundo de ‘jovem’ e pela qualidade e sabor do seu cafezinho.

O saudoso Senador Jefferson Peres foi um dos intelectuais amazonense que presenciou a inauguração do Café do Pina e fez o seguinte relato: “Em 1950 tinha início uma nova década e, também, a construção de um barzinho, sem nada de especial, mas que iria marcá-la profundamente. O local era um canteiro triangular, em frente ao Guarany, onde havia um antigo chafariz desativado e dois postes de sustentação da tela na qual se projetavam filmes ao ar livre. Ao se erguerem os tapumes, correu o boato de que seria construído um posto de gasolina. A novidade não agradou os ginasianos, que ensaiaram um movimento de protesto e ameaçaram depredar a construção.

Pressionado, o então prefeito Chaves Ribeiro aconselhou o proprietário a acelerar as obras, a fim de criar o fato consumado. Diante disso, foi abandonado o projeto original, de forma circular, por outro mais feio, retangular, que pôde ser construído em tempo recorde. O êxito foi imediato e se deveu a uma conjugação de fatores. Em primeiro lugar, sua localização, nas vizinhanças de dois cinemas, três colégios, um quartel, e mais, da então concorridíssima Praça da Policia; segundo a excelência do seu café, talvez o melhor da cidade; e finalmente, a simpatia do proprietário, o português José de Brito Pina, extrovertido e conversador, que em pouco tempo chamava cada um dos frequentadores pelo nome. Batizado oficialmente de Pavilhão São Jorge, o barzinho era conhecido popularmente por Café do Pina e, mais tarde, Republica Livre do Pina”.

Depois da revitalização do Palacete da Província, onde funcionou o antigo Quartel da Polícia Militar, as instalações do Café do Pina se mudou para outro local na mesma  Praça Heliodoro Balbi, sendo agora, na frente da Rua Rui Barbosa, no local conhecido como Coreto do Pina, onde atualmente funciona as reuniões do Projeto Jaraqui,  frequentado por aposentados, intelectuais, turistas, comerciários e empresários.

“O tombamento do Café do Pina como Bem Imaterial é uma forma de resgatar a história da nossa cidade por meio das suas tradições, línguas e costumes. Os portugueses que aqui chegaram para trabalhar e edificar as suas famílias, deixaram a sua contribuição, com muito suor, para o desenvolvimento do Amazonas e essa é também uma homenagem aos nossos irmãos patrícios”, esclarece Mário Frota.

Uma outra Argentina possível


Por Mario Vargas Llosa

Será que finalmente terminou para a Argentina o tempo dos desvarios populistas e do feitiço suicida que o “socialismo do século XXI” de Chávez e Maduro exerceu sobre o governo dos Kirchner? Depois de passar uma semana neste país, alegra-me dizer que sim, que, em seus poucos meses no poder, Mauricio Macri conseguiu levar a cabo reformas valentes e radicais para desmontar a máquina intervencionista e demagógica que estava arruinando uma das nações mais ricas do mundo, isolando-a e empurrando-a para o abismo.

Não é necessário recorrer a pesquisas e estatísticas para demonstrá-lo: a mudança está no ar que se respira, na maneira como as pessoas falam do momento atual, no alívio e no otimismo com que ouço a maior parte dos conhecidos e desconhecidos comentar a política atual.

É verdade que a oposição peronista – ainda que talvez fosse melhor dizer kirchnerista, pois o peronismo, formado por um leque de tendências, não é unívoco em sua oposição, mas sim diversificado e matizado – não deu ao novo governo um prazo de carência, e começou a atacá-lo sem piedade e a tentar sabotar osinceramiento [adequação à realidade] da economia – o cancelamento dos subsídios que a asfixiavam – e se colocar em posição contrária às reformas. Mas os benefícios já são visíveis e inequívocos.

Desde seu acordo com os detentores dos chamados “fundos abutres”, a Argentina recuperou o crédito internacional, e o desaparecimento do cepo [controle cambial] devolveu à sua moeda uma estabilidade da qual não usufruía há tempos.

A visita do presidente Obama, que significou um importante aval à nova Argentina, abriu um desfile de visitantes dignos de nota, das áreas política e econômica, que vêm para explorar a possibilidade de investir em uma terra pródiga em recursos que as políticas autistas e nacionalistas da senhora Cristina Kirchner estavam levando a uma ruinosa autarquia. E em política internacional o governo de Macri reverteu totalmente aquela do regime anterior, manifestando sua vocação democrática, criticando a violação da legalidade e dos direitos humanos na Venezuela e pedindo que o regime de Maduro abra um diálogo com a oposição a fim de assegurar uma transição pacífica que ponha fim à lenta desintegração de um país que o estatismo e o coletivismo levaram à fome e ao caos.

Que diferente é ligar a televisão e, em vez dos lugares-comuns e dos slogans terceiro-mundistas que faziam às vezes de ideias nos discursos da senhora Kirchner, escutar o presidente Macri, em uma entrevista coletiva, explicando com clareza, simplicidade e franqueza que desafogar uma economia paralisada pelo construtivismo demagógico tem um preço alto e inevitável e que, sem esse saneamento que é voltar da fantasia à realidade, a Argentina nunca sairia do buraco no qual foi atirada por uma ideologia fracassada em todos os países que a aplicaram.

Ouvi-o explicar também, de maneira absolutamente persuasiva, por que a erroneamente chamada lei antidemissões, que acaba de ser aprovada pela oposição no Senado, só servirá para dificultar a geração de novos empregos, ao desencorajar as empresas a ampliar seus serviços e contratar mais funcionários.

Em todas as intervenções públicas e em conversas privadas que escutei esta semana o novo chefe de governo argentino me pareceu desprovido da arrogância que costuma acompanhar o poder e da retórica inconsistente de tantos políticos, e empenhado em construir pontes e em convencer seus compatriotas de que os sacrifícios necessários para acabar com o nefasto populismo são o único caminho através do qual a Argentina pode recuperar a prosperidade e a modernidade das quais já usufruiu no passado.

E evidentemente há razões para acreditar nisso. A Argentina é um país muito rico em recursos naturais e humanos; o sistema educacional exemplar que teve no passado, apesar de ter se deteriorado com as más políticas dos governos precedentes, ainda produz cidadãos mais bem formados do que a média latino-americana – talvez nenhum outro país da região tenha exportado mais técnicos de alto nível para o resto do mundo –, e não há dúvidas de que, com as reformas agora em andamento, os investimentos estrangeiros, retraídos durante todos estes anos, voltarão em grande número a uma terra tão pródiga, criando os empregos necessários e elevando os níveis de vida e as oportunidades para os argentinos.

Há um aspecto que gostaria de destacar entre as mudanças vividas pela Argentina. Com a liberdade de expressão, que sofreu tantas avarias durante os governos dos Kirchner, a corrupção, que sob esse Estado que Octavio Paz chamou de “ogro filantrópico” proliferou de maneira cancerosa, agora é revelada e, justamente nestes dias a imprensa dá notícias estarrecedoras sobre as quantias vertiginosas acumuladas pelos testas de ferro dos antigos mandatários, monopolizando as obras públicas de regiões inteiras e saqueando seus orçamentos de maneira impudica, transformando em bilionários aqueles donos do poder que se vangloriavam de ser revolucionários anti-imperialistas e inimigos jurados do capitalismo.

Duvido muito que haja um só capitalista no mundo que tenha acumulado uma fortuna tão prodigiosa como Lázaro Baez, aparentemente testa de ferro de Néstor Kirchner e agora na prisão, ex-tesoureiro de um banco de Santa Cruz que alguns anos depois possuía cerca de 400 propriedades rurais e urbanas e cerca de uma centena de automóveis em seu país, e comprava apartamentos e casas em Miami por mais de 100 milhões de dólares.

O êxito da Argentina nas pacíficas reformas democráticas e liberais que está empreendendo tem uma importância que transcende suas fronteiras. A América Latina pode aprender muito com este país que, depois de quase chegar ao fundo do poço por culpa da ideologia coletivista e estatista que esteve a ponto de arruiná-lo, ergue-se de suas próprias cinzas com os votos de seus cidadãos e tem a coragem de desfazer o caminho equivocado.

E inicia um novo, aquele dos países que graças à liberdade – a única verdadeira, ou seja, a que engloba a política, a economia, a cultura e os âmbitos social, cultural e pessoal – alcançaram os melhores níveis de vida da atualidade, os que mais reduziram a violência nas relações humanas e os que criaram a maior igualdade de oportunidades para que seus cidadãos possam concretizar suas aspirações e seus sonhos.

Ainda que às vezes de maneira confusa, acredito que este seja um ideal que foi criando raízes nos países latino-americanos, onde os antigos modelos que disputavam a preferência da população – as ditaduras militares e as revoluções armadas socialistas – perderam prestígio e atualidade e só valem para minorias insignificantes. Por isso é que, com exceção de Cuba e Venezuela, em toda a região agora há democracias, apesar de algumas serem muito imperfeitas e estarem ameaçadas pela corrupção.

A Argentina pode servir de exemplo para renová-las, purificá-las e atualizá-las, de modo que se integrem ao mundo e aproveitem as grandes possibilidades que este oferece aos países que se apropriam da cultura da liberdade.

Viviane Orth, magra e sensual


Por Giba Um

“Acho ótima essa proposta de trazer uma modelo para as páginas da revista e mostrar que as magras também são sensuais. Todas as mulheres são lindas. Linda é quem se ama e se aceita como é”. É Viviane Orth, 26 anos, nova atração de Playboy, que sempre trabalhou com alta costura e desfilou para Dior e Chanel. “Era hora de encarar mais este desafio”. Vivi, como é chamada, tem nove tatuagens pelo corpo de 1m80. Mais medidas: 83-62-89. As fotos são de André Passos.

Adeus à TV Lula
Criado em 2007 sob inspiração de Franklin Martins, a TV Brasil, apelidada de TV Lula, está ameaçada de desaparecer. A Empresa Brasileira de Comunicação, que engloba a emissora, uma rádio e uma agência de notícias, passará por um processo de enxugamento que poderá mesmo resultar na extinção da televisão oficial criada no segundo governo Lula.  De lá para cá, a manutenção desse esquema de propaganda petista custa uma média de R$ 750 milhões por ano e até hoje, já teria torrado R$ 6 bilhões, sem nenhum resultado – e nem para o próprio PT, devido a falta de audiência.

Queda da amiga
Presidentes de federações de agricultura do país entregarão carta de renúncia assim que a ex-ministra Kátia Abreu retornar à presidência da Confederação Nacional da Agricultura, depois de cumprir quarentena. Com a renúncia coletiva, formarão novas eleições para o comando da entidade, Mais: produtores rurais também ameaçam não pagar a contribuição sindical quando Kátia assumir a confederação. Ela permaneceu ao lado de Dilma até afastamento: considera a presidente “sua amiga”.

Última
A última autorização da Comissão de Incentivo á Cultura, quando Juca Ferreira ainda era ministro, para captação de recursos foi para a empresa paulista Fidelo Produção e vai montar um musical sobre a vida de Maysa, com direção de seu filho Jayme Monjardim. Foram autorizados R$ 15,7 milhões, que também serão usados numa exposição.

Em campo
Mesmo sob a reclamação de muitos sobre seus horários, o chanceler José Serra começa a se destacar no novo ministério: rejeitou as manifestações dos governos da Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador, e Nicarágua, quer fechar embaixadas e consulados principalmente na África e Caribe (hoje, o país tem 227 postos diplomáticos, que estão com seus aluguéis atrasados em até três meses) e quer recolocar a brasão da República nas capas dos passaportes. Agora, sua pasta engloba a Apex - Agência Brasileira de Promoção das Exportações.

Conselheiro
Quem vem mantendo contato quase diário com ministro José Serra é o embaixador Sérgio Amaral, que não pode assumir mais cargos de carreira porque já se aposentou. Até agora, Serra tem se aconselhado com ele até área da Apex. Amaral foi ministro do Desenvolvimento no governo de Fernando Henrique Cardoso. Mais: o novo chanceler manteve toda a equipe anterior.

Livro de Villa
O historiador Marco Antonio Villa, comentarista ácido da Jovem Pan, está lançando o livro “Collor Presidente”. Nele, recorda que o marqueteiro João Santana, preso na Lava Jato, assinou em 1992, com Mino Pedrosa e Augusto Fonseca, a reportagem de IstoÉ, com o motorista Eriberto França narrando o esquema de corrupção que envolvia o governo Collor. Nos últimos anos, Santana foi o responsável pelas duas campanhas de Dilma á presidência.

Inauguração
Michel Temer quer entregar, ainda este ano, as obras de transposição do Rio São Francisco. O Ministério da Integração está preparando um cronograma financeiro e de trabalho que poderá até mesmo substituir a Mendes Junior, que tem um dos lotes e que está em situação financeira complicada (foi considerada inidônea), por homens do Exército.

Aposta
Fabiano Augusto Martins Silveira, novo ministro de Fiscalização, Transparência e Controle, virou motivo de apostas no núcleo principal do governo Temer: uns dizem que ele foi indicado por Renan Calheiros, outros, por Romero Jucá. Nos dois casos, a intenção é ir queimando o indicado.

Alegres Comadres
Nem bem começou o governo de Michel Temer e os integrantes do núcleo principal – Eliseu Padilha, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima, Romero Jucá e Henrique Alves – já gastam boa parte de seu tempo falando mal um do outro – até o próprio presidente em exercício já notou, isso. Por causa disso, receberam o apelido nos bastidores do governo de As Alegres Comadres, título de uma peça de Shakespeare. A “alegria” é porque eles também costumam rir, de longe, uns dos outros.

No Bolso
Quem não conhecia bem o chanceler José Serra e está trabalhando mais próximo dele no Itamaraty, já está descobrindo a verdadeira mania que o tucano tem por remédio (inclusive, leva muitos no bolso). Serra, de vez em quando, até recomenda determinados remédios para algum funcionário. Agora, os diplomatas também contam entre si a velha piada sobre ele: dia sim, dia não, Serra apareceria na farmácia do bairro e perguntaria ao balconista se tem “alguma novidade”.

Para Curitiba
O Ministro Teori Zavascki, do Supremo, já está providenciando a remessa dos inquéritos de Lula para Curitiba, onde os esperam o juiz federal Sergio Moro. O ex-presidente acompanha esse encaminhamento,  o que aumenta seu grau de preocupação  sobre uma possível prisão. E também sabe que outros inquéritos sobre seus familiares estão em plano andamento, lá mesmo Curitiba.

Outro vice
O nome de Gabriel Chalita para figurar como vice na chapa de Fernando Haddad que disputará a reeleição para a Prefeitura de São Paulo está perdendo o fôlego junto aos petistas. Eles começam a achar que Chalita não significaria, obrigatoriamente, mais votos para a chapa. E já surge outro grupo que quer empurrar para a vice de Haddad o deputado federal Ivan Valente, do PSOL.

Novo Alvo
Os mesmo homens muito próximos de Michel Temer, que vivem falando mal uns dos outros, consideraram a entrevista de Alexandre de Moraes em desastre porque, além do problema da Procuradoria-Geral da República, ele teria levado para dentro do governo temas mais do que indesejados, entre eles, repressão a manifestações e movimentos sociais e o escândalo da merenda de São Paulo. De um jeito ou de outro, Moraes vai recuar um pouco sua exposição.

Outro apelido
Eliseu Padilha, Moreira Franco, Romero Jucá e Geddel Vieira Lima também são identificados, até por outros ministros, como os “jaburus”. Mais: muita gente acha que jaburu é algum familiar da tartaruga, inclusive Geddel Vieira Lima. Nada disso: é um pássaro.

Durou pouco
Moreira Franco já deixou de ocupar o gabinete da vice-presidência no Planalto. O espaço só não será mais exclusivo da vice-presidência quando Dilma Rousseff estiver definitivamente afastada da Presidência. Moreira já está ocupando outras dependências.

Ainda a TV Lula
Se a TV Brasil continuar funcionando, mesmo depois da operação-enxuga de quadros e despesas, poderia se transformar numa emissora de “utilidade pública”, auxiliando o governo em suas campanhas de saúde e educação e outras. A ideia é de Michel Temer.

Falando sozinho
Grande parte dos senadores da base do governo, que não aguentam mais discursos de petistas, especialmente de Jorge Viana, que ataca o governo Temer todos os dias, resolveu adotar nova técnica, em vez de contra-atacar. Muitos deixam o plenário e outros, se permanecem, ficam conversando entre si: preferem não perder tempo com a “choradeira” de Viana.

Tamanho do rombo
Em três dias, a equipe de Henrique Meirelles calculou, com três resultados diferentes, o tamanho do déficit deixado por Dilma Rousseff: passou de R$ 120 bilhões para R$ 150 bilhões e no último dia, R$ 160 bilhões. Correndo por fora, analistas de consultorias independentes asseguram que, se forem acrescentados rombos de estatais e outras áreas, pode chegar até mesmo a R$ 600 bilhões.

Quer processar
Ricardo Melo, que ficou menos de uma semana como diretor-presidente da EBC e foi demitido pro Michel Temer, quer processar o governo por sua exoneração, alegando que seu mandato era de quatro anos. O Planalto não pretende se incomodar: se houver processo, fará defesa.

sábado, maio 07, 2016

Uma pequena história da Ciranda


Conheci a advogada Débora Sávia na “Casa do Veraneio”, da Gracionei Medeiros, em meados dos anos 90, e, depois de alguns minutos de conversa, soube que ela era uma das filhas do saudoso professor, pesquisador, escritor e folclorista José Silvestre do Nascimento e Souza, o responsável por ter trazido a ciranda de Tefé para Manaus. A advogada me apresentou ao seu pai.

Em uma das inúmeras conversas que tive com ele, Silvestre me contou a seguinte história:

Março de 1963. Professor de Português do Colégio Comercial Sólon de Lucena, em Manaus, Silvestre era um guapo de pouco mais de 30 anos oriundo de Tefé. Ele havia deixado o torrão natal para continuar seus estudos superiores na capital como era prática comum entre muitos jovens nascidos no interior.

Um dia, ele foi chamado na sala da diretoria pelo diretor Bartolomeu Dias de Vasconcelos.

– Silvestre, você conhece algum cordão folclórico desses que se apresentam ao público por ocasião das festas juninas? – indagou o diretor.

– Conheço vários deles, inclusive alguns que ainda não se apresentaram aqui em Manaus, como o Papagaio Verde, a Ciranda, o Barqueiro, a Pomba e o Bem-te-vi – respondeu Silvestre. – Todas essas brincadeiras eram apresentadas pelos meus familiares na cidade de Tefé, onde nasci!

– Que bom, meu amigo, que bom! Me diz uma coisa: você quer cooperar com o nosso colégio, montando um desses cordões folclóricos da sua terra natal, que você deve conhecer de cor e salteado? – insistiu o diretor.

– Quero sim, mas desde que possa contar com o seu apoio total e sua irrestrita colaboração! – devolveu Silvestre.

– Está certo, podes contar comigo e com os demais professores do colégio! – encerrou Bartolomeu, dispensando o professor.

Silvestre recrutou os músicos, escolheu os alunos e começou a ensaiar um cordão folclórico na quadra da escola.

Dois meses depois, ele foi chamado às pressas na sala da diretoria do colégio, onde se deparou com uma senhora quase discutindo com o diretor.

– Este aqui é o professor Silvestre, madame! – disse Bartolomeu.

Sem perda de tempo, a mulher soltou logo os cachorros:

– Foi ele que faltou com o respeito com a minha filha! Foi ele! Foi ele!

Silvestre quase caiu para trás. Apesar de jovem e boa-pinta, ele era decente e íntegro até a medula. Não havia nenhuma hipótese de o professor se envolver com alguma Lolita do colégio.

Como não tinha a menor ideia do que diabos estava acontecendo, ele pediu para falar com a suposta “vítima”. Bartolomeu mandou alguém chamar a garota.

Daí a pouco entrou na sala uma menina loura, de aproximadamente 11 anos, que era uma das melhores alunas do professor.

– Minha filha, eu lhe faltei com o respeito em algum momento? – questionou Silvestre.

– Não, professor, acho que foi a mamãe que não entendeu direito! – explicou a garota. – Na semana passada, nós estávamos almoçando em família, eu, papai, mamãe e meus irmãos. Aí, ao terminar o almoço, eu me dirigi à mamãe e fiz um pedido: “Mamãe, a senhora deixa eu dançar na Pomba do professor Silvestre?...” A mamãe arregalou os olhos, ficou branca como uma defunta, quase teve um troço e, na mesma hora, me colocou de castigo!

– A sua filha tinha razão de lhe fazer aquele pedido, minha senhora! – esclareceu Silvestre. – A Pomba é um cordão folclórico que estou ensaiando no colégio a pedido do diretor, mas os brincantes têm de pedir autorização de seus responsáveis para participar da brincadeira. Se a senhora quiser pode aguardar alguns minutos até a hora do recreio, quando realizarei o ensaio com as crianças, para a senhora ver pessoalmente que não tem nada de extraordinário na dança... É apenas uma brincadeira do folclore de Tefé, como a Dança do Corrupião e a Dança do Papagaio Verde!

Ainda contrariada, a mulher questionou:

– Por que, então, o senhor não muda o nome do cordão para Dança do Pombo? Fica menos escandaloso... Dançar na Pomba, convenhamos, soa meio pornográfico...

– Vou pensar seriamente no seu caso, minha senhora! – avisou o professor, se despedindo e indo cuidar de seus afazeres.

Depois do terceiro ensaio, para evitar novas aporrinhações, Silvestre resolveu parar de ensaiar a Dança da Pomba e começou a ensaiar a Dança da Ciranda (que se tornou conhecida como “Ciranda de Tefé”), contando com a colaboração de dois conterrâneos tefeenses, Ambrósio Ramos Correa e Gaudêncio Gil.

O resultado foi a criação de um dos mais bonitos e aplaudidos cordões folclóricos de todos os tempos, que ganhou o Festival Folclórico de Manaus daquele mesmo ano.

A  segunda ciranda criada em Manaus foi a da escola Senador Lopes Gonçalves, que participou do Festival Folclórico de 1965.

Nos anos 70, foi criada a Ciranda do Ruy Araújo, na Cachoeirinha, que se tornou a maior campeã da história do Festival Folclórico do Amazonas de todos os tempos.

Para se ter uma pálida ideia, somente sob a presidência de Adelson Cavalcante, o “Adelson da Ciranda”, a Ciranda do Ruy Araújo conquistou 12 títulos consecutivos e é até hoje a única Supercampeã do Festival por ter obtido, em uma das edições, mais pontos do que todos os demais conjuntos campeões das diversas categorias.

A Ciranda do Ruy Araújo continua em plena atividade até os dias de hoje e costuma realizar seus ensaios na quadra do GRES Andanças de Ciganos.

No início dos anos 80, sob a orientação do próprio Silvestre, a professora Perpétuo Socorro de Oliveira levou a brincadeira para Manacapuru, montando a ciranda Flor Matizada na Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré.

O sucesso foi imediato e, rapidamente, duas outras escolas entraram na brincadeira: a Escola Estadual José Mota, que criou a ciranda Guerreiros Muras, e a Escola Estadual José Seffair, com a sua Ciranda Tradicional.

Em 1997, o prefeito de Manacapuru, Angelus Figueira, organizou o 1.º Festival de Cirandas do município, dando um caráter competitivo às apresentações, o que proporcionou um verdadeiro salto de qualidade na brincadeira.

O resto, conforme se diz, é história.

sexta-feira, maio 06, 2016

Música de elevador para consultório de dentista


Por Cezário Camelo

Estiquei as férias por tanto tempo, que resolvi voltar sacaneando. Não peguei nenhum ataque terrorista do Estado Islâmico, mas, em compensação, visitei tantos sebos de vinil na Europa que estou de pick-up duro. No bom sentido, de fora pra dentro. Pessoas sensíveis, go home. Pessoas brutalizadas, fuck off. Pessoas mais ou menos, go ahead. Vou falar sobre as bolachas que ouvi, curti e afanei espiritualmente, e gostaria que os cachorros, gatos e periquitos fossem postos pra fora da sala. Eles não vão entender o espírito da coisa. E de espiritismo, entendemos nós.

Nos Estados Unidos, ela é chamada de mood music, música ambiente. Na Inglaterra, de light music, música ligeira. No Brasil, grosseiramente, de música de elevador. Grosseira e injustamente porque, hoje em dia, só os melhores elevadores continuam oferecendo música a seus usuários. Mas, para quem despreza o que se escuta neles, considerando-o o epítome da caretice, ainda veremos o dia em que os elevadores tocarão The Who, Pink Floyd ou Skank - embora, quando isso acontecer, eu pretenda estar absolutamente morto e enterrado (desculpem o pleonasmo... machuquei alguém?). Cedo ou tarde, o destino de toda espécie de música é o elevador, o consultório do dentista e o toque do celular. Tom Jobim já está em todos eles, assim como Ary Barroso, Cole Porter, Paul McCartney e Beethoven, e isso não os tornou menores.

Que espécie de música é essa – quase toda produzida nos anos 60 – que une os jazzistas, roqueiros e eruditos num desprezo comum? O que a define? Digamos que ela seja uma diluição suavizada de certas formas musicais que, em sua versão original, seriam muito barulhentas ou complicadas para se ouvir quando se quer apenas relaxar. Imagine subir 30 andares ouvindo Air Mail Special, de Lionel Hampton, com a orquestra do próprio a todo pano, ou fazer um tratamento de canal ao som da Cavalgada das Valquírias, de Wagner, regida por Stokowsky. O suicídio não seria uma má idéia. Mas, se for uma Air Mail Special adocicada por Jonah Jones ou uma Cavalgada domada por Mantovani, tanto os vácuos e solavancos do elevador quanto a broca do dentista serão quase imperceptíveis. Se a música serve para tudo, por que não pode servir também para zerar angústias? E por que a música explicitamente agradável se tornou tabu?

Nos últimos tempos, nos Estados Unidos e na Inglaterra, o conceito se expandiu e esse tipo de música passou a ser agrupado nas lojas sob uma nova categoria, chamada easy listening. Significa toda espécie de música popular que não seja jazz, rock ou um corpo estranho chamado world music. Bem, considero também ofensiva essa marota classificação de easy listening – porque dá a entender que, se ela é fácil de escutar, foi também fácil de fazer. O que não é verdade – ao contrário de 50% do jazz e de 100% do rock disponíveis na praça, fáceis de fazer e duríssimos de escutar. Além disso, easy listening sugere um tipo de música que, se por acaso estiver ao alcance das suas orelhas, tanto faz que você esteja ou não prestando atenção, porque ela não irrita nem acrescenta.

Pois eis aí outra definição preconceituosa. Qualquer tipo de música pode ser escutado com um ouvido só e, nesse caso, não nos acrescentará nada – seja Villa-Lobos ou Abílio Farias, para ficar nos extremos. Mas suponha agora que exista uma grande quantidade de mood music que mereça ser escutada com atenção. A prova está numa série de extraordinários lançamentos importados, trazendo de volta orquestras e conjuntos que, com todo o apelo comercial, produziam música de espantosa qualidade e beleza.

Uma dessas orquestras, por exemplo, tinha como arranjador e regente nada menos que o compositor clássico e maestro Morton Gould. Seu disco, Blues in the Night, gravado em 1957 na RCA Victor, dá um caráter tão majestoso a temas como Birth of the Blues e Mood Indigo que, hoje, é difícil acreditar que possa ter sido gravado para servir de fundo musical a ouvintes distraídos. O mesmo se aplica a Easy Jazz, com a orquestra de Paul Weston (enriquecida por solistas como o trompetista Ziggy Elman, o pianista Paul Smith e o guitarrista George Van Eps), num repertório que inclui Body and Soul, Georgia on my Mind e My Funny Valentine. Weston morreu há cinco anos, aos 84 anos, respeitado como um dos maiores arranjadores do século por sua delicadeza para combinar cordas e metais.

E, até que enfim, os discos de Jackie Gleason renascem em CD. Gleason, mais conhecido no Brasil como ator (era o gordo que perseguia Burt Reynolds nos filmes da série Agarra-me Se Puderes), foi uma potência da música americana nos anos 50 – sem tocar qualquer instrumento e sem ler uma nota de música. Os discos de sua orquestra vendiam-se aos milhões: eram ótimos para dançar, ouvir ou criar climas para coisa mais séria entre um homem e uma mulher. E como Gleason conseguia isso? Com sua tremenda musicalidade intuitiva, orientando seus arranjadores para o tipo de som e de andamento que queria – o que ele fazia cantarolando e regendo naipes imaginários com um cigarro como batuta. Se você quiser ouvir para crer, a pedida é Velvet Brass - How Sweet It Is, na verdade muito mais swing que sweet.

O humorista americano Ambrose Bierce, autor do Dicionário do Diabo, chamou o acordeon de “um instrumento com os sentimentos de um assassino”. Mas isso é porque ele nunca ouviu seu compatriota, o acordeonista Art Van Damme, nascido em 1920. Van Damme praticamente introduziu o acordeon no jazz e, por volta de 1950, influenciou adivinhe quem no Brasil: João Donato. Depois de décadas esquecido, alguns de seus discos antigos estão saindo no Japão e na Alemanha – alguns deles, Martini Time e State of Art. Os quase surdos os rotularão de música para coquetel, pelo pecado de serem de audição agradabilíssima. Mas vá tentar fazer o que ele faz.

Art Van Damme está para o acordeon como um xará seu para o piano: Art Tatum. E um de seus mais deliciosos contemporâneos também foi redescoberto: o pianista Page Cavanaugh. Entre outras coisas, o trio de Cavanaugh foi a principal influência do conjunto vocal carioca Garotos da Lua, cujo crooner em 1951 chamava-se João Gilberto. Depois, como pianista, ele seria o acompanhante ideal de Doris Day e Frank Sinatra. Pois Cavanaugh foi posto para gravar de novo e o resultado, até agora, são dois lindos discos chamados The Digital Page (Page One e Page Two).

A grande sensação, no entanto, é a série de 12 CDs individuais da Capitol intitulada Ultra-Lounge, contendo o máximo do repertório de mod music desta gravadora nos anos 50 e 60. É a absoluta volta a um tempo em que o homem se vestia inteiro para levar uma mulher a uma boate ou para recebê-la em seu apartamento. E essa mulher, naturalmente, exorbitava em seus decotes, sedas e no vermelho do batom.

Homens e mulheres equipavam-se para seduzir e a música era parte importante nesse jogo. Cantores e orquestras eram movidos a hormônios na tentativa de estabelecer uma atmosfera densa e sensual. A música podia ser americana, latina, francesa ou com toques negros - mas era sempre dançante, sensual e envolvente, ideal para preliminares elegantes. Ir para a cama com alguém devia ser uma batalha naquele tempo, mas, até chegar lá, as mulheres não se queixavam de falta de romantismo.

É esse o clima passado pelos CDs desta série, como Bachelor Pad Royale, Rhapsodesia, Cocktail Capers, The Crime Scene, A Bachelor in Paris, Cha-Cha de Amor e os outros. Cada um deles tem 18 faixas, estreladas por grandes nomes como Nelson Riddle, Bobby Darin, Billy May, Jonah Jones, Ray Anthony, Dean Martin, Leroy Holmes, Peggy Lee, Perez Prado, Julie London, Cy Coleman, Sam Butera, Les Baxter, etc etc.

Grandes sons – arranjos fabulosos, que induzem um casal a sair dançando lentamente em direção ao leito ou que, no caso dos mais tímidos, também permitem grandes momentos de mãos dadas no sofá da sala. Se este for o seu caso, não se torture: esta é uma música que também pode perfeitamente ser apenas escutada. Eu, por exemplo, quero ouvir com a Hedôzinha colocando a boca no meu trombone de vara. Se é que me entendem.

Mergulho radical na libertação


Torquato Neto viveu o suficiente para desafinar o coro dos contentes

Por Wally Sailormoon

Se vocês estiverem com dinheiro sobrando (o salário mínimo vai aumentar agora em maio, certo? Comece a gastar por conta...), não deixem de adquirir a monumental caixa “Torquatália”, de Torquato Neto. Org. Paulo Roberto Pires. Editora Rocco. Volume I (“Do lado de dentro”), 368 páginas, R$ 44. Volume II (“Geléia geral”), 408 páginas, R$ 49. O investimento vai valer a pena.

Eu, particularmente, continuo reputando como tarefa ingrata essa de reunir a obra completa de Torquato Neto (1944-1972). Ele não se deixava apreender com facilidade, distribuiu seu talento por várias áreas, destruiu muito do que escreveu antes de se matar aos 28 anos. Juntar o artista em dois volumes é tentar dar-lhe contornos mais precisos. Mas, como não poderia deixar de ser, as sensações de “Torquatália” sobrevivem em incongruências: “as palavras arrebentadas, os becos, as ciladas etc. etc. ad infinitum”.

Os rastros de Torquato Neto foram agora mapeados pelo jornalista, escritor, professor e editor Paulo Roberto Pires em “Do lado de dentro” e “Geléia geral”. Os textos do piauiense estavam sumidos havia muito tempo. É de 1982 a segunda e última edição de “Os últimos dias de paupéria”, coletânea organizada pela mulher, Ana Maria Duarte, e por este vosso escriba. Torquato sobrevivia de maneira mais próxima do público nas letras de canções, o meio que lhe deu alguma celebridade.

O material traz inéditos, em livro ou não. De poemas da adolescência, escritos em Salvador e no Rio entre 1961 e 1962, aos textos da coluna Música Popular, do “Jornal dos Sports”, e do suplemento Plug, do “Correio da Manhã”. Além das clássicas (“Minha senhora”, “Louvação”, “Três da madrugada”, entre outras), há letras que os parceiros tiraram do baú e nunca gravadas. Gilberto Gil e Caetano Veloso estão entre os que contribuíram com redescobertas.

O melhor da nova fornada, entretanto, são as cartas trocadas com Hélio Oiticica no início dos anos 70, quando o artista dos parangolés estava em Nova York, ou melhor, em “Babylon”. Na confusão de duas cidades, na correspondência entre dois mundos, encontra-se um painel saboroso da produção cultural da época: os bastidores, as idéias, as disputas. Todo mundo andava meio perdido, sem saber aonde ir, “quebração de cara geral”, resumia Torquato.

Sobram fofocas e achincalhes — a Gustavo Dahl, Nelson Motta e Capinam, por exemplo. Oiticica escreve com afetação, é mais pródigo na baixaria. A transa (gíria repetida em abundância por Torquato, hoje com sentido mais determinado) de Torquato era sempre a busca da liberdade para o “lado de dentro”, sem abandonar certa elegância, expressa em meio a todo o coloquialismo. Suas fotografias não deixam as palavras mentir.

Todo dia era dia de libertação, dentro da cabeça e do país. Mas a coisa ficou barra pesada, nos dois lugares, e ele não aguentou. “Torquatália” confirma o talento múltiplo do jornalista, poeta, letrista, ator e cineasta. Na maioria das vezes, artista inconcluso, como se algo nunca pudesse ser efetivamente fechado. O suicídio é solução coerente com uma vida-obra, mais do que idéias que são concebidas e transformadas em projetos reais. Nem o jornalismo de Torquato conseguiu prender-se ao factual. Fez da “Geléia geral” lugar-comum.

Faz sentido, então, perguntar: o que resiste da palavra rabiscada nos cadernos de anotações ou do diário esboçado no Hospital Psiquiátrico Pedro II? O que fica da frase datilografada? Rabiscos, esboços e as marcas de tinta no papel-jornal são imagens que separam e unem as partes do volume “Do lado de dentro”. Antecipam angústias contemporâneas com mais brilhantismo do que outros companheiros de jornada na Navilouca tupiniquim, talvez por conta de constante irracionalidade.

No dia 13 de novembro de 1971, pouco menos de um ano antes de morrer, Torquato escreve: “a literatura, o labirinto perquiridor da linguagem escrita, o contratempo, a literatura é a irmã siamesa do indivíduo. a idade das massas, evidentemente, não comporta mais a literatura como uma coisa viva e por isso em nossos dias ela estrebucha e vai morrer. a literatura tem a ver com a moral individual e a moral individual não interessa — não existe mais”. A crise ainda está aí, tal e qual o diagnóstico.

Se a literatura não resolve, cabe experimentar para todo lado, com o risco da dispersão. Aconteceu com Torquato por necessidade vital (ou o oposto disso), tem sido tentativa atual apenas dos que podem, por méritos intelectuais e financeiros — normalmente juntos. Os que transitam entre as artes têm sentido dificuldade por conta da imposição do rótulo, solicitado pela mídia. A especialização, tudo o que não tem a ver com as transações de Torquato, essa necessidade de foco de energia numa só coisa virou a moeda de troca intelectual da qual o “anjo torto” procurou fugir desesperadamente.

Assim, a mais curiosa constatação de “Torquatália” é que Tropicalismo e Tropicália parecem coisas passageiras diante de tantas outras referências e atitudes. Nem merecem as maiúsculas, nesse caso. Essa ausência, o próprio Torquato deve ter sentido. Abandonou o barco, foi “desafinar o coro dos contentes” sem tribo, quase sozinho. Não dá mais para reduzir esse multiprocessador de informações a um movimento manifesto. Além do valor de relíquia, da recuperação de memória, os dois volumes têm o mérito do estilhaçamento porque mostram como é difícil restringir Torquato, homem de projetos inacabados. Daí a tarefa nobre e necessária da coletânea, porém insuficiente por natureza.

Um ou outro deslize na edição, como a não referência à gravação de “Mamãe, coragem” por Nara Leão em 1968, nem de longe prejudica o trabalho de Paulo Roberto Pires, que assina ensaios introdutórios aos livros. Por suas mãos, Torquato volta para nos alertar sobre a pasmaceira sem censura e mercadológica que tomou conta do cenário cultural brasileiro, quando mais uma vez começa a surgir a vontade de ir embora, quando a gente tinha tudo para ficar. Sem medo de ser contente. “Aqui não tem nada, mas é a tal festa. Ninguém se entende e o conformismo é geral: em ritmo de Brasil grande. Um inferno. Mas eu continuo achando que não devo me apressar em nada. Quando as coisas estiverem melhor arrumadas eu darei um pulo do lado de fora, ou farei logo o filme, não sei”, escreve a Oiticica.

Torquato não foi grande crítico de música, mas agitou a imprensa. Não deixou um livro publicado, mas se fez ouvir muito mais longe (claro). Não montou o filme que havia rodado, mas deixou instruções para que se pudesse fazê-lo. Tudo ao mesmo tempo agora, eis um lema pop e possível. Há quem diga, afinal, que ele bolou um projeto de morte fazendo da própria vida a obra no tempo. Sabe-se lá.