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sexta-feira, julho 14, 2017

Palmério Dória 17: Enfim, uma dentro


A solução para todos os meus problemas estava a duas quadras de casa, nas curvas fabulosas de Eneida, tia da própria Sílvia. Se eu soubesse quem era Virgílio na época, lhe teria feito uma pilha de poemas em louvor. Como não sabia, atacava de poesia concreta no banheiro.

Diga-se de passagem, meu irmão comungava do mesmo fascínio e partia para o mesmo tipo de experiência hidráulica, em horários diferentes, naturalmente. Nada como uma família unida.

Fazia de tudo para subir a O’ de Almeida na mesma hora em que Eneida ia para o trabalho. O lance da Sílvia me deu abertura para uma vez ou outra emparelhar e levar um papo.

Ganhar uma parada dessas não era nem sequer uma hipótese, ainda mais de uniforme escolar. Uma lady daquelas, de alta fidúcia, cortejada nos melhores salões da cidade...

Gentil e educada, me deixava nas alturas. Numa dessas caminhadas, na esquina com a avenida Presidente Vargas, em frente ao edifício Palácio do Rádio, me perguntou direto o que eu ia fazer naquela noite.

Sacando que eu não ia desembuchar, com aquela cara de sonso contemplando a esfinge, deu a hora e o local – uma das raras “casas de cômodos” que havia na cidade, perto dali.

Ela tinha boas razões para ser discreta – pensei –, não queria ser vista com um pixote, pois sempre estava ao lado de homens feitos, de carro e tudo.

Aí veio a real. Era a primeira mulher que eu encarava pra valer. Nunca tinha gozado dentro. Até ali, tudo foi treino. E treino é treino, jogo é jogo. Já pensou não dar conta do recado? Corno e broxa!

Bem, eu estava na porta do motel, simulando naturalidade, quando Eneida chegou de tomara-que-caia, num vestido grudado às carnes como uma segunda pele, transbordando de boa.

Na recepção tirou da bolsa o dinheiro, pagou adiantado e fomos para o quarto. Ligado o ventilador, notando que eu não parava de suar (frio), propôs uma chuveirada. Isso realmente me acalmou.

Na hora da cama, e sozinho, lá dentro, imitei um daqueles saltos do Pelé a cada gol – um número que o craque fazia especialmente para o amigo Francisco Torturra, câmera do Canal 100.

Infelizmente, Eneida era apenas um sonho de uma noite de verão.

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