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segunda-feira, agosto 07, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 36)


ISHTAR – Verdade ou estou de sacanagem? Consultem vossas enciclopédias, telefonem para os vossos Houaisses, enfim, façam alguma coisa em vez de olharem para o livro com caras de idiota. Dá azar não acreditar nela. É uma deusa da Babilônia, bem mais antiga que Ísis, deusa da fertilidade.

Era também conhecida como Milyta e quando os gregos a importaram passou a ser conhecida como Afrodite, a que mais tarde os romanos chamariam de Vênus.

Caso a Babilônia não houvesse caído para dar lugar a outras civilizações, estaríamos todos usando camisas de Ishtar.
Ainda recentemente arqueólogos descobriram anui letos de lápis-lazúli esculpidos na forma do seu símbolo sagrado que era... uma xota ou xoxota, como se dizia antigamente, de generosas dimensões.
Seu culto na Babilônia (estou falando de mais de 3 mil anos atrás) era mantido por sacerdotisas de duas espécies: 1) as kadishtu, que eram castas; e 2) as zermashitu, que vocês já devem ter adivinhado, traçavam o que pintasse e ainda pediam sobremesa.
Observem a sacanagem desse pessoal antigo: havia um deus chamado Marduk, que às vezes tomava a forma humana e pedia para dormir com uma sacerdotisa numa alcova da velha Torre de Babel.
Lá ia a moça atrás do deus.
Não podia contar o que acontecera com ela, mas aparecia no mercado no dia seguinte com o mesmo sorriso de felicidade que a freirinha daria muitos séculos depois, após a visita de um tarado ao convento.
Cinco séculos antes de Cristo, Heródoto escreveu sobre um ritual sexual público em homenagem à deusa Ishtar:

“Toda mulher nascida na Babilônia, uma vez na vida, tem que ir ao templo de Ishtar e lá entregar-se a um homem estranho. Ela não terá privilégios e nem poderá escolhei o seu par. Irá com o primeiro que jogar moedas sobre o seu colo. Depois de trepar com o desconhecido, terá cumprido o dever para com sua deusa e poderá voltar pra casa”.
Tem cada religião phoda, não é mesmo?
O problema era o seguinte: as altas, bonitas, inteligentes, elegantes ou ricas encontravam de cara quem pagasse os tubos para comê-las.
Mas e as baixinhas, feias, burras, desajeitadas, fedorentas, horrorendas?
Muito bagulhinho babilônio esperava, às vezes, três, quatro anos até que aparecesse no templo um chinelo mal enjambrado e ela pudesse dar sua trepadinha em homenagem à deusa.
Mas antes de vocês começarem a falar mal de Ishtar e correr o risco de provocar a sua ira, devo informá-las que ela também protegia as feinhas.
Todos os anos as moças em idade de casar eram reunidas em praça pública. Saíam primeiro as bonitas, que eram compradas a peso de ouro.
As monstrinhas ficavam para o fim e quem quisesse casar com elas não pagava nada e ainda levava parte do dinheiro que os apressados haviam pago à municipalidade pelas gatonas.
A mais feia, naturalmente, ganhava o maior dote e, assim, com as graças de Ishtar, todas acabavam casando.

JEBÃO, Nataniel – Esconde a idade, mas deve ter mais de cinquenta anos. Veio do interior do Nordeste (Piauí, provavelmente), embora diga que nasceu em Londres. Nunca trabalhou na vida e é presidente do Sindicato dos Colunistas Sociais sem Coluna. Embora seja um duro, só traja smoking e é de extrema-direita. Vive à custa dos vagabundos do society carioca, mas não desdenha o paulista. Seu ídolo é Ibrahim Sued, embora seja bem mais alfabetizado que o famoso cronista de O Globo.
Esi algumas notas que pincei de uma coluna de Nataniel Jebão no tempo em que escrevia para a revista Status:
Casamento do Ano – “Foi, sem dúvida, o casamento do ano o de Chiquinha Paranhos Tigre com Guilherme Pedro Dantas Fuscoli. A cerimónia religiosa chiquíssima foi mostrada por um sacerdote que sabe que o dever primeiro da Igreja é tratar das coisas do espírito. (Mire-se neste exemplo, dom Arns.) O detalhe destoante ocorreu em frente à mansão dos pais da noiva, na rua Loes Quintas, no Jardim Botânico. Favelados se jogaram como moscas no mel sobre o vômito de alguns convidados que beberam champã um pouco demais. É de bom-tom esperar a retirada do último convidado para depois saborear o vômito da classe dominante com a elegância que o momento exige.”
Id & Ego... – “Não fora o simples fato da psicanálise, assim como o cartão de crédito e o cheque especial, dar status ao psicanalisado, ela é também uma necessidade junto à nossa sociedade. Nossas locomotivas são pessoas sobre cujos ombros pesam enormes responsabilidades e do seu equilíbrio psicológico depende, às vezes, o bem-estar de milhares de pessoas. Imaginem um alto executivo de uma multinacional chegar em casa e encontrar seu filho adolescente com um salame italiano enterrado no rabo! Sem a ajuda de um bom psicanalista como o meu amigo Eduardo Mascarenhas, o choque pode ser fatal!”
Campanha Nobre – “As empregadas domésticas, as copeiras, os mordomos, os chauffeurs que quiserem colaborar com a nossa campanha 'Ajudem os seus patrões a melhorarem a imagem do Brasil no jet-set internacional' devem mandar seus donativos para esta seção em nome de Nataniel Jebão. A campanha tem o propósito de fazer com que os patrões e patroas, quando viajarem em férias para a Europa ou os States, possam competir com os colunáveis locais, vestindo-se melhor e gastando mais. Mandem 10% (quem quiser pode mandar 20 % ou 30%) dos seus salários e o dinheirinho será entregue aos vossos empregadores discretamente. Imagine como você, copeira, ou você, cozinheira, ficará feliz ao saber que contribuiu para que seus patrões abafassem nos inferninhos de Paris, Londres e New York!”

JEFFERSON, Thomas (1743-1826) – Para o marquês de Lafayette ele era o homem mais honesto, capaz e sábio da América. É possível, mas era também um bom sacana. Eis o que o maior intelectual americano, a menina dos olhos de George Washington, o redator da Declaração de Independência e o terceiro presidente dos Estados Unidos escreveu em 1785, sob o título de Notas Sobre a Virgínia:
“O fino matiz entre o vermelho e o branco na raça branca é preferível à eterna monotonia da raça negra, cujo irremovível véu escuro esconde todas as emoções. A nosso favor temos ainda o cabelo liso ou ondulado e a simetria muito mais elegante da forma.

O próprio preto reconhece a nossa superioridade estética do mesmo modo que o orangotango da África prefere a mulher preta à orangotanga. Se levarmos em consideração o fator beleza superior na criação de nossos cachorros e cavalos, por que não considerá-la no homem?
Os negros, como todos sabem, eliminam mais líquido através da pele que através dos rins, o que faz com que espalhem um cheiro forte e desagradável. Precisam de mais sono do que nós e se atiram com maior ardor sobre suas fêmeas que nós sobre nossas mulheres. Mas para eles o amor é mais um ávido desejo que uma delicada e tema mescla de sensações e sentimentos, como acontece conosco.
As aflições, mágoas, tristezas e fracassos do preto são passageiras e sua existência é mais sensorial do que racional. Daí sua predisposição para dormir quando não está trabalhando. Um animal, cujo corpo descansa e que não reflete, está mais propenso ao sono que qualquer outro.

Em termos de memória, brancos e pretos se equiparam. Em termos de razão os negros são inferiores, uma vez que dificilmente encontraríamos um que compreenda as investigações de Euclides.
Qualquer índio, encorajado, nos sublimará com sua oratória. Até hoje, não encontrei um negro que fosse além da narrativa linear. É preciso reconhecer, porém, que ele possui maior ouvido para a música, o tempo, o ritmo, a melodia.
A raça negra é acusada de ter uma predisposição para o roubo, mas isso se deve mais às circunstâncias em que vive que a alguma depravação de ordem moral. O homem a cujo favor não existem leis de propriedade sente-se menos inclinado a obedecer as leis que favorecem outros homens.
Apesar disso, existem negros da mais rígida integridade, gratidão e fidelidade. Minha opinião de que eles são inferiores quanto à imaginação e à razão não deve ser aceita integralmente. Precisamos andar com muito cuidado neste terreno para não degradar toda uma raça da escala de seres humanos, escala esta que, provavelmente, foi-lhes dada pelo Criador”.
Jefferson gostava de negros. Tanto que herdou 135 escravos do seu sogro. Vinte e dois deles lutaram a favor dos ingleses durante a Guerra da Independêcia na esperança de se tornarem livres.
De uma escrava, aliás, ele gostava especialmente: Sally Hemmings, que vinha a ser meia-irmã de sua verdadeira mulher, Martha Wayles Skelton.
Sentiram o drama da hipocrisia americana, da colônia até os dias de hoje?
O sogro de Jefferson comeu uma escrava que deu à luz uma menina que não foi perfilhada.
Esta garota, por sua vez, foi comida pelo próprio Jefferson, que tinha dois filhos com a mulher e cinco com ela. Sally, aliás, ficou grávida dele quando tinha apenas quinze anos.
Dizem que a semelhança de Jefferson com um dos seus filhos mulatos era tanta que, a certa distância, ninguém distinguia um do outro.
Ele nunca perfilhou nenhum dos cinco filhos bastardos e se fizesse isso – é claro – jamais seria presidente dos Estados Unidos. Mas poderia tê-lo feito depois de deixar a presidência, não é mesmo?
Um país tão hipócrita onde o grande intelectual, o liberal, o humanista, o presidente Jefferson mantinha os próprios filhos como escravos, não poderia mesmo dar certo. Tinha que acabar em Reagan.
Agora, vocês acham que o crioulo americano não tem razão em querer fazer castanholas dos culhões do branco?

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