Pesquisar este blog

quinta-feira, junho 21, 2018

O que elas querem é phoder! Empoderamento é outra coisa...



Por Paulo Jersey Valadão

Não existe substituto para a mulher. Já se experimentou de tudo, de melancia ao homem, mas nada a substitui completamente. 

Você pode achar que encontrou uma alternativa satisfatória para a mulher – a numismática, ou a autoflagelação com espaguete cru – mas está apenas se enganando. Sempre estará faltando alguma coisa. 

Definição: mulher é aquilo que fica faltando quando a gente acha que não precisa dela.

Há quem diga que, para uma relação sexual, mão é melhor que mulher. 

Que a mão do homem combina as vantagens de uma esposa e de uma amante – está sempre ali, mesmo no meio da noite, como uma esposa, e pode pegar no seu pau embaixo da mesa do bar no meio de uma conversa sobre o Malkovich e quase obrigá-lo a levá-la para casa, ou pelo menos para o banheiro, como uma amante – sem qualquer das desvantagens, como ciúmes ou TPM. 

Mas que variação pode haver no sexo com a sua própria mão? (Por favor não mandem e-mails.)

E as bobagens antes e depois do sexo, sem falar naquele cheiro meio doce e úmido que elas têm no pescoço e a sua mão não tem?



Fala-se também nas bonecas infláveis, que estariam chegando a um tal grau de realismo que já daria para escolher o cheiro do pescoço.

Dizem que, para atender aquele segmento do mercado que quer bonecas infláveis com as quais você possa ter não apenas sexo, mas conversas inteligentes, os japoneses desenvolveram uma boneca que responde. Você fala qualquer coisa, puxa uma cordinha e elas dizem “Sim”.

Mas você não pode levar bonecas infláveis a bons restaurantes e esperar que elas saibam se comportar. Ou usá-las em qualquer proposta séria de troca de casais, a não ser que as outras também sejam infláveis.

Nada substitui mulher. Nenhuma categoria humana é tão inteligente. E tão graciosa, não importam o que digam dos travestis tailandeses. 

A reprodução da espécie seria impossível sem as mulheres – e não se pode dizer o mesmo dos homens, pois já estão fazendo fecundação sem cromossomos.

E pense nisso: existem mulheres infláveis porque elas não se resumem nos seus orifícios, pois para isso até os hortifrutigranjeiros servem. 

Mesmo artificial, precisamos da mulher inteira, do conjunto, de um simulacro da sua companhia.

E alguém tem notícia de homem inflável? Só existem falos artificiais, o resto é supérfluo. 

O boneco do homem, para as mulheres, é o seu pênis, sem aquela massa confusa, iludida e dispensável na outra ponta. 

Já a mulher, para o homem, é a sua genitália e, ah, as suas circunstâncias.

Portanto, todo phoder às mulheres, porque o que elas querem não é mole.

Bestialismo: modo de usar!



Por Cesário Camelo

Vocês já ouviram falar de bestialismo? Se não ouviram, tenho certeza de que o significado da palavra não é nada desconhecido: a prática sexual com animais.

Ovelhas, cachorros, cadelas, cavalos, cabras, vacas, pôneis malditos…

É uma lista imensa de mamíferos explorados pelo homem.

Um tabu, desde a civilização mesopotâmica, o bestialismo é considerado um crime hediondo em muitos países e já matou pessoas.

Não se lembram do homem que morreu depois de transar com um cavalo ?

Aconteceu em 2005.

Ele foi a um sítio especializado em zoofilia e se deu mal: o cavalo destruiu suas vísceras.

Originalmente, o ato de comer animais metaforicamente era proibido pelo temor de que, da união pouco convencional, nascesse um produto híbrido do que se convencionou chamar de um coito impuro.

Quem duvidar, vá pegando sua vaquinha e veja se depois de alguns meses não aparece um minotauro...

De acordo com as leis inglesas, o bestialismo é uma subdivisão do coito anal, pois fala em “relações anormais com homens e animais”.

Outros países, porém, fazem uma distinção mais precisa entre a chamada internação marmotal e o bestialismo. Baseiam-se em antigas leis judaicas (Levítico 20: 15-16) que dividem o bestialismo do incesto e do homossexualismo.

O bestialismo sempre foi ilegal, mas nunca deixou de ser popular.

Na maioria dos casos, homens e mulheres comem (ou são comidas) por animais domésticos, estilo gato angorá, cavalo, boi, cabrito, galinha, etc.

Na Roma antiga (e ainda hoje em Hamburgo) mulheres costumavam introduzir na vagina cobras vivas, cabeça primeiro.

Outras punham rabos de peixes vivos e havia ainda as que passavam mel na vulva para atrair moscas que, enquanto comiam o mel, as levavam ao orgasmo.

Na China, o bicho preferido pelos taradões sempre foi o ganso. Comiam o rabo do ganso e na hora da ejaculação cortavam a cabeça dele que, ato contínuo, contraía o esfíncter, o que prolongava o gozo.

Os árabes, ainda hoje, não consideram perfeita uma viagem a Meca se, no caminho, não executarem o camelo.

Em algumas vilas na Índia é de bom-tom comer Deus, no caso, um babuíno, ou melhor, os homens comem a deusa babuína Shita e as mulheres dão para o deus babuíno Hanuman.

Na Roma de Tibério valia tudo: o próprio Estado organizava orgias com mulheres, touros, cavalos, ursos, girafas, porcos, hipopótamos e até rinocerontes.

Os esquimós contam um caso de bestialidade (e levando em conta o comportamento dos políticos brasileiros, não há por que duvidar): milhares de anos atrás, uma mulher se recusava a ter relações sexuais com os homens. Foi então expulsa para uma ilha onde trepou com cachorros. Desta união nasceram os homens brancos que, antes, não existiam.

Bestialista, ainda, de mão cheia foi Zeus ou Júpiter, que comeu Leda na forma de um cisne, comeu Perséfone na forma de uma serpente, transformou Europa numa vaca para depois comê-la onde hoje é o Bósforo (passagem do boi) e assim por diante. Só não ganhou de Adão.

É isso mesmo: o bestialismo é o desvio sexual mais antigo da humanidade. Adão comeu todos os animais do Paraíso até que deus se mancou e resolveu criar a mulher.

Confesso que nas minhas andanças pelo mundo nunca vi nada em matéria de lagostas.

Sempre que eu solicitava às madames dos quatro continentes qualquer coisa do gênero, olhavam-me como se eu fosse um tarado e voltavam para suas cabritas, cachorros e vaquinhas.

Os Baby Boomers



Por Ruy Castro

De repente, o mundo descobriu que a geração Baby Boom está em idade de se aposentar. Os baby boomers, você sabe, foram as crianças nascidas logo a seguir à Segunda Guerra, quando milhões de soldados voltariam para seus países e começaram a casar e a procriar feito loucos. Os que tinham ficado em casa, de ouvido na BBC, inclusive no Brasil, fizeram o mesmo, talvez por uma sensação de alívio diante do apocalipse que não aconteceu, mas poderia ter acontecido – e, então, mais do que nunca, pela súbita existência da bomba atômica.

Curioso é que, em vez de partir para a esbórnia em face do possível fim do mundo, os jovens do pós-Guerra adotaram a singela atitude de casar e “constituir família”. Pode ser que, depois de anos em trincheiras, reais ou metafóricas, o lar lhes parecesse um casulo protetor. Daí tantos casamentos e, dali a meses, tantos milhões de novos cidadãozinhos no mundo. Um deles, eu – porque, nascido em 1948, sou um legítimo baby boomer.

Bem, passaram-se décadas, e, ativos desde os anos 60, acho que nós, daquela turma, já podemos ser avaliados pelo que aprontamos ou continuamos aprontando. E tenho o prazer de dizer que, em vários departamentos o sexo sem culpa, a consciência ecológica, os direitos das mulheres, das minorias e dos animais; acabamos com a Guerra Fria; desmoralizamos as ideologias; revolucionamos a tecnologia; avançamos espetacularmente a medicina, as comunicações e os transportes, etc. Belo legado.

Em compensação, também fomos péssimos em outras coisas. Tornamos as cidades impraticáveis, disseminamos as drogas, triplicamos a pobreza, infantilizamos o cinema e a música popular, compramos e vendemos armas, políticos e tudo o que pudesse ser negociado, intoxicamos o planeta com publicidade, carros e agrotóxicos – enfim, vamos deixar também uma bela lambança. E ainda não terminamos o serviço.

Bem diferente de nosso pais, que, depois de sobreviver a uma crise econômica e a uma guerra, ambas mundiais, e à bomba atômica, só queriam um pouco de sossego em que pudessem ler Seleções, ouvir discos de Carlos Galhardo, tomar Ovomaltine, ir de pijama pra uma cama quente e, um dia, aposentar-se e morrer de tédio.

quinta-feira, junho 07, 2018

Canção de homens e mulheres lamentáveis


Por Antônio Maria
Esta noite... esta chuva... estas reticências. Sei lá.
Quem seria capaz de abrir o peito e mostrar a ferida? De dizer o nome? De lembrar, sequer lembrar, o rosto?
Quem seria capaz de contar a história? De chamar o maior amigo, ou melhor, o inimigo, e dizer:
— Estou me sentindo assim, assim, assim...
A humanidade está necessitando, urgentemente, de afeto e milagre. Mas não sabe onde estão as mãos, nem os deuses. E, quando souber, vai achar que as mãos e os deuses são de mentira. Os olhos de todos estarão cheios de medo, os olhos das jovens raparigas, os olhos, os braços, o ventre e as pernas das jovens raparigas, receosos de pagar com os quefazeres do sexo.
Nesta noite, com esta chuva, as jovens raparigas não são importantes. Apenas uma tem importância. Mas quem seria de todo livre e descuidado, a ponto de dizer o seu nome? De pensar o seu nome? Você diria em público o nome da Amada? E suportaria ouvi-lo? Não, não; o nome dela, em sua boca ou na dos outros, é tão proibido como sua nudez (dela). Não há diferença.
E por que você não se transforma no homem banal, que se encharca de álcool, para apregoar a desdita? Seria mais fácil. Talvez alguém lhe chamasse de porco e você revidasse com um soco no rosto, um só rosto, de todo o Gênero Humano. Viria a polícia, que simplifica tudo, generalizando. E tudo se transformaria em notícia: “Preso o alcoólatra, quando injuriava e agredia a Família Brasileira, na pessoa de um sócio do Country”.
Há poucos minutos, em meu quarto, na mais completa escuridão, a carência era tanta que tive de escolher entre morrer e escrever estas coisas. Qualquer das escolhas seria desprezível. Preferi esta (escrever), uma opção igualmente piegas, igualmente pífia e sentimental, menos espalhafatosa, porém. A morte, mesmo em combate, é burlesca.
Uma pergunta, que não tem nada a ver com o corpo desta canção. Quem saberia discriminar o ódio do amor? Ninguém. Os psicologistas e analistas têm perdido um tempo enorme.
Ontem à noite, voltando para casa, senti-me espectador de mim mesmo. E confesso que, pela primeira vez, não achei a menor graça. Saíra, pela primeira vez, de óculos e o porteiro do edifício me recebeu com esta agradável pergunta:
— Que é que houve? O senhor está mais velho?
Tirei os óculos e, fitando-o, esperei as desculpas. Mas o homem continuou:
— O que é que houve? De ontem para cá, o senhor envelheceu.
Tinha pensado que, sem os óculos...
Não estou escrevendo para ninguém gostar ou, ao menos, entender. Estou escrevendo, simplesmente, e isto me supre: contrabalança, quando nada. Esta noite, esta chuva — e poderia escrever as coisas mais alegres, esta noite. Neruda, coitado, as mais tristes.
Só há uma vantagem na solidão: poder ir ao banheiro com a porta aberta. Mas isto é muito pouco, para quem não tem sequer a coragem de abrir a camisa e mostrar a ferida.

(9/10/1964)

O Conde e o passarinho



Por Rubem Braga

Acontece que o Conde Matarazzo estava passeando pelo parque. O Conde Matarazzo é um Conde muito velho, que tem muitas fábricas. Tem também muitas honras. Uma delas consiste em uma preciosa medalhinha de ouro que o Conde exibia à lapela, amarrada a uma fitinha. Era uma condecoração (sem trocadilho).

Ora, aconteceu também um passarinho. No parque havia um passarinho. E esses dois personagens – o Conde e o passarinho – foram os únicos da singular história narrada pelo Diário de São Paulo.

Devo confessar preliminarmente que entre um Conde e um passarinho, prefiro um passarinho. Torço pelo passarinho. Não é por nada. Nem sei mesmo explicar essa preferência. Afinal de contas, um passarinho canta e voa. O Conde não sabe gorjear nem voar. O Conde gorjeia com apitos de usinas, barulheiras enormes, de fábricas espalhadas pelo Brasil, vozes dos operários, dos teares, das máquinas de aço e de carne que trabalham para o Conde. O Conde gorjeia com o dinheiro que entra e sai de seus cofres, o Conde é um industrial, e o Conde é Conde porque é industrial. O passarinho não é industrial, não é Conde, não tem fábricas. Tem um ninho, sabe cantar, sabe voar, é apenas um passarinho e isso é gentil, ser um passarinho.

Eu quisera ser um passarinho. Não, um passarinho, não. Uma ave maior, mais triste. Eu quisera ser um urubu.

Entretanto, eu não quisera ser Conde. A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser Conde. Não amo os Condes. Também não amo os industriais. Que eu amo? Pierina e pouco mais. Pierina e a vida, duas coisas que se confundem hoje, e amanhã mais se confundirão na morte. Entendo por vida o fato de um homem viver fumando nos três primeiros bancos e falando ao motorneiro. Ainda ontem ou anteontem assim escrevi. O essencial é falar ao motorneiro. O povo deve falar ao motorneiro. Se o motorneiro se fizer de surdo, o povo deve puxar a aba do paletó do motorneiro. Em geral, nessas circunstâncias, o motorneiro dá um coice. Então o povo deve agarrar o motorneiro, apoderar-se da manivela, colocar o bonde a nove pontos, cortar o motorneiro em pedacinhos e comê-lo com farofa.

Quando eu era calouro de Direito, aconteceu que uma turma de calouros assaltou um bonde. Foi um assalto imortal. Marcamos no relógio quanto nos deu na cabeça, e declaramos que a passagem era grátis. O motorneiro e o condutor perderam, rápida e violentamente, o exercício de suas funções. Perderam também os bonés. Os bonés eram os símbolos do poder. Desde aquele momento perdi o respeito por todos os motorneiros e condutores. Aquilo foi apenas uma boa molecagem. Paciência. A vida também é uma imensa molecagem. Molecagem podre. Quando poderás ser um urubu, meu velho Rubem?

Mas voltemos ao Conde e ao passarinho. Ora, o Conde estava passeando e veio o passarinho. O Conde desejou ser que nem o seu patrício, o outro Francisco, o Francisco da Umbria, para conversar com o passarinho. Mas não era aquele, o São Francisco de Assis, era apenas o Conde Francisco Matarazzo. Porém, ficou encantado ao reparar que o passarinho voava para ele. O Conde ergueu as mãos, feito uma criança, feito um santo. Mas não eram mãos de criança nem de santo, eram mãos de Conde industrial. O passarinho desviou e se dirigiu firme para o peito do Conde. Ia bicar seu coração? Não, ele não era um bicho grande de bico forte, não era, por exemplo, um urubu, era apenas um passarinho. Bicou a fitinha, puxou, saiu voando com a fitinha e com a medalha.

O Conde ficou muito aborrecido, achou muita graça. Ora essa! Que passarinho mais esquisito! Isso foi o que o Diário de São Paulo contou. O passarinho, a esta hora assim, está voando, com a medalhinha no bico. Em que peito a colocareis, irmão passarinho? Voai, voai, voai por entre as chaminés do Conde, varando as fábricas do Conde, sobre as máquinas de carne que trabalham.

A vida é perto



Por Ruy Castro

O conceito é de Millôr Fernandes, e se explica por si mesmo: a vida é perto. Foi dito por ele para a cantora Olivia Byington, a respeito de alguém que, sendo carioca e morando no Rio, fazia questão de ter casas e apartamentos em várias cidades do planeta. “A vida é perto, Olivia”, disse Millôr. Sem elucubrações outras. Ela entendeu, contou para todo mundo e todo mundo entendeu.

Foi também de Millôr que roubei o conceito de que ideal é morar, no máximo, até o 4º andar – para conservar a perspectiva humana. Por isso, há anos, ao comprar um apartamento no Rio, fiz questão de que, ao chegar à janela, eu estivesse ao alcance da voz de quem passava lá embaixo, na calçada. De que pudesse ler a tabuleta na carrocinha com o preço do Chica Bom e, idealmente, distinguir a cor dos olhos das moças a caminho da praia – único item que não foi atendido, porque elas passam de óculos escuros. Enfim, a vida é perto.

Preocupada com as possibilidades de contágio da gripe suína em São Paulo, uma autoridade sanitária paulistana disse que a situação é grave porque, lá, as pessoas passam o dia em interiores: no ônibus, no metrô, no escritório, na fábrica, no restaurante, na boate, em casa ou na casa dos outros. Impossível o espirro individual. Daí inferi que, em algumas cidades, a vida é dentro. E que, em outras – o Rio, por exemplo –, a vida é fora.

Pode-se estender o conceito a muitas categorias, com direito a escolha, como a de que a vida é hoje, ontem ou amanhã; de que a vida é agora ou nunca; ou de que é um amistoso ou a valer três pontos. Tudo vale. Mas, sob qualquer das possibilidades acima, a vida seria muito melhor se tivéssemos mais tempo para pensar nela.

Mas não dá, porque a vida, quando acordamos para ela, é depressa demais.

quarta-feira, junho 06, 2018

Jornalistas! Presente!


Audálio Dantas, um jornalista com alma de poeta

Por Joaquim Ferreira dos Santos

O jornalismo é feito o samba do Nelson Sargento sobre um grande amor em perigo — agoniza mas não morre. É por isso, depois de um maio com muitas perdas, que se deve dizer apenas um breve “descansa em paz” para Audálio Dantas, o grande repórter da geração de ouro da revista “Realidade”. No dia 30, ele fez a passagem desta para uma outra edição.

Que seja suave seu encontro com os coleguinhas que também já preencheram as laudas do tempo, desceram às oficinas mais profundas desta existência impressa em off-set e não podem mais, por esse motivo de força maior, participar dos plantões de fim de semana. O prazo da matéria encerrou. Só há espaço suficiente na página para agradecer às fontes exclusivas por tantos furos em off, dar uma olhada de soslaio na estagiária de calcanhar sujo e fechar este caderno. Aproveitando a distração do ombudsman, pode substituir o ponto final seco do jornalismo moderno pela vibração vintage e agradecida de muitos pontos de exclamação!!!!

Ganhava-se pouco, mas era divertido e chegou a hora de disparar ao mesmo tempo o teclado de todas as Remingtons da Redação, jogar para o alto todas as bolinhas de papel de lauda que estiverem à mão, e saudar Alberto Dines, o editor do “Jornal do Brasil” nos anos 1960, também ido em maio para algum outro desafio. Risque-se com tinta alegre o seu nome do “seboso”, o fichário com os telefones de jornalistas e fontes, uma peça de higiene tão precária que um dia, décadas depois de uso coletivo na Redação, amanheceu com a inscrição na capa: “Interditado pela Saúde Pública”.

Todas as pautas foram cumpridas por Dines, entregues ao chefe de reportagem com duas cópias em carbono e no dia seguinte registradas com a glória da chamada no alto da primeira. Que vá em sossego. Quando encontrar o Zózimo Barrozo do Amaral, sua cria, devolva-lhe com carinho a pergunta que ele transformou em bordão de jornalistas. Ao chegar na roda do cafezinho, o elegante colunista social perguntava: “E aí, come-se alguém por seu intermédio?”.

Não há mais textos para copidescar, velho Dines, nenhuma necessidade de pegar a caneta esferográfica e cortar expressões rebarbativas como “via de regra”, “decúbito dorsal” ou “valente soldado do fogo”. O grande trabalho acabou. No sutiã do seu obituário, a linha solta que o “JB” inventou para segurar a manchete, o redator-chefe das estrelas universais escreverá “o jornalismo nunca mais foi o mesmo”. Que essa despedida para longe do seu observatório de imprensa se faça ao velho estilo das noites de sexta-feira. Diante do “pescoção”, a tarefa hercúlea de fechar os jornais de sábado, de domingo e de segunda-feira, os jornalistas, ainda sob a eufórica liberdade do politicamente incorreto, abriam garrafas de uísque por todos cantos da Redação. Só assim, calibrados, partiam na medida e nada mais para realizar a maratona de títulos no formato 3 linhas de 13 toques.

Alberto Dines, o olhar da resistência no jornalismo

Outra garrafa de uísque deve ser aberta em honra a Giuseppe Amato, que também em maio cobriu pela última vez sua Olivetti Lettera com a capa de plástico e deixou de machucar as pretinhas, o jeito não pedante de um jornalista evitar o verbo “escrever” e ao mesmo tempo uma referência brincalhona, ainda sem risco de ser policialmente interpretada, às teclas escuras da máquina. Quando chegava no andar da Redação, o ascensorista do prédio do jornal anunciava “Parque de diversões!” e Giuseppe Amato, às vezes vestido com a camisa do Fluminense, às vezes chamando alguém de “velho atrasador de jornais”, era mais um dos motivos dessa alaúza. Havia também quem pautasse o repórter estagiário para ir ao Zoológico e entrevistar seu novo diretor, o Dr. Leão.

Se Giuseppe Amato era um italiano que sonhava ser um malandro carioca, o português Borges Neto, seminarista na adolescência, cruzava a Redação com a paciência de um diácono. Estava convencido de que praticava os mandamentos de Deus revisando com rigor carinhoso o mau uso da língua, caçando cacófatos, pleonasmos, redundâncias e a abundante clicheria embutida no “tresloucado gesto”, no “pranteado pai” e no “batalhão de fotógrafos”. Sua Bíblia era o dicionário. Um dia colocou a mão sobre ele e pediu ao repórter, em nome de uma santíssima trindade do jornalismo formada por Joel Silveira, Paulo Francis e Pompeu de Souza, que evitasse a desgastada expressão “rosto novo” — a não ser que o assunto fosse cirurgia plástica.

Eram grandes jornalistas os que se foram em maio. Se questionados pelo chefe de Redação com o clássico “Temos isso?”, todos responderiam com a eficiência do “Temos mais”. Destacaram-se em Redações onde hoje a dura realidade do mercado de notícias exige foco radical no profissionalismo e não permite tamanho repertório de folclores divertidos. A esses craques da pirâmide invertida, da entrevista ping-pong e do salário-ambiente juntou-se, também em maio, a doce figura de Ramiro Alves, liberado de cumprir a escala de plantões terráqueos desde o dia 24. Descansaram e aqui vão esses 4.142 caracteres em homenagem. O resto é calhau, barriga, fake news. O samba, o grande amor e as Redações até agonizam. Não morrem. Transformam-se.

A escalada da humanidade em direção ao vazio



Em novembro, chegou às livrarias brasileiras Homo deus: uma breve história do amanhã, de Yuval Noah Harari, autor de Sapiens. Após mostrar, no livro anterior, toda a evolução da espécie humana até chegar nos dias atuais, seu novo trabalho vai além: Homo deus especula qual será o futuro da humanidade na Terra.

Em agosto, quando o livro foi lançado na Inglaterra, David Runciman escreveu para o The Guardian sobre os principais temas que Yuval Noah Harari aborda no livro, texto que reproduzimos a seguir (tradução de Carlos Alberto Bárbaro).

* * *

No âmago desse livro fascinante reside uma simples, mas arrepiante, ideia: a natureza humana será transformada no século XXI porque a inteligência está se desacoplando da consciência. Não, não vamos construir tão cedo máquinas que, como nós, possuam sentimentos, o que se chama consciência. Os robôs não se apaixonarão uns pelos outros (o que não significa que sejamos incapazes de nos apaixonar por robôs). O fato é que já construímos máquinas — enormes redes de processamento de dados — que conseguem identificar nossos sentimentos melhor do que nós mesmos: isso é inteligência. O Google — o mecanismo de busca, não a empresa — não possui crenças ou desejos próprios. Ele não se importa com o que buscamos e nem vai ficar ofendido com o nosso comportamento. Mas ele consegue processar esse comportamento para saber o que queremos antes que nós mesmos o saibamos. Isso tem o potencial de alterar o significado de ser humano.

Em seu livro anterior, o best-seller mundial Sapiens: uma breve história da humanidade, Yuval Noah Harari abordou os últimos 75 mil anos da história humana para nos lembrar de que não há nada de especial ou essencial quanto àquilo que somos. Somos um acidente. O Homo sapiens é apenas um dos modos possíveis de se ser humano, um acaso da evolução, como o de qualquer outra criatura no planeta. Aquele livro se encerra com a reflexão de que a história do Homo sapiens pode estar chegando ao fim. Ao mesmo tempo em que estamos no auge do nosso poder, é possível, porém, que tenhamos chegado a seu limite. Homo deus: uma breve história do amanhã parte dessa reflexão para explicar como nossa incomparável capacidade de controlar o mundo que nos cerca está nos transformando em algo novo.

As provas de nosso poder estão por toda parte: não apenas conquistamos a natureza, mas começamos também a derrotar os piores inimigos da humanidade. A guerra é cada vez mais obsoleta; a fome é rara; as doenças estão na defensiva no mundo todo. Obtivemos esses triunfos ao construir redes cada vez mais complexas que consideram os seres humanos como unidades de informação. A ciência evolucionária nos ensina que, em certo sentido, não somos senão máquinas de processamento de dados: também nós somos algoritmos. Ao manipular esses dados, podemos determinar nosso destino. O problema é que outros algoritmos — aqueles que construímos — podem fazer isso de maneira muito mais eficiente que nós. É isso o que Harari quer dizer ao falar no desacoplamento da inteligência e da consciência. O projeto da modernidade foi erigido sobre a ideia de que os indivíduos são a fonte tanto do significado quanto do poder. Somos concebidos para fazer escolhas: como eleitores, como consumidores, como amantes. Isso, porém, não é mais verdade. Somos agora o que dá às redes o seu poder: elas usam nossas noções de significado para determinar o que vai acontecer conosco.


Nada disso constitui novidade. O Estado moderno, que já conta cerca de quatrocentos anos, não passa na verdade de uma outra máquina de processamento de dados. O filósofo Thomas Hobbes, escrevendo em 1651, chamou-o “autômato” (ou o que poderíamos chamar de robô). Sua qualidade robótica é a fonte de seu poder, e também a sua ausência de sentimentos: Estados não possuem consciência, que é o que lhes permite, por vezes, fazer as coisas mais terríveis. O que mudou agora é que há máquinas processadoras que são bem mais eficientes do que os Estados: como Harari afirma, os governos descobriram ser quase impossível acompanhar o ritmo do avanço tecnológico. Tornou-se também muito mais difícil sustentar a crença — compartilhada por Hobbes — de que por trás de cada Estado existem seres humanos reais, de carne e osso. A insistência moderna acerca da autonomia do indivíduo está vinculada à visão de que seria possível encontrar o coração deste mundo sem coração. Se se continuar arranhando uma burocracia sem rosto será possível, eventualmente, descobrir um funcionário público com sentimentos reais. Faça isso com uma ferramenta de busca, porém, e tudo o que se descobrirá são locais de dados.

Não estamos senão no início desse processo de transformação orientada por dados, e Harari diz que não há muito o que possamos fazer para frear o processo. Homo deus é um livro do gênero “fim da história”, mas não no sentido bruto de acreditar que as coisas chegaram à sua conclusão. Antes o oposto: as coisas estão se movendo tão rápido que é impossível imaginar o que o futuro possa trazer. Em 1800, era possível conjecturar sobre como seria o mundo de 1900 e qual seria nosso lugar nele. É isto o que é a história, uma sequência de eventos em que os seres humanos são os protagonistas. Mas o mundo de 2100 é agora, no presente, quase inimaginável. Não temos a mínima ideia de onde vamos nos encaixar, se é que vamos. Podemos ter construído um mundo que não tem lugar para nós.

Considerando o quão alarmante é pensar assim, e uma vez que ainda não chegamos lá, por que não fazer algo para impedir que isso ocorra? Harari supõe que a crença moderna de que os indivíduos comandam seu destino nunca foi muito mais do que uma crença. O poder real esteve com as redes. Indivíduos são criaturas relativamente impotentes, não sendo páreo para leões ou ursos. É o que os indivíduos podem fazer como grupos que lhes permitiu assumir o controle do planeta. Tais agrupamentos — corporações, religiões, Estados — compõem agora uma vasta rede de fluxos de informação interconectados. Encontrar pontos de resistência, onde unidades menores podem resistir às ondas de informações afogando o mundo, torna-se mais difícil a cada minuto.

Alguns têm desistido da luta. No lugar dos princípios fundadores da modernidade — o liberalismo, a democracia e a autonomia pessoal — há uma nova religião: o dataísmo. Seus seguidores — muitos deles moradores do Vale do Silício, na Califórnia — colocam a sua fé na informação, encorajando-nos a enxergá-la como a única fonte verdadeira de valor. Somos aquilo que fornecemos para o processamento de dados. Potencialmente, há aí uma enorme vantagem, a saber: iremos enfrentar cada vez menos obstáculos para conseguir o que queremos, porque a informação que necessitaremos será imediatamente acessível. Nossos gostos e nossas experiências irão se fundir. Nossas expectativas de vida também poderão aumentar consideravelmente: dataístas acreditam que a imortalidade é a próxima fronteira a ser cruzada. Mas a desvantagem é óbvia, também. Quem seremos “nós” depois de tudo? Nada mais do que uma acumulação de pontos de informação. As distopias políticas do século XX buscavam esmagar os indivíduos com o poder do Estado. Isso não será necessário no século em marcha. Como diz Harari: “No século XXI há mais probabilidade de que o indivíduo se desintegre suavemente por dentro do que brutalmente esmagado de fora”.


As corporações e os governos continuarão a prestar homenagem às nossas individualidades e necessidades características, mas, a fim de satisfazê-las, terão de “decompor seus subsistemas bioquímicos”, todos eles permanentemente monitorados por poderosos algoritmos. Há aí também um aspecto político distópico: os primeiros convertidos — os indivíduos que se inscreverem primeiro para o projeto dataísta — serão os únicos que ainda terão algum tipo de poder real e se tornarão relativamente intocáveis. Fazer parte dessa nova super-elite será incrivelmente difícil. Serão exigidos níveis heroicos de educação e nenhuma dose de escrúpulos em fundir sua identidade pessoal com máquinas inteligentes. A partir de então, será possível se tornar um dos novos “deuses”. É uma perspectiva sombria: uma pequena casta sacerdotal de videntes com acesso à melhor fonte de conhecimento, e o resto da humanidade como simples ferramentas de seus vastos esquemas. O futuro poderia ser uma versão digital com carga plena do passado distante: o Antigo Egito multiplicado pelo poder do Facebook.

Harari é cuidadoso o suficiente para não afirmar que essas bizarras previsões irão de fato ocorrer. O futuro, afinal, é desconhecido. Ele reserva suas opiniões mais contundentes para o que tudo isso deve significar para o estado atual das relações entre os seres humanos e os animais. Se a inteligência e a consciência estão se separando, então isso situa a maioria dos seres humanos na mesma posição que os outros animais: seres capazes de sofrer nas mãos dos possuidores de inteligência superior. Harari não demonstra estar muito preocupado com a possibilidade de robôs virem a nos tratar como tratamos as moscas, com violenta indiferença. Antes, ele quer que reflitamos sobre como nós estamos tratando os animais em nossas vastas fazendas industrializadas. Os porcos, sem dúvida, sofrem ao viver em condições precárias ou ao serem violentamente separados das suas crias. Se concluímos que esse sofrimento não conta por não estar aliado a uma inteligência superior, então estamos construindo uma vara para nosso próprio lombo. Logo, o mesmo será verdade em relação a nós. E qual será então o preço do nosso sofrimento?

Homo deus é um livro muito inteligente, repleto de percepções afiadas e sagacidade mordaz. Mas, e Harari provavelmente seria o primeiro a admitir, é inteligente apenas pelos padrões humanos, que não são nada de mais. Pelos padrões das máquinas mais inteligentes é pouco claro e especulativo. Os conjuntos de dados são bastante limitados. Seu poder real vem do sentido de uma consciência individual por trás dele. É um livro peculiar e atraente, com um toque de gelo em seu coração. Harari se preocupa com o destino dos animais em um mundo humano, mas escreve sobre as perspectivas para o Homo sapiens em um mundo orientado por dados com uma despreocupação sublime. Tenho que admitir que achei o livro profundamente instigante, mas isso pode ser por causa de quem eu sou (além de tudo, um homem). Nem todos vão achar o mesmo. Mas é difícil imaginar que alguém poderia ler este livro sem sentir uma espécie de vertigem ocasional. Nietzsche escreveu certa vez que a humanidade estaria prestes a navegar em mar aberto, após ter finalmente deixado para trás a moral cristã. Homo deus nos faz sentir como se estivéssemos de pé à borda de um penhasco ao fim de uma longa e árdua jornada. O que passou não parece mais tão importante agora. Estamos prestes a dar um passo no vazio.



Texto original: The Guardian

terça-feira, junho 05, 2018

Amigos do Áureo X Amigos do Hiran – Resumão da Pelada do Ano


Hiran, Coiteiro e Chicuta no jogo de 2016
Há dois anos, o tira-teima entre os dois melhores times de peladeiros da Cachoeirinha de todos os tempos (Murrinhas do Egito e Charlie Show Clube) terminou em um espetacular 7 a 7. O auditor fiscal Hiran Queiroz resolveu patrocinar uma nova boca-livre reunindo os dois times para mais um confronto definitivo entre os goodfellas cinquentões (poucos) e sessentões (a maioria).
O novo clássico também era uma maneira de homenagear o centroavante Coiteiro, do Charlie Show Clube, um dos cinquentões, que faleceu prematuramente três meses após aquele jogo em 2016. Camisas com a foto do jogador foram distribuídas gratuitamente para os torcedores e estampadas no equipamento do time.
Na última sexta-feira, 1º de junho, os dois times se apresentaram para jogar no campo de futebol society da Associação de Servidores da Secretaria de Fazenda do Amazonas (Assefaz) no horário combinado (19h), mas em vez de se concentrarem para o importante clássico resolveram começar a detonar as 10 grades de cervejas e 50 quilos de picanha encomendadas pelo Hiran Queiroz. Estava na cara que aquilo não ia dar certo. O jogo só começou uma hora depois.
O Áureo Petita montou um time de respeito: Marquinhos (goleiro), Luiz Alberto, Careca Selvagem e Ulisses (zagueiros), Genival (armador), Carlos Sandália, Amaury e Sildomar Abtibol (atacantes). No banco de reservas, Luiz Lobão, Sici Pirangy, Val Wilkens, Altair da Kátia (vulgo Neguinho Bate Bife, porque só entra em campo depois de dar três lapingochadas na Kátia) e Mucureba.
O Hiran Queiroz teve um pouco mais de dificuldades porque seu melhor jogador, Gonzaga do Arsenal, estava com um estiramento na virilha e resolveu jogar de goleiro. Ainda assim ele também montou um time de respeito: Gonzaga (goleiro), Paulo Cumaru, Pavão e Paulinho Caçador (zagueiros), Ernando (armador), Chicuta, Ernâni e Geraldo (atacantes). No banco de reservas, Paulo David, Nenem, Ubiratam, Diguidom, Irineu e Tobias.
Áureo Petita, Hiran Queiroz e Wladimir Brother
O juiz da partida foi o descolado Wladimir Brother, nosso famoso “traficante do amor”, que não comprometeu o espetáculo, mas fez duas lambanças formidáveis por conta das ligações insistentes de sua legião de namoradas (segundo ele) para seu inseparável celular.
Os fofoqueiros do Canto do Fuxico garantem que as ligações são de uma única menina, uma balzaquiana de 65 anos chata pra caralho, que monitora o garanhão via GPS e liga a cada cinco minutos para saber o que ele está fazendo.
O esquadrão do Amigos do Áureo começou embalado. Com cinco minutos, Amaury se livrou do marcador e rolou para Sildomar, que encheu o pé. 1 a zero. Mais dez minutos, Carlos Sandália cruzou na área, Ernando quis cortar e fez um gol contra. 2 a zero.
Com 20 minutos, o zagueiro Careca Selvagem saiu de campo, depois de ter dado uma caneta sensacional no atacante Chicuta e quase quebrado a perna do ponta esquerda Geraldo durante uma dividida. Foi aplaudido delirantemente pela torcida organizada do Canto do Fuxico (Newton Melo, Hilário Levitra, Joel, Charlie, Antônio Carlos Bem-te-vi, Pocotó, Roberto Amazonas, Paulinho Vidraceiro, Jeziel, Chora Viola, Juarez Tavares e Zeca Boy).
Seu substituto, Mucureba, fez um gol contra assim que tocou na bola pela primeira vez e resolveu atrasar pro goleiro. 2 a 1. Dois minutos depois, Ernâni fez um gol de placa e empatou o jogo. 2 a 2. Quase no final do primeiro tempo, Sildomar fez outro golaço. 3 a 2.
Depois de um intervalo de 10 minutos, a partida recomeçou. Sildomar fez outro gol. 4 a 2. Na sequência, depois de carimbar a trave duas vezes, Sildomar foi substituído pelo Neguinho Bate Bife, após receber uma cotovelada do zagueiro Pavão que quase lhe arrancou a clavícula.
Wladimir Brother, Luiz Lobão, Pavão e Sildomar Abtibol
Carlos Sandália, numa jogada individual, fez mais um gol. 5 a 2. Foi substituído por Luiz Lobão, que fez um gol legal, mas o juiz anulou. Explico a presepada.
No futebol society, o lateral é cobrado com os pés. O zagueiro Pavão bateu o lateral para o goleiro Gonzaga, Luiz Lobão espertamente esticou a perna e desviou a bola para o fundo das redes, numa repetição do primeiro gol entre Real Madrid e Liverpool.
O juiz não viu o lance porque estava atendendo mais uma ligação da balzaquiana. Diante da reclamação do Charlie Show Clube, ele votou com a maioria e anulou o gol.

O atacante Val Wilkens entrou no lugar de Carlos Sandália e perdeu dois gols feitos porque só sabe chutar de bico. Mas está correndo feito um fundista queniano. É o melhor preparo físico entre os sessentões. Só conseguia ser parado à base de faltas escandalosas e desleais.

Dez minutos depois, Neguinho Bate Bife driblou dois zagueiros e deu números finais à partida: 6 a 2.
A festa prosseguiu até de madrugada, com o DJ Igor Marques pilotando as carrapetas. Daqui a dois anos vamos fazer uma nova partida para contar quem sobrou. Ô raça!