tag:blogger.com,1999:blog-377529072024-03-17T23:03:47.740-04:00Blog do Simão PessoaEspaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadasSimão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.comBlogger3290125tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-33933601961897936082024-01-11T13:18:00.004-04:002024-01-11T13:21:23.318-04:00De volta ao meu pardieiro<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixXqBVN79FN9rFJ5IfNoKkjyzO-eSCHjbfrmVIQstO3_ST6q3c8jpikBNDspN0hGnP0bQaJ0IMku3mAdVyimn84uMjS6J2GgSsDUg0dLrrqBloTizI-yDPnOvdKJZan4LKsOYc2nroen3pAuvUc-PD5-caL501Lbo13bYsE69DNivtz7e45Zml1Q/s1280/7f5515e6-832a-4437-909c-dd32925ff6ef.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="963" data-original-width="1280" height="323" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixXqBVN79FN9rFJ5IfNoKkjyzO-eSCHjbfrmVIQstO3_ST6q3c8jpikBNDspN0hGnP0bQaJ0IMku3mAdVyimn84uMjS6J2GgSsDUg0dLrrqBloTizI-yDPnOvdKJZan4LKsOYc2nroen3pAuvUc-PD5-caL501Lbo13bYsE69DNivtz7e45Zml1Q/w428-h323/7f5515e6-832a-4437-909c-dd32925ff6ef.jpg" width="428" /></a></div><br /> Voltando aqui nessa parada. Faz um bocado de tempo, né não?
A verdade é bem simples: como perdi uma plêiade de amigos queridos durante o
governo autoritário da besta genocida (toc, toc, toc, mangalô três vezes!), tomei
a decisão de parar de escrever em blogs, portais e redes sociais. Era uma
maneira de protestar silenciosamente contra o pior governo do país desde a
redemocratização. Decidi que só voltaria a escrever após um ano de um novo
governo democrático. Estou cumprindo essa promessa agora.<p class="MsoNormal">Ah, antes que eu me esqueça: votei no Ciro Gomes no primeiro
turno. No segundo turno, nem apareci na zona eleitoral. Estou pouco me lixando
para bolsonaristas e petistas, mas é forçoso admitir que o Ninefingers é mais
democrático que a besta-fera (toc, toc, toc, mangalô três vezes!), que nos
desgovernou durante quatro anos. Como em 2026 – seu eu sobreviver a tanto, o
que não acredito – já estarei com 70 anos, estarei desobrigado de votar. E posso
morrer tranquilo: meu último voto para presidente foi embalado pela esperança
de um país melhor. Se o povo não entendeu isso, foda-se o povo!</p><p class="MsoNormal"><br /></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwe3rDAjNlQIWbuCZ7jZ5ciaXdKN6UuttqQ9_OVB1Q4M5s09J5xyCorEVqae4i25jpCTW9NcWr0hrwsA4epRKc4KvmOVgnPxS4Cd8nzHhbHKsXtnnOLmWWPKOJlpb2lbo4_Izu4FT6gNFEpuV04_HetgcjOu76hECR_bPCkOM-uYf9mpcs38s/s678/edilson.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="678" data-original-width="462" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwe3rDAjNlQIWbuCZ7jZ5ciaXdKN6UuttqQ9_OVB1Q4M5s09J5xyCorEVqae4i25jpCTW9NcWr0hrwsA4epRKc4KvmOVgnPxS4Cd8nzHhbHKsXtnnOLmWWPKOJlpb2lbo4_Izu4FT6gNFEpuV04_HetgcjOu76hECR_bPCkOM-uYf9mpcs38s/s320/edilson.png" width="218" /></a></div><o:p><br /></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal">Nos longínquos anos 80, meu querido amigo Edilson Martins publicou
pela Codecri (a editora do Pasquim) um livro emblemático intitulado “Nossos
Índios, Nossos Mortos”, que fez a cabeça dos leitores da minha geração. Eu vou
me limitar a escrever o nome dos meus índios, dos meus mortos, nessa triste
pandemia de que fomos vítimas pelo descaso de um completo amoral. A ressurreição
desse blog vai para eles, onde e como estiverem:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF9dkO7reQAK0iHrTQ57avv3waMgHm6m8u2xhzO92VApg9Cj43mf6KTufTAQ0jcsh-NeR5nWUcvnl8qp_cclljLGoz0TCj_hDW7W5_TYIjqEZ2cHj92mc6oJ7yz71ZR2Bg-fuHELZZVfNihRaJov8hRS7fY5YSwzqbk2oZetrJkPzAvFx230uvfw/s267/dinizanto.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="189" data-original-width="267" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF9dkO7reQAK0iHrTQ57avv3waMgHm6m8u2xhzO92VApg9Cj43mf6KTufTAQ0jcsh-NeR5nWUcvnl8qp_cclljLGoz0TCj_hDW7W5_TYIjqEZ2cHj92mc6oJ7yz71ZR2Bg-fuHELZZVfNihRaJov8hRS7fY5YSwzqbk2oZetrJkPzAvFx230uvfw/w337-h238/dinizanto.jpeg" width="337" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal">Antônio Diniz (livreiro, parceiro em alguns livros e meu
cunhado). Lucio Preto (quarto zagueiro do Sancol, Atlântica e Penarol, de
Itacoatiara). Selmo Nogueira (o famoso Caxuxa, das batidas inimagináveis e
inesquecíveis da velha Cachoeirinha). Sandoval Amazonas (engenheiro civil,
amigo de infância). Robson Franco (jornalista, parceiro em projetos
memoráveis). Ivancy Wilkens (campeão amazonense de jiu-jitsu, cria do Reyson
Gracie, marido na minha diarista Paula). Roberto Augusto (radialista e
jornalista brilhante). Roberto Dinamite (figura de proa do GRES Reino Unido da Liberdade).
Antonio Carlos (o “Bem-te-vi”, ex-presidente do bumbá Corre Campo). Marco
Aurélio (o rei da sinuca, vascaíno fanático, conhecido como “Pezão”). Sebastião
Ferreira (o “Sabá”, parceiro de dominó no Bar da Júlia). Sandro Barçal
(professor universitário, marxista confesso e parceiro de gandaia durante mais
de 30 anos).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikb4NTFjefvmho_8B6lmgccS6z02VmbGPAMMMNw70LVICpM_OXM64SNjiaZQ3JDB3ZnTKAzMNZxXJ5i5kOBUrzZZiIawpwvjlEErAngaCMhdmdR0cH2t69L_Qq1bs3oar-vx-FI2BKbLX8sybDC4r3pvWLohQIy6ccO3tV9x2LOuVHpk_bFvY/s1558/0001%20chico%20cavalinho.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1097" data-original-width="1558" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikb4NTFjefvmho_8B6lmgccS6z02VmbGPAMMMNw70LVICpM_OXM64SNjiaZQ3JDB3ZnTKAzMNZxXJ5i5kOBUrzZZiIawpwvjlEErAngaCMhdmdR0cH2t69L_Qq1bs3oar-vx-FI2BKbLX8sybDC4r3pvWLohQIy6ccO3tV9x2LOuVHpk_bFvY/s320/0001%20chico%20cavalinho.jpg" width="320" /></a></div><o:p><br /></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal">Francisco Costa (o “Chico Cavalinho”, engenheiro civil,
fundador do GRES Andanças de Ciganos). Miquéias Fernandes (advogado,
ex-deputado estadual). José Fernandes (advogado, ex-prefeito de Manaus). Rosa
Fernandes (professora, irmã dos outros dois). Ernando Carvalho (o “Papagaio”,
figura emblemática do Bar do Armando). Rubem Dário (empresário, primo da minha
ex-mulher Dinari Guimarães). Valtinho Almeida (amigo de infância, irmão do “Maraca”).
Igson Andrade (o “Bolão”, partideiro de responsa da Praça 14 de Janeiro).
Olíbio Trindade (o “Xiri”, contador, primeiro treinador do Murrinhas do Egito).
Mário Almeida (empresário, primo do Valtinho). Orlando Almeida (empresário,
irmão do goleiro Orlando Mão-de-Onça, primo do Valtinho e do Mário). Arnaldo
Fimose (violonista do grupo Pró-Álcool). Caramuru Borges (velho amigo do Pai
Simão, desde a época de Santarém, e pai dos queridos Paulo, Zanata e Marcos).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5oIP_VSl_fKZBXfPN2znu9ulKfbt0KofMuFvYyyOJLg9KtMSgppc43azf1qLCyIya1hT9fuMpNTxVFt63LRfptmk2YIJw9HWl4KOZ8DMqcypU_MHyUVYbU0_tcsYra-5KmulTqIT16iyvDGxLOOmuu2fcjdslIum7MmojkNxriQzs6XsU6IHwwA/s900/Emerson-Maia-si.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="900" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5oIP_VSl_fKZBXfPN2znu9ulKfbt0KofMuFvYyyOJLg9KtMSgppc43azf1qLCyIya1hT9fuMpNTxVFt63LRfptmk2YIJw9HWl4KOZ8DMqcypU_MHyUVYbU0_tcsYra-5KmulTqIT16iyvDGxLOOmuu2fcjdslIum7MmojkNxriQzs6XsU6IHwwA/s320/Emerson-Maia-si.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal">Emerson Maia (compositor parintinense do Garantido – “o índio
chorou...” – e roqueiro de respeito). Klinger Araújo (cantor parintinense do
Caprichoso e piadista em tempo integral). Nonato Lopes (advogado, ex-prefeito
de Iranduba). Lourdes Lopes (professora, ex-vereadora, irmã do Nonato). Harrison
Almeida (o “Cachito”, zagueiro do Inútil, campeão do torneio início do Peladão
em 1975). José Montanha (o simpático e marrento garçom do Bar do Armando). José
Rosha (jornalista e cartunista, meu parceiro no Suplemento JC). Luiz Fernando
Nicolau (médico, ex-deputado federal). Abelardo Sampaio (o “Belo”, meu primo
querido). Cosme Bittencourt (o “Comendador”, meu parceiro de birita e conversas
sobre a beat generation). Américo Loureiro (ex-vereador, dono do JAP, o
primeiro campeão do Peladão). Homero Diniz (funcionário público, primeiro
campeão amazonense de dominó, em parceria com meu primo Giovani Bandeira.)<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisbWRB1KdWDyLcb0l0K64ojY9Nv0kjHweGDeMZkMD3z_Mt_W7J2-MMswNbeRm__FwVGYeZ-YNs5P4T0mCmNXKAW_z7wpsXWjJuZ9cjUqthxlH1pa3fi8FQN46hzJi3NQT5zh_uiS7nJD5n6-xQqu5xR-6UNKSaNBFX-BUu7okIcYNZgFr1cSY/s1213/000001-%20Pinheiro.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1213" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisbWRB1KdWDyLcb0l0K64ojY9Nv0kjHweGDeMZkMD3z_Mt_W7J2-MMswNbeRm__FwVGYeZ-YNs5P4T0mCmNXKAW_z7wpsXWjJuZ9cjUqthxlH1pa3fi8FQN46hzJi3NQT5zh_uiS7nJD5n6-xQqu5xR-6UNKSaNBFX-BUu7okIcYNZgFr1cSY/s320/000001-%20Pinheiro.jpg" width="285" /></a></div><o:p><br /></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal">José Roberto Pinheiro (o “Mestre Pinheiro”, fotógrafo, enciclopédia
viva da MPB, meu parceiro nas marchinhas da BICA). Luiz Wagner (o “Vavá das
Candongas”, empresário, fundador da Bhanda da Bhaixa da Hégua). Marquinhos
Barbosa (dançarino de disco music, xerocópia do John Travolta). Raimundo Nonato
(o “Pirulito”, eterna Catirina do bumbá Corre Campo, pai do poeta Celestino
Neto, o “Lé”.) Izinha Toscano (jornalista, filha do saudoso músico Afonso
Toscano). Agnaldo Oliveira Jr. (jornalista premiado). Danyelle Costa (baixista
da banda Roxie). Nelson Pilão (partideiro de responsa). Olinda Mattos (irmã dos
queridos Titílio e Orlando Carioca). Kayro Robson (partideiro de responsa).
Raimundo Noronha (o “Mangará”, fundador do GRES Reino Unido da Liberdade). José
Gadelha (advogado). Milton Matos (pagodeiro do grupo Couro Velho). Aldemir
Cardoso (empresário, dono das lojas Arsenal).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT_g0uqEeOMfDFPVoSm6pNMeDNBjnisH49XRW0wMNbItOVj72Q41opPtXrqlTGF6Ieq2Pv9CEAj1drsQ_-uRAiuAl51_hk2E0t8XpLQ0W0s0kucaIb2WfROFI8TVAvXOYetgNC649IYA1QhD19Dn45YmKVqrSOaDVMduMNXS5UiuXBIP8wZmAJ4w/s702/gil%20liberd.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="702" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT_g0uqEeOMfDFPVoSm6pNMeDNBjnisH49XRW0wMNbItOVj72Q41opPtXrqlTGF6Ieq2Pv9CEAj1drsQ_-uRAiuAl51_hk2E0t8XpLQ0W0s0kucaIb2WfROFI8TVAvXOYetgNC649IYA1QhD19Dn45YmKVqrSOaDVMduMNXS5UiuXBIP8wZmAJ4w/s320/gil%20liberd.jpeg" width="320" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal">Gilmar Barbosa (o “Gil da Liberdade”, empresário, fundador
do GRES Reino Unido da Liberdade). João Sabino Neto (médico cardiologista,
parceiro de birita). Arnoldo Carneiro (amigo de infância, irmão do Argemiro).
Mário Gilson (professor do IFAM e meu parceiro de aprontos). Francisco Chagas
(o “Chaguinha”, advogado, sindicalista, meu companheiro dos tempos de Sharp do
Brasil, nos anos 70). Wandinho Manaus (o coração pulsante do GRES Mocidade do
Coroado). Wellington Redman (jornalista, coaching, a alegria em pessoa, sobrinho
do Didi Redman). Ari Aleixo (empresário, filho da saudosa Otalina Aleixo). Ana
Aleixo (advogada, irmã do Ari). Albino Aleixo (advogado, irmão do Ari e da Rosa).
Lúcio Bahia (cantador das noites manauaras). José Malheiros (auditor da Sefaz).
Victor Hugo (procurador do Estado). Saulo Almeida (auditor da Sefaz). Gilson
Ferreira (auditor da Receita Federal).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoVgm4ddC8QvdbrTM0dJAHZA8dP7vBH52Y21Ub44i70GF3qTleW-E28xFzIpRiN_Ck8XxHuV4GvDZcf5qe-uzLNZ9AUTC9S9wWAbqGHgRYNlv6fxYNoCgGv-9P5zXCh0tCovZ8gbR_Kdkhr6RPaySnB79CsVp05KutM9mO5TntpyABXOnPoPq-rQ/s1600/Cazuza%201.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoVgm4ddC8QvdbrTM0dJAHZA8dP7vBH52Y21Ub44i70GF3qTleW-E28xFzIpRiN_Ck8XxHuV4GvDZcf5qe-uzLNZ9AUTC9S9wWAbqGHgRYNlv6fxYNoCgGv-9P5zXCh0tCovZ8gbR_Kdkhr6RPaySnB79CsVp05KutM9mO5TntpyABXOnPoPq-rQ/s320/Cazuza%201.JPG" width="320" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal">José Alberto (o “Cazuza”, meu primo, tricampeão e três vezes
artilheiro estadual pelo Olímpico Clube, no campeonato juvenil de 66-68).
Godofredo Gomes (amigo de infância, meu vizinho, pai do DJ Adriano Flashback).
Sulamita Farias (empresária, amiga querida dos tempos do Ida Nelson). Kiko
Ribeiro (advogado, irmão do ex-prefeito Manuel Ribeiro). Margareth Magalhães
(médica, minha companheira de classe no Ida Nelson). Silvia Moraes (irmã do
querido Gonzaga do Arsenal). Julio Reciños (médico, vocalista do grupo Conexão
Latina). Nilson Torres (empresário, ex-centroavante do Murrinhas do Egito).
Carlos Araújo (poeta e agitador cultural, criador da coletânea “Poetatu”).
Marcus Cavalcante (advogado, ex-vereador, irmão do Adelson da Ciranda). Armandinho
Pascarelli (cantor e compositor do GRES Andanças de Ciganos, irmão do Filica).
Joaquim Barros (funcionário público, concunhado do meu irmão Simas).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkiBNBX1No9tLRk4zaf4aGBZn5vAY3Y1vvfVTqx7mpNnLGv8Q2co266GYvtISXBe1zievk5tkE7NfML91I_RgOx-eXILMrE5jyf0ovll3NVdNXO1HClekDGM0u3QuwBUyYhFmVl0kwtfIFil0Mfcav49m3ii8_kj_z1GHG22BBmOr2x5pPPIfXsA/s817/rick126.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="817" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkiBNBX1No9tLRk4zaf4aGBZn5vAY3Y1vvfVTqx7mpNnLGv8Q2co266GYvtISXBe1zievk5tkE7NfML91I_RgOx-eXILMrE5jyf0ovll3NVdNXO1HClekDGM0u3QuwBUyYhFmVl0kwtfIFil0Mfcav49m3ii8_kj_z1GHG22BBmOr2x5pPPIfXsA/s320/rick126.JPG" width="320" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal">Ricardo Pinheiro (o “Ricardão”, primeiro puxador de samba
dos Ciganos). Nádia Lacerda (amiga de infância, esposa do Carlos Lacerda).
Ramiro Araújo (ex-prefeito do Careiro da Várzea). Tito Magnani (empresário,
diretor do Olímpico Clube). Fernando Monteiro (empresário, um dos herdeiros do
grupo S. Monteiro). Mário Uchoa (empresário parintinense, a gentileza em
pessoa). Carlos Alonso (engenheiro, ex-presidente do CREA). Enéas Gonçalves
(advogado, radialista, ex-prefeito de Parintins). Zé Olhão (eletricista, meu
parceiro de birita no Bar do Pedrão). Renê Pessoa (fundador da Quadrilha Junina
Sete Quedas). Hilberto Cruz (um dos donos da HM Calçados, meu amigo dos tempos
de Philco). Luiz Carlos Barreto (engenheiro, colega de classe na ETFA). Paulo
Monte (antropólogo e professor universitário). Luiz Cláudio Dias (o “Macalé”, meu
médico urologista, dono de uma risada desconcertante). Lauro Goiaba (ex-jogador
profissional do Nacional). Geraldo Dantas (empresário, amigo dos tempos de Ida
Nelson). Menandro Tapajós (médico, parceiro de canaviais da pesada).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZzLKczoyld-M4jk79SUvsa_78uihBPzL2UQoolQb_pO55TGzK41TXCiBBvY-cJDkCWCpHSI6HNapJrC8FBq7yweRPNRcqNcaR6UBG0Rm_KzWwkYcjcv_4714uu_Jb7UIETfzKkI6f8x4BTmyHJmz3f6M5q-Spgl9Y4IwNDW-tK1fHiR7GWh4/s640/000001%20-%20Chic%C3%A3o.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZzLKczoyld-M4jk79SUvsa_78uihBPzL2UQoolQb_pO55TGzK41TXCiBBvY-cJDkCWCpHSI6HNapJrC8FBq7yweRPNRcqNcaR6UBG0Rm_KzWwkYcjcv_4714uu_Jb7UIETfzKkI6f8x4BTmyHJmz3f6M5q-Spgl9Y4IwNDW-tK1fHiR7GWh4/s320/000001%20-%20Chic%C3%A3o.jpg" width="320" /></a></div><o:p><br /></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal">Francisco Cruz (o “Chicão”, ex-procurador geral do MPC, meu
parceiro no livro “Amor de BICA”). Rosivaldo Ferreira (publicitário, dono da
produtora Proclipe). Marcos Assayag (empresário, irmão do Davi Assayag). Zezinho
Corrêa (vocalista da Banda Carrapicho). Ananias Filho (vencedor 18 vezes seguidas,
como melhor marcador de quadrilhas pela Juventude na Roça). Paulinho Farias (o
eterno amo do bumbá Garantido). Joelson Castro (baixista da banda Randy Kapa). Jander
Souza (meu DJ favorito no Canto do Fuxico). Luiz Prado (o “Lula”, funcionário
público, irmão do querido Hilário). Marco Gomes (poeta, escritor, fundador –
comigo e Arnaldo Garcez – do coletivo anarquista “Gens da Selva”, que agitou a
cidade durante duas décadas). Helvécio Nogueira (o “Mamão”, melhor contador de
causos portugueses da história).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>João Carlos Weil (o “Bazam”, irmão do querido Antídio Weil).</p>
<p class="MsoNormal">Bom, esses são os meus “principais”, gente com quem eu
conversava, discutia, bebia, ria, chorava, xingava, reclamava, amaldiçoava, essas
coisas, sem nunca chegarmos às vias de fato. Era muito, muito divertido. Nunca
mais voltar a vê-los deve ser carma ou maldição. Vida que segue. Fazer o que?<o:p></o:p></p>Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-32525681234280236312024-01-11T12:58:00.003-04:002024-01-11T12:58:32.415-04:00Recordando a Princesinha do Mar<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW2R8g6B1HqAcyt7V2eBOEZUOFjuIr9cBUwfORL5ZAw8YSOuwcuijjH1B9Z_fBvqcXoz2hVgFsCyFsvHl97fjqfN4Whav8BbJCImYV7d4LhkM52NOvQQsJZFTEw42s7GwtBC0rp3syHsljPAwsLmtlYyRrx4vlKK51misRQjGz8T2llEetLN6s1Q/s736/copa60123.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="519" data-original-width="736" height="279" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW2R8g6B1HqAcyt7V2eBOEZUOFjuIr9cBUwfORL5ZAw8YSOuwcuijjH1B9Z_fBvqcXoz2hVgFsCyFsvHl97fjqfN4Whav8BbJCImYV7d4LhkM52NOvQQsJZFTEw42s7GwtBC0rp3syHsljPAwsLmtlYyRrx4vlKK51misRQjGz8T2llEetLN6s1Q/w396-h279/copa60123.jpg" width="396" /></a></div><br /><p></p><p>Por Rubem Braga</p><br />1. Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas.<br /><br />2. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.<br /><br />3. Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal; estás perdida e cega no meio de tuas iniqüidades e de tua malícia.<br /><br />4. Sem Leme, quem te governará? Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas.<br /><br />6. Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão.<br /><br />6. E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros; e todas as muralhas ruirão.<br /><br />7. E os polvos habitarão os teus porões e as negras jamantas as tuas lojas de decorações; e os meros se entocarão em tuas galerias, desde Menescal até Alaska.<br /><br />8. Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum.<br /><br />9. Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão.<br /><br />10. Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provação.<br /><br />11. Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleos odoríferos para tostar a tez, e teus mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupiscência.<br /><br />12. Uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos na cinza, porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei.}<br /><br />13. Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia.<br /><br />14. E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações.<br /><br />15. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados?<br /><br />16. Antes de te perder eu agravarei s tua demência — ai de ti, Copacabana! Os gentios de teus morros descerão uivando sobre ti, e os canhões de teu próprio Forte se voltarão contra teu corpo, e troarão; mas a água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão.<br /><br />17. E tu, Oscar, filho de Ornstein, ouve a minha ordem: reserva para Iemanjá os mais espaçosos aposentos de teu palácio, porque ali, entre algas, ela habitará.<br /><br />18. E no Petit Club os siris comerão cabeças de homens fritas na casca; e Sacha, o homem-rã, tocará piano submarino para fantasmas de mulheres silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas colunas dos cronistas, no tempo em que havia colunas e havia cronistas.<br /><br />19. Pois grande foi a tua vaidade, Copacabana, e fundas foram as tuas mazelas; já se incendiou o Vogue, e não viste o sinal, e já mandei tragar as areias do Leme e ainda não vês o sinal. Pois o fogo e a água te consumirão.<br /><br />20. A rapina de teus mercadores e a libação de teus perdidos; e a ostentação da hetaira do Posto Cinco, em cujos diamantes se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis — tudo passará.<br /><br />21. Assim qual escuro alfanje a nadadeira dos imensos cações passará ao lado de tuas antenas de televisão; porém muitos peixes morrerão por se banharem no uísque falsificado de teus bares.<br /><br />22. Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas jóias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa, pois em verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbás porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção, Copacabana!<br /><br />Rio, janeiro, 1958<br /><br /><br />(<i>texto extraído do livro “Ai de ti, Copacabana”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1960, pág. 99</i>)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br />Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-48927203197637357642021-06-10T15:18:00.002-04:002021-06-10T15:18:46.993-04:00Esconderam de mim por 32 anos que Paulo Leminski era meu pai, diz músico<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-vRde1HG0_yE/YMJiFoutPxI/AAAAAAAAmHU/rqn7vIYxkUk_X6_p47Mq9sfCEfGM-gtDQCLcBGAsYHQ/s900/ate-os-32-anos-paulo-leminski-neto-atendeu-pelo-nome-de-luciano-lucky-da-costa-desde-2001-tenta-se-recuperar-da-confusao-identitaria-1623291351538_v2_900x506.jpg.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="506" data-original-width="900" src="https://1.bp.blogspot.com/-vRde1HG0_yE/YMJiFoutPxI/AAAAAAAAmHU/rqn7vIYxkUk_X6_p47Mq9sfCEfGM-gtDQCLcBGAsYHQ/s320/ate-os-32-anos-paulo-leminski-neto-atendeu-pelo-nome-de-luciano-lucky-da-costa-desde-2001-tenta-se-recuperar-da-confusao-identitaria-1623291351538_v2_900x506.jpg.webp" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">O músico Paulo
Leminski Neto, também chamado de Luciano "Lucky" da Costa, e o poeta
Paulo Leminski (nas fotos ao fundo): semelhança inegável</i></p>
<p class="MsoNormal">Por Paulo Sampaio</p>
<p class="MsoNormal">Editado em tamanho reduzido, o print de uma certidão de
nascimento impresso em “O bandido que sabia latim” (ed. Record), biografia do
poeta curitibano Paulo Leminski Filho, tomou proporções épicas. O documento
revela que o escritor registrou como seu filho uma criança que nunca fora
chamada pelo nome averbado, Paulo Leminski Neto. Até a publicação da biografia,
em 2001, o cidadão registrado acreditava se chamar Luciano da Costa. “Esconderam
de mim por 32 anos que Paulo Leminski era meu pai”, diz Luciano, ou Lucky, que
é músico e tem agora 53.</p>
<p class="MsoNormal">Nascido em Curitiba em 31 de janeiro de 1968, Lucky conta
que a mãe e o padrasto o registraram de novo, em 1976, com outro nome, quando
decidiram matriculá-lo na escola. Os motivos que levaram o casal a perpetrar a
falsidade ideológica nunca foram inteiramente esclarecidos: “Durante 8 anos,
eles me chamaram de Kiko ou menino, e me privaram do convívio com outras
crianças”, lembra o músico, que cresceu no Rio. Vinte anos depois de descobrir
sua identidade, Lucky ainda sente dificuldade de superar a desconsideração dos
envolvidos em uma história que, segundo diz, interessava a todos, menos a ele.</p>
<p class="MsoNormal">Toninho Vaz, o biógrafo: “A paternidade do Lucky sempre foi
algo nebuloso. A verdade é que o pai, a mulher dele, a mãe e o padrasto viveram
uma farsa que convinha a todos.”</p>
<p class="MsoNormal">Em 2003, graças à confusão deflagrada pela leitura da
biografia, Kiko/Luciano/Lucky/Paulo Leminski Neto mergulhou em uma crise de
depressão que culminou na ingestão de 60 comprimidos de Diazepam
(tranquilizante) com cerveja: “Eu não queria me matar, queria só sair daquela
situação, sumir.”</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-wNZZ3UBe0FY/YMJiPRXPsEI/AAAAAAAAmHY/Xqs4AU0cYDI9SyZ0Q9R3SngRU8ZdHAOsACLcBGAsYHQ/s750/a-certidao-de-nascimento-de-luciano-da-costa-lavrada-no-rio-em-1976-e-a-de-paulo-leminski-neto-em-curitiba-1968-1623292946759_v2_750x421.jpg.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="421" data-original-width="750" src="https://1.bp.blogspot.com/-wNZZ3UBe0FY/YMJiPRXPsEI/AAAAAAAAmHY/Xqs4AU0cYDI9SyZ0Q9R3SngRU8ZdHAOsACLcBGAsYHQ/s320/a-certidao-de-nascimento-de-luciano-da-costa-lavrada-no-rio-em-1976-e-a-de-paulo-leminski-neto-em-curitiba-1968-1623292946759_v2_750x421.jpg.webp" width="320" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">A certidão de
nascimento de Luciano da Costa, lavrada no Rio em 1976, </i><i>e a de Paulo Leminski
Neto, em Curitiba, 1968 </i> </p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Comuna e amor livre<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal">O mistério que envolve a origem de Paulo Leminski Neto
remonta a gravidez de Nevair “Neiva” Maria de Souza, mãe do garoto e única
mulher que se casou no papel com o poeta – em 1965. O casal habitava uma
espécie de comuna hippie frequentada por adeptos do “amor livre”. Entre os
residentes estavam o jornalista Ivan da Costa, que mais tarde se tornaria
padrasto de Lucky, e a poeta Alice Ruiz, que apareceu na festa de 24 anos de
Leminski, em agosto de 1968, e se instalou na vida dele por cerca de duas
décadas. Os dois tiveram três filhos – Miguel, Áurea e Estrela – e ficaram
juntos até um ano antes de Leminski morrer de cirrose hepática, em 1989.</p>
<p class="MsoNormal">Não há consenso em relação à data exata do começo do
relacionamento de Neiva com Ivan. De acordo com o relato mais ouvido nas
entrevistas, os dois teriam se tornado amantes quando ela esperava Paulo
Leminski Neto. Por sua vez, Alice logo ficou grávida do primeiro filho que teve
com Paulo Leminski, Miguel, que morreria de leucemia aos 10 anos.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-pAugYy27hAY/YMJiX0JjQbI/AAAAAAAAmHg/vY9ZX0wyCfoKbQwMB1Dqtu1Clmmg4pd7gCLcBGAsYHQ/s600/paulo-leminski-entre-o-pai-e-neiva-em-guaratuba-1623294397393_v2_450x600.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="450" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-pAugYy27hAY/YMJiX0JjQbI/AAAAAAAAmHg/vY9ZX0wyCfoKbQwMB1Dqtu1Clmmg4pd7gCLcBGAsYHQ/s320/paulo-leminski-entre-o-pai-e-neiva-em-guaratuba-1623294397393_v2_450x600.jpg" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Paulo Leminski, entre
o pai e Neiva, em Guaratuba</i></p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Caetano e Wisnik<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal">Paulo Leminski inventou um estilo que o consagrou pela
linguagem coloquial, curta e acessível. Além de 600 poemas e 20 livros de
prosa, ele compôs por volta de 100 músicas. Em determinado momento, atraiu a
atenção de Caetano Veloso, que gravou dele “Verdura”, no álbum “Outras Palavras”,
e de José Miguel Wisnik, Itamar Assumpção e Moraes Moreira, com quem criou em
parceria, respectivamente, “Polonaise”, “Filho de Santa Maria” e “Promessas
Demais”.</p>
<p class="MsoNormal">Faixa-preta de judô, Leminski cultivava um bigode que se
alongava nas laterais da boca e era considerado na cena underground de Curitiba
um “poeta marginal”. Criou para si um personagem excêntrico, atormentado e
transgressor, que seus críticos afirmam ser mais forte que a própria obra dele.
Apontado como bígamo pelos vizinhos conservadores, foi convidado a se retirar
do edifício São Bernardo, onde viva na “comuna hippie”.</p>
<p class="MsoNormal">Toninho Vaz, que o conheceu na época, diz que nunca
conseguiu uma informação precisa a respeito do relacionamento entre os dois
casais. “O que todo mundo falava é que Neiva se dividia entre Paulo e Ivan.
Cheguei a provocá-lo com o assunto, mas ele desconversou.”</p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Mãe narcisista</b></p>
<p class="MsoNormal">Procurados por telefone e WhatsApp, Neiva e Ivan nunca
responderam à reportagem. Lucky diz que “com certeza, minha mãe não vai querer
falar desse assunto com jornalistas”. “Ela é uma narcisista perversa, mitômana,
que teria sustentado até o fim o teatro que criou com meu padrasto, não fosse a
revelação da biografia. Quando o Toninho os entrevistou e os avisou que me
procuraria, ambos me disseram para não dar ouvidos a ele, alegando que era um
jornalista marrom [expressão que define um tipo de jornalismo escandaloso e sem
escrúpulos].”</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-0-LFaznj3CU/YMJipbnrd1I/AAAAAAAAmHs/ex_WHF51eswWKlXrkbCr6pX_PCrgG4jXgCLcBGAsYHQ/s750/ate-os-8-anos-a-crianca-registrada-como-paulo-leminski-neto-foi-chamada-de-kiko-minha-mae-e-uma-narcisista-perversa-1623295082050_v2_750x421.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="421" data-original-width="750" src="https://1.bp.blogspot.com/-0-LFaznj3CU/YMJipbnrd1I/AAAAAAAAmHs/ex_WHF51eswWKlXrkbCr6pX_PCrgG4jXgCLcBGAsYHQ/s320/ate-os-8-anos-a-crianca-registrada-como-paulo-leminski-neto-foi-chamada-de-kiko-minha-mae-e-uma-narcisista-perversa-1623295082050_v2_750x421.jpg" width="320" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Até os 8 anos, a
criança registrada como Paulo Leminski Neto foi chamada de Kiko: “Minha mãe é
uma narcisista perversa”</i></p>
<p class="MsoNormal">Tempos depois do lançamento da biografia, Ivan se submeteu a
um exame de investigação de paternidade que mostrou que Lucky não é seu filho. “Acho
que ele ainda alimentava um resto de esperança, apesar de eu ser a cara do
Paulo. O resultado do teste abalou muito o relacionamento com a Neiva. Depois
disso, ele teve uma filha fora do casamento, que está com 15 anos agora. Mora
em Rocha Miranda [subúrbio carioca].”</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-8M1O5oGta9U/YMJivFjH82I/AAAAAAAAmHw/rFH7D2RZKOgNaGH4VV3zxGZ145g8Y1Z-wCLcBGAsYHQ/s600/o-teste-de-dna-1623323929823_v2_450x600.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="450" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-8M1O5oGta9U/YMJivFjH82I/AAAAAAAAmHw/rFH7D2RZKOgNaGH4VV3zxGZ145g8Y1Z-wCLcBGAsYHQ/s320/o-teste-de-dna-1623323929823_v2_450x600.jpg" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">O teste de DNA</i></p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Cancelado em família</b></p>
<p class="MsoNormal">O relacionamento de Lucky com Alice Ruiz e suas filhas,
inventariantes da obra de Paulo Leminski, não é mais fácil. “A Alice contribui
na mesma medida para minha amargura. Agora que ela e as filhas não têm como
negar que Paulo Leminski é legalmente meu pai, fazem tudo para me destituir, me
excluir, me cancelar”, diz o músico.</p>
<p class="MsoNormal">Alice Ruiz se mostra surpresa com a amargura de Lucky.
Embora afirme que esteve com Paulo Leminski no Rio em 1976 (“eu me lembro de ter
ido”), e acompanhou com ele, Ivan e Neiva o registro da certidão de Luciano da
Costa, ela diz que é “a pessoa que menos tem a ver com isso”. “Se ele deve
sentir raiva de alguém, é das pessoas com quem ele tem vínculo afetivo.”</p>
<p class="MsoNormal">Mesmo tendo conhecimento do teste de DNA, Alice afirma que “não
dá para saber quem, de fato, é o pai do Kiko”. Segundo ela, “muita gente
entrava naquele apartamento”.</p>
<p class="MsoNormal">Lucky acredita que a rejeição de Alice e de suas irmãs vai
além do “desafeto”: “Diz respeito à herança.”</p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Catatau em
desenvolvimento</b></p>
<p class="MsoNormal">Alice afirma que não tem o que temer. “Veja bem: a divisão
dos bens do Paulo, com o Kiko ou sem, não me afeta em nada. Eu sou meeira,
continuo tendo direito à metade. Ele tem de se acertar com as irmãs.” Ainda
assim, ela alega que “a produção do Paulo foi nos 20 anos em que esteve casado
comigo, e houve um momento em que eu trabalhei fora, para ele ficar em casa
criando”. “Quando eu o conheci, o Catatau [obra mais emblemática do escritor]
era um conto de oito páginas, que se chamava Descartes com Lentes. Fora isso,
havia uns poemas que não chegavam a compor um volume inteiro.”</p>
<p class="MsoNormal">De acordo com ela, suas filhas tentaram fazer um acordo
financeiro com Kiko em junho de 2020, sem sucesso: “Elas propuseram dividir
tudo que se comercializasse dali pra frente. Ele não aceitou. Quer o
retroativo.”</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-QqKTsZVWwyc/YMJjBd-iKPI/AAAAAAAAmH4/ogBuKuo7VkwcacieP9eWiQ-dEm9bt_hxgCLcBGAsYHQ/s750/alice-com-paulo-e-estrela-anos-1980-houve-um-momento-em-que-eu-trabalhei-fora-para-ele-ficar-em-casa-criando-1623296064246_v2_750x421.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="421" data-original-width="750" src="https://1.bp.blogspot.com/-QqKTsZVWwyc/YMJjBd-iKPI/AAAAAAAAmH4/ogBuKuo7VkwcacieP9eWiQ-dEm9bt_hxgCLcBGAsYHQ/s320/alice-com-paulo-e-estrela-anos-1980-houve-um-momento-em-que-eu-trabalhei-fora-para-ele-ficar-em-casa-criando-1623296064246_v2_750x421.jpg" width="320" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Alice, com Paulo e
Estrela, anos 1980</i></p>
<p class="MsoNormal">A assessoria de imprensa da editora Companhia das Letras,
que publica a obra de Paulo Leminski, informa que desde 2013 lançou cinco
títulos do autor que venderam cerca de 300 mil exemplares, e que não há nada
previsto para o futuro. Um dos títulos, “Toda Poesia”, ultrapassou os 100 mil –
em determinado momento, estava à frente do blockbuster “50 Tons de Cinza” (E.L.
James) na lista de mais vendidos.</p>
<p class="MsoNormal">Em suas tentativas de conversar com Estrela, Lucky diz que
foi recebido com muita hostilidade. “Da última vez, assim que eu disse alô, ela
desligou o telefone.”</p>
<p class="MsoNormal">Alice se queixa do mesmo, em relação a Lucky: “Parei de
falar com ele, era muita agressividade. Tadinho. A gente às vezes cria
histórias porque não aguenta a realidade. Para isso existe terapeuta, né?”</p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Ataque virtual</b></p>
<p class="MsoNormal">Procurada, Estrela não chegou a falar comigo. Protelou por
mais de quatro horas a entrevista por telefone. Nesse meio-tempo, enviou dois
prints de mensagens escritas por pessoas que atacavam Lucky e a mulher dele. E
ainda uma foto dela com o irmão, em uma conferência pelo computador,
representando uma suposta “tentativa de conversa no ano passado”.</p>
<p class="MsoNormal">“Ele tem do lado um papagaio fake que comanda e imediatamente
ele cumpre as ordens”, começava a primeira mensagem.</p>
<p class="MsoNormal">“Estou tendo problemas com eles dois tbm...e concordo
plenamente que é ela que domina, infelizmente ele está possuído (de fato), por
uma pessoa que se aproveita para se dar bem”, diz a outra.</p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Fazendo as contas</b></p>
<p class="MsoNormal">Por fim, Estrela respondeu por escrito e áudio a algumas
perguntas. Embora não houvesse nas questões alusão a dinheiro, apenas à
quantidade de obras, ela buscou minimizar valores.</p>
<p class="MsoNormal">“É difícil quantificar uma coisa financeiramente, que não é
um patrimônio como uma casa, ou uma gestão de dinheiro. Quando meu pai morreu
ele deixou apenas uma obra, que a gente vai organizando. É uma obra que acaba
continuando a produção, e cada caso é um caso, querido. No caso de bandas
independentes, é complicado, parece que todo o material fica assim uma
arrecadação enlouquecida, e a gente sabe que não é assim que funciona. A gente
está falando de venda de arte. Para cada material, é em torno de 10% do preço
de capa, e isso dividido entre os autores, na parte da música, você já deve
imaginar o quão pequeno e pouco isso é.”</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-erbdZHkSXKs/YMJjJjqGHpI/AAAAAAAAmH8/QaKzbyi0AyAwAq6ByfPHG7yQpV91otj6ACLcBGAsYHQ/s750/capa-da-primeira-edicao-de-catatau-de-1975-e-foto-do-cartaz-de-lancamento-do-livro-feita-por-dico-kremer-1623296663788_v2_750x421.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="421" data-original-width="750" src="https://1.bp.blogspot.com/-erbdZHkSXKs/YMJjJjqGHpI/AAAAAAAAmH8/QaKzbyi0AyAwAq6ByfPHG7yQpV91otj6ACLcBGAsYHQ/s320/capa-da-primeira-edicao-de-catatau-de-1975-e-foto-do-cartaz-de-lancamento-do-livro-feita-por-dico-kremer-1623296663788_v2_750x421.jpg" width="320" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Capa da primeira
edição de Catatau, de 1975, e foto do cartaz de lançamento do livro, feita por
Dico Kremer</i></p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Correção da injustiça</b></p>
<p class="MsoNormal">De acordo com a advogada de Lucky, Letícia Gonçalves Dias
Lima, a tentativa das irmãs de propor um acordo dos valores obtidos dali (2020)
pra frente “não faz o menor sentido”. “A biografia foi publicada há 20 anos. A
partir de então, todo mundo sabia da existência de Paulo Leminski Neto. Em vez
de cumprir o seu dever, que era procurá-lo e providenciar a correção dessa
injustiça toda, elas preferiram ignorá-lo, preteri-lo.”</p>
<p class="MsoNormal">Em relação à “segunda” certidão de nascimento, a advogada
diz que não se trata de um documento falso, uma vez que foi lavrada em
cartório, mas nulo, pela falsidade dos dados. No momento, ela finaliza o processo
de retificação do nome. “Já pedi para o juiz oficiar todos os órgãos públicos.
O CPF está vinculado a Luciano da Costa. Existe um conflito muito grande, e
isso o prejudica quando ele se apresenta com o nome do registro original.”</p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Direito prescrito</b></p>
<p class="MsoNormal">O advogado de Alice e das filhas, André Alves Wlodarczyk,
sustenta que “o inventário de Paulo Leminski Filho iniciou-se em 1991 e findou
em 1998” e que o direito de Lucky em relação à partilha está prescrito. “O
prazo seria de cinco anos, contados a partir do fim do inventário (1991), ou,
na melhor das hipóteses, da descoberta da suposta filiação que se alega (2001).”</p>
<p class="MsoNormal">Embora ambas as partes tenham constituído advogados, a única
ação aberta até o momento diz respeito à ratificação da primeira certidão de
nascimento, por parte de Luciano da Costa – no Facebook, ele se apresenta como
Paulo Leminski.</p>
<p class="MsoNormal">Wlodarczyk diz que o documento não chegou a ele, “para
averiguação de veracidade e de legalidade pela via que foi obtido”. “Ele
[Lucky] teve pai e mãe declarados em registro civil. Deve-se ficar bem claro
que até o momento a suposta filiação é uma declaração unilateral de Luciano.”</p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Obra não autorizada</b></p>
<p class="MsoNormal">O rancor em relação a Alice e as filhas não é prerrogativa
de Lucky. Toninho Vaz se queixa de que teve a obra “censurada” a partir da
quarta edição, que seria lançada em 2013. “Eu acrescentei seis linhas,
relatando o suicídio do Pedro, irmão do Paulo, e a Alice achou que manchava a
imagem da família. Não autorizou mais a publicação das poesias.”</p>
<p class="MsoNormal">Na ocasião em que a edição foi suspensa, Alice deu uma
entrevista afirmando que o suicídio de Pedro Leminski “não contribui para
elucidar a personalidade e obra do biografado”. “Além disso, não concordamos
com a atitude de explorar fatos trágicos.”</p>
<p class="MsoNormal">Para Toninho, Alice só censurou a biografia quando não
interessava mais a ela sua publicação. “Em 2001, ao ser lançado, o livro
reativou a lembrança de gente que já era admiradora do Paulo, e apresentou o
trabalho dele para uma geração que não o conhecia. Preparou o terreno para que
a obra dele cumprisse a carreira de sucesso que obteve a partir de 2013 (com o
lançamento de Toda Poesia). Depois, por causa da dimensão que a exposição da
certidão de Paulo Leminski Neto poderia tomar, ela não quis mais”.</p>
<p class="MsoNormal">Alice ri alto. “Que pretensão! O Paulo nunca parou de
acontecer, de fazer sucesso. Era um tremendo escritor, e um pensador de
cultura. Por sinal, a biografia não tem essa abordagem, e sim a
sensacionalista. Se o livro vendeu bem, foi graças ao Paulo, e não o contrário.
O que fez a obra do Paulo bombar foi a internet. O estilo dele tem tudo a ver
com a geração mais nova. É rápido, palatável, tem humor.”</p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Esquerda gananciosa</b></p>
<p class="MsoNormal">Assim como Neiva, definida por Lucky como uma “ex-hippie que
agora é bolsonarista e não acredita no vírus (corona), diz que é coisa de
comunista”, Alice o intriga “pelo contraditório”. “Sabe essa cultura do paz
& amor, que na prática não é nada disso? Como é que uma pessoa que se diz
de esquerda, progressista, contra a censura e a ditadura militar pode se
revelar tão gananciosa?”</p>
<p class="MsoNormal">Alice se compadece de Lucky. Diz que “não é fácil ser ele”. “Tadinho.
O Kiko ficou sequelado. Descobrir aos 32 anos que tem dupla identidade não é
fácil. E tem essa pandemia, que está levando uma porção de gente a surtar. O
que ele vai fazer? Odiar a mãe? O possível pai que o criou? Não! Ele vai me
odiar!”</p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">E o pai que o
registrou?</b></p>
<p class="MsoNormal">Em nenhum momento os entrevistados se dão conta de que podem
estar fazendo uma interpretação machista do abandono de Lucky. Ninguém acusa o
poeta Leminski de falta de interesse pelo destino do filho. Alice concorda: “Existe
realmente uma leitura machista e, ao mesmo tempo, protetora: Ah, mas ele era um
poeta. Não seja por isso, eu também sou.”</p>
<p class="MsoNormal">Lucky diz que não isenta o pai: “O problema é que ele estava
morto quando eu tomei conhecimento da certidão. Se estivesse vivo, cobraria da
mesma forma que faço com os outros. Ninguém é santo nessa história”.</p>
<p class="MsoNormal">Toninho relativiza: “O Paulo não tinha controle desse
universo. As mulheres comandavam. A elas interessava. A Alice não ia criar o
filho que não era dela, e além disso morria de ciúmes da Neiva. Queria que ela
fosse viver no deserto. E nesse caso, era melhor que os casais se mantivessem
distantes.”</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-JevimxMYyy4/YMJjVMH-ZXI/AAAAAAAAmIE/dcgQdgaXRogEuqu84pEMLnHZd_uxd2njwCLcBGAsYHQ/s800/lucky-nao-isenta-paulo-leminski-ninguem-e-santo-nessa-historia-1623305413945_v2_450x800.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="450" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-JevimxMYyy4/YMJjVMH-ZXI/AAAAAAAAmIE/dcgQdgaXRogEuqu84pEMLnHZd_uxd2njwCLcBGAsYHQ/s320/lucky-nao-isenta-paulo-leminski-ninguem-e-santo-nessa-historia-1623305413945_v2_450x800.jpg" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lucky não isenta Paulo
Leminski: “Ninguém é santo nessa história”</i></p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Faith no More</b></p>
<p class="MsoNormal">Morando em Curitiba há cerca de seis meses, Lucky/Leminski
tenta recomeçar sua história a partir do lugar onde nasceu e foi registrado. Em
relação aos quase 20 anos que levou para tomar uma atitude a respeito do que
considera seus direitos, ele alega que sucumbiu ao conflito existencial e à
culpa:</p>
<p class="MsoNormal">“Além do choque da descoberta de que eu era outra pessoa,
com outro nome e outra origem, ainda precisei enfrentar a chantagem da minha
mãe. Eu me sentia obrigado a protegê-los do crime de falsidade ideológica. Por
muito tempo, tentei me convencer de que afinal eu era só aquela pessoa que
tinha existido até ali, e fui empurrando com a barriga, mas cheguei no meu
limite.”</p>
<p class="MsoNormal">No momento, Lucky está desempregado, “vivendo de favor”. Diz
que sofre bullying de pessoas que não acreditam que ele é filho de Paulo
Leminski. Cantor metaleiro, ele toca guitarra e participou de duas bandas, Robertinho
do Recife e Metalmania e X-Rated. “Toquei no Rock in Rio e, em diferentes
momentos, abri shows das bandas americanas Faith no More, Korn e Quiet Riot."</p>
<p class="MsoNormal">Por tudo que lhe aconteceu, se considera uma espécie de
filho renegado da vanguarda da contracultura curitibana. O personagem que “sobrou”.
“Pode colocar aí: tenho horror a hippies. Sou heavy metal!”<o:p></o:p></p>Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-16384709947570464622020-04-30T23:58:00.002-04:002020-05-01T00:07:14.544-04:00Meu amigo Francisco Costa<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-YvcH3v2w7mA/XqudYA-ldQI/AAAAAAAAmCE/tzYzG5sZK1kqvPiflAMeGbofkrm7cA_KgCLcBGAsYHQ/s1600/94871263_2944437455613081_2270021379942252544_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="266" src="https://1.bp.blogspot.com/-YvcH3v2w7mA/XqudYA-ldQI/AAAAAAAAmCE/tzYzG5sZK1kqvPiflAMeGbofkrm7cA_KgCLcBGAsYHQ/s400/94871263_2944437455613081_2270021379942252544_o.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Nunca imaginei que um dia estaria usando esse espaço poético
e bem-humorado para fazer necrológio de amigos queridos. A pandemia do covid-19
tem sido uma desgraça sem fim. Na última segunda-feira perdi um amigo mais do
que querido, uma amizade de 54 anos sem nunca termos travado uma mísera
discussão sequer: o engenheiro civil Francisco Costa.<br />
<br />
Das boas lembranças que guardo do sacana, uma manhã de
domingo, sol quase a pino, ele passou lá em casa e avisou:<br />
<br />
– Êi, seu Simão, eu vou levar o Simãozinho emprestado para
me ajudar numa tarefa que só ele tem inteligência pra fazer...<br />
<br />
Eu tinha 12 anos, o Chico Costa, uns 16. A tarefa? Afinar
cerol de papagaio. Ainda não havia a casa do seu Chico Eletricista. Na época,
aquilo era um terreno urbano da Dona Sila, mãe do Almir Português. Havia um
poste de concreto no começo do terreno, no cruzamento das ruas Parintins e
Borba, e outro poste praticamente em frente da nossa casa.<br />
<br />
Chico havia esticado umas 800 jardas de linhas branca enlaçando os
dois postes. Parecia um labirinto. Explicou a técnica:<br />
<br />
– Eu vou passar o cerol grosso, na mão cheia, você vem atrás
com os dedos polegar e indicador feito pinças, afinando o cerol. Não precisa
botar muita pressão. Tu não é jumento, tu sabe do que estou falando! A parte
mais difícil vai ser na linha que envolve o poste. Aí, você afina com a ponta
das unhas, pro cerol passar por outro lado da linha. Se ficar só de um lado, é
ali que vão nos cortar! Tu não é jumento, tu sabe do que estou falando!<br />
<br />
De repente, estou envolvido sem querer em uma merda que
nunca dei valor: empinar papagaios! Cumpri minha tarefa com estoicismo: indo e
vindo em torno das linhas esticadas, acho que fizemos umas vinte viagens.
Esperamos uma meia hora sentados embaixo de um pé de castanholeira que havia em
frente de casa. Daí, ele foi lá e começou a enrolar a linha numa maçaroca.<br />
<br />
Aí, voltou em casa e gritou lá pra dentro:<br />
<br />
– Êi, seu Simão, estou devolvendo o Simãozinho! Não lhe
disse que ele é foda?...<br />
<br />
E foi embora com seu famão do Botafogo para infernizar a vida dos
outros empinadores.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-i0G0MBU7qzg/XqueA40hR1I/AAAAAAAAmCI/m6Alxg2kIXsN2nzxkYgFTYgDGQ0qrxD5gCLcBGAsYHQ/s1600/95242245_690047631807967_223129636995858432_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1097" data-original-width="1558" height="281" src="https://1.bp.blogspot.com/-i0G0MBU7qzg/XqueA40hR1I/AAAAAAAAmCI/m6Alxg2kIXsN2nzxkYgFTYgDGQ0qrxD5gCLcBGAsYHQ/s400/95242245_690047631807967_223129636995858432_o.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Muitos anos depois, em 1974, eu fazendo engenharia na Utam,
ele se preparando para fazer engenharia civil na FUA, foi se queixar pra mim:<br />
<br />
– Porra, Simãozinho, chamei um zé buceta para me ajudar a
fazer um muro no quintal de casa e o vagabundo me sacaneou, falou que não era
ajudante de pedreiro... Aí, no dia seguinte, me pediu pra pagar uma dose de
cana pra ele no Bar do Aristides. Mandei tomar no cu! Não quer ganhar dinheiro
trabalhando? Vá se foder... A porra desse nosso bairro só tem murrinhas,
caralho!<br />
<br />
Aí, ficando mais puto do que de costume:<br />
<br />
– Murrinhas do Egito, carálio!... Esses vagabundos estão no
planeta desde a construção das pirâmides...<br />
<br />
Ri pra carálio. E falei:<br />
<br />
– Isso é um bom nome para um time de futebol aqui da Caxuxa!<br />
<br />
O resto é história.<br />
<br />
Há cinco anos, num livro que estou escrevendo para
complementar o “Cowboys Fora-da-Lei”, que nomeei de “Pai Simão & Outras
Histórias”, fiz o texto abaixo:<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-Funw8eZLkqg/XquePcpE8JI/AAAAAAAAmCM/xY1I51pVHNg-C8NqCrrweOdGSerrc87GACLcBGAsYHQ/s1600/95099514_10222627334461631_7949570095041216512_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="720" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-Funw8eZLkqg/XquePcpE8JI/AAAAAAAAmCM/xY1I51pVHNg-C8NqCrrweOdGSerrc87GACLcBGAsYHQ/s400/95099514_10222627334461631_7949570095041216512_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
DO lado oposto da Rua Borba, praticamente em frente da casa
do Mário Adolfo, ficava a casa de Francisco (aka “Chico Cavalinho”, porque era
gentil e atencioso como um quadrúpede com os poucos desafetos), Flávio (aka
“Fábio”), Fernando (aka “Linguinha”, porque tinha o hábito de morder a língua
quando ficava irritado), Graça e Glória Costa (aka “Gói”), localizada
exatamente ao lado do Top Bar. <br />
<br />
Dona Otília, mãe da galera, tinha uma loja de confecções no
Mercadinho das Novidades, e o seu Zé Costa, pai dos moleques, foi um dos
maiores intelectuais que conheci. Aliás, ele criou os cinco filhos vendendo
livros espiritualistas e esotéricos de porta em porta e passou a vida inteira
tentando catequizar eu e Mário Adolfo para entramos na Maçonaria. O fato de eu
já ser filiado à Ordem Rosa Cruz não lhe dizia respeito. Ele queria me ver na
Maçonaria, que julgava ser o começo de tudo. Alguns dos melhores livros que li
na vida, me foram vendidos ou doados graciosamente por ele. Era um grande
espírito de luz.<br />
<br />
Chico, Fábio e Fernando eram viciados em papagaios de papel.
Como nunca aprendi a “flechar”, jamais me interessei pela brincadeira. Eu
gostava de ver as “tranças” no céu e apreciar a confecção dos papagaios –
ofício que o Mário Adolfo, inutilmente, tentou me ensinar uma porção de vezes.
Também gostava de passar cerol nas linhas, mas a afinação do cerol era sempre
feita por algum especialista no assunto. Os três irmãos possuíam técnicas
específicas para as tranças. <br />
<br />
O Chico Costa era o mais abusado de todos. Ele passava cerol
em 800 jardas de “linha um”, usava mais 400 jardas de linha branca, empinava o
papagaio no céu até ele se perder de vista e, lá do alto, como se fosse um
falcão peregrino procurando uma presa, embicava em direção ao solo, fazia uma
rasante pra direita a menos de dois metros do chão e subia novamente em direção
ao céu, cortando três, quatro, cinco papagaios de uma só vez, tal a velocidade
da manobra. Suas vítimas preferidas eram os empinadores de papagaio da Praça
14.<br />
<br />
O Fernando Linguinha gostava mais de “embolada”. Além de
usar “linha dois zero”, as rabiolas de seus papagaios possuíam várias lâminas
de gilete encastroadas em palitos de fósforos, distribuídas estrategicamente ao
longo da mesma. Na época, os papagaios de “famão” gostavam de executar a proeza
de “cortar e aparar”. <br />
<br />
Exímio flechador, Fernando se aproximava dos papagaios
adversários como quem não queria nada e deixava eles avançarem em direção a
rabiola do seu papagaio para só então executar uma rápida manobra de evasão
que, quase sempre, cortava a linha dos adversários com a rabiola.<br />
<br />
Na maioria
das vezes, entretanto, Fernando optava por embolar seu papagaio entre o
peitoral e a rabiola do adversário. Era quando ele se transformava em uma
verdadeira máquina humana de “colher linha”. Suas braçadas vigorosas alcançavam
a velocidade de 78 rpm. O papagaio adversário vinha bater em sua mão. Aí, era
só quebrar a linha do peitoral e ficar com o troféu.<br />
<br />
O Fábio era um empinador de papagaios mais clássico, que
gostava de trançar descaindo a sua linha por cima da linha adversária como se
seu papagaio já houvesse “quedado”. Enquanto Chico e Fernando utilizavam
papagaios de 1 m de altura, Fábio preferia os modelos menores (30 cm), mais
velozes e fáceis de se manobrar. Ele também utilizava “linha oito”, mais fina
que a “linha um”, que se transformava em uma verdadeira navalha Solingen depois
que recebia o cerol. <br />
<br />
A fabricação de cerol envolvia uma mão de obra federal.
Primeiro, era preciso transformar cacos de vidro em pó, usando um pilão de
ferro. Os vidros azuis de leite de magnésia de Philips eram os mais
requisitados, só perdendo para as raríssimas lâmpadas fluorescentes e as
indefectíveis bolas de árvore de Natal. Depois, o pó era coado em meias de
mulher para retirar o xerém, os pedacinhos maiores. Finalmente, era preciso
encontrar uma boa cola de madeira em tabletes e derretê-la em banho-maria para
só então misturar com o pó de vidro. Os mais afoitos usavam pó de ferro
(“linhaça”), mas este tipo de cerol tinha o dom de apodrecer a linha no dia
seguinte.<br />
<br />
Uma meia dúzia de vezes, eu auxiliei o Fábio nas “passadas
de fios com a maçaroca”, porque era um dos melhores moleques da rua nesse
quesito. Explico melhor. Antigamente, as linhas de transmissão de energia
elétrica residencial ocupavam apenas um lado das ruas. As pessoas que moravam
do outro lado da rua precisavam de uma fiação complementar para levar a energia
dos postes existentes no lado oposto da rua até as suas residências. Assim, as
ruas ficavam coalhadas de fiação aérea, o que dificultava enormemente a
mobilidade dos empinadores de papagaio. <br />
<br />
Para se deslocar, por exemplo, da Rua Parintins até a Rua
Tefé, ou seja, apenas um quarteirão, era necessário passar por cima de mais de
30 fiações, já que cada casa demandava, no mínimo, dois fios (fase e neutro).
Daí a importância do “passador de fios”. Enquanto o empinador ficava flechando
o papagaio para empiná-lo o mais alto possível, o passador tinha de calcular
mentalmente quantos metros de linha teria que descair para efetuar a manobra
porque a maçaroca seria presa com um nó falso. <br />
<br />
Aí, vinha a parte mais difícil da operação: lançar a
maçaroca sobre os fios e pegá-la do outro lado no mesmo momento em que o
empinador soltava a linha do papagaio. Às vezes, a maçaroca caía entre dois
fios paralelos e a manobra precisava ser refeita ao contrário. Nosso recorde,
meu e do Fábio, foi ir da Parintins até a Manicoré e depois voltar, sem que eu
errasse uma única “passada”. Coisa de profissional.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-82025970214152191442020-04-23T11:32:00.003-04:002020-04-23T11:49:22.864-04:00So sorry, mas o mocó está de luto!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-kqNLNueoo70/XqGz_wL1gYI/AAAAAAAAmBY/SovtcwhmVLwD2tI3H7T8uqAu9or04TG2gCLcBGAsYHQ/s1600/paula-ivan.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="487" height="393" src="https://1.bp.blogspot.com/-kqNLNueoo70/XqGz_wL1gYI/AAAAAAAAmBY/SovtcwhmVLwD2tI3H7T8uqAu9or04TG2gCLcBGAsYHQ/s400/paula-ivan.png" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Paula e Ivancy
Wilkens, no GRES Reino Unido da Liberdade</i></div>
<br />
O falecimento inesperado de dois amigos queridos (o
jornalista Robson Franco, dia 20, e o microempresário Ivancy Wilkens, marido da
minha secretária Paula, dia 22) adiaram as postagens sobre o livro de folclore.
Estou ainda meio sem chão.<br />
<br />
Nos últimos nove anos, eu falava com o Ivancy toda
quinta-feira, quando ele vinha deixar a Paula aqui em casa para arrumar o mocó.
Hoje, ele não vem.<br />
<br />
Soube do infausto acontecimento pela própria Paula, por
telefone, no início desta quarta-feira. Ivancy começou a sentir falta de ar na
tarde de terça-feira. Procurou um SPA, onde foi medicado e mandado de volta pra
casa. No início da noite, a falta de ar piorou. Um de seus primos, médico,
desconfiou da covid-19 e o levou para um Pronto Socorro. Foi entubado, teve uma
parada cardíaca e atravessou o espelho. Os legistas do IML apontaram como causa
mortis pneumonia.<br />
<br />
Custa crer que um atleta, gozando de uma saúde de ferro,
tenha sido vencido por uma simples pneumonia, mas eu não sou médico para
contestar o laudo. Ivancy foi velado na Funerária São Francisco, ali na
Cachoeirinha, e sepultado ontem à tarde.<br />
<br />
Sobre ele, já contei uma de suas histórias aqui no blog. Se
quiser reler, acesse <a href="https://simaopessoa.blogspot.com/2019/12/demonstracao-da-arte-suave-no-bar.html">aqui</a>:<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-N4PRjExtKY8/XqG0L4G-MMI/AAAAAAAAmBc/NaYmOh1hNhs6eD8d1SiVoqV3KF-LooU5ACLcBGAsYHQ/s1600/94143347_2978246605599978_7939502103288872960_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="827" data-original-width="552" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-N4PRjExtKY8/XqG0L4G-MMI/AAAAAAAAmBc/NaYmOh1hNhs6eD8d1SiVoqV3KF-LooU5ACLcBGAsYHQ/s400/94143347_2978246605599978_7939502103288872960_n.jpg" width="266" /></a></div>
<br />
Botafoguense histórico como seu irmão, João Nogueira postou hoje o seguinte texto no Facebook:<br />
<br />
Ontem meu irmão, meu amigo, meu parceiro me abandonou, ainda
estou buscando forças pra me reergue POIS O GOLPE FOI MUITO GRANDE, mas o meu
conforto é saber que Deus tinha um plano pra ele e agora está melhor que eu, vá
em paz meu irmão, porque aki eu ainda estou lutando contra esse vazio que ficou
dentro mim, mas tenho certeza que um dia iremos nos encontrar novamente. TE AMO
MEU PARCEIRO.<br />
<br />
O compositor e sambista Marinho Saúba também postou no FB um
texto a respeito:<br />
<br />
Tô triste demais pelo passamento do meu querido amigo e
irmão do coração Ivanci, pessoa do bem que só transmitia alegria, tinha muito o
espírito de liderança, torcedor do Botafogo, Caprichoso e Reino Unido da
Liberdade, todos os anos promovia seus passeios de barco ao Festival de
Parintins e também as praias turísticas de Manaus, foi atleta da seleção de
vôlei estudantil do Amazonas e como amante do futebol, era o goleador da pelada
tradicional de fim de tarde de todas as sextas-feiras no Campinho da VM, era
hilário quando fazia um gol, pois sempre usava esse bordão em tom de gozação
" SÓ UM É LONA", referindo-se que somente um não era suficiente pra
marcá-lo kkkk , sempre era um dos que encabeçavam a organização dos times da
comunidade. Dr. Ivanci, como era chamado carinhosamente pelos amigos mais
chegados, grande referência da Vila Mamão. Descanse em paz meu querido amigo e
irmão do coração, que DEUS receba-o de braços abertos em seu Reino.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-QhPNku0NYw4/XqG0T362ifI/AAAAAAAAmBk/-y1KJdkbu64DaKODL8P1sCduCGDPcjM8QCLcBGAsYHQ/s1600/94078410_3931167036958642_7720061843200278528_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-QhPNku0NYw4/XqG0T362ifI/AAAAAAAAmBk/-y1KJdkbu64DaKODL8P1sCduCGDPcjM8QCLcBGAsYHQ/s400/94078410_3931167036958642_7720061843200278528_o.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>Eu, Robson Franco e Simas Pessoa, o Careca Selvagem, no Bar da Júlia, em
dezembro último. No fundo, o eterno zagueiro Lúcio Preto, que também resolveu
atravessar o espelho no início do ano</i></div>
<br />
Do falecimento do jornalista Robson Franco, tomei
conhecimento no mesmo dia via whtsapp. Ele era uma das figuras mais queridas do
FB, de onde me afastei há alguns meses, mas de vez em quando eu entrava ao vivo
na Tucupi Radio Web para conversarmos sobre abobrinhas.<br />
<br />
Ele tinha planos de, ainda esse ano, fazer uma série
televisiva chamada “De Bar em Bar”, onde eu faria o papel de âncora, contando
causos, chistes e piadas nas mesas dos principais botecos da cidade. Chegamos a
rascunhar o projeto, que foi adiado agora para as calendas gregas.<br />
<br />
O portal BNC Amazonas, em texto assinado pelo jornalista
Aguinaldo Rodrigues, assim noticiou a tragédia:<br />
<br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Jornalista Robson
Franco, o “Tucupi Radio-Web”, morre em Manaus</b><br />
<br />
O jornalista Robson Franco não resistiu no início da noite
desta segunda (20) a um problema de saúde. A causa da morte ainda não foi
divulgada.<br />
<br />
Há algumas semanas, portanto, ele vinha debilitado por uma
infecção, que acreditava ser estomacal. Com receio de se contaminar pelo
coronavírus (covid-19), evitava ir a hospitais públicos em busca de socorro.<br />
<br />
Como sua saúde ficava a cada dia mais debilitada, chegando a
perder 25 quilos de seu peso, conforme informou em post no Facebook, sua esposa
decidiu levá-lo no final da madrugada de hoje ao hospital 28 de Agosto.<br />
<br />
Contudo, o socorro não chegou a tempo.<br />
<br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Como se definia</b><br />
<br />
“Racional emotivo, aquele que defende suas ideias e ideais
com paixão! Solidário e companheiro sempre! Se tu estás bem, eu fico bem! Não
sou do contra, sou do fresca!”<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-kThcrNptd3s/XqG0jYG7jzI/AAAAAAAAmBs/wuvp6hhhGGwifxryAnPoUg9IY5JJA-OwACLcBGAsYHQ/s1600/Robson-Franco-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="796" data-original-width="524" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-kThcrNptd3s/XqG0jYG7jzI/AAAAAAAAmBs/wuvp6hhhGGwifxryAnPoUg9IY5JJA-OwACLcBGAsYHQ/s400/Robson-Franco-1.jpg" width="262" /></a></div>
<br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Carreira </b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-JGeD8TPqUv0/XqG0_2o9qHI/AAAAAAAAmB4/grsIJbkC71E31Vhm3tA-v86nIoEn78Q1gCLcBGAsYHQ/s1600/94077547_10222188464044097_2992033346931916800_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="720" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-JGeD8TPqUv0/XqG0_2o9qHI/AAAAAAAAmB4/grsIJbkC71E31Vhm3tA-v86nIoEn78Q1gCLcBGAsYHQ/s320/94077547_10222188464044097_2992033346931916800_n.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Egresso do curso de comunicação social da Ufam (Universidade
Federal do Amazonas), Robson atuou nos principais veículos de imprensa de
Manaus.<br />
<br />
Por essa razão, centenas de mensagens nas redes sociais, de
amigos e familiares, lamentaram a morte do jornalista, aos 51 anos.<br />
<br />
Antenado com a internet, foi dos primeiros jornalistas do
Amazonas a usar amplamente as redes sociais, interagindo com centenas de
pessoas de todo o mundo.<br />
<br />
Com a derrocada dos veículos impressos, Robson criou a
radioweb Tucupi, por onde conquistou boa audiência.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-7862880377482426552020-04-16T23:20:00.000-04:002020-04-16T23:34:59.286-04:00Dabacuri<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-CNGP8wZqQwA/XpkdYIFY6II/AAAAAAAAl_8/uQcCHCjPmdERIl5HOqXcoMRNYScZhr66QCLcBGAsYHQ/s1600/Capa%2BDabacuri.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="895" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-CNGP8wZqQwA/XpkdYIFY6II/AAAAAAAAl_8/uQcCHCjPmdERIl5HOqXcoMRNYScZhr66QCLcBGAsYHQ/s400/Capa%2BDabacuri.png" width="278" /></a></div>
<br />
Faz tempo que não posto nada aqui. Sacanagem minha com meus
25 leitores registrados em cartório. Mas é que perdi tantos amigos nesse começo
de ano que resolvi dar um tempo.<br />
<br />
Foi na semana passada que uma amiga querida deu o toque: “E
se em vez deles, fosse você? A gente ia se privar dos textos que você
pesquisou? Isso é sacanagem...”<br />
<br />
Pois é. Eu queria fazer uma surpresa. Lançar um puta livro
sobre a cultura popular de Manaus. Mas que surpresa é essa, por favor? Não é
melhor mostrar logo a porra do livro aqui na web, que dá pra todo mundo
acessar?<br />
<br />
Foi por causa dela que resolvi mostrar o primeiro livro, “Dabacuri”,
e o resto da tropa. São textos longos. Foda-se. Vou começar do começo. Com a
apresentação. Vamo que vamo!<br />
<br />
Vou começar com um quadro do meu querido e saudoso Roland Stevenson, pintor chileno, meu camarada. Ele era um gênio.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-wZvEWE14_X8/XpkeLsh7WHI/AAAAAAAAmAE/QgkCm8A0HJYpEzX59Nnv10i785IV2WQagCLcBGAsYHQ/s1600/ROLAND-STEVENSON.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="486" data-original-width="800" height="242" src="https://1.bp.blogspot.com/-wZvEWE14_X8/XpkeLsh7WHI/AAAAAAAAmAE/QgkCm8A0HJYpEzX59Nnv10i785IV2WQagCLcBGAsYHQ/s400/ROLAND-STEVENSON.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
A imagem que ele fazia das Amazonas era exuberante. Visitei
algumas vezes seu studio ali na Av. Constantino Nery. Conversávamos muito,
ríamos muito, discutíamos muito. Uma das pessoas queridas que se foi, como se
vão as coisas boas que a gente ama.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-mzA4o8mYTU8/XpkgF_82j_I/AAAAAAAAmAQ/aR2G-8RhwmQX2eq5kPZkFv6qbmsijUVUwCLcBGAsYHQ/s1600/Rstenven36.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="277" data-original-width="340" height="325" src="https://1.bp.blogspot.com/-mzA4o8mYTU8/XpkgF_82j_I/AAAAAAAAmAQ/aR2G-8RhwmQX2eq5kPZkFv6qbmsijUVUwCLcBGAsYHQ/s400/Rstenven36.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Num lugar que não se sabe bem ao certo onde, talvez nas
planícies frias da margem esquerda do rio Danúbio, na Bulgária, numa época que
fica entre a mitologia e a história, viveram as mulheres chamadas Amazonas.
Eram frias, belas e bárbaras. Não toleravam os homens, a não ser quando os
capturavam para se reproduzirem. Amazonas vem de “amazon”, em grego: “as que
não têm seio”. Porque, de tão apaixonadas pela guerra, dizem, arrancavam um dos
seios para melhor manejar o arco e a lança.<br />
<br />
A Grécia mitológica é povoada de histórias dessas mulheres
extremadas, descendentes do deus da guerra Ares (Marte, entre os latinos) e da
ninfa Harmonia. O incrível herói Hércules esteve nesse reino encantado com a missão
de se apoderar do cinto de Hipólita, a rainha. Quase teve êxito. Hipólita
apaixonou-se por ele e lhe daria de boa vontade o cinto, não fosse suas
guerreiras terem iniciado uma rebelião, fomentada, aliás, pela deusa Hera, uma
ciumenta amiga de Hércules. O prodigioso Hércules mata Hipólita para conseguir
o cinto e retira-se de Temiscira, capital do reino das guerreiras, combatendo
furiosamente. Pelo menos assim é a lenda.<br />
<br />
Em 1539, as Américas estavam ainda mal descobertas. E o mito
das Amazonas não era muito mais fantástico que as terras para onde se dirigiam
aventureiros como Dom Francisco de Orellana, que vinha à misteriosa América,
como disse um de seus poetas, realizar “un sueño heroico y brutal”. Orellana
era um dos comandantes de Francisco Pizarro, o sombrio e inclemente
conquistador do Peru. Este ouvira falar do Eldorado, um país fantástico de
cidades de ouro, além dos Andes. E para lá, numa tropa com 4 mil índios
escravos, 300 soldados, 150 cavalos, cães e porcos, despachou, no Natal de
1539, alguns de seus homens – entre os quais Orellana – sob o comando de seu
irmão Gonzalo.<br />
<br />
A viagem deste segundo Pizarro foi um roteiro de misérias. A
escalada dos Andes custou à expedição mais que o pior dos combates. Tiveram de
comer frutos desconhecidos e raízes, solas de sapatos e arreios. Já na encosta
leste dos Andes, Gonzalo Pizarro faz uma parada estratégica e manda cinquenta
homens em busca de alimentos. No comando envia Orellana, do qual esperaria
socorro, em vão: o cavalheiro foge para a imortalidade. Vai descobrir o rio das
Amazonas.<br />
<br />
Do rio Coca, onde estava Gonzalo Pizarro, Francisco Orellana
chegou ao rio Napo. Após uma jornada de 600 quilômetros pelo rio Napo, sob a
ameaça constante dos índios omáguas, ele atingiu um caudal barrento que chamou
de rio Orellana. E o seguiu, abandonando Gonzalo à sua própria sorte. O rio
barrento era o Solimões, cujo nome é uma referência aos nomes dos povos que
originalmente habitavam suas margens, os índios Sorimões (ou ainda Joriman ou
Sorimão), termo derivado da palavra latina <i style="mso-bidi-font-style: normal;">solimum</i>,
referência ao veneno utilizado nas pontas de flechas e dardos destes povos.<br />
<br />
Os navegantes seguiram pelo rio Solimões por mais 1.200
quilômetros até a sua confluência com o rio Negro, que alcançaram no dia 3 de
junho de 1542. O rio nascido daquele “encontro das águas” foi designado pelos
membros da expedição como Grande Río, Mar Dulce e Río de la Canela. Orellana
alegou ter encontrado em suas margens grandes caneleiras, árvores das quais se
obtem a canela, uma das especiarias mais importantes e desejadas na Europa da
época. A árvore, no entanto, não é nativa da América do Sul e só podia ser
encontrada, à época, no Oriente. Outras plantas semelhantes, no entanto, como o
loureiro e o pau-rosa, são nativas da região, e Orellana poderia estar se
referindo a elas. Depois de muito viajar, numa segunda-feira, conta frei Gaspar
Carvajal, cronista da viagem, Orellana e seus homens chegaram a um povoado
indígena, em cuja praça se erguia um palanque representando uma cidade murada.
Perguntando aos índios, “por cual memoria tenían aquello”, responderam que os
habitantes da aldeia eram servidores das “icamiabas” (na língua dos índios,
“mulheres sem marido”). <br />
<br />
Diz frei Carvajal que um índio prisioneiro informou serem
elas todas solteiras. Moravam sete dias rio Nhamundá acima, em setenta
povoados, com muralhas que se comunicavam por estradas bem guardadas. Diz
Carvajal: “El Capitán (Orellana), le preguntó sí estas mujeres parían; el indio
dijo que si. El capitán le dijo que, como, no siendo casadas, ni reside hombre
entre ellas, se empreñaban. Él dijo que estas indias participan com indios em
tiempos, y quando les viene aquela gana (...) por fuerza los traen a sus
tierras y los tienem consigo aquele tiempo que se les antoja, y después que las
hayan preñadas les tornam a enviar a sua tierra (...); y después, cuando vienne
el tiempo que han de parir, que si paren hijo le matan y le envian a sus
padres, y si hija la crían com muy gran solemnidade”. <br />
<br />
Descendo mais, na foz do rio Nhamundá, Orellana teria
travado feroz encontro com essas guerreiras. Não tinha jeito ruim a batalha
naquele dia 24 de junho, dia de São João. Dos bergantins, os homens de
Francisco Orellana estavam esvaziando de inimigos, com rajadas de arcabuz e de
balestra, as brancas canoas vindas da costa. Mas aí, a bruxa deu as caras.
Apareceram as mulheres guerreiras, tão belas e ferozes que eram um escândalo, e
então as canoas cobriram o rio e os navios saíram correndo, rio abaixo, como
porco-espinhos assustados, eriçados de flechas de proa a popa e até no
mastro-mor.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-bgSKZu2R4GE/Xpkg4ksGicI/AAAAAAAAmAY/VcHkMR3fJ7MtOomL8OQy3vD96-cXXs6gQCLcBGAsYHQ/s1600/roland2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="770" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-bgSKZu2R4GE/Xpkg4ksGicI/AAAAAAAAmAY/VcHkMR3fJ7MtOomL8OQy3vD96-cXXs6gQCLcBGAsYHQ/s400/roland2.jpg" width="385" /></a></div>
<br />
As capitãs lutaram rindo. Se puseram à frente dos homens,
fêmeas garbosas, e já não houve medo na aldeia de Conlapayara. Lutaram rindo e
dançando e cantando, as tetas vibrantes no ar, até que os espanhóis se perderam
para lá da boca do rio Tapajós, exaustos de tanto esforço e assombro. Tinham
ouvido falar destas mulheres, e agora acreditam. Elas vivem ao sul, em
senhorios sem homens, onde afogam os filhos que nascem varões. Quando o corpo
pede, dão guerra às tribos da costa e conseguem prisioneiros. Os devolvem na
manhã seguinte. Ao cabo de uma noite de amor, o que chegou rapaz regressa
velho.<br />
<br />
Orellana e seus soldados continuarão percorrendo o rio mais
caudaloso do mundo e sairão ao mar sem piloto, nem bússola, nem carta de
navegação. Viajam nos bergantins que eles construíram ou inventaram a golpes de
machado, em plena selva, fazendo pregos e bisagras com as ferraduras dos
cavalos mortos e soprando o carvão com botinas convertidas em foles. Deixam-se
ir sem rumo pelo rio das Amazonas, costeando a selva, sem energias para o remo,
e vão murmurando orações: rogam a Deus que sejam machos, por mais machos que
possam ser, os próximos inimigos.<br />
<br />
A história ou o mito maravilhoso das icamiabas dominou o
resto da viagem. Orellana rebatizou o grande rio: de rio das Canelas passou a
chama-lo de rio das Amazonas. O espanhol voltou à América, em 1550, como
governador-geral do território por ele descoberto. Mas morreu de malária, com
44 anos, na costa da atual Guiana Francesa, depois de dois meses no labirinto
de ilhas do arquipélago de Marajó, procurando, em vão, a entrada do rio das
Amazonas. <br />
<br />
Realidade ou ficção, a lenda das amazonas/icamiabas se
enraizou de tal forma no imaginário da população nativa que passou a fazer
parte do folclore da região. Foi por causa desse folclore que a Província de
São José do Rio Negro se transformou em Amazonas, após se desmembrar da
Província do Grão-Pará, em 1850, e posteriormente toda a região que abrange a
maior floresta tropical do planeta passou a se chamar Amazônia.<br />
<br />
Mas afinal de contas o que é folclore? Segundo a Carta do
Folclore Brasileiro, aprovada pelo I Congresso Brasileiro de Folclore, em 1951,
“constituem fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo,
preservadas pela tradição popular, ou pela imitação, e que não sejam
diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam
ou à renovação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma
orientação religiosa e filosófica”. <br />
<br />
Na verdade, todos os povos possuem suas tradições, crendices
e superstições, que são transmitidas através de lendas, contos, narrativas,
provérbios e canções. Esses veículos de expressão popular são transmitidos de
uma geração a outra e passam a pertencer a um determinado povo de tal modo que
desconhecemos os seus autores. <br />
<br />
As lendas são estórias contadas por pessoas e transmitidas
oralmente através dos tempos. Misturam fatos reais e históricos com
acontecimentos que são frutos da mais fantástica fantasia. As lendas geralmente
fornecem explicações plausíveis e até certo ponto aceitáveis para coisas que
não têm explicações científicas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou
sobrenaturais. Muitas dessas lendas são derivações de narrativas mitológicas
dos povos europeus – e aqui podemos citar o caso da Yara ou Mãe d’Água, uma
sereia da Amazônia que parece ter sido inspirada nas sereias da mitologia grega
narradas por Homero, na “Odisseia”. Como diz o dito popular que “quem conta um
conto aumenta um ponto”, as lendas, pelo fato de serem repassadas oralmente de
geração a geração, sofrem alterações à medida que vão sendo recontadas.<br />
<br />
Os mitos são narrativas mais bem elaboradas que possuem um
forte componente simbólico. Como os povos da antiguidade não conseguiam
explicar os fenômenos da natureza através de explicações científicas, criavam
mitos com este objetivo: dar sentido às coisas do mundo. Os mitos também
serviam como uma forma de transmitir conhecimentos e alertar as pessoas sobre
perigos e ameaças, desvios de conduta, ambição, orgulho, inveja e outros
defeitos ou qualidades inerentes ao ser humano. Deuses, heróis e personagens
sobrenaturais se misturam com fatos da realidade para dar sentido à vida e ao
mundo. Ao contrário da explicação filosófica, que se utiliza da argumentação
lógica para explicar a realidade, o mito explica a realidade através de suas
histórias sagradas, que não possuem nenhum tipo de embasamento científico para
serem aceitas como verdadeiras. Todas as culturas possuem seus mitos. Alguns
assuntos, como a criação do mundo, deram origem a vários mitos diferentes.<br />
<br />
A origem das superstições está na visão mágica, sobrenatural
e irracional que se tem do mundo. Segundo Luís da Câmara Cascudo, as crendices
populares “participam da própria essência intelectual humana e não há momento
na história do mundo sem a sua inevitável presença”. Algumas dessas
superstições são sobejamente conhecidas: passar embaixo de escada dá azar.
Coceira na palma da mão é sinal de que há dinheiro chegando. A visita chata vai
embora se uma vassoura for colocada atrás da porta. Quebrar um espelho dá sete
anos de azar. Se a sua orelha estiver quente ou vermelha, alguém está falando
mal de você. Não se deve deixar o chinelo virado de ponta-cabeça porque isso
traz mau agouro. Pé de coelho, trevo de quatro folhas e ferradura dão sorte.
Bater na madeira três vezes espanta o azar. Faça um pedido para uma estrela
cadente e ele vai se realizar.<br />
<br />
O folclore também se associa frequentemente às tradições
religiosas, acrescentando elementos novos aos rituais tradicionais. Grandes
festas populares como o carnaval no Brasil, o mardi gras nos EUA e o dia de São
Patrício na Irlanda, são alguns exemplos disso. O sincretismo religioso, isto
é, as misturas de rituais e crenças religiosas de várias tradições, quase
sempre se faz presente na base constitutiva da cultura popular. A prática de se
“benzer” um doente, de se “fechar o corpo” contra males por meio de feitiços,
de se “rezar” com folhas de arruda ou de pião roxo para tirar o “quebranto” de
uma criança e outras variações semelhantes, são resultado deste sincretismo.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-MDvcDdSzgjM/XpkhPq2XB1I/AAAAAAAAmAg/z_dxu3kjSBkworVMlL_HwA0EXGmL1ayrACLcBGAsYHQ/s1600/saciperere-0-cke.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="354" data-original-width="630" height="223" src="https://1.bp.blogspot.com/-MDvcDdSzgjM/XpkhPq2XB1I/AAAAAAAAmAg/z_dxu3kjSBkworVMlL_HwA0EXGmL1ayrACLcBGAsYHQ/s400/saciperere-0-cke.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Em linhas gerais, as tradições populares são conservadas
através do folclore. Por meio de um folguedo, como o do “boi-bumbá”, toda uma
herança imaterial – isto é, um estoque de valores e sabedoria tradicionais – é
passado de geração em geração. Entre as lendas e mitos mais conhecidos do
Brasil podemos citar os seguintes:<br />
<br />
Boitatá – Representada por uma cobra de fogo que protege as
matas e os animais e tem a capacidade de perseguir e matar aqueles que
desrespeitam a natureza. Acredita-se que este mito é de origem indígena e que
seja um dos primeiros do folclore brasileiro. Foram encontrados relatos do
boitatá em cartas do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região
nordeste, o boitatá é conhecido como “fogo que corre”.<br />
<br />
Boto – Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na
região amazônica. Ele é representado por um homem jovem, bonito e charmoso que
encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, leva as jovens para a
beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas
águas do rio para transformar-se em um boto novamente. Por este motivo, a
população ribeirinha costuma afirmar que o boto é o pai de todos os filhos de
origem desconhecida.<br />
<br />
Boiaçu – Cobra grande, também conhecida como “boiuçu”. No
lendário amazônico há uma enorme variedade de estórias onde a cobra grande é a
figura central, que vira canoas, interdita rios e ilumina as águas escuras com
seus olhos de fogo. Uma das mais conhecidas é a dos irmãos gêmeos Honorato e Maria
Caninana, nascidos na região do rio Trombetas, no Pará. O poema “Cobra Norato”,
do poeta modernista Raul Bopp, ajudou a popularizar a lenda.<br />
<br />
Curupira – Personagem travesso do folclore brasileiro, o
Curupira é a representação de um menino com cabelos vermelhos, dentes verdes e
pés virados para trás. A origem do nome é do tupi-guarani que significa “corpo
de menino”. Considerado o protetor da fauna e da flora, o Curupira assobia e
deixa pegadas com seus pés virados com o objetivo principal de enganar os
exploradores e destruidores da natureza. Quando alguém desaparece nas matas,
muitos habitantes do interior acreditam que é obra do Curupira.<br />
<br />
Lobisomem – De origem europeia, a lenda do Lobisomem retrata
um monstro violento com formas humanas e de lobo, que se alimenta de sangue.
Acredita-se que quando uma mulher tem sete filhas e o oitavo filho é homem,
esse último provavelmente será um Lobisomem. Outra versão sustenta que um homem
foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu
a capacidade de transformar-se em lobo e atacar todo mundo que encontra pela
frente. Noutras regiões, a lenda apresenta outras características, visto que o
Lobisomem sempre se manifesta em crianças não batizadas. A transformação ocorre
nas encruzilhadas em noites de lua cheia por volta da meia noite. Entretanto,
ao amanhecer, ele torna-se novamente humano. Somente um tiro de bala de prata
em seu coração seria capaz de matá-lo. Uma das variantes desta lenda na região
Norte dá conta de que homens e mulheres se transformam em porcos nas noites de
sexta-feira.<br />
<br />
Mãe-D'água – Conhecida como “Yara” ou “Uiara”, a lenda da
Mãe-D’água é de origem tupi e o nome significa “Senhora das Águas”. Esta
personagem representa uma sereia belíssima que atrai os pescadores com suas
doces canções a fim de matá-los. Antes de ser uma sereia, Yara era uma índia
extremamente bela e inteligente que despertava muita inveja na tribo, inclusive
de seus irmãos. Assim, com o intuito de acabarem com o problema, os irmãos
resolveram matá-la, mas no final foi ela que acabau os matando. Como punição,
os outros índios da tribo acorrentaram e lançaram Yara no encontro das águas
dos rios Negro e Solimões. A partir daí ela se transformou em uma sereia com
objetivo de encantar todos os homens que encontrar e leva-los para o seu reino
no fundo do rio. Encontramos na mitologia universal um personagem muito
parecido com a Mãe-D’água: a sereia. Este personagem tem o corpo metade de
mulher e metade de peixe. Com seu canto atraente, ela também consegue encantar
os homens e levá-los para o fundo das águas.<br />
<br />
Corpo-seco – É uma espécie de assombração que fica
assustando as pessoas nas estradas. Em vida, era um homem que foi muito malvado
e só pensava em fazer coisas ruins, chegando a prejudicar e maltratar a própria
mãe. Após sua morte, foi rejeitado pela terra e teve que viver como uma alma
penada.<br />
<br />
Pisadeira – É uma velha de chinelos que aparece nas
madrugadas para pisar na barriga das pessoas, provocando a falta de ar. Dizem
que costuma aparecer quando as pessoas vão dormir de estômago muito cheio.<br />
<br />
Cuca – De origem portuguesa, a lenda da Cuca está associada
muitas vezes com o “bicho papão”, ou seja, ela é uma personagem muito temida
pelas crianças, pois reza a lenda que se trata de uma velha feia e malvada, com
cara de jacaré que raramente dorme. Sua personagem está associada ao rapto de
crianças desobedientes e que apresentam resistência para dormir. Por isso, a
tradicional cantiga de ninar crianças expõe o seguinte trecho: “Nana neném que
a Cuca vem pegar”.<br />
<br />
Mula-sem-cabeça – Segundo a lenda, a mula sem cabeça é um
monstro do folclore brasileiro que se manifesta quando uma mulher namora um
padre e, por maldição, é transformada em mula. Bastante conhecida em todo o
Brasil, esta personagem folclórica é representada, literalmente, por uma mula
sem cabeça, que solta fogo pelo pescoço e tem como finalidade assustar pessoas
e animais.<br />
<br />
Mãe-de-ouro – Representada por uma bola de fogo que indica
os locais onde se encontra jazidas de ouro. Também aparece em alguns mitos como
sendo uma mulher luminosa que voa pelos ares. Em alguns locais do Brasil, toma
a forma de uma mulher bonita que habita cavernas e, após atrair homens casados,
os faz largar suas famílias.<br />
<br />
Saci-Pererê – Nome de origem tupi-guarani, o Saci-pererê é
uma das lendas brasileiras mais conhecidas. É representada por um menino negro
que possui uma perna só, fuma cachimbo e usa um gorro vermelho, que lhe dá
poderes mágicos. Muito brincalhão, o Saci se manifesta tal qual um redemoinho,
vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espantar
cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas. Embora o Saci-pererê
seja o mais conhecido, existem três tipos de saci: o Pererê, o Trique e o
Saçurá.<br />
<br />
Comadre Florzinha – É uma fada pequena que vive nas
florestas do Brasil. Vaidosa e maliciosa possui cabelos compridos e enfeitados
com flores coloridas. Vive para proteger a fauna e a flora. Junto com suas
irmãs costumam aplicar sustos e fazer travessuras com os caçadores e pessoas
que tentam desmatar a floresta<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-GzEp1iukWSU/XpkjLrgNplI/AAAAAAAAmAs/ntEHyj3AANQVYtID-qKbIkCzeCQimNmRQCLcBGAsYHQ/s1600/milho12345.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1338" data-original-width="1533" height="348" src="https://1.bp.blogspot.com/-GzEp1iukWSU/XpkjLrgNplI/AAAAAAAAmAs/ntEHyj3AANQVYtID-qKbIkCzeCQimNmRQCLcBGAsYHQ/s400/milho12345.png" width="400" /></a></div>
<br />
Negrinho do Pastoreio – De origem afro-cristã e pertencente
ao folclore do sul do País, o Negrinho do Pastoreio representa a história de um
menino escravo que foi muito castigado pelo seu patrão. Um dia, quando foi
pastorear os cavalos, acabou por perder um cavalo baio. Depois de ter sido
martirizado violentamente pelo fazendeiro e jogado semimorto num formigueiro, o
Negrinho do Pastoreio reapareceu sem marcas nenhuma pelo corpo, ao lado da
Virgem Maria e montado no cavalo baio. Curioso notar que muitas vezes, as
pessoas que perderam algum objeto, acendem uma vela e pedem para o Negrinho
ajudá-los a recuperá-lo.<br />
<br />
Além dos mitos e lendas, o folclore brasileiro apresenta uma
grande diversidade cultural. Podemos também considerar como legítimas representações
do nosso folclore os ritmos e danças folclóricas (quadrilhas, cirandas,
carimbó, capoeira, frevo), comidas regionais típicas (canjica, tacacá, caruru,
maniçoba, vatapá), músicas regionais (embolada, siriá, baião, xote, forró),
encenações (marujada, bumba-meu-boi, congada, maracatu, cavalhada),
representações artísticas (artesanato, confecção de rendas e cestas de palha,
pinturas näif), brincadeiras e jogos infantis (trinta-e-um-alerta,
boca-de-forno, macaca, barra-bandeira, garrafão), ditos populares (“isso é do
tempo do Onça”, “aquilo é um caraxué!”), literatura de cordel, crendices e
festas populares (carnaval, festa junina, Festa do Divino, Círio de Nazaré e
Folia de Reis).<br />
<br />
A palavra folclore foi utilizada pela primeira vez num
artigo do arqueólogo William John Thoms, publicado no jornal londrino “O
Ateneu”, em 22 de agosto de 1846 (por isso 22 de agosto é o dia do folclore).
Ela é formada pelos termos de origem saxônica: “folk” que significa “povo” e
“lore” que significa “saber”. Portanto o “folklore” é o saber do povo ou a
sabedoria popular. No Brasil, a palavra adaptada tornou-se “folclore”.<br />
<br />
Como todo mundo já sabe, o nosso folclore foi resultado da
miscigenação de três povos (indígena, português e africano) e da influência dos
imigrantes de várias partes do mundo. Por isso, nosso país tem uma tradição
folclórica variada, rica e muito peculiar. Em cada região brasileira, o
folclore apresenta semelhanças e diferenças.<br />
<br />
Um grande estudioso do folclore nacional foi o já citado
Luís da Câmara Cascudo, nascido em Natal, no Rio Grande do Norte em 1898 e
autor de mais de 150 livros. Ainda hoje, a obra de Câmara Cascudo é uma
referência imprescindível para se tratar do folclore, até porque diversas
expressões folclóricas brasileiras por ele documentadas já desapareceram e não
podem mais ser observadas. O folclore, em especial a partir do século 20,
serviu de base para a produção da arte culta brasileira. Os exemplos estão
presentes em todas as artes. O pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi fez das
bandeiras das festas juninas um elemento frequente de seus quadros e gravuras.
O compositor fluminense Heitor Villa-Lobos aproveitou-se de temas do folclore
em sua obra musical.<br />
<br />
Na literatura, há no mínimo três autores de importância
indiscutível que se utilizaram de elementos da cultura popular. O paulista
Mário de Andrade, grande estudioso do folclore, escreveu sua obra-prima,
“Macunaíma”, reunindo com olhar irônico e crítico inúmeras narrativas do
folclore brasileiro. O mineiro João Guimarães Rosa, autor de “Grande Sertão:
Veredas” – um clássico da literatura nacional – tematiza a vida do sertanejo e
trabalha tanto elementos característicos de narrativas folclóricas, quanto a
própria forma sertaneja de uso da língua portuguesa. Da mesma maneira, o
paraibano Ariano Suassuna compôs uma ampla obra teatral baseada na tradição
folclórica nordestina. Como exemplo, podem-se citar “O Auto da Compadecida” ou
“A Pena e a Lei”, sem falar no monumental “Romance da Pedra do Reino”.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-hbA7Us-ZUDI/XpkjrEjvl6I/AAAAAAAAmA0/q1dQk37G5-g1eJPlG9ai_XBWGlp0Szv1wCLcBGAsYHQ/s1600/Chacretes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="504" data-original-width="940" height="213" src="https://1.bp.blogspot.com/-hbA7Us-ZUDI/XpkjrEjvl6I/AAAAAAAAmA0/q1dQk37G5-g1eJPlG9ai_XBWGlp0Szv1wCLcBGAsYHQ/s400/Chacretes.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Convém lembrar que o folclore brasileiro – ligado ao
universo rural, pois a industrialização do país é recente, em termos históricos
– chegou a influenciar nossos meios de comunicação de massa. O ator e diretor
Amácio Mazzaropi levou o caipira do interior paulista para as telas do cinema.
O animador de programas de auditório Abelardo Chacrinha Barbosa fez enorme
sucesso na TV utilizando-se elementos de festas populares do Nordeste, como as
disputas entre cordões (o encarnado e o azul), que eram mediados por um velho,
a quem Chacrinha personificava (<span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: black; display: inline !important; float: none; font-family: Times New Roman; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">“</span>O Velho Guerreiro<span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: black; display: inline !important; float: none; font-family: Times New Roman; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">”</span>). Nos meios de comunicação de massa, como o
cinema, a estética dos circos mambembes que percorriam o interior do país
também pode ser encontrada em produções cinematográficas inusitadas como os
filmes de terror de José Mojica Marins, conhecido como Zé do Caixão.<br />
<br />
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura) considera o folclore sinônimo de cultura popular na medida
em que “representa a identidade social de uma comunidade por meio de suas
criações culturais, coletivas ou individuais, sendo uma parte significativa da
vida cultural de cada nação”. Sustenta também que o folclore não é um
conhecimento “cristalizado”, embora tenha raízes nas tradições, que podem ser
muito antigas, mas que se transforma a partir do contato entre as culturas
distintas, oriundas das migrações, e através dos meios de comunicação, nos
quais se inclui ultimamente a internet. Parte do trabalho da Unesco é orientar
as comunidades para bem administrarem sua herança folclórica, observando que o
progresso e as transformações provocam mudanças que tanto podem enriquecer uma
cultura como destroçá-la definitivamente. <br />
<br />
Foi para resgatar nosso folclore nativo que tive a iniciativa
de organizar este livro, sob a orientação do saudoso artista plástico,
antropólogo e escritor Moacir Andrade, presidente da Sociedade para a Defesa da
História e das Tradições Populares do Amazonas, falecido em julho de 2016, e
contando com a imprescindível colaboração dos livreiros Antônio Diniz e Simas
Pessoa. Não é um trabalho acadêmico sobre o folclore. É um livro de recordações
que tem como mote o folclore amazonense praticado em Manaus. Dito de outra
forma, esta simplória antologia é apenas uma contribuição menor sobre o assunto
e visa sobretudo resgatar tanto os nomes dos pioneiros na criação de grupos
folclóricos em nossa cidade quanto os daqueles dirigentes abnegados que na
atualidade continuam pegando o pião na unha para colocar seu grupo folclórico
na rua. Espero sinceramente que esse pequeno objetivo tenha sido alcançado.<br />
<br />
Mas por que este livro sobre o folclore manauara se chama
dabacuri? Bem, o dabacuri é uma cerimônia ritualística milenar dos povos
indígenas do Alto Rio Negro que envolve a troca de conhecimentos entre as
tribos dessa localidade sobre culinária, danças, frutos, peixes, artefatos,
casas ancestrais, alianças matrimoniais, ritos de passagens, criação da
humanidade, dos passáros, dos animais, dos seres míticos, dos astros, das
estrelas, dos rios e das matas, numa tentativa de preservar essas informações
para as futuras gerações. Acredito que transformar a literatura oral de nossos
folcloristas manauaras em uma pequena obra literária acessível a um número
maior de pessoas está dentro desse espírito comunitário e preservacionista que
sempre moveu os povos da floresta. Por essa ótica, dabacuri e literatura oral
são os dois lados da mesma moeda.<br />
<br />
Simão Pessoa<br />
<b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-60271755858058676282020-04-02T09:09:00.001-04:002020-04-16T23:20:22.453-04:00Amigos, amigos… Caramba!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-qqw_-i1NKhc/XoXj3jotw4I/AAAAAAAAl_s/KyX-zVEF3vsWiKEKKdcwRp-x1EXrdu4yQCLcBGAsYHQ/s1600/mouzar-foto-e1585679462903.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://1.bp.blogspot.com/-qqw_-i1NKhc/XoXj3jotw4I/AAAAAAAAl_s/KyX-zVEF3vsWiKEKKdcwRp-x1EXrdu4yQCLcBGAsYHQ/s400/mouzar-foto-e1585679462903.jpg" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Américo Rodrigues,
conhecido como Zé Américo - Foto: Arquivo pessoal</i></div>
<br />
Por Mouzar Benedito <br />
<br />
Uma vez o cartunista Fortuna foi visitar o Barão de Itararé
e o apartamento dele estava cheio de baratas. Fortuna ameaçou pisar numa delas
e o Barão não deixou: “Elas são minhas amigas”. E contou por quê.<br />
<br />
Segundo ele, que foi preso em consequência da “Intentona
Comunista”, na cadeia os presos tentavam se comunicar com outros de outras
celas. Tentaram treinar uns ratos para levar mensagens em papel amarrado neles.
Na hora H, “eles se comportavam como ratos mesmo”, contou o Barão. Em vez de
levar as mensagens para o lugar para o qual tinham sido treinados, iam em
direção à polícia, aos carcereiros. Aí experimentaram com baratas. Deu certo.
Amarravam nelas papeizinhos com letrinhas minúsculas e elas levavam essas
mensagens fielmente. Não sei como treinaram as baratas, mas o Barão garantia
que era verdade.<br />
<br />
Gosto de animais (nunca prendi nenhum, nem domestiquei), mas
não de baratas, e minhas grandes amizades – tenho muitas – são humanas. Mas
elas vão diminuindo.<br />
<br />
Nos últimos tempos muitos amigos estão indo desta para uma
melhor. Antes acontecia também, mas agora é com mais frequência. Tenho me
lembrado da música “Canção da América”, interpretada por Milton Nascimento,
especialmente do trecho que diz:“Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete
chaves”. Uma época ouvi tanto essa música em enterros que pensei em mudar a
letra com uma ironia triste: “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete
palmos”.<br />
<br />
Ela não é mais cantada em enterros, pelo menos não ouvi.<br />
<br />
Aliás, no final de março, perdi mais um amigo e para ele não
houve “Canção da América”, nem mesmo despedida de amigos, por causa do
confinamento em que estávamos. A morte não foi provocada pelo maldito
coronavírus, foi ataque cardíaco. Acho que o clima de obscurantismo que abunda
no Brasil atual deve ter influenciado.<br />
<br />
Américo Rodrigues, conhecido como Zé Américo, foi meu colega
de faculdade na USP nos anos brabos. Inteligente, criativo, ecologista quando
esta palavra era praticamente desconhecida, foi ser professor de Geografia em
São Luiz do Paraitinga. No começo da recriação do carnaval na cidade, fundamos
(ideia dele) o bloco “Peida N’Água”, crítico e divertido. De lá para cá, muitos
luizenses me disseram, com orgulho, se sentirem bem informados e críticos: “Fui
aluno do professor Américo”. <br />
<br />
Foi enterrado em Tremembé, sem a presença de quase ninguém.
Só a mulher, Rose, e, acho, alguns poucos parentes. <br />
<br />
Bem… Em vez de continuar falando dos meus amigos, o que
ficaria parecendo puxação de saco, resolvi selecionar frases sobre amigos e
amizade. São tantas (a maioria um tanto melosa) que não daria pra publicar nem
um décimo. E não sei se escolhi as “melhores”. Procurei incluir algumas que vão
contra o que penso. Aí vão elas:<br />
<br />
Marguerite Yourcenar: “A amizade é, acima de tudo, certeza –
é isso que a distingue do amor”.<br />
<br />
***<br />
Carmem Sylva: “O amor pede, a amizade dá”.<br />
<br />
***<br />
Blaise Pascal: “O amor é cego, a amizade fecha os olhos”.<br />
<br />
***<br />
Sophie Arnould: “A amizade é irmã do amor, mas não na mesma
cama”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Quem teima em dizer verdades, perde
amizades”.<br />
<br />
***<br />
Albert Camus: “Não ande na minha frente, eu posso não te
seguir. Não ande atrás de mim, eu não posso liderar. Apenas ande ao meu lado e
seja meu amigo”.<br />
<br />
***<br />
Ditado típico dos capitalistas: “Amigos, amigos. Negócios, à
parte”.<br />
<br />
***<br />
Atribuída a Getúlio Vargas, mas poderia ser do Bolsonaro e
sua turma: “Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a lei”.<br />
<br />
***<br />
Epicuro: “Não é tanto a ajuda de nossos amigos que nos
ajuda, como a confiança de sua ajuda”.<br />
<br />
***<br />
Leoni Kaseff: “A amizade é como a saúde: só depois de a
perder se aquilata o seu valor”.<br />
<br />
***<br />
O cachorrinho (personagem criado pelo Ohi e por mim, no
jornal “Brasil Agora”, falando sobre Boris Ieltsin, presidente russo que escancarou
o país aos capitalistas e tinha fama de manguaceiro): “Os inimigos me chamam de
bêbado, os amigos me chamam para tomar mais uma”.<br />
<br />
***<br />
Malba Tahan: “A boa amizade é para o homem o que a água pura
e límpida é para o beduíno sedento”.<br />
<br />
***<br />
Eu: “Quando um não quer, dois não são amigos”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Quem de todos é amigo, ou muito pobre ou
muito rico”.<br />
<br />
***<br />
Marlene Dietrich: “São os amigos que você pode ligar às 4h
da manhã que importam”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Quem é amigo de todos, não o é de ninguém”.<br />
<br />
***<br />
Francisco de Almeida: “As amizades fundadas em interesses
(se as dessa qualidade podem ter esse nome) não duram mais que enquanto dura a
ocasião e a esperança do proveito”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “A amizade finda onde a desconfiança
começa”.<br />
<br />
***<br />
Francisco de Bastos Cordeiro: “Para as moléstias do corpo há
vários remédios; para as da alma só há um: o amigo”.<br />
<br />
***<br />
D. Xiquote (pseudônimo do escritor Bastos Tigre): “O
verdadeiro amigo não esquece o favor que lhe prestamos; recorda-o para
solicitar outros”.<br />
<br />
***<br />
D. Xiquote, de novo: “Amigos do peito… sim, eles existem e é
fácil encontrá-los entre as criancinhas de mama”.<br />
<br />
***<br />
Capistrano de Abreu: “Sei que um respingo de lama não quebra
osso; mas que prazer pode causar-me ver, por perfídia alheia, emporcalhado o
rosto de um amigo?”.<br />
<br />
***<br />
Capistrano de Abreu, de novo: “Uma amizade que se perde é
como um vício que se larga; ganha-se com a perda”.<br />
<br />
***<br />
Capistrano de Abreu, mais uma vez: “Os jesuítas tinham
razão: nada de amigos íntimos”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Quem deixa de ser amigo, não o foi nunca”.<br />
<br />
***<br />
Kim Hubbard: “Amigo é aquele que sabe tudo a seu respeito e,
mesmo assim, ainda gosta de você”.<br />
<br />
***<br />
Provérbio alemão: “Todo amigo é o sol do outro; ele puxa,
ele segue”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Amigo de genro, sol de inverno”.<br />
<br />
***<br />
Leonardo da Vinci: “Repreende o amigo em segredo e elogia-o
em público”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Defeitos de meu amigo, lamento, mas não
maldigo”.<br />
<br />
***<br />
Júlio Diniz: “Há corações como a hera, que, onde quer que se
encosta, prende-se com raízes”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Busca a amizade do teu igual, se és honrado
e leal”.<br />
<br />
***<br />
Rui Barbosa: “Amigos e inimigos estão, amiúde, em posições
trocadas. Uns nos querem mal, fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos
trazem o mal”.<br />
<br />
***<br />
Cora Coralina: “O amigo não passa a mão / Quando fizemos
algo errado. / Está firme do nosso lado / Puxa a orelha, chama a razão”.<br />
<br />
***<br />
Camilo Castelo Branco: “Em coisas insignificantes é que um
verdadeiro amigo se avalia”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Amigos reconciliados, inimigos
disfarçados”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Amigo remendado, café requentado”.<br />
<br />
***<br />
Immanuel Kant: “A amizade é semelhante a um bom café; uma
vez frio, não se aquece sem perder bastante do primeiro sabor”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Amigo, vinho e café, o mais antigo melhor
é”.<br />
<br />
***<br />
Leoni Kaseff: “Os parentes são amigos pelo corpo; os amigos
são parentes pela alma”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Amigo velho é parente”.<br />
<br />
***<br />
George Ade: “Com o tempo, qualquer amigo muito próximo e
querido acaba se tornando tão inútil quanto um parente”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Mais vale amigo próximo do que parente
afastado”.<br />
<br />
***<br />
Donna Roberts: “Um amigo conhece a música do meu coração e
canta para mim quando minha memória falha”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Bom é ter amigos ainda que seja no
inferno”.<br />
<br />
***<br />
Boris Karloff: “Os monstros foram os melhores amigos que já
tive”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Mais vale deixar na morte ao inimigo do que
perder na vida ao amigo”.<br />
<br />
***<br />
Machado de Assis: “Há amigos de oito dias e indiferentes de
oito anos”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Conhecidos muitos, amigos poucos”.<br />
<br />
***<br />
Walther Waeny: “Um amigo que cala vale tanto quanto um
inimigo que fala”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Amigo que não serve e faca que não corta,
que se perca pouco importa”.<br />
<br />
***<br />
Alfred de Musset: “As coisas mais desagradáveis que os
nossos piores inimigos nos dizem pela frente não se comparam com as que nossos
amigos dizem de nós por trás”.<br />
<br />
***<br />
Oscar Wilde: “A melhor maneira de começar uma amizade é com
uma boa gargalhada. De terminar com ela, também”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Mais vale um cachorro amigo do que um amigo
cachorro”.<br />
<br />
***<br />
Elizabeth Bowen: “A intimidade entre as mulheres é sempre ao
contrário: começa com a troca de grandes revelações e termina com a troca de
abobrinhas”.<br />
<br />
***<br />
Condessa Marie B. Diane: “Nosso verdadeiro amigo é aquele
que não nos desculpa nada e nos perdoa tudo”.<br />
<br />
***<br />
Sidonie Collete: “Convém tratar a amizade como os vinhos,
desconfiando das misturas”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Mais vale um amigo na praça do que dinheiro
no caixa”.<br />
<br />
***<br />
Florbela Espanca: “A amizade é o maior sentimento que não
morre”.<br />
<br />
***<br />
Tati Bernardi: “Amigo de verdade não é aquele que sempre te
atura triste, denso e monotemático. Mas o que fala: mano tu tá mala”.<br />
<br />
***<br />
Simone Weil: “A amizade não se busca, não se sonha, não se
deseja; ela exerce-se (é uma virtude)”.<br />
<br />
***<br />
Confúcio: “Para conhecermos os amigos é preciso passar pelo
sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade; na desgraça, a
qualidade”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Conhece-se o amigo na ocasião incerta”.<br />
<br />
***<br />
Balzac: “A infelicidade tem isto de bom: faz-nos conhecer os
verdadeiros amigos”.<br />
<br />
***<br />
Cecília Meireles: “Há pessoas que nos falam e nem as
escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que
simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre”.<br />
<br />
***<br />
Provérbio inglês: “Não há pior inimigo que um falso amigo”.<br />
<br />
***<br />
Machado de Assis: “Felizes os cães, que pelo faro descobrem
os amigos”,<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Com um amigo desses, quem precisa de
inimigos?”.<br />
<br />
***<br />
Mark Twain: “A vida ideal consiste em ter bons amigos, bons
livros e uma consciência sonolenta”.<br />
<br />
***<br />
Elmer C. Leiterman: “Só existe uma coisa melhor do que
fazermos novos amigos: conservar os velhos”.<br />
<br />
***<br />
Linda Grayson: “Não há nada melhor do que um amigo, a não
ser um amigo com chocolate”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Amizade de sogra e nora, só da boca pra fora”.<br />
<br />
***<br />
Aristóteles: “A amizade é uma alma com dois corpos”.<br />
<br />
***<br />
Jean Rostand: “Um amigo é a pessoa a quem mais se dá crédito
quando fala mal de nós”.<br />
<br />
***<br />
Ditado popular: “Amigo de meu compadre, porém mais da
verdade”.<br />
<br />
***<br />
Carlos Drummond de Andrade: “Como as plantas, a amizade não
deve ser muito nem pouco regada”.<br />
<br />
***<br />
Drummond, de novo: “A amizade é um meio de nos isolarmos da
humanidade cultivando algumas pessoas”.<br />
<br />
***<br />
Saint Exupéry: “Num mundo que se faz deserto, temos sede de
encontrar um amigo”.<br />
<br />
***<br />
Francis Bacon: “Não há solidão mais triste do que a do homem
sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto”.<br />
<br />
***<br />
Francis Bacon, de novo: “A amizade duplica as alegrias e
divide as tristezas”.<br />
<br />
***<br />
Provérbio chinês: “Difícil é ganhar um amigo em uma hora;
fácil é ofendê-lo em um minuto”.<br />
<br />
***<br />
Millôr Fernandes: “Pais e filhos não foram feitos para ser
amigos. Foram feitos para ser pais e filhos”.<br />
<br />
***<br />
Millôr, de novo: “A verdadeira amizade é aquela que nos
permite falar, ao amigo, de todo os seus defeitos e de todas as nossas
qualidades”.<br />
<br />
***<br />
Mário Quintana: “Não te abras com teu amigo / que ele um
outro amigo tem. / E o amigo do teu amigo / possui amigos também”.<br />
<br />
***<br />
Garth Henrichs: “A gente não faz amigos, reconhece-os”.<br />
<br />
***<br />
Sócrates: “O amigo deve ser como o dinheiro, cujo valor já
conhecemos antes de termos necessidade dele”.<br />
<br />
***<br />
Ethel Barrimore: “O melhor momento para fazer amigos é antes
que você precise deles”.<br />
<br />
***<br />
Orson Welles: “Nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e
morremos sozinhos. Somente através do amor e da amizade é que podemos criar a
ilusão, durante uns momentos, de que não estamos sozinhos”.<br />
<br />
***<br />
Jô Soares: “Não há amizade que, por mais profunda que seja,
resista a uma série de canalhices”.<br />
<br />
***<br />
Elisabeth Foley: “A descoberta mais bonita que os
verdadeiros amigos fazem é que podem crescer separadamente sem se separarem”.<br />
<br />
***<br />
Oprah Winfrey: “Muitas pessoas querem ir com você na
limusine, mas o que você quer é alguém que vá com você quando a limusine
quebrar”.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-79872375373535804882020-03-24T19:35:00.001-04:002020-03-24T19:35:37.613-04:00Morre Albert Uderzo, um dos criadores de Asterix e Obelix<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-JFu-BOvFWQ8/XnqZNJnIk7I/AAAAAAAAl_Q/3HmrQAXSkhAIhr-t46G0AOysVb7kKv34gCLcBGAsYHQ/s1600/uderzo02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="698" data-original-width="1240" height="225" src="https://1.bp.blogspot.com/-JFu-BOvFWQ8/XnqZNJnIk7I/AAAAAAAAl_Q/3HmrQAXSkhAIhr-t46G0AOysVb7kKv34gCLcBGAsYHQ/s400/uderzo02.jpg" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Albert Uderzo, com
bonecos de Asterix e Obelix, em 2007</i></div>
<br />
Por Silvia Ayuso, de Paris<br />
<br />
Asterix e Obelix ficaram órfãos. Sobretudo Obelix, o
chouchou (favorito) de Albert Uderzo, criador, junto com René Goscinny, dos
dois gauleses mais famosos da história e do planeta. O desenhista morreu nesta
terça-feira em sua casa, em Paris, aos 92 anos, vítima de “uma crise cardíaca
sem relação com o coronavírus”, como foi obrigada a família a esclarecer nestes
tempos de pandemia.<br />
<br />
Fazia quase uma década que Uderzo (Fismes, Marne, 1927)
havia entregado a terceiros o destino da aldeia gaulesa, que assumira de forma
solitária após a morte de seu parceiro de aventuras e quadrinhos, o roteirista
Goscinny, em 1977. Os sucessores foram Didier Conrad e Jean-Yves Ferri, autores
dos últimos quatro álbuns dos personagens. “Entregar Asterix me dilacerou um
pouco”, confidenciou ele ao Le Parisien no final de 2018, numa das últimas
entrevistas que concedeu. <br />
<br />
Não é de se estranhar. O pequeno guerreiro de bigodes loiros
e seu bojudo amigo ruivo, de profissão entregador de menires, marcaram sua vida
por mais de seis décadas, desde que nasceram de seus lápis e da mente de seu
amigo roteirista, numa calorosa tarde do verão de 1959, na sala de seu modesto
apartamento de Bobigny, na periferia de Paris. <br />
<br />
Ninguém imaginava na época que esses personagens publicados
inicialmente na revista Pilote ultrapassariam as barreiras de línguas, culturas
e gerações, como demonstram os mais de 380 milhões de exemplares vendidos em
111 idiomas e dialetos.<br />
<br />
O segredo desse sucesso? Nem ele mesmo sabia ao certo. “É
como se me perguntassem a receita da poção mágica”, brincou Uderzo no jornal
parisiense. Asterix e Obelix são os protagonistas de uma HQ “transgeracional,
com um espírito independente”. “Reconheço que jamais consegui me explicar esse
sucesso. Nunca achei que duraria tanto. René Goscinny dizia: ‘Parecemos idiotas
que não sabem o que fabricaram’. Mas não teríamos conseguido nada sem trabalho.
O sucesso é, acima de tudo, horas e horas de trabalho”, declarou.<br />
<br />
Era algo que Uderzo sempre soubera. Autodidata e amante dos
personagens de Walt Disney, desde muito pequeno soube que queria ser
desenhista, embora a Segunda Guerra Mundial tenha adiado seus planos.
Entretanto, depois do conflito, Uderzo entrou de cabeça no mundo dos quadrinhos
e criou seus primeiros personagens: Flamberge, Clopinard, Zartan e Belloy, o
Invulnerável… <br />
<br />
Pouco a pouco eles foram afinando seu estilo até torná-lo
inconfundível, especialmente esses heróis que parecem “inflados com hélio”,
como costumava dizer com carinho sobre suas criações, especialmente Obelix.
Depois da guerra, Uderzo trabalhou como ilustrador para o France Dimanche e
também para duas agências de imprensa, World Press e International Press, onde
se encontraria com outros futuros grandes nomes das HQs francesas, como
Jean-Michel Charlier e Victor Hubinon. <br />
<br />
Em 1951, isso o levou também a encontrar alguém que marcaria
seu destino, René Goscinny, com quem oito anos mais tarde criaria, com outros
amigos e ilustradores, a revista Pilote. Na página 20 de seu primeiro número,
em 29 de outubro de 1959, aparecem as primeiras tiras das aventuras de Asterix,
o gaulês. O sucesso de vendas, 300.000 exemplares no primeiro dia, era uma
promessa do que estava por vir.<br />
<br />
Depois da morte de Goscinny em 1977, Uderzo manteve a série,
numa decisão que gerou certa polêmica entre os fãs que queriam o fim da
coleção, mas isso não diminuiu em nada o seu sucesso comercial. Só o volume 35,
o primeiro sem nenhum dos criadores originais, vendeu cinco milhões de
exemplares na França.<br />
<b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-26039446792645183762020-03-24T04:14:00.003-04:002020-03-24T04:28:26.128-04:00Lauro Chibé e João Antônio: dois gênios esquecidos!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-tj_HX7aOWSk/XnnAsV04f5I/AAAAAAAAl-o/gsnyLVmn_XMHjLJi8-ccFn0ttY8nsqr_gCLcBGAsYHQ/s1600/lauro-chibe-bois-bumbas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1590" data-original-width="900" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-tj_HX7aOWSk/XnnAsV04f5I/AAAAAAAAl-o/gsnyLVmn_XMHjLJi8-ccFn0ttY8nsqr_gCLcBGAsYHQ/s400/lauro-chibe-bois-bumbas.jpg" width="226" /></a></div>
<br />
Não dá para se falar em bumbás de Manaus sem relembrar o artista
plástico Lauro Queiroz de Souza, que passou para a história do folclore
manauara como “Lauro Chibé” e era reputado como um dos maiores entusiastas da
autêntica cultura popular da nossa gente. “O Lauro Chibé era multimídia numa
época em que essa palavra ainda nem tinha sido inventada”, dizia o poeta Anibal
Beça, que conheceu o artista plástico nos anos 60. <br />
<br />
Nascido presumivelmente em 1911 (nem seus parentes sabiam
precisar a data), em Bezerros (PE), a meca pernambucana das encantadoras
xilogravuras (imagens feitas em relevo sobre madeira, muito popular na região
Nordeste e cuja técnica era utilizada para ilustração de textos de literatura
de cordel), Lauro Chibé foi o maior fabricante de bois-bumbás já surgido na capital
amazonense. Acredita-se que ele tenha construído mais de 100 bumbás, façanha
jamais igualada por alguém em tempo algum.<br />
<br />
Filho de pai ausente, Lauro Chibé e a mãe desembarcaram em
Manaus por volta de 1916 e foram morar na Rua Carolina das Neves, no bairro dos
Tocos (atual Aparecida). Sua mãe era doceira e tinha que diariamente colocar o
tabuleiro de doces na cabeça e ir ganhar a vida pelas ruas da cidade. Ela
deixava o moleque trancado em casa, apenas munido de papel e lápis. Ele começou
a desenhar as paisagens que observava da janela e aprendeu a ler praticamente
sozinho, manuseando os poucos gibis e revistas que existiam na residência. <br />
<br />
Nos finais de semana, quando a mãe ficava em casa
descansando da faina semanal, ele podia sair para brincar com os garotos da
vizinhança. Foi em uma dessas incursões que ganhou o apelido definitivo
(crianças são cruéis...). Franzino, barrigudo e pálido como um defunto, a
molecada começou a achar que ele se alimentava exclusivamente de chibé (um pirão
de farinha de mandioca com água, sal e pimenta, que as pessoas em extrema
penúria financeira utilizam para enganar a fome). Lauro Queiroz de Souza nunca
mais se livrou do apelido<br />
<br />
Lauro Chibé tinha sete anos quando viu pela primeira vez a
apresentação de um boi-bumbá durante um arraial na Praça Bandeira Branca, no
bairro dos Tocos. Ficou fascinado pelo folguedo. Sua mãe, que além de doceira
tinha pendores de artista plástica, criou um origami (nome da arte tradicional
japonesa de dobrar o papel, criando representações de determinados seres ou
objetos com as dobras geométricas de uma peça de papel, sem cortá-la ou colá-la)
no formato de um boi-bumbá. Ele passou quase um ano brincando sozinho com
aquele origami especial e criando versos para embalar a brincadeira. Depois de
adulto, seria um compositor de toadas da maior competência.<br />
<br />
Ainda morando no bairro dos Tocos, Lauro Chibé concluiu o
ensino fundamental e se tornou um voraz leitor de livros biográficos. Passava
horas e horas na Biblioteca Pública lendo tudo em que podia colocar as mãos
sobre os grandes artistas plásticos da Idade Média (seu grande ídolo, claro,
era o pintor, escultor e arquiteto italiano Michelangelo de Lodovico Buonarroti,
considerado um dos maiores representantes do Renascimento Italiano). <br />
<br />
Para colocar em prática aquele catatau de coisas que
aprendia na teoria, foi conta de multiplicar. Com pouco mais de 20 anos, Lauro
Chibé já era um dos melhores artesãos de Manaus. Ele esculpia em madeira
qualquer coisa que lhe fosse encomendada, de barcos regionais em miniatura a
máscaras mortuárias indígenas, de animais da nossa fauna a versões
personalizadas de escudos de clube de futebol.<br />
<br />
O futebol também era uma de suas grandes paixões. Apesar de
magricela e baixinho – ou talvez por isso mesmo –, se transformou em um exímio
jogador do Luso Sporting Clube, tendo também defendido as equipes da União
Esportiva Portuguesa e General Osório. Era ligeiro como um azougue e chutava
bem com as duas pernas. Dava um trabalho da gota serena para os adversários,
fosse jogando no ataque, fosse jogando na defesa. Mas como não dava para
assobiar e chupar cana ao mesmo tempo, Lauro Chibé abandonou o futebol para se
dedicar à sua carreira de artesão, escultor e artista plástico. Começou a
produzir dezenas de obras retratando os usos e costumes dos ribeirinhos
amazônicos.<br />
<br />
No final dos anos 30, Lauro Chibé ficou visivelmente
impressionado com o “Presépio Maravilha”, do artista plástico amazonense
Leovigildo Ferreira da Silva, mais conhecido como Branco Silva, exposto na
Praça da Matriz. Os movimentos realistas dos bonecos ali representados mexeram
com a criatividade de Lauro Chibé.<br />
<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele passou quase dois
anos para desenvolver um complexo sistema de roldanas, ligas de borracha e
carretéis, que simulavam o movimento de ribeirinhos fabricando farinha. A peça
em miniatura, com cerca de dez personagens, virou uma atração fixa do quiosque
para vendas de artesanato que Lauro Chibé conseguiu montar no Aviaquário da
Praça da Matriz, nos anos 60. Ele nunca quis vender essa peça pioneira – e ela
só começou a ser exibida para o público quase trinta anos depois de ter sido
concebida.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-qQo4N52Px-Q/XnnA0HMzdqI/AAAAAAAAl-s/XiBEFdmKnQQFTzEW2HeHyG6TV5ArhG7YACLcBGAsYHQ/s1600/lauro1.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="705" data-original-width="994" height="282" src="https://1.bp.blogspot.com/-qQo4N52Px-Q/XnnA0HMzdqI/AAAAAAAAl-s/XiBEFdmKnQQFTzEW2HeHyG6TV5ArhG7YACLcBGAsYHQ/s400/lauro1.png" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lauro Chibé e uma
amiga em um dos bares de Educandos</i></div>
<br />
Nunca se soube quando, como e de que doença faleceu a mãe de
Lauro Chibé. O que se sabe é que a partir dos anos 40, possivelmente já órfão, ele
entrou na gandaia pela porta da frente, chutando a porta do cabaré. Virou
dirigente do grupo carnavalesco Caboclos Surara, fundou uma escola de samba tão
efêmera que não legou o nome para a posteridade e começou a frequentar os
“dancings” de Educandos, mostrando-se um fabuloso pé-de-valsa, boêmio de
carteirinha e emérito abatedor de lebres. Gabava-se de ter mais de 40 filhos. <br />
<br />
Nunca casou e conta-se nos dedos os seus filhos que foram
registrados. Em compensação, ele começou a anotar suas realizações nas artes
plásticas em uma série de diários manuscritos, muitos dos quais se perderam nas
brumas do tempo. Em um deles registrou que construiu seu primeiro boi-bumbá,
chamado Veludinho, em 1946, ao custo de 1 mil réis.<br />
<br />
No ano seguinte, construiu mais três bumbás: Estrela D’Alva,
Caprichoso e Curinga. O Curinga, feito para a comunidade de Aparecida, era uma
revolução: tinha dois miolos – ou “quatro pernas” – e, entre outras bossas,
balançava a cabeça e o rabo, comia capim, urinava guaraná e defecava biscoitos
champanhe. Seria chover no molhado dizer que um boi com essas qualidades
conquistou o coração e mentes da molecada do bairro, mas foi o que aconteceu. O
bumbá Curinga foi o primeiro boi articulado do folclore amazonense. <br />
<br />
A partir daí, Lauro Chibé não parou mais de fabricar bumbás.
De 1948 a 1950, ele construiu o Galante, Veludinho (versão turbinada), Corre
Campo, Dois de Ouro, Guanabara, Flor do Campo, Mineirinho, Brinquedinho e
Prenda Fina. Todos eles personalizados ao gosto do freguês.<br />
<br />
É mera especulação, claro, mas acredito que foi para
continuar sua vida de boêmio registrado em cartório que Lauro Chibé se mudou
para o Morro da Liberdade, no início dos anos 60. Seu novo bairro ficava bem
mais perto de Educandos e da sua noite feérica do que o bairro da Aparecida, já
que naquela época ainda não existia a ponte que hoje liga o centro de Manaus à
Cidade Alta. Dava para ir a pé, de um local ao outro. Tempo é dinheiro. <br />
<br />
Nesse meio tempo, ele já havia construído mais uma dezena de
bois: Brilhante, Flor do Campo, Prenda do Areal, Tira Prosa, Treme Terra, Mina
de Prata, Canarinho, Rica Prenda, Dominante, Malhado, Pai do Campo e
Teimosinho.<br />
<br />
No Morro da Liberdade, Lauro Chibé fundou quadrilhas
caipiras, ajudou Dona Marcelina Brito a colocar na rua as Pastorinhas do
Oriente, colaborou com Waldemar Rabelo na criação das Tribos dos Iurupixunas e
se transformou em um dos principais dirigentes do bumbá Tira Prosa, que ele
considerava sua verdadeira paixão. Lauro Chibé chegou a presidir a brincadeira
durante dois anos, antes de passar o cargo para Antônio Barroso. <br />
<br />
E continuou fabricando bois-bumbás em escala industrial:
Ponta de Ouro, Leão, Galante, Pingo de Ouro, Sete Estrelas, Raio de Sol,
Diamante Negro, Pena de Ouro, Gitano, Campineiro, etc. Nas suas anotações, ele
registrava até mesmo o nome dos brincantes e dirigentes de cada bumbá, o custo
do material utilizado e o valor do pagamento final de cada encomenda. Além de
esteta, era um perfeccionista.<br />
<br />
Em 1981, a partir de uma encomenda do empresário Paulo
Eugênio da Costa Teles, Lauro Chibé confeccionou para a escola de samba GRES
Uirapuru, do Zé de Cima, uma alegoria para o abre-alas representando um
uirapuru com aproximadamente três metros de comprimento, que passou para a
história do carnaval amazonense como a primeira alegoria com movimentos reais. <br />
<br />
O majestoso uirapuru abria o bico, batia as asas, mexia os
olhos e levantava as penas do rabo. Foi um sucesso avassalador. Há uma versão,
nunca confirmada, de que Lauro Chibé foi a Parintins, em 1978, ficou
enlouquecido com as inovações que Jair Mendes havia introduzido nas alegorias do
bumbá Garantido e não largou o pé do artista parintinense enquanto ele não
contasse o “pulo do gato” para fazer aquelas alegorias ganharem movimentos tão
reais.<br />
<br />
Quando não estava nos dancings de Educandos azarando alguma
morena de quatrocentos talheres ou ajudando no ensaio de algum grupo
folclórico, Lauro Chibé podia ser visto passeando pelas ruas do Morro da
Liberdade com seu corpo franzino, sua camisa de crochê, seu chapéu de palhinha
e seus dentes de ouro, que ele exibia com uma alegria de criança. Sempre morou
sozinho, em um pequeno casebre localizado na região de palafitas do Igarapé do
Vovô. <br />
<br />
Foi lá que, no dia 29 de dezembro de 1987, chamado pelos
vizinhos por conta do mau cheiro, os bombeiros o encontraram morto há pelo
menos cinco dias. Lauro Chibé estava com 76 anos. Dizem que parte de seu rosto
já havia sido comido pelas ratazanas. Dizem. Assim nascem as lendas. Como
escreveu o jornalista Castelo Branco, em matéria publicada no jornal A Crítica,
no dia 2 de janeiro de 1988, “com a morte de Lauro Chibé morre um pouco da
cultura amazonense e brasileira, sobrevivente em algumas linhas de seus
próprios escritos. Mas a história e a cultura popular ganham mais um símbolo”.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-_2w1g0VHvgQ/XnnA-SPSi-I/AAAAAAAAl-w/0OQ3BniKfFgAxa3zYN9PI9BaUtVrpBcVgCLcBGAsYHQ/s1600/jo%25C3%25A3o908.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="652" data-original-width="1086" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-_2w1g0VHvgQ/XnnA-SPSi-I/AAAAAAAAl-w/0OQ3BniKfFgAxa3zYN9PI9BaUtVrpBcVgCLcBGAsYHQ/s400/jo%25C3%25A3o908.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O escritor João
Antônio</i></div>
<br />
O jeito “gauche” de levar a vida de Lauro Chibé e seu
desenlace trágico só encontram paralelo na história do jornalista e escritor
João Antônio. Paulista de nascimento, João Antônio optou por viver no Rio de
Janeiro. No dia 31 de outubro de 1996, numa cena tão crua que parecia saída de
um de seus contos, João Antônio foi encontrado morto por um zelador, que
arrombou a porta do seu apartamento depois que vizinhos notaram uma estranha
nuvem de urubus pairando sobre a cobertura 702 do edifício 15A da rua Serzedelo
Correia, em Copacabana. O corpo estava em adiantado estado de putrefação. <br />
<br />
O cadáver foi encontrado sobre a cama de um dos quartos. O
apartamento estava arrumado. Não havia sinais de briga ou roubo no local. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>João já tinha sofrido um infarto havia cerca
de três semanas, e cada detalhe do cenário funesto indicava que ele estava
preparando uma viagem rápida antes da definitiva: sapatos casados no chão do
quarto, camisas dobradas sobre a cama, uma maleta aberta. Aos 59 anos, o
premiado autor de “Abraçado ao meu rancor”, “Malagueta, perus e bacanaço” e
“Leão de chácara” morreu apoucado, quase esquecido. <br />
<br />
Elogiado nos anos 1960 e 70 por críticos como Antonio
Candido, Paulo Rónai e Alfredo Bosi, que o tinham como um herdeiro direto de
Lima Barreto, ao assumir personagens marginais como protagonistas – e tome
malandros, prostitutas, traficantes, bêbados –, João Antônio passava por um
momento apagado nos anos 1990. Seus escritos se notabilizaram pela ousadia
linguística. <br />
<br />
O escritor trazia para os seus livros o ambiente onde
habitavam os marginais e malandros das ruas. A obra do jornalista e escritor só
recuperou o prestígio quase dez anos depois de sua morte, quando a família doou
uma parte do acervo à Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), aumentando o
interesse acadêmico sobre seus escritos, e outra parte à editora Cosac Naify,
que relançou seus títulos em edições de luxo. <br />
<br />
Com o fim da Cosac, em dezembro de 2015, o legado de João
perigou mais uma vez. Até o editor Milton Ohata abraçar o arquivo e levá-lo à
Editora 34. Literalmente: o material está em duas caixas de polietileno azul,
que, encimadas, cabem num abraço. <br />
<br />
Ao vasculhar os papéis, Ohata encontrou muito material ainda
inédito em livro, como longas reportagens literárias, deliciosas crônicas
musicais e textos sobre o cotidiano carioca. A boa notícia para os fãs de João
Antônio – certamente há um séquito deles ainda jogando sinuca em bares do Rio,
São Paulo, Osasco ou Berlim, cidades onde o autor viveu – é que todos esses
textos estão sendo lançados pela Editora 34.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-Gx0IPohLT80/XnnBJM4_TdI/AAAAAAAAl-4/j6xJ80MSlYM-Vm1W-90QXjwv6zfoJNi1wCLcBGAsYHQ/s1600/joaoantonio678.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="432" data-original-width="373" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-Gx0IPohLT80/XnnBJM4_TdI/AAAAAAAAl-4/j6xJ80MSlYM-Vm1W-90QXjwv6zfoJNi1wCLcBGAsYHQ/s400/joaoantonio678.jpg" width="345" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">João Antônio no
ambiente de malandros e merdunchos</i></div>
<br />
– Publicaremos também um título nunca mais relançado,
“Calvário e porres do pingente Afonso Henriques de Lima Barreto” – antecipou
Ohata. – É um livro singular dentro da obra dele, que se move no terreno de
certo realismo cru: o próprio autor internou-se entre maio e junho de 1970 no
Sanatório da Muda, após uma crise emocional. Lá conheceu o interno Carlos
Alberto Nóbrega da Cunha, então com 72 anos. Ele tinha sido jornalista no
“Diário de Notícias” e em “O Jornal”, e conheceu Lima Barreto. Relata a João
Antônio esses encontros. A figura de Lima Barreto surge no livro por pessoa
interposta, com um filtro que relativiza o critério da objetividade. Há muito
material de arquivo a ser pesquisado, o que certamente vai enriquecer o conhecimento
atual sobre ele. Vamos incorporar esse material.<br />
<br />
Guardado agora na sede da
Editora 34, essa parte do acervo revela muito do minucioso processo criativo do
escritor. Há muitos rascunhos para um mesmo texto, indicando que João
reescrevia à exaustão. Há uma coleção de fotos de tipos urbanos feitas pelo
repórter fotográfico Ubirajara Dettmar, usadas como referência para
personagens. <br />
<br />
Há retornos de editores grampeados aos manuscritos de alguns
contos, com detalhes das mudanças acatadas ou não (num deles, de 1993, o editor
do Suplemento Literário de Minas Gerais, Manoel Lobato, sugere: “A personagem
da velha merece um retoque. Meta umas especulações filosóficas na cuca da
velha, uma frase qualquer, solta, como se fosse da consciência dela, a fim de
que o leitor fique intrigado: ela é culta? é religiosa? Coisas assim. O final é
grandioso: grandioso e belo, dando o pão, e não a mão”).<br />
<br />
E ainda todo tipo de anotação com expressões ouvidas nas
ruas, bilhetes de avião, maços de cigarro. O método, que parecia caótico no
início, resultava bastante funcional: o autor depois separava os papeizinhos
nos envelopes dos respectivos contos ou reportagens que poderia enriquecer (num
deles, que findaria no conto “Iemanjá”, há uma lista com mais de 30 nomes
curiosos de bares de Salvador, como “Lanches Oxum”, “Bar Barriga de Aluguel”,
“Bar Unidos Venceremos” etc). <br />
<br />
Preciosismo que faz os textos serem ainda muito atuais,
avalia Ohata: <br />
<br />
– João Antônio teve uma estreia fulgurante, em 1963,
ganhando dois prêmios Jabuti com “Malagueta, perus e bacanaço”, quando alguns
dos gigantes da literatura brasileira estavam em plena forma, como Guimarães
Rosa, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, etc. Valor
literário à parte, sua obra vai continuar viva porque atenta para o lado torto,
não resolvido, da sociedade brasileira. Seus personagens continuam circulando
por aí e nada indica que desapareçam tão cedo. A fidelidade com que ele tratou
seus personagens escapa também dos vieses ideológicos de esquerda, o que é um
elemento crítico no momento em que a parte socialmente mais organizada dela
deveria fazer um balanço substantivo das opções que tomou nos últimos anos.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-M1IFmPvLCbM/XnnBV7YeIzI/AAAAAAAAl_A/hr7JniIysjETl3f6DZTaDbWY2t8UoWFnACLcBGAsYHQ/s1600/jo%25C3%25A3o244.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1164" data-original-width="1600" height="290" src="https://1.bp.blogspot.com/-M1IFmPvLCbM/XnnBV7YeIzI/AAAAAAAAl_A/hr7JniIysjETl3f6DZTaDbWY2t8UoWFnACLcBGAsYHQ/s400/jo%25C3%25A3o244.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Hamilton Almeida
Filho, João Antônio e Paulo Patarra</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;"></i></div>
<br />
Tal como Lauro Chibé, João Antônio saiu pelas portas dos
fundos da vida, num dia de encabulação, como gostava de dizer sobre a data de
nascimento de sua principal referência literária, Afonso Henriques de Lima
Barreto, uma sexta-feira 13. Sua morte foi o ato final de uma vida atribulada,
visceralmente dedicada à literatura e à sua grande paixão: o povo brasileiro. <br />
<br />
Parece que intuíra e compusera tudo nos mínimos detalhes,
até a sua saída de cena. Desaparecido havia vinte dias, não preocupou muita
gente até fins do mês de outubro, já que costumava viajar sem dar notícias. Só
no dia 31 é que o Jornal do Brasil publicou uma pequena nota sobre seu
desaparecimento ‒ “Escritor some sem deixar pistas” ‒, e conclamava, na coluna
“Informe JB”, assinada por Maurício Dias: “Está na hora de uma mobilização
geral para saber o que aconteceu com o escritor João Antônio. Ele saiu de casa
em Copacabana, dia 7, de bermuda e chinelos, e desapareceu”. <br />
<br />
Foi quase um drible. Mas, na verdade, foi a tragédia de um
escritor que, cercado de admiradores durante quase toda a sua vida, morrera só
e brigado com a mediocridade do país neoliberal da década de 1990, assim como
com o meio cultural do período, que o esquecera.<br />
<br />
Assim como Lauro Chibé, João Antônio morreu só e a culpa é
nossa. Sua literatura é o retrato descarnado de um país que insiste em não dar
certo, a despeito de seu enorme potencial. Nesses mais de vinte anos de sua
morte, cabe lembrar de um escritor cuja intransigência em relação ao valor da
arte literária e da necessidade de olharmos nossa realidade se fazem mais que
nunca necessários. <br />
<br />
Seu esquecimento nada mais é que a mania bem brasileira, bem
nossa, de não valorizarmos uma produção que olhe para os nossos problemas,
invariavelmente tachada como populista, neonaturalista ou coisa que o valha.
Diante das mil e uma novidades que a classe média bate bumbo, esquecendo que
vive num país em que a leitura ‒ como a moradia, a alimentação, a saúde e a
educação ‒, ainda é privilégio de poucos, lembrar a produção de João Antônio é
dever, mais que apenas gosto literário. Seu único respeito era pelo povo ‒ e
pelo texto. E isso é algo que nós temos de valorizar.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-60031301387531805812020-03-21T04:38:00.000-04:002020-03-21T04:46:07.145-04:00O cada vez mais raro sauim-de-maués<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-e7PNF1nUmVM/XnXR71fYBmI/AAAAAAAAl94/LbxP-xQbgNcVsD5vf-IBslvuWjcuiEsmwCLcBGAsYHQ/s1600/a-134marcio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="225" src="https://1.bp.blogspot.com/-e7PNF1nUmVM/XnXR71fYBmI/AAAAAAAAl94/LbxP-xQbgNcVsD5vf-IBslvuWjcuiEsmwCLcBGAsYHQ/s400/a-134marcio.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">NO dia 7 de março de 2003, faleceu em Nova York, nos Estados
Unidos, o biólogo, pesquisador e conservacionista José Márcio Ayres, vítima de
um câncer. A doença havia sido diagnosticada 17 meses antes e Ayres estava
licenciado do Museu Emílio Goeldi para o tratamento. Seu sepultamento ocorreu
em Belém, no Pará, onde nasceu. Márcio Ayres tinha 49 anos, era casado e deixou
dois filhos.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Ele ficou internacionalmente conhecido como o idealizador do
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), a primeira reserva
amazônica a produzir resultados econômicos significativos, unindo pesquisa e
preservação ambiental. </span><br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Localizada no município de Tefé, a reserva foi criada em
1990 e tem 1,124 milhão de hectares, boa parte dos quais permanece inundada
durante mais de seis meses por ano.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em Mamirauá, vivem 6 mil habitantes e 180 cientistas e têm sido
especialmente bem-sucedidas as iniciativas de manejo participativo, com o
desenvolvimento e comercialização de produtos extrativistas e agrícolas.
Destaca-se, por exemplo, o projeto de restabelecimento da população de
pirarucus, comercializado de forma racional na reserva. </span><br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Também são modelos o
manejo racional de madeira, extraída da várzea pelos ribeirinhos, e a
infraestrutura ali implantada para o ecoturismo, testada em duas ocasiões, por
Fernando Henrique Cardoso, como presidente da República.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Além de ser responsável pela implantação da Reserva de Mamirauá,
Márcio Ayres lutou pela criação, em área contígua, da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Amanã, efetivamente constituída em 1998, com 2,35
milhões de hectares. </span><br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Junto com o Parque Nacional do Jaú, as duas reservas
formam um vasto corredor ecológico, de mais de 5,7 milhões de hectares,
recentemente transformados em Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No Museu Emílio Goeldi, de Belém, Márcio Ayres se destacou por seu
trabalho com os macacos uacaris, em especial o uacari-de-cabeça-branca, nativo
da região de Mamirauá. </span><br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Também foi responsável pela descoberta ou identificação
de algumas espécies novas, juntamente com outros pesquisadores, entre as quais
está, por exemplo, o sauim-de-maués.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-FROM_c0Mk7g/XnXSEFImDjI/AAAAAAAAl98/46mmCVINKEwcGHmLb93RjKGu-qG8RzZ1wCLcBGAsYHQ/s1600/imagesmjarcio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="277" data-original-width="182" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-FROM_c0Mk7g/XnXSEFImDjI/AAAAAAAAl98/46mmCVINKEwcGHmLb93RjKGu-qG8RzZ1wCLcBGAsYHQ/s400/imagesmjarcio.jpg" width="262" /></a><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></div>
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O pesquisador recebeu diversos prêmios, nacionais e
internacionais, como a Medalha Duque de Edimburgo de Conservação, entregue
pessoalmente pelo príncipe Philip, do Reino Unido, em 1992. Dez anos depois,
foi homenageado com o prêmio da Sociedade de Biologia da Conservação (SCB) e o
Rolex Award for Enterprise.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quando a notícia da descoberta do sauim-de-maués chegou a Londres,
dois dos mais renomados pesquisadores da Real Sociedade Geográfica Britânica
estavam prestes a descobrir as ruínas de uma “cidade perdida” dos Incas,
escondida em uma montanha de uma remota selva e intocada havia mais de 500
anos. </span><br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Chamadas de Cota Coca, as ruínas ficam no sudeste do Peru, a cerca de 50
quilômetros de Machu Picchu, na Cordilheira dos Andes, escondidas no sopé de um
cânion praticamente inacessível, em meio à densa selva. O escritor e explorador
britânico Hugh Thomsom, um dos líderes da expedição, disse que “você só
encontra uma nova cidade inca uma vez na vida”.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O arqueólogo americano Gary Ziegler, que também liderou a
expedição, começou a procurar a “cidade perdida” depois de receber uma dica de
um dos carregadores da região. Os dois, entretanto, tiveram de interromper os
trabalhos e viajar para Maués, às pressas. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Esta é uma descoberta importante porque se trata de um grande
centro do último período inca – disse John Hemming, especialista em civilização
inca e ex-diretor da Real Sociedade Geográfica Britânica. – Mas o
sauim-de-maués nos pareceu um achado muito mais fascinante!</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Nossas informações sobre os primatas daquela região ainda são
escassas e quanto mais dados de campo tivermos, melhor. Além disso, o
sauim-de-maués vive numa área em que a exploração ilegal de madeira é grande e
por isso precisamos de projetos que ajudem a conservar esta espécie e seus
habitats – explicou Ziegler.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-6PtlrW-BWbE/XnXSOgpGoyI/AAAAAAAAl-A/6LL9_2Wyw2k5pRjYurWdSLhEVRyWrrqiwCLcBGAsYHQ/s1600/unnamedhugfh.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="349" data-original-width="512" height="272" src="https://1.bp.blogspot.com/-6PtlrW-BWbE/XnXSOgpGoyI/AAAAAAAAl-A/6LL9_2Wyw2k5pRjYurWdSLhEVRyWrrqiwCLcBGAsYHQ/s400/unnamedhugfh.jpg" width="400" /></a><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></div>
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em Maués, Hugh Thomsom e Gary Ziegler foram recebidos pelo
prefeito Sidney Leite. O alcaide ficou tão encantando com a presença dos
pesquisadores no município, que convocou uma reunião extraordinária do seu
estado-maior. </span><br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Além dos dois gringos e do intérprete, estavam presentes Chico
Gruber (primeiro-ministro e manda-chuva da prefeitura), Eugênio Borges
(secretário de Produção), Nuno Coutinho (secretário de Cultura, Turismo e Meio
Ambiente), vereador Ivanildo (da nação Sateré-Maué), tuxaua Alencar (líder dos
Sateré-Maué do Marau), Sílvio Turbinado e Barrô Mafra.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O prefeito foi direto ao assunto.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Esses dois pesquisadores são de Londres e estão dispostos a
investir dois milhões de dólares numa unidade de conservação ambiental no rio
Urupadi, para proteger o sauim-de-maués – explicou. – Só que eles precisam ver
antes um exemplar do macaquinho, para saber se é mesmo uma nova espécie ou
apenas um sauim já descrito antes. Alguém aqui sabe onde encontrar pelo menos
uma foto do bichinho?...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">De olho no cargo de administrador da futura unidade de conservação
ambiental, Barrô Mafra não contou conversa:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Eu sei onde tem um desses macacos, meu chefe, e vou buscar um
deles agora mesmo! – avisou. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Dito isso, saiu da sala feito uma flecha. Sidney ficou conversando
com os gringos sobre as propriedades terapêuticas do guaraná.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Meia hora depois, Mafra reaparece na sala, todo arranhado. Dava a
impressão de que tentara fazer amor com uma jaguatirica. Tentando esconder dos
gringos o rosto lanhado, ele abriu o jogo, quase se desculpando:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Olha, chefe, o macaco não quis vir não. O disgramado se soltou
do viveiro e não teve cão que segurasse o bicho... Sumiu no trecho!</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sidney respirou fundo, sem esconder a decepção. Aí, virando-se
para o secretário de Produção, chutou de trivela:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Porra, Eugênio, quando vocês estavam tirando madeira para a
Getal, lá pras bandas do Urupadi, vocês não viram esse macaquinho não?...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Vimos, não, chefe. O que tinha muito lá era mutuca...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– E tu aí, Chico Gruber! – insistiu o prefeito. – Lá naquela
derrubada de árvores no rio Paracuni não tinha nenhum sauim dando sopa?...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Tinha não, chefe! – devolveu o primeiro-ministro. – O que tinha
muito lá era leishmaniose... – explicou, mostrando as cicatrizes da ferida
braba no cotovelo.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Os gringos já estavam dando mostras de impaciência, quando o prefeito,
meio puto, tentou a última cartada:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Rapaz, a minha esperança são vocês dois! – disse ele, encarando
Ivanildo e o tuxaua Alencar. – Não vão me dizer que vocês também nunca viram a
porra desses macaquinhos...</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-nNd4Am0vdW0/XnXSWs7qegI/AAAAAAAAl-E/4xi21U-06TEaIrcHWD38uULw9ZgsDrQvQCLcBGAsYHQ/s1600/Sauim-de-coleira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1000" height="266" src="https://1.bp.blogspot.com/-nNd4Am0vdW0/XnXSWs7qegI/AAAAAAAAl-E/4xi21U-06TEaIrcHWD38uULw9ZgsDrQvQCLcBGAsYHQ/s400/Sauim-de-coleira.jpg" width="400" /></a><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></div>
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Ivanildo e Alencar entreolharam-se, cabreiríssimos. O vereador
tomou a palavra:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Ulha, chefe, além di cunhecê o macaco, nóis gusta dele às
pampa...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quando o intérprete traduziu o dialeto para o inglês, os rostos
dos gringos se iluminaram.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Do you like the monkey? Do you like the monkey? – questionava
Thomson.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Really? Do you like it? – insistia Ziegler.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Percebendo do que se tratava, Ivanildo foi em frente:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Yes, mister! Yes! Yes! Nós laiki muito o sauim, principalmente
cozido no leite de castanha...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A reunião acabou na mesma hora. Os gringos fretaram um bimotor e
se mandaram de Maués como o tinhoso foge da cruz.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No final de 2002, pesquisadores do INPA avistaram o sauim-de-maués
no município de Nova Olinda. Eles devem estar fugindo em massa da terra do
guaraná, para não serem cozidos no leite de castanha. O biólogo José Márcio
Ayres faz muita falta.</span></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-47249066589414733062020-03-21T03:59:00.000-04:002020-03-21T03:59:00.577-04:00Desacerto nos beiradões<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-jlqcGUTVD34/XnXJMmzCIJI/AAAAAAAAl9s/TYkAQlPtKyIq5sTyQHaMGmWJA6ci5Ps2wCLcBGAsYHQ/s1600/cowboys26.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="668" data-original-width="820" height="325" src="https://1.bp.blogspot.com/-jlqcGUTVD34/XnXJMmzCIJI/AAAAAAAAl9s/TYkAQlPtKyIq5sTyQHaMGmWJA6ci5Ps2wCLcBGAsYHQ/s400/cowboys26.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">JUNHO de 1974. Prenúncio de desacerto na Comunidade do Varre
Vento, próximo da fazenda Setestrelo, de Toninho Lemos, nos confins de Urucará.
Os dois sujeitos iam se cruzar, direções opostas, mesmo sentido, ambos montados
a cavalo, um subindo e o outro descendo uma pequena ladeira. Mais brabo do que
siri em lata, o sujeito que vinha de cima, tirou a peixeira da cintura e
avisou:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Escuta aqui, cabra safado, eu soube que tu andou falando coisa
ruim de mim na venda do João Caxinguelê! Agora, vamos acertar os ponteiros pra
ver quem é mais macho! Um de nós dois vai virar defunto! Te aprepara pra
morrer, fio da égua!</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O outro, pensativo e calmíssimo:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Vamos fazer uma coisa, parente: agora estou avexado e não vai
dar boa imbuança. Deixa pra daqui a sete dias. Pode ser aqui mesmo.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pensou mais, e melhor:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Olha, sete também não dá não, fica pra quinze. Preciso resolver
uns negoços antes.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O que estava mais brabo do que siri em lata acabou rindo e não
houve briga.</span></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-21020222891466779042020-03-13T23:03:00.001-04:002020-03-13T23:05:52.712-04:00A propaganda quase enganosa do publicitário Jefferson Coronel<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-pm9BX1h-L7s/XmxJRV4MvCI/AAAAAAAAl9g/Ol757udgB601_8r7SmB-XSNqiNjyZZQZACLcBGAsYHQ/s1600/jefferson-coronel-sorri-feliz-da-vida-ao-lado-da-filha-linda-nathalia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="750" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-pm9BX1h-L7s/XmxJRV4MvCI/AAAAAAAAl9g/Ol757udgB601_8r7SmB-XSNqiNjyZZQZACLcBGAsYHQ/s400/jefferson-coronel-sorri-feliz-da-vida-ao-lado-da-filha-linda-nathalia.jpg" width="375" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Meu ex-chefe na Secom,
o radialista Jefferson Coronel, ao lado da filha Nathália</i></div>
<br />
Setembro de 1994. O publicitário Sérgio Bastos estava
tomando banho de mangueira e enchendo a cara de manguaça em uma manhã de sábado
quando escutou na rádio Novidade uma propaganda inusitada: qualquer pessoa que
entrasse naquele dia na revendedora Bambino’s Veículos sairia de lá dirigindo
um carro. Não era preciso apresentar documentação, assinar contrato ou dar um
centavo de entrada. Bastava ir até a revendedora, escolher o carro e ir embora. Serjão não pensou duas vezes.<br />
<br />
Em quinze minutos, só de sunga, sandálias havaiana e óculos
escuros, ele estava descendo de um táxi e entrando na revendedora. Os
atendentes levaram um susto. Morto de doido, Serjão explicou que só estava ali
por causa da propaganda que acabara de escutar na rádio Novidade. Não levara
documentos nem nada. Exaltado, avisou que se não pudesse sair dali dirigindo um
carro iria direto ao Procon abrir um processo contra a empresa por conta da
“propaganda enganosa”.<br />
<br />
Nervosíssimo, o gerente da revendedora disparou uma série de
telefonemas para o patrão, para o responsável pela propaganda (o radialista
Jefferson Coronel, na época responsável pelo setor de marketing da Bambino’s
Veículos), para os advogados da empresa e finalmente concordou em atender
aquele consumidor turrão e cheio de direitos. Serjão escolheu um Corcel Scort
Hobby amarelo-canário todo incrementado (tala larga, aros de magnésio, descarga
Kadron, toca-fitas Roadstar e antena elétrica).<br />
<br />
Para entregar o veículo ao publicitário, os manobristas
precisaram primeiro retirar 150 carros do pátio da empresa, congestionando
completamente a Rua Salvador, em Adrianópolis, onde ficava localizada a
revendedora. O trânsito naquela artéria virou um inferno. O bate-boca entre os
apressados motoristas particulares e os manobristas era digno de discussão de
quengas embriagadas em inferninhos de quinta categoria.<br />
<br />
Depois de meia hora de confusão, Serjão entrou no carro e
foi embora. Como garantia, havia dado apenas o número do telefone da agência
G&F Comunicações, onde era meu parceiro de dupla de criação. Passou o final
de semana se exibindo pelos botecos da cidade com seu novo brinquedo.<br />
<br />
Na segunda-feira, quando entrei na agência para trabalhar,
percebi que ele estava meio macambúzio. Meia hora depois, Sérgio me chamou na
sua sala e relatou o ocorrido. De quebra, ele já havia amassado um dos
para-lamas do carro sabe Deus onde. Pra completar, o pessoal da Bambino já
havia ligado trocentas vezes para a agência solicitando que ele fosse assinar o
contrato de compra do veículo, mas Serjão estava se fingindo de morto. Ele
queria devolver o carro, já que não teria condições de pagar as prestações.<br />
<br />
Penalizado de sua depressão pós-ressaca, resolvi ajudá-lo e
fiz a única coisa que me pareceu sensata naquele momento: liguei para a revendedora,
me identifiquei como chefe do Sérgio e expliquei a situação. O gerente da
revendedora ficou possesso. Começamos a discutir.<br />
<br />
– Vocês fazem uma propaganda idiota dessas e ainda querem
ter razão? – disparei. “O Serjão não assinou nenhum documento. Vocês deram a
chave do carro por livre e espontânea vontade. Além disso, pelo Código Nacional
de Trânsito, vocês cometeram um crime ao deixar um sujeito embriagado dirigir
um carro...”<br />
<br />
Do outro lado da linha, o sujeito enlouqueceu de vez. Falou
que eu não sabia com quem estava se metendo, insinuou que teria conexões nas
altas esferas, que o Serjão iria ser preso, essas bobagens.<br />
<br />
Resolvi encerrar o papo:<br />
<br />
– Negócio seguinte: o carro de vocês está estacionado aqui
na Rua Rio Ituxi, na frente da agência G&F Comunicações, e a chave está com
o vigia da agência. Se daqui a meia hora o carro ainda estiver aí na frente,
vou ligar para a polícia dizendo que desovaram um carro roubado aqui no
Vieiralves...<br />
<br />
Meia hora depois um sujeito desceu de uma picape em frente da
agência, pegou a chave com o vigia Baiano, entrou no Hobby amarelo-canário todo
incrementado e foi embora. Salvo engano, o Serjão ainda pagou duas diárias pela
utilização do veículo no fim de semana. <br />
<br />
Eu, se fosse o Bambino, teria descontado o resto do prejuízo
no salário do radialista Jefferson Coronel, pra ele aprender a fazer propaganda
decente.<br />
<b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike><br />
<b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike><b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-15295848369804592822020-03-13T19:32:00.000-04:002020-03-13T19:32:06.159-04:00Agruras de um contador de histórias<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-wRghMMFwVUg/XmwXz_fDlwI/AAAAAAAAl9U/E2Lb90DcoQIWUFGlnSzYzJ3LtKJVPI3pwCEwYBhgL/s1600/curupira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1350" data-original-width="900" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-wRghMMFwVUg/XmwXz_fDlwI/AAAAAAAAl9U/E2Lb90DcoQIWUFGlnSzYzJ3LtKJVPI3pwCEwYBhgL/s400/curupira.jpg" width="266" /></a></div>
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Abril de 1973. Dono de uma pequena tapera na Lagoa do Arari, em
São Sebastião do Uatumã, o velho agricultor Jorge Emerenciano, o “Joca Farol”,
casado com dona Sebastiana Tavares, era um emérito contador de histórias. Sabia
tudo sobre curupira, saci pererê, caapora, mapinguari, iara, cobra grande,
juma, rasga-mortalha, boto encantado, caboquinho da mata, visagens, encantados
e o diabo a quatro. A molecada da comunidade fazia roda para ouvir seus
relatos. Só havia uma coisa capaz de tirar o velho do sério: alguém interromper
as suas histórias com alguma pergunta impertinente. Esse descuido era fatal. O
velho se fechava em copas e não abria mais a boca.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em uma determinada noite, uns dez moleques foram visitar Joca
Farol. Ele estava numa cadeira de balanço, pitando seu fumo e observando as
estrelas. Pediram para que ele contasse uma de suas fantásticas histórias.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Conto não! – devolveu. – Esse moleque aí (e apontou para
Dirceuzinho) vive interrompendo minhas histórias. Conto não! Só conto se ele
for embora...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Os moleques confabularam entre eles e voltaram com o veredicto: o
Dirceuzinho tinha jurado que ia ficar de matraca fechada. Ele podia contar sua
história.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Joca Farol ficou calado alguns minutos, enquanto preparava um novo
cigarrinho de fumo de rolo com sua faca fina, matutou, matutou, aí começou a
falar:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Esse acontecido já faz muito tempo. Na época, eu devia ter uns
20, 21 anos, nem lembro direito. Só sei que eu era um rapagão forte, bem
nutrido. Mas o que assucedeu foi o seguinte. Eu havia colocado umas malhadeiras
no Lago da Sucuri, para pegar uns tucunaré-borboleta, aí, enquanto esperava
pela hora de pegar o pescado, fiquei pelado na praia e comecei a tomar banho de
cuia, porque fazia um sol da muléstia. Mas não entrei no lago não, fiquei ali
na parte rasa daquele mundão de água, bem na beira da praia. De repente, senti uma
coisa se enroscando no meu tornozelo. Rapaz, fiquei gelado de medo! Era uma
sucuriju de quase dez metros. Eu fiz força para tirar o pé da rodilha, mas não
teve jeito. A bicha me levou pra dentro d’água. Aí, tamos nós dois lá no fundo,
eu tentando livrar o pé, a cobra querendo me afogar, quando peguei na cabeça da
bicha de jeito. Também, não contei conversa: segurei nos dois lados da boca da
maldita, fiz força, muita força, para abrir aquela bocarra, até que consegui
quebrar o maxilar da infeliz. Ela me soltou. Só que enquanto eu abria a boca da
monstra, um dos dentes dela cortou de leve a minha mão e começou a sangrar.
Quando tomei tenência, tinha um cardume de piranha vermelha me atacando,
atraídas pelo sangue. Eu já tava quase sem fôlego, mas não me dei por vencido.
Sai dando porrada e chutes nas piranha, nadando pra longe do cardume, até que
consegui chegar na praia, coberto de sangue, porque piranha vermelha é um bicho
filho da puta, onde toca leva um lasco. Quando estou limpando o sangue do
corpo, ouço atrás de mim um esturro. Só deu tempo de eu me virar. Uma onça
preta, que era um bitelo, já vinha em disparada na minha direção. Ela deu o
bote, tentando pegar o meu pescoço, mas eu aparei a monstra com meu braço
esquerdo. Os dentes dela cravaram no meu pulso, quase atingiram o osso. Com o
braço direito, eu puxei a faca da cintura e...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Peraí, seu Joca! Se o sinhô estava nu, como foi que tirou a faca
da cintura? – interrompeu o Dirceuzinho.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Joca Farol apoplético, à beira de um ataque de nervos:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Tá vendo?... Tá vendo?... Esse moleque não quer ouvir histórias,
o que ele quer é discutir...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">E não abriu mais a boca. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A molecada, frustrada com a interrupção do relato cinematográfico,
quase encheu o Dirceuzinho de porrada.</span><br />
<b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-3318410671495346082020-03-13T19:25:00.001-04:002020-03-13T19:59:26.006-04:00O tal de mingau de mungunzá<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-vrrhvXQD_Lo/XmwWQhys8ZI/AAAAAAAAl9I/KnjA5TeERvYogRTPHhtbvzjKnil2OFcTgCLcBGAsYHQ/s1600/mingau-de-mungunza.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="560" data-original-width="840" height="266" src="https://1.bp.blogspot.com/-vrrhvXQD_Lo/XmwWQhys8ZI/AAAAAAAAl9I/KnjA5TeERvYogRTPHhtbvzjKnil2OFcTgCLcBGAsYHQ/s400/mingau-de-mungunza.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Junho de 1984. Morador da comunidade da Serra do Bacaba, em
Urucará, o velho Argemiro Gomes, de 78 anos, estava visitando a afilhada
Cristina Reis, na sede do município, na véspera de São João. A cidade estava
fervilhando de fogueiras, quadrilhas, comidas típicas, arraiais, músicas de
forró no volume máximo e quermesses. Conversa vai, conversa vem, a afilhada foi
lá na cozinha da residência e retornou com uma caneca de mungunzá, que ofereceu
ao padrinho. O velho Argemiro começou a comer a iguaria com devoção e gosto.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Minha filha, está uma delícia! Cumé que cê faz pro mungunzá ficá
tão cremoso desse jeito? – perguntou Argemiro.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Ah, padrinho, não tem segredo não! – explicou Cristina. – Depois
de cozinhar o milho branco com água e sal, a gente coa e reserva. Aí,
acrescenta um litro de leite de gado, um vidro de leite de coco, uma lata de
leite condensado, uma lata de creme de leite, uma xícara de açúcar, um pedaço
grande de pau de canela e uns dez cravinhos. Pronto. É só misturar bem e levar
a panela ao fogo de novo. Assim que começar a ferver, pode desligar o fogo que
o mungunzá está pronto.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Os olhos do velho Argemiro se encheram d’água. Reminiscências de
sua infância passada na Boca do Paraná do Cumprido vieram à tona, aos
borbotões. Emocionado, ele desatou o nó do peito:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Sabe, minha filha, toda vez que chegava as festa junina lá na
comunidade, a minha saudosa mãe também fazia mungunzá pra nóis. Mas num era
desse jeito não...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Como assim, padrinho? – espantou-se Cristina.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Nós era muito pobre, minha filha, não dava pra comprar leite de
gado, leite de coco, leite condensado, creme de leite, essas coisas – explicou
o velho. – A mamãe cozinhava o milho branco com água e sal, coava, aí
acrescentava dois litros d’água, um quilo de açúcar, pau de canela, cravinho e
colocava no fogão à lenha por meia hora.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Mungunzá sem leite?! Olha, padrinho, é a primeira vez que estou
ouvindo isso – avisou Cristina. – Mas o mungunzá da sua mãe ficava bom?...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O velho Argemiro, limpando as lágrimas dos olhos:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Olha, minha filha, ficava que nem o cu dela!</span></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-5372994106753048962020-03-11T17:22:00.002-04:002020-03-11T17:22:24.875-04:00Os tirambaços mortais do Mário Gordinho<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-0kfBLx9zimk/XmlWeUZWZ1I/AAAAAAAAl88/ZzMuxjHLy88O2nWDJG7yNRR_e-1HDB1zgCLcBGAsYHQ/s1600/14902777_1143496629060195_3310549073955887081_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="719" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-0kfBLx9zimk/XmlWeUZWZ1I/AAAAAAAAl88/ZzMuxjHLy88O2nWDJG7yNRR_e-1HDB1zgCLcBGAsYHQ/s400/14902777_1143496629060195_3310549073955887081_o.jpg" width="223" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os craques Fernandinho
e Mário Gordinho</i></div>
<br />
O engenheiro Paulo Caramuru convidou a Seleção Amazonense de
Masters para fazer um amistoso de futebol contra a Seleção da Eletronorte, onde
ele jogava de volante e era o treinador. <br />
<br />
Fechando gol do time dos eletricitários, o imprevisível
Juarezinho Tavares.<br />
<br />
No dia combinado, com as duas seleções já fazendo o
aquecimento dentro de campo, Juarezinho chamou Paulo Caramuru e cantou a pedra:<br />
<br />
– Aquele número dez, eu conheço! Aquele é o Mário Gordinho!
Não deixa ele chutar, porra, não deixa ele chutar, que ele é foda!<br />
<br />
Mal o jogo começou, o ponta direita da Seleção de Masters, o
endiabrado Camarão, driblou o lateral esquerdo Nelsinho, foi até a linha de
fundo e cruzou dentro da área. <br />
<br />
O volante Paulo Caramuru subiu mais alto do que todo mundo e
cabeceou a bola com violência lá para a intermediária.<br />
<br />
Mário Gordinho, que estava plantado na intermediária, nem
deixou a bola cair no chão. <br />
<br />
Do jeito que ela vinha, ele deu uma “chinelada” com tanta
força, que a bola entrou no ângulo, bateu na rede e voltou pra fora da grande
área. <br />
<br />
O goleiro Juarezinho, que havia ficado parado embaixo da
trave sem esboçar nenhuma reação, saiu de seu estado de rigidez cadavérica em
direção a Paulo Caramuru, aos gritos, completamente transtornado:<br />
<br />
– Eu não te falei, porra! Eu não te falei, porra!<br />
<br />
Antes que Paulo Caramuru esboçasse qualquer reação,
Juarezinho já estava tirando a camisa de goleiro, entregando pro técnico e
saindo de campo. <br />
<br />
Ele é que não ia ser desmoralizado daquele jeito. <br />
<br />
O Mário Gordinho é muito foda!</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-50314771951868581182020-03-11T17:20:00.001-04:002020-03-11T17:20:32.917-04:00Bafafá no Campo da Polícia Militar<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-jFueSUmDA7Y/XmlWCh5LkSI/AAAAAAAAl80/h2sYxXDCtSYIC1rnGr0R-I2t6yVs8KI8QCLcBGAsYHQ/s1600/show_1-sildomar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="654" data-original-width="872" height="300" src="https://1.bp.blogspot.com/-jFueSUmDA7Y/XmlWCh5LkSI/AAAAAAAAl80/h2sYxXDCtSYIC1rnGr0R-I2t6yVs8KI8QCLcBGAsYHQ/s400/show_1-sildomar.jpg" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sildomar Abtibol, uma
das estrelas do Íris Internacional</i></div>
<br />
Outubro de 1976. O poderoso Setembro Negro (ex-Murrinhas do
Egito) vai enfrentar uma das sensações do Peladão, o Íris Internacional, também
da Cachoeirinha, no campo do Comando da Polícia Militar, em Petrópolis, pela
fase do “mata-mata” do campeonato. <br />
<br />
O time do Íris Internacional contava com três moleques fora
de série, que faziam a diferença: Ricardo Guerreiro (aka “Tostão”), Junior
Perturbado (um dos melhores craques do Amazonas em todos os tempos) e Sildomar
Abtibol (futuro jogador profissional do Nacional e depois vereador de Manaus). <br />
<br />
O trio era responsável por 80% dos gols do time e jogava
quase por música, como se fosse uma sinfonia de Beethoven onde tudo se
encaixava no lugar apropriado. Dava gosto ver aqueles sacanas jogando. <br />
<br />
O time ainda contava com os talentos de Vladimir Brother e
Paulo Ribas.<br />
<br />
Com quinze minutos de jogo, o Íris Internacional já fez 1 a
0 (gol de falta de Sildomar), já carimbou o travessão do Setembro Negro duas
vezes (chutes de Junior Perturbado) e já obrigou o goleiro Gato a fazer uma
defesa milagrosa, num chute enviesado de Tostão. <br />
<br />
Aliás, o moleque de apenas quinze anos está tirando o sono
da defesa. Tostão dribla, se desloca, corre, divide, faz o diabo a quatro. <br />
<br />
A ruidosa torcida do Setembro Negro começa a exigir uma
marcação mais forte em cima do endiabrado centroavante. <br />
<br />
O quarto-zagueiro Lúcio Preto se encarrega da tarefa.<br />
<br />
No primeiro “rabo de vaca” que leva, Lúcio Preto consegue
correr atrás do moleque e, numa entrada violenta, o joga em cima do alambrado. <br />
<br />
A torcida do Íris Internacional só falta entrar em campo
para chacinar o carniceiro. <br />
<br />
O juiz adverte verbalmente o zagueiro. <br />
<br />
Tostão passa cinco minutos recebendo atendimento médico e
retorna ao campo. <br />
<br />
Na primeira bola que recebe, ele dá um balãozinho em Lúcio
Preto e dispara em direção à área.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><br />
<br />
O quarto-zagueiro consegue correr atrás do moleque e, em
nova entrada violenta, quase quebra as duas pernas do centroavante. <br />
<br />
Tostão cai no chão, urrando de dor. <br />
<br />
O juiz se aproxima com a intenção de puxar um cartão
amarelo. <br />
<br />
Capitão do time, Lúcio Preto argumenta que se tratou apenas
de um choque normal entre pessoas de compleição físicas diferentes: Tostão tem
apenas 15 anos, ele tem mais de 30. <br />
<br />
O juiz guarda o cartão amarelo.<br />
<br />
O jogo recomeça. Tostão recebe uma bola de costas pra área,
faz que vai passar pra Junior Perturbado, que está entrando pela direita, mas
recolhe a bola em um meio giro, fica de frente pro crime e dá um simples tapa
no canto esquerdo do goleiro Gato. <br />
<br />
É o suficiente. Íris Internacional 2 a 0.<br />
<br />
Falta pouco mais de dois minutos para acabar o primeiro
tempo. <br />
<br />
Sildomar ganha uma bola no meio do campo, toca para Junior
Perturbado, que lança Tostão na ponta esquerda. <br />
<br />
Lúcio Preto vai em direção ao centroavante e mete uma
“voadora” quase mortal. <br />
<br />
Tostão cai no chão, se contorcendo de dores. <br />
<br />
O juiz puxa o cartão amarelo e corre em direção ao zagueiro
que, fingindo uma contusão, também se contorce no chão. <br />
<br />
Na mesma hora, entra em campo o major Paulo Ferreira,
oficial do dia, com uma arma já engatilhada, que também corre em direção ao
Lúcio Preto e avisa, peremptório:<br />
<br />
– Escuta aqui, ô bonitão! Se você se aproximar desse guri
mais uma vez, eu vou te dar dois tiros no joelho e te prender por trinta dias!<br />
<br />
O juiz encerra o primeiro tempo.<br />
<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lúcio Preto não
voltou para o segundo tempo, com medo de ser preso. <br />
<br />
Foi substituído pelo colored Pompeu. <br />
<br />
O Íris Internacional ganhou de 3 a 1 do Setembro Negro, com
outro gol de Tostão no segundo tempo. O moleque era foda.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-18566562268254350422020-03-11T17:18:00.000-04:002020-03-11T17:18:20.760-04:00Um feminista-raiz avant la lettre<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-3jsjQXcjgbc/XmlVkpAihCI/AAAAAAAAl8s/lIvfIwernkkXC4cpMWRMdmyDv2fzj84KQCLcBGAsYHQ/s1600/5d5c17243f000032005b1417.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="422" data-original-width="630" height="267" src="https://1.bp.blogspot.com/-3jsjQXcjgbc/XmlVkpAihCI/AAAAAAAAl8s/lIvfIwernkkXC4cpMWRMdmyDv2fzj84KQCLcBGAsYHQ/s400/5d5c17243f000032005b1417.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Agosto de 1984. O boêmio Nei Parada Dura estava indo pra
casa depois de uma farra no Bar Xorimã, quando viu um sujeito espancando
violentamente uma mulher em plena Avenida João Alfredo (atual Djalma Batista), quase
no cruzamento da Rua Pará. <br />
<br />
Como era de madrugada e a avenida estava completamente
deserta, o sujeito ia acabar matando a mulher se ninguém acudisse.<br />
<br />
Apesar de estar bêbado, Nei estacionou o carro, desceu e já
foi pagando geral:<br />
<br />
– Deixa de ser covarde, filho de uma égua! Vem bater num
macho igual a ti!<br />
<br />
Antes que o sujeito percebesse o que estava acontecendo, Nei
já havia lhe dado um tapão no pé do ouvido e uma rasteira. <br />
<br />
O cabra se desmanchou no chão.<br />
<br />
Ágil como um gato, Nei Parada Dura caiu em cima do sujeito e
quando ia começar a lhe quebrar a venta, recebeu um duro golpe de mangará de
banana no meio das costas. <br />
<br />
Ele se virou pra trás pra saber o que estava acontecendo.<br />
<br />
Desferindo novos golpes de mangará contra ele, a mulher não
parava de gritar:<br />
<br />
– Para de bater no meu marido, nego safado! Para de bater no
meu marido, nego safado!<br />
<br />
Nei Parada Dura ficou injuriado.<br />
<br />
– Ah, aquele escândalo todo que vocês estavam fazendo na rua
era briguinha de casal, é? Pois agora os dois vão entrar na porrada pra
aprenderem a não fazer palhaçada em via pública!<br />
<br />
E encheu de porrada o marido e a mulher.<br />
<br />
Depois, entrou no carro e foi embora, com a certeza do dever
cumprido.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-26808854167501308402020-03-07T11:53:00.001-04:002020-03-07T11:53:16.112-04:00Será o Benedito, Santa Etelvina?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-aRR3dfy9bTs/XmPDTMqQW3I/AAAAAAAAl8c/YzdzmORlsjEQP0bGMa2QErX2demjWFN6gCLcBGAsYHQ/s1600/z%2Bpaulo%2Bcesar%2B235.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="300" src="https://1.bp.blogspot.com/-aRR3dfy9bTs/XmPDTMqQW3I/AAAAAAAAl8c/YzdzmORlsjEQP0bGMa2QErX2demjWFN6gCLcBGAsYHQ/s400/z%2Bpaulo%2Bcesar%2B235.jpg" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O investigador Paulo
César Dó, o “Pixoreca”</i></div>
<br />
Junho de 1989. Disposto a se transformar em um pequeno
produtor rural, Simas Pessoa comprou um imenso terreno (10x50m) em uma área de
invasão, lá pras bandas do bairro de Santa Etelvina, praticamente a dois
quilômetros do fim do mundo. <br />
<br />
Todo final de semana, ele e sua parceira Dinha se mandavam
pra lá, para roçar o mato e preparar o terreno para o início do plantio de
feijão carioquinha. Passou seis meses nessa odisseia.<br />
<br />
Em um determinado final de semana, ao chegar ao local,
quando o feijão carioquinha estava começando a brotar, ele teve uma surpresa:
seu terreno estava totalmente cercado com mourões e arame farpado. <br />
<br />
Num dos mourões de sustentação do arame farpado, uma imensa
tabuleta continha um aviso definitivo: “Propriedade particular. Os invasores
serão recebidos à bala”.<br />
<br />
Simas ficou tão puto que nem desceu do carro. Aquela
sacanagem merecia uma resposta à altura. Ele voltou imediatamente para a
Cachoeirinha e foi procurar o investigador Paulo César Dó, o “Pixoreca”, que
vivia se jactando de possuir uma arma de fogo em casa para se defender de
eventuais visitas do alheio. <br />
<br />
Ele bateu na porta do investigador e, assim que este abriu a
porta, Simas meteu um papo reto:<br />
<br />
– Porra, Pixoreca, preciso daquele teu pau de fogo
emprestado para fazer um acerto de contas lá no Santa Etelvina...<br />
<br />
Paulo César entrou na casa e voltou com uma pequena Beretta
950B, semiautomática, calibre 22 curto (5,5 mm). <br />
<br />
Simas colocou a arma na cintura, entrou no carro e, quando
se preparava para ir embora, Paulo César se aproximou timidamente da janela e
também mandou um papo reto:<br />
<br />
– Parceiro, só tem um problema: a arma está sem
balas...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As balas pra Beretta estão
caras pra caralho!...<br />
<br />
Simas queria briga. <br />
<br />
Só não enfiou a arma no rodiscley do investigador porque
teve pena. <br />
<br />
E nunca mais quis saber do terreno-quase-sítio em Santa
Etelvina, a padroeira dos lesos manauaras.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-91974803784380400542020-03-07T11:44:00.004-04:002020-03-07T11:44:47.403-04:00Jogo de sinuca no Bar do Aristides<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-imLwUVnLn1c/XmPBJqEJkfI/AAAAAAAAl8Q/i0AqFGlUTU4Nmqg6a5ZyYvZhkdES0OamwCLcBGAsYHQ/s1600/jutica%2B400.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="598" data-original-width="902" height="265" src="https://1.bp.blogspot.com/-imLwUVnLn1c/XmPBJqEJkfI/AAAAAAAAl8Q/i0AqFGlUTU4Nmqg6a5ZyYvZhkdES0OamwCLcBGAsYHQ/s400/jutica%2B400.jpg" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O escritor Jones Cunha me exibindo a sua famosa arte plumária, no Lago de Tefé</i></div>
<br />
No final dos anos 70, seu Aristides colocou uma mesa de
sinuca no Top Bar e o boteco, que já vivia superlotado, começou a colocar gente
pelo ladrão. Todo mundo queria tirar a barriga da miséria apostando no próprio
taco. <br />
<br />
Havia os chamados “cobras criadas”, em que se destacavam Nei
Parada Dura, Alencar (aka “Baixinho”), Lúcio Preto, Frank Cavalcante, Marco
Aurélio, Jones Cunha, Valdron, Carlinhos Branco, Helvécio e Guerra – os dois
últimos traziam os próprios tacos importados em elegantes maletas de couro.
Nessa turma, as apostas eram feitas em dinheiro. <br />
<br />
Havia os diletantes, como Rubens Bentes, Chico Porrada,
Mestre Louro, Sici Pirangy, Arlindo Jorge, Carlos Noia, Epitacinho Almeida,
Ruizinho Major, Manoel Augusto, Antídio Weil, Roberto Amazonas, Sidão Soares,
Nelito Bandeira e Luiz Lobão. Nessa turma, as apostas eram feitas em cerveja. <br />
<br />
E, finalmente, havia os “patos”, ou seja, o resto da
corriola. Como jamais gostei daquela ladroagem travestida de jogo sério, me
limitava a olhar as partidas de longe.<br />
<br />
O desencanado Lúcio Preto, um dos mais habilidosos naquele
jogo de larápios, jogava sempre com uma latinha de Skol na mão e o taco na
outra. Quero crer que era uma espécie de simpatia. <br />
<br />
Antes de dar uma tacada, ele colocava a latinha em uma das
bordas da mesa e começava a rodar a sinuca feito um peru doido, tentando
encontrar a melhor jogada.<br />
<br />
O escritor Jones Cunha, que na época era liso e confiado,
aproveitava essa presepada do Lúcio Preto para pegar discretamente a sua
latinha de cerveja e detonar legal. <br />
<br />
Quando terminava sua odisseia – ele nunca matava menos de
três bolas seguidas –, Lúcio Preto metia a latinha na boca e descobria,
horrorizado, que o conteúdo havia se evaporado. <br />
<br />
Sem falar nada, ele pedia nova latinha do seu Aristides e
continuava jogando.<br />
<br />
Um dia, puto da vida porque já havia perdido três partidas
seguidas pro Nei Parada Dura, Lúcio Preto pediu uma nova latinha de Skol do seu
Aristides, foi até o banheiro, despejou o conteúdo fora e encheu a lata de
urina. <br />
<br />
O choque térmico fez com que a lata de cerveja ficasse tipo
“véu de noiva”. Ele voltou pra mesa, fingiu que dava uma golada, colocou a
latinha em uma das bordas da mesa e começou a procurar a melhor jogada feito um
peru doido.<br />
<br />
Sorrateiramente, Jones Cunha pegou a latinha “véu de noiva”
e deu uma golada de respeito, disposto a detonar o conteúdo todo de uma só vez.
<br />
<br />
Alguns segundos depois, ele ficou pálido feito um defunto
vítima de hepatite e começou a cuspir o líquido de volta, emporcalhando o piso
do bar. Ninguém entendeu nada.<br />
<br />
Lúcio Preto, que havia acabado de concluir sua jogada, se
aproximou dele e sussurrou em seu ouvido:<br />
<br />
– Qualé, bicho?! Se eu soubesse que tu não gostavas de beber
mijo, eu tinha pedido outra coisa...<br />
<br />
Jones Cunha não passou recibo, mas também nunca mais se
aproximou das latinhas de cerveja do Lúcio Preto.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-32711428818277823012020-03-07T11:27:00.002-04:002020-03-07T11:27:53.598-04:00Fuá na casa da Graça<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-GmUWhtq_Kwc/XmO9XHdth-I/AAAAAAAAl8E/WCS5EaeutogMWiUPRTFDbU5IMln5uTVEgCLcBGAsYHQ/s1600/w%2BIMG_1106.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1065" data-original-width="1600" height="265" src="https://1.bp.blogspot.com/-GmUWhtq_Kwc/XmO9XHdth-I/AAAAAAAAl8E/WCS5EaeutogMWiUPRTFDbU5IMln5uTVEgCLcBGAsYHQ/s400/w%2BIMG_1106.JPG" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O engenheiro civil Chico
Costa e o engenheiro eletrônico Simão Pessoa</i></div>
<br />
Fevereiro de 1976. Estudante de Engenharia Civil, Chico
Costa estava promovendo uma “brincadeira” em sua casa e, em vez de comprar as
batidas do Selmo Caxuxa para animar a festa, resolveu ele mesmo fazer a birita,
apesar de não ser chegado a uma manguaça. <br />
<br />
Deu-se o inevitável: Chico Costa carregou demais na cachaça
e no açúcar, produzindo uma verdadeira bomba atômica em forma de batida de
amendoim. <br />
<br />
Para completar a fuzarca, cada convidado que entrava na
“brincadeira” era obrigado a derramar uma garrafa de birita dentro do panelão
de 20 litros. <br />
<br />
A mistura de cachaça, vodka, gim, vermute, quinado, uísque,
rum e campari transformou a bomba atômica em bomba de nêutrons. Não ia sobrar
uma alma viva depois de experimentar aquela batida<br />
<br />
Eu estava com uma namoradinha, Nonata Batista, biritando no
Bar do Aristides e ouvindo alegremente a seleção musical, já que a festa estava
rolando ao lado do boteco. <br />
<br />
O Mazinho chegou como quem não quer nada, sentou à nossa
mesa, bebeu um pouco de cerveja, conversou um pouco e depois foi pra
“brincadeira”. <br />
<br />
Dez minutos depois, passa um sujeito pela frente da nossa
mesa, segurando o sangue que saía do seu nariz. Era o Chico Porrada, a primeira
vítima do Mazinho.<br />
<br />
Segundo os relatos posteriores, Mazinho tomou três doses da
batida infernal e colou o platinado. Começou a se invocar com todo mundo. Quem
reclamasse, ele partia pra porrada. <br />
<br />
Cinco minutos depois de eu ver o Chico Porrada com o nariz
quebrado, o Mazinho sai de dentro da festa cobrindo o Airton Caju de catiripapos,
os dois vão brigando até o meio da rua, Luiz Lobão tenta desapartar, leva um
soco do Mazinho e aí, puto da vida, ele afasta Airton Caju da confusão e começa
a brigar com o Mazinho. <br />
<br />
Carlito Bezerra, Roberto Amazonas, Chico Costa e Nego Walter
conseguem desapartar os beligerantes. <br />
<br />
Como se nada tivesse acontecido, Mazinho, de olhos rútilos,
volta pra minha mesa, bebe um pouco de cerveja, conversa um pouco e depois
retorna pra “brincadeira”.<br />
<br />
Dez minutos depois, o Mazinho sai de dentro da festa
cobrindo o Gilson Cabocão de porrada, os dois vão brigando até o meio da rua,
Sici Pirangy tenta desapartar, leva um catiripapo do Mazinho e aí, puto da
vida, ele afasta Gilson Cabocão da confusão e começa a brigar com o Mazinho. <br />
<br />
Arlindo Jorge, eterno brother do Sici, vem em ajuda do amigo
e os dois começam a brigar com Mazinho. <br />
<br />
Carlito Bezerra, Roberto Amazonas, Chico Costa e Nego Walter
conseguem desapartar os beligerantes. <br />
<br />
Como se nada tivesse acontecido, Mazinho, de olhos rútilos,
volta pra minha mesa, bebe um pouco de cerveja, conversa um pouco e se prepara
pra retornar pra “brincadeira”.<br />
<br />
Nesse exato momento, um táxi para no meio da rua e dele
desce o afável Zé Leso, fantasiado de magnata árabe, se preparando,
provavelmente, para participar mais tarde de algum baile carnavalesco. <br />
<br />
Mazinho nem pensa duas vezes. Avança em cima do Zé Leso e
lhe dá um murro na ponta do queixo. Zé Leso cai no chão, desmaiado. <br />
<br />
Uns dez sujeitos avançam em cima do Mazinho e começam a lhe
cobrir de porrada. Ele se defende bem. <br />
<br />
De repente, para um segundo táxi no meio da rua e de dentro
dele descem Nilsinho, irmão do Mazinho, acompanhado de Nei Parada Dura, Erivam
Cabocão e Olíbio Xiri. <br />
<br />
Ao perceberem Mazinho em apuros, entram na confusão. É
porrada pra tudo quanto é lado. <br />
<br />
Carlito Bezerra, Roberto Amazonas, Chico Costa e Nego Walter
conseguem desapartar os beligerantes.<br />
<br />
Beirando um ataque de nervos, Graça Costa, irmã do Chico
Costa, abre o verbo:<br />
<br />
– A culpada dessa confusão toda é essa merda aqui!<br />
<br />
E, antes que alguém pudesse abrir a boca, ela despeja na sarjeta
o panelão de 20 litros de batida do capiroto.<br />
<br />
Peguei a Nonata Batista pelo braço e me mandei. <br />
<br />
Vão ser doidos assim lá no Bar do Caxuxa.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-41884188726479149092020-03-06T22:28:00.001-04:002020-03-06T22:28:32.964-04:00O poeta, o playboy e a guitarra Gibson<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-pe88FabikPc/XmMGpXMgSUI/AAAAAAAAl74/MTXPDygrEcc1iGbjhUATlSQHQKC-o86dQCLcBGAsYHQ/s1600/marcileudo908.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="384" data-original-width="512" height="300" src="https://1.bp.blogspot.com/-pe88FabikPc/XmMGpXMgSUI/AAAAAAAAl74/MTXPDygrEcc1iGbjhUATlSQHQKC-o86dQCLcBGAsYHQ/s400/marcileudo908.jpg" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Celestino Neto, Thiago
Roney e Marcileudo Barros</i></div>
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Outubro de 1982. O poeta Marcileudo Barros estava subindo a
Avenida Eduardo Ribeiro quando percebe um sujeito andando pra lá e pra cá na calçada
da loja Credilar-Teatro, demonstrando sinais de irritação e impaciência. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Ele reconhece o sujeito. É seu velho amigo Carlinhos Playboy,
parceiro dos áureos tempos da Cachoeirinha. Os dois se abraçam efusivamente.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– O que qui você está fazendo aqui? – pergunta Marcileudo.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– O Zezinho veio comprar uma guitarra Gibson aqui nessa merda e,
como o pagamento era à prestação, o filho da puta do gerente exigiu um fiador!
– explicou Carlinhos Playboy. – Eu vim ser o fiador do caralho da guitarra.
Estou aqui desde o meio-dia e me disseram que o filho da puta do gerente foi
almoçar. Já são quase duas da tarde e o viadinho ainda não voltou. Vou
continuar esperando. E você, porra, o que qui você está fazendo por aqui?...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Eu sou o filho da puta do gerente viadinho que saiu pra
almoçar... – devolveu Marcileudo, timidamente.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Carlinhos Playboy quase caiu no chão de tanto rir.</span></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-43750734149510364932020-03-06T22:20:00.002-04:002020-03-06T22:20:19.507-04:00A flauta mágica do Arnaldo Garcez<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-SGfO3H44Xko/XmMEw3s22cI/AAAAAAAAl7s/LE0TpyQ5lSQVlvu7VcctJT8wmP-QzjJYACLcBGAsYHQ/s1600/arnaldo%2Bgarcez.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="300" src="https://1.bp.blogspot.com/-SGfO3H44Xko/XmMEw3s22cI/AAAAAAAAl7s/LE0TpyQ5lSQVlvu7VcctJT8wmP-QzjJYACLcBGAsYHQ/s400/arnaldo%2Bgarcez.jpg" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Arnaldo Garcez, Simas
Pessoa e Juarezinho Tavares</i></div>
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Setembro de 1987. Depois de alguns meses de namoro, o artista
plástico, músico e poeta Arnaldo Garcez aceitou o convite da namorada Rita
Bacury e se mudou para a casa da garota, lá na Rua Itacoatiara, quase canto com
a Rua Borba. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Ele ficou alojado em um dos quartos, junto com o irmão caçula da
Rita.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A rotina de seu Moisés e dona Cecília, pais da Rita, começou a ser
quebrada da forma mais esdrúxula possível: assim que o dia amanhecia, Arnaldo
Garcez começava seus treinos diários de flauta doce e transversal. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Os trinados repetitivos começaram a dar nos nervos do casal.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Um belo dia, mais nervosa do que de costume, dona Cecília
interpelou a filha:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Escuta aqui, minha filha, esse negócio que esse rapaz coloca na
boca é algum doce?...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Rita ficou espantada com os conhecimentos musicais da genitora:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– É flauta doce sim, mamãe, é flauta doce sim! Como foi que a
senhora descobriu?</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Dona Cecília, injuriada, cortando da linha de três pontos:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Ah, minha filha, porque só sendo uma coisa muito doce pra esse
estrupício colocar na boca e perturbar as pessoas com esse irritante
fi-ri-fi-ri-fi-ri tamanha seis horas da manhã...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No mesmo dia, Arnaldo Garcez foi colocado pra fora da casa.</span></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-71152804656266066962020-03-06T22:04:00.000-04:002020-03-07T12:49:13.774-04:00O coração bobo de um cabra da peste<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-5vORSbnAgHw/XmL_76vR0mI/AAAAAAAAl60/NVIGBJ0hkKon9M2R1teBhuqYIU2DMjUnACLcBGAsYHQ/s1600/IMG_20180627_083721.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="961" data-original-width="1600" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-5vORSbnAgHw/XmL_76vR0mI/AAAAAAAAl60/NVIGBJ0hkKon9M2R1teBhuqYIU2DMjUnACLcBGAsYHQ/s400/IMG_20180627_083721.jpg" width="400" /></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Francisco
Praciano, Lalá Soares e esse vosso escriba</span></i></div>
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Junho de 2018. Na companhia do presidente regional do PDT Stones
Machado, do ex-deputado federal Francisco Praciano, do designer gráfico Gil da
Liberdade e do violonista Lalá Soares, eu retorno a Parintins depois de um
hiato de quase 10 anos. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Motivo da efeméride? A celebração dos 25 anos da “Festa da
Amizade”, capitaneada pelo compositor Carlos Paulain, em sua própria
residência, sempre no sábado, no segundo dia do festival. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Trata-se de uma monumental boca livre com mais de 100 convidados,
que detonam centenas de bodós, acepipes diversificados (maniçoba, vatapá,
caruru, pirarucu de casaca, leitão à pururuca, picanha no bafo, etc) e
engradados de cerveja em quantidade industrial. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A parte musical da esbórnia fica por conta de Israel e Junior
Paulain, David Assayag, Edilson Santana, Robson Junior, Prince do Boi e quem
mais aparecer no pedaço para dar uma canja.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-A0ldTu152qY/XmMAFpv3ERI/AAAAAAAAl64/hGvgQpvimQIfZFPVHuD8SzVrPcxPyj5DACLcBGAsYHQ/s1600/IMG-20180702-WA0016.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="300" src="https://1.bp.blogspot.com/-A0ldTu152qY/XmMAFpv3ERI/AAAAAAAAl64/hGvgQpvimQIfZFPVHuD8SzVrPcxPyj5DACLcBGAsYHQ/s400/IMG-20180702-WA0016.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Carlos
Paulain, Stones Machado e esse vosso escriba</span></i></div>
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No início da manhã de sábado, Stones Machado levou eu e Gil da
Liberdade para uma reunião política em Nhamundá, onde o candidato pedetista à
reeleição, governador Amazonino Mendes, estaria vendendo o seu peixe. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Seria um encontro rápido, de no máximo uma hora, de forma que
estaríamos de volta a Parintins antes do meio-dia. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Infelizmente, a lancha fretada pelo Stones deu pane mecânico antes
de chegarmos ao nosso destino, nos deixando à deriva no Paraná do Aduaca por
quase 50 minutos até a chegada do socorro. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Resultado: a nossa programação sofreu um atraso monumental,
conversamos com o governador em Nhamundá por cerca de cinco minutos e só
conseguimos desembarcar em Parintins por volta das 14h. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O panavueiro na residência do Carlos Paulain já estava colocando
gente pelo ladrão.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Nos abarcamos em uma mesa onde Francisco Praciano e Lalá Soares
saboreavam uma estupenda galinha à cabidela, uma das especialidades da Regina,
esposa do Carlos Paulain. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Eu mal havia provado do meu caldinho de muçuã quando Praciano me
deu uma cotovelada na costela e mandou um papo reto:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Poeta, não dá bandeira, mas passa o pano nessa menina que está
sentada em uma das mesas aqui do nosso lado... Caralho, mas ela tem os lábios
da Angelina Jolie e um sorriso lindo... Espia só, discretamente, sem dar
mancada...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Olhei para a menina rapidamente e continuei concentrado no meu
caldinho de muçuã.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-O7t-7Pd3zCs/XmMAUne3eJI/AAAAAAAAl7A/W-VVHmxp5MklZmG8jLZkBUiFrsHesLsAACLcBGAsYHQ/s1600/Miss%2BElliot%2B36.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="720" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-O7t-7Pd3zCs/XmMAUne3eJI/AAAAAAAAl7A/W-VVHmxp5MklZmG8jLZkBUiFrsHesLsAACLcBGAsYHQ/s400/Miss%2BElliot%2B36.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Dali a cinco minutos, recebo uma nova cotovelada na costela. Era o
Praciano de novo:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Olha só a lapa de coxas da menina, poeta! Olha só a lapa de
coxas da menina! Puta que pariu, mas ela é muito gostosa...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Levantei a vista do prato e olhei discretamente para o traseiro da
menina, que havia se levantado da mesa e se dirigia a um dos banheiros da
residência. </span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sem dizer nada, voltei a me concentrar no caldinho de muçuã.</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Dali a cinco minutos, recebo uma nova cotovelada na costela. Era o
Praciano, cada vez mais eufórico, observando a musa que retornava do banheiro:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Porra, poeta, essa menina é de parar o trânsito. Ela balançou
meu coração bobo de cabra da peste nordestino. Vou tomar umas brejas pra criar
coragem e me apresentar pra ela... De repente, sei lá, pode ter jogo e eu acerto
sozinho na mega-sena acumulada...</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Eu havia terminado de devorar o caldinho de muçuã e me preparava
espiritualmente para o consumo de cervejas estupidamente geladas. Aí, fui de
uma sinceridade cruel:</span><br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">– Porra, Praciano, tem 50 mil fêmeas disponíveis aqui na ilha de
Parintins! 50 mil fêmeas dando sopa! E, de repente, porra, você resolve se
engraçar logo da minha?... Essa aí é a Kelly Taline, minha namorada há cinco anos. Fui eu que a convidei para vir aqui hoje, na companhia do Áureo Petita.
Não se avexe não, que vou te apresentar pra ela...</span><br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-NNhm0XVaZgM/XmMAwS2zBXI/AAAAAAAAl7M/i7VCV6Xeke0uO1g_yTvUrAMbftogbz0BwCLcBGAsYHQ/s1600/Miss%2BElliot%2B40.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1152" data-original-width="864" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-NNhm0XVaZgM/XmMAwS2zBXI/AAAAAAAAl7M/i7VCV6Xeke0uO1g_yTvUrAMbftogbz0BwCLcBGAsYHQ/s400/Miss%2BElliot%2B40.png" width="300" /></a></div>
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Aí, antes que ele abrisse a boca, chamei a Taline, fiz a
apresentação devida para o cabra da peste, ela sorriu meio encabulada e voltou
para a mesa que dividia com o Áureo Petita e um casal de amigos. O Praciano não
sabia onde enfiar a cara. Acontece. Cada uma.</span><br />
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-CB93sZezsLs/XmMA5R9c6II/AAAAAAAAl7Q/LwCb3_XsU7sWk9XzsR7qJwZd7pidQ9vCwCLcBGAsYHQ/s1600/Miss%2BElliot%2B25.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="300" src="https://1.bp.blogspot.com/-CB93sZezsLs/XmMA5R9c6II/AAAAAAAAl7Q/LwCb3_XsU7sWk9XzsR7qJwZd7pidQ9vCwCLcBGAsYHQ/s400/Miss%2BElliot%2B25.jpg" width="400" /></a></div>
<br /></div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-30512936128900555852020-02-28T21:45:00.001-04:002020-03-06T22:08:57.503-04:00Os 60 anos de Asterix e sua turma<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-aC098oQA878/XmMCK7RcXtI/AAAAAAAAl7g/o6n8Oamv0MA0ueT__hoQ2dY3V9f2Hg0qACLcBGAsYHQ/s1600/79cfab624c6f02057146c1cdadff2edf-754x394.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="394" data-original-width="754" height="208" src="https://1.bp.blogspot.com/-aC098oQA878/XmMCK7RcXtI/AAAAAAAAl7g/o6n8Oamv0MA0ueT__hoQ2dY3V9f2Hg0qACLcBGAsYHQ/s400/79cfab624c6f02057146c1cdadff2edf-754x394.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Por Érico Assis<br />
<br />
Tanto quanto são irredutíveis, eles são divertidos. E divertem irredutivelmente há 60 anos. No dia 29 de outubro do ano passado comemorou-se seis décadas desde que Asterix e sua aldeia de gauleses irredutíveis apareceram nas bancas de jornal da França, na primeira edição da revista Pilote.<br />
<br />
Hoje, a criação de René Goscinny e Albert Uderzo é um império: 380 milhões de exemplares vendidos em 111 idiomas, 14 filmes, um parque temático e lançamentos com números milionários a cada álbum. Para comparação, o Império Romano que eles tanto combateram chegou no máximo a 100 milhões de habitantes. Os gauleses venceram com sobra.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<img alt="" class="alignnone size-full wp-image-7351" height="304" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/asterix2.jpg" width="400" /><br />
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Goscinny contava que ele e Uderzo criaram Asterix e toda sua aldeia em duas horas. A dupla tinha que criar uma atração para o novo semanário Pilote, que ia ser lançado em sessenta dias. Goscinny, o roteirista e editor, queria alguma coisa do folclore ou da história francesa. Uderzo, o desenhista, começou a dar ideias desde o paleolítico. Eles pararam no período da Gália, região que hoje seria França, Bélgica e Itália, habitada por um povo celta que ficou ali quase um milênio até ser subjugado pelo império romano. Quem teriam sido os últimos gauleses? A dupla de criadores tinha chegado na sua história.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="" class="alignnone size-full wp-image-7352" height="238" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/00195asterix.jpg" width="400" /> </div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Uderzo queria um personagem grande e forte, como a imagem que se tinha dos gauleses. Goscinny queria um nanico, para causar graça à primeira vista. Chegaram num acordo: Asterix seria nanico, mas teria um parceiro grandão chamado Obelix. Os dois seriam a linha de frente da última aldeia gaulesa que resiste ao império romano. A arma secreta gaulesa é a poção mágica do druida Panoramix, que dá força sobre-humana a quem bebe. Obelix é o único que não precisa beber, porque caiu dentro de um caldeirão de poção quando era criança; nele, os efeitos ficaram permanentes. Os romanos, sob comando de Júlio César, sempre voltam estropiados ao se deparar com os gauleses </div>
<div style="text-align: left;">
superfortes. </div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="" class="alignnone size-full wp-image-7353" height="394" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000ideiafix.jpg" width="400" /> </div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Abracourcix é o chefe da aldeia. Chatotorix é o bardo que quer cantar as glórias dos heróis gauleses, mas ninguém aguenta sua harpa nem sua voz. Ordenalfabetix é o peixeiro que sempre compra briga com o ferreiro Cetautotomatix. Os nomes são tanto brincadeiras com figuras históricas da Gália – como Vercingetórix (80-46 a.C.), o chefe gaulês que resistiu aos romanos – quanto jogos de palavras. Os leitores entraram na brincadeira quando a Pilote fez um concurso para batizar o cachorro de Asterix, o hoje famoso Ideiafix. </div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="" class="alignnone size-full wp-image-7354" height="400" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix4.jpg" width="400" /> </div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
A aldeia gaulesa é a França e os romanos são o resto do mundo tentando se meter na vidinha francesa. O país europeu é famoso por torcer o nariz ao imperialismo estrangeiro – não só aos romanos de dois mil anos atrás, mas ainda hoje. Goscinny e Uderzo enchiam as histórias de referências à França contemporânea, personalidades da política e da cultura. Quando Asterix e Obelix viajavam, sacaneavam a visão que os franceses têm dos britânicos (bretões), dos alemães (godos), dos suíços (helvéticos) e assim por diante. Um dos trunfos da série foi criar um herói nacional que orgulha e sabe rir da própria nacionalidade.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="" class="alignnone size-full wp-image-7355" height="225" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix6.jpg" width="400" /> </div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
A primeira adaptação de Asterix foi para o rádio, um programa da Radio Luxembourg em 1960. Em 1967, Asterix, o Gaulês virou o primeiro longa-metragem animado – ao qual se seguiram mais nove, incluindo Asterix e o Segredo da Poção Mágica no ano retrasado. Os quatro filmes live-action começaram com Asterix e Obelix contra César, de 1999, e estrelaram atores de peso no cinema europeu: Roberto Benigni, Alain Delon, Laetitia Casta, Monica Bellucci, Catherine Deneuve e Gérard Depardieu como Obelix. Os filmes, tal como os álbuns, fazem sucesso principalmente na Europa. </div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/000asterix5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" border="0" class="alignnone size-full wp-image-7356" height="400" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/000asterix5.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: left;">
<strong><br /></strong></div>
<div style="text-align: left;">
<strong>Milionarix</strong> </div>
<div style="text-align: left;">
Asterix fez sucesso entre os leitores desde o primeiro número do jornalzinho Pilote, onde saíam uma ou duas páginas de cada aventura por semana. A primeira história completa virou o álbum Asterix, o Gaulês, com tiragem de 6.000 exemplares. Cinco anos depois, Asterix e os Normandos saiu com tiragem de 1,2 milhões, que se esgotaram em dois dias. O álbum lançado em 2019, A Filha de Vercingétorix, saiu com tiragem de 5 milhões, simultaneamente em vinte idiomas. Foi o maior lançamento do mercado editorial europeu no ano. </div>
<div style="text-align: left;">
<strong><br /></strong></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" border="0" class="alignnone size-full wp-image-7357" height="400" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix7.jpg" width="295" /></a></div>
<div style="text-align: left;">
<strong>Goscinnix</strong> </div>
<div style="text-align: left;">
René Goscinny, infelizmente, viu menos de um terço destas seis décadas. Num sábado de manhã, 5 de novembro de 1977, ele foi ao cardiologista fazer um teste de esforço físico. Subiu numa bicicleta ergométrica, começou a pedalar, reclamou de dores no peito e desabou. Morreu aos 51 anos. Judeu que perdeu três tios em campos de concentração, criado na Argentina, formado profissionalmente pelos quadrinistas da Nova York dos anos 1940, Goscinny criou não só Asterix, mas também Umpa-Pá, Iznogud, O Pequeno Nicolau, colaborou por anos nos roteiros de Lucky Luke e teve atuação importantíssima como editor e produtor.</div>
<div style="text-align: left;">
<strong><br /></strong></div>
<div style="text-align: left;">
<a href="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix8.jpg" imageanchor="1" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; clear: right; color: #0066cc; float: right; font-family: Times New Roman; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; orphans: 2; text-align: left; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"></a></div>
<div style="text-align: center;">
<a href="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix8.jpg" imageanchor="1" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; clear: right; color: #0066cc; float: right; font-family: Times New Roman; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; orphans: 2; text-align: left; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span style="color: #b00000;"></span><br /></a></div>
<br />
<div style="text-align: left;">
<a href="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><strong><br /></strong></a></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="" border="0" class="alignnone size-full wp-image-7358" height="400" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix8.jpg" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #0066cc; font-family: Times New Roman; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: center; text-decoration: underline; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;" width="299" /><strong><br /></strong></div>
<strong><br /></strong>
<strong>
</strong>
<br />
<div style="text-align: left;">
<strong>Uderzix</strong> </div>
<div style="text-align: left;">
Filho de imigrantes italianos na França, Albert(o) Uderzo teve o primeiro trabalho publicado em jornal aos 14 anos. Passou pela animação e diversos jornais antes de conhecer Goscinny, com quem criou o pele-vermelha Umpa-Pá e, depois, os gauleses irredutíveis. Quando Goscinny faleceu, ele diz que passou um ou dois dias em choque, travado. Levou três anos para produzir sozinho um novo álbum de Asterix, O Grande Fosso, mas a partir deste fez mais oito trabalhando sozinho no roteiro e no desenho. Aposentou-se aos 86 anos e supervisiona os álbuns de Asterix criados por outros. Diz que a série vai se encerrar após sua morte.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="" class="alignnone size-full wp-image-7359" height="400" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix9.jpg" width="302" /> </div>
<div style="text-align: left;">
<span style="background-color: white; color: black; display: inline; float: none; font-family: "times new roman"; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; letter-spacing: normal; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="background-color: white; color: black; display: inline; float: none; font-family: "times new roman"; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; letter-spacing: normal; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">Ferrix e Conradix</span><b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike></div>
<div style="text-align: left;">
Depois de longa procura por alguém que topasse assumir essa milionária responsabilidade, os franceses Jean-Yves Ferri (roteiro) e Didier Conrad (desenho) tornaram-se os novos autores de Asterix em 2013. Começando por Asterix entre os Pictos, eles já produziram quatro álbuns e respeitam fidelissmamente a fórmula dos gauleses contra o império romano, as piadas recorrentes, as tiradas com a sociedade francesa e praticamente o mesmo traço de Uderzo.</div>
<div style="text-align: left;">
<a href="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix11.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><br /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<a href="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix11.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><br /></a></div>
<strong><br /></strong>
<br />
<div style="text-align: center;">
<img alt="" border="0" class="alignnone size-full wp-image-7360" height="400" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix11.jpg" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #0066cc; font-family: Times New Roman; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: center; text-decoration: underline; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;" width="291" /><strong><br /></strong></div>
<strong><br /></strong>
<strong>
</strong>
<br />
<div style="text-align: left;">
<strong>Sexagenarix</strong> </div>
<div style="text-align: left;">
O primeiro satélite que a França colocou em órbita chamou-se Asterix. Está perdido no espaço e pode ser que algum acaso mágico faça ele trombar com os asteroides 29401 Asterix ou 29402 Obelix, assim batizados por astrônomos tchecos. Duas milhões de pessoas visitam anualmente o Parque Asterix, em Plailly, norte da França. O perfil de Asterix estampa uma moeda comemorativa de 2 euros lançada este ano na União Europeia. Générations Asterix, álbum que saiu há pouco na França, reuniu mais de 60 autores do mundo prestando homenagem à série. E o 38º álbum oficial, A Filha de Vercingétorix, saiu exatamente no dia dos 60 anos, 29 de outubro. <strong><br /></strong></div>
<div style="text-align: left;">
<strong><br /></strong></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix10.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" border="0" class="alignnone size-full wp-image-7361" height="400" src="https://simaopessoa.com.br/wp-content/uploads/2019/11/0000asterix10.jpg" width="294" /></a></div>
<div style="text-align: left;">
<strong><br /></strong></div>
<div style="text-align: left;">
<strong>Brazuquix</strong> </div>
<div style="text-align: left;">
Asterix já vendeu mais de três milhões de álbuns no Brasil. Os gauleses aportaram aqui em 1967 através da editora espanhola Bruguera (depois Cedibra). A editora Record relançou e lançou todos os álbuns oficiais e vários derivados (como as quadrinizações dos filmes), inclusive em versões remasterizadas, até O Papiro de César. A editora Panini anunciou recentemente que vai retomar os gauleses por aqui, provavelmente com o inédito Asterix e a Transitálica, de 2017, e a aventura mais recente. Asterix com certeza merece uma coleção completa e sempre à disposição de quem quiser conhecer a turma irredutível.</div>
</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37752907.post-81589124597447527532020-02-28T16:06:00.000-04:002020-02-28T16:10:04.953-04:00A memória mente muito mas não faz por mal<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-6RcMwaRPrUE/XllymRgUG-I/AAAAAAAAl6o/S8WHTD0MvXIKBotHar2FWQiv-rQmKjExQCLcBGAsYHQ/s1600/trindademarido9898-1-696x418.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="418" data-original-width="696" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-6RcMwaRPrUE/XllymRgUG-I/AAAAAAAAl6o/S8WHTD0MvXIKBotHar2FWQiv-rQmKjExQCLcBGAsYHQ/s400/trindademarido9898-1-696x418.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Por Joaquim Ferreira dos Santos<br />
<br />
Eu me lembro, e não entendo por que de uns tempos para cá as
pessoas ficaram com vergonha de molhar os olhos quando se lembram de ai como
era bom, eu me lembro que saudade era, ao lado do batuque na cozinha, o toque
de trivela e as ancas da sardinha 88, a saudade era uma das glórias nacionais.<br />
<br />
Não tinha tradução no idioma inglês e nem em qualquer outro.
Coisa nossa. A saudade era pedacinho colorido de confete e, dependendo de quão
velho cada um de nós fosse, havia sempre alguém que se lembrava de ter dormido
protegido apenas pela segurança antimosquito dos espirais de Durmabem, outro
que se abanava com o sexo seguro de um catecismo do Zéfiro – e isso tudo era
tão delicadamente gostoso que a saudade matava a gente, morena. De prazer.
Tenho saudade e gosto de conjugar seus verbos em todos os tempos regulares e
irregulares.<br />
<br />
Às favas a modernidade dos que não vêem sentido em pegar
jacaré nessa onda, não vêem nenhuma praticidade em se ter um carro com os
faróis projetados para trás. Eu vejo.<br />
<br />
<i>I see dead people</i>, mas sem o mesmo medo do garoto no cinema.
Na boa. Sinatra disse para Sammy Davis Jr. que vencia quem morria com mais
brinquedos. Estou de acordo. Gosto de brincar de saudade. Tenho dúzias desse
bambolê e Playmobil.<br />
<br />
Eu me lembro da frota encabeçada pela Santa Maria, Pinta e
Nina. Eu me lembro de todos os afluentes da margem direita do Amazonas,
começando com o Javari e o Juruá, lá no cantinho com o Acre, e vindo até aqui
perto na boca do Atlântico com o Madeira, Tapajós, Xingu e Tocantins. Eu me
lembro, e se Deus quiser não pretendo jamais me esquecer, dessas inutilidades
escolares porque, por menos utilidade que elas ofereçam hoje aos homens de
negócios que somos, não me ocorre madalena mais gostosa para lambuzar de jajá
de coco os lábios da memória e alavancar junto o cheiro da minha pasta de couro
na escola.<br />
<br />
Qual o problema?<br />
<br />
Qual é o mosquito de se ouvir de novo o bento que bento é o
frade na hora do recreio (que hora tão feliz, queremos o biscoito São Luiz) e
ainda o Zé Trindade chanchadeiro avaliando, e me sendo primeiro professor na
matéria, a dona boazuda que passava emulando a pororoca marajoara, as águas
quentes de Goiás e o arrebol do Arpoador. “O que é a natureza”, dizia o Zé. Até
hoje concordo, me maravilho e faço profissão de fé.<br />
<br />
Sei que quanto mais fraca for a memória – e eu não tomei
todo o óleo de fígado de bacalhau que o doutor mandava – quanto mais fraca a
memória mais o cidadão se recordará com nitidez de como foram bons aqueles
tempos. Melhor assim. E, boémia, aqui estou de regresso, aqui estou vibrante de
suspiros de como era malandramente elegante saltar de ônibus andando, como era
matissiana a seda azul do papel que envolvia a maçã e como toda a atual
programação do canal a cabo Sexy Hot soa sem mistério erótico diante do pêra,
uva, maçã ou salada de frutas com as meninas no recreio.<br />
<br />
Eu vi essas “cachorras” nascendo. Eram chamadas de avião,
pedaço de mau caminho, certinhas, broto. Posso até achar que as saradas
sucederam-nas com mérito, e, cá entre nós, eu adoraria chancelá-las com o meu
carimbo de aprovadas. Mas jamais vou esquecer as que me foram cacho, affair e
perdição.<br />
<br />
A memória mente muito, mas não faz isso por mal. A
subjetividade lhe é da índole. Eu me lembro, qualquer um pode ir ao arquivo
confirmar, que o ataque do Flamengo era formado por Joel, Moacir, Henrique,
Dida e Babá. Já a memória afetiva não tem autenticação passada em cartório, não
registra assinatura. Ela apenas pede baixinho, feito a princesinha Norma Blum
no Teatrinho Trol da Tupi, que você acredite. A memória afetiva, essa minha
crença de que o fonograma perdido de Dóris Monteiro cantando o jingle do Café
Capital é a melhor gravação da bossa nova, tem a inteligência do dono. É o
outro lado do videoteipe, esse burro da pior espécie. Limitado a suas câmeras
óbvias, o teipe registra tudo exatamente como é de fato. Tolo. Moço, pobre
moço. A memória não.<br />
<br />
Paulinho da Viola ensinou que a vida não é só isso que se
vê. É um pouco mais. Quem haverá de saber, sequer eu, sequer o analista, o bem
que me fez o amor inicial? Presumo que minha primeira namorada tenha sido a
moça da tampa da caneta esferográfica, aquela para sempre sorridente que ia
tendo o maiô subtraído pelo movimento da tinta até que finalmente, para meu
espanto, revelava sua gloriosa e glabra nudez. Saudades sinceras, meu bem. Foi
bom enquanto durou a tinta, querida.<br />
<br />
Eu me lembro do mocotó das vedetes, do pente Flamengo para
fora do bolso, de ajudar a empregada a tirar as pedrinhas do feijão, das
pílulas de vida do dr. Ross fazendo bem ao fígado de todos nós – e não sou doido
de estar com isso querendo matar a saudade de ninguém. Que a todos a saudade
seja imortal. Vivo da minha, e graças a Deus essa saudade me vem com duas
polegadas a mais e na cor mais linda do mundo, o azul da pedra do anil Rickett.
Sou grato quando a saudade me aparece com aquela saia tergal plissada, cheia de
machos e que ao estrear, no governo João Goulart, foi apelidada de Maria
Teresa, por ser nossa primeira dama, como insinuava a maledicência da época,
cheia deles também.<br />
<br />
Quero mais é tratá-la, a saudade, a minha, com Biotônico
Fontoura. Perpertuá-la com a gordura de coco Carioca. Nutri-la com a banha de
porco e com muitos biquinhos daquele pão, os seios que eu imediatamente
beliscava quando era trazido pelo padeiro de bicicleta. Quero que a saudade cresça
e apareça, brinque com a língua retrô, faça barba-cabelo-e-bigode da
contemporaneidade otária e mostre a todos que não adianta estrilar e nem bater
o pé. O que resolve é ter logo à mão lâmpadas GE. O que resolve é fazer a luz
da criatividade e apagar o preconceito.<br />
<br />
A culpa, se você pretende classificar meu comportamento de
antinatural, é do desafinado. João Gilberto, logo ele, um sujeito que vivia
cantando sambinha antigo, lançou em 1959 o Brasil na terra da modernidade com o
LP “Chega de saudade”.<br />
<br />
O país do futuro, tão anunciado, chegara e queria se livrar
o mais rápido possível do Jeca Tatu, do tiro no peito do Getúlio, da bofetada
no Bigode, das macacas de auditório, das múmias do Museu da Quinta da Boa
Vista, dos amores infelizes do Antonio Maria. Queria se reapresentar em novo
padrão. Camisa Volta ao Mundo que não precisava passar, garotas de biquíni no
Arpoador, o fusca produzido nas fábricas de São Paulo. Depois de décadas com o
berreiro do Vicente Celestino tonitroando nos ouvidos pátrios, a modernidade
urgia em sintonizar o dial num sujeito cantando baixinho. Como o Chet Baker e a
Julie London faziam lá fora. Foi aí que João sussurrou o chega de saudade, e o
Brasil começou a achar cafona, hoje de manhã, tudo que tivesse sido feito ontem
à noite.<br />
<br />
Sinceramente, sem querer cantar marra, sem tirar chinfra, eu
estava lá, e não pisquei. Deve ser porque eu usava Optraex, um copinho azul em
que se colocava uma solução líquida para lavar o olho. Com a menina-dos-olhos
viva e esperta, não levei João no radical. Entendi que aquilo era o velhíssimo
Dorival Caymmi, o eternamente Orlando Silva, só que numa outra batida de
violão, essa coisinha também das antigas. Segui na paz, curtindo tanto o
blim-blom do novo baião de João como o que vinha das ondas da PRE-8, Rádio
Nacional do Rio de Janeiro, transmitindo diretamente do palco-auditório do 21°
andar da Praça Mauá, 7.<br />
<br />
Eu sempre pautei a vida pelo bordão do Café Moinho de Ouro,
que já nos tempos dos barões era servido nos salões – e nunca entendi por que
jogar fora os bons grãos da memória. Não só digo que dura lex, sed lex, no
cabelo só uso gumex, como faço questão de aproveitar sempre uma sobra do
fixador para colar bem coladinho tudo o que já ameaça ser vaga lembrança. I see
dead people, e não só: produtos, jingles, comportamentos, piadas e palavras.
Pode ser tudo muito divertido e brinquedo. Ou você não brinca com meu brinco?<br />
<br />
Continuo achando, do mesmo jeito que os Sex Pistols cantando
o “My Way” do Sinatra, feito o João cantando Noel, que não há programação melhor
para o grande rádio da vida do que misturar as estações. Não dar um
chega-pra-lá no passado. Mas manter vivo, para sempre turbinado, o que nos é
felicidade e borogodó.</div>
Simão Pessoahttp://www.blogger.com/profile/13128844125784431996noreply@blogger.com0