Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
A grande novidade deste São Paulo Fashion Week é a entrada
em cena da Camu’s Models, primeira agência de modelos existencialista do mundo.
A agência é uma criação do sociólogo e empresário Jean-Paul Largerfield. “Enfado
é demais de chique”, explica ele. “Daí a idéia de procurar intelectuais
existencialistas que sentem náuseas autêntica da vida e, por isso, são muito
mais naturais.”
A modelo mais bem paga da Camu’s Models é a brasileira
Berenice Beauvois, a Berê Deprê, estrela do ensaio “The Fashion Winter of Our
Discontent” da revista inglesa I-Depressive de novembro passado.
O fotógrafo Dick Small não poupa elogios á brasileira: “Ela
é demais! Berê acredita que a concepção hegeliana da existência não é permeável
à práxis marxista que tem, evidentemente, derivação rosseauniana. Ela e a Nana
Never, uma sartreana, discutiram horrores durante o make-up. Eu amei.”
Numa das fotos, Berê Deprê sintetiza a nadificação da
consciência com uma pose calculadamente desleixada e um olhar propositadamente
entediado.
Nesta edição do SPFW, o estilista Alexandre Hepatitich
escalou todo o cast da Camu’s Model para o desfile de sua nova marca, a Engajé
Jeans.
“O principal modelo da coleção masculina seria o Paulo Zulu”,
disse Hepatitich, “mas ele está ocupado demais escrevendo um paper sobre a
influência da Mitologia Afro-Teutônica na Concepção Junguiana do Inconsciente
Coletivo, por isso não pôde vir. Foi aí que eu preferi desfilar a coleção
inteira com a Camu’s Models.”
A coleção de Hepatitich tem como tema o inverno nas favelas
brasileiras. “Nunca pisei numa favela, mas deve ser o ó”, declarou o estilista.
“Por isso, fiz uma coleção socialmente engajada com jeans estrategicamente
rasgados. É o que eu chamo de índigo indignado.”
Depois do surgimento da Camu's Models, a procura por
intelectuais que modelam tem crescido exponencialmente. Novas agências como a
Freud Fashion (especializada em paranóicos esquizofrênicos para desfiles
performáticos) e a Kant Casting (para desfiles mais formais, de precisão quase
matemática) tomaram conta do mundo da moda.
“Renovação é tudo de bom”, declarou a crítica de moda Erika
Leibniz. “Mas o contraponto dialético é um componente intrínseco ao mundinho
fashion. Ou, como diria Parmênides, essa coisa muito pitagórica é, tipo assim,
o stylish da contra-tendência.”
Um jovem, moço mesmo, ali na casa dos vinte e poucos anos,
pede um autógrafo em um dos meus livros e, com a timidez de um Woody Allen
juvenil versão Brooklin paulistano, indaga se pode fazer uma pergunta que não
pôde fazer em público, no debate sobre os quereres das mulheres etc. Solene,
nervoso, óculos maiores do que os meus, diz que precisa de um conselho para a
sua vida amorosa. Uma dica.
Com o fuzuê de gente por perto, cochicha no meu ouvido. Quase
passo a pergunta ao amigo Marcelo Rubens Paiva, que autografava ao meu lado, na
Livraria Cultura, no Market Place, SP, “As verdades que ela não diz” (Ed. Foz).
Paiva certamente daria uma melhor resposta ao noviço.
– Como pedir sexo anal à minha namorada? – era a indagação
do moço, pobre moço.
Contou que já estavam juntos havia uns dois anos e nada do
gênero, ao contrário de alguns amigos, que haviam praticado o ato sexual mais
heterodoxo.
Meu caro leitor, ponha uma coisa na cabeça: Sexo anal não se
pede. Sexo anal é dádiva, oferecimento, mimo, presente. Atitude da menina que
louva aquele que bem merece. Pode ser também, em alguns casos, medida
emergencial para tentar segurar o vagabundo que está de partida. Pode ser, mas
não é regra.
Se você insiste, meu Woody do Brooklin paulista, fica chato,
já era. Se você força, pior ainda. Aliás, forçar a barra nunca, amigo, respeite
a moça que ela merece. Sexo anal, a menos que seja uma mocinha mais perversa –
nada contra! –, só acontece em momentos especiais. Uma viagem a uma praia mais
distante, por exemplo, é uma ocasião e tanto.
Você pode até sugerir, de leve, ao acariciá-la na cama, na
delicadeza, toques dos dedos etc, mas, repito, sem forçar a barra. Se sentir
que não tem chance, que ainda não chegou a hora, esqueça, meu rapaz, relaxe e
continue amando, digamos assim, pelas vias mais convencionais. Assistir juntos
a clássicos do cinema erótico como “O Último Tango em Paris”, que trata
–poeticamente! – do tema… também ajuda a iniciar a jovem no assunto. Gera uma
oportunidade para os dois, quem sabe, conversarem livremente sobre o desejo em
pauta.
E vou ficando por aqui, meu rapaz, e tomar meu café da manhã com uma
gostosa tapioca com manteiga de garrafa, tipo assim, meu guri, o derradeiro
tango do Agreste.
A menina, 22 anos, braços completamente tatuados, designer,
cara de anjo e olhar safado, muito gostosinha, acabou de chegar ao Brasil,
depois de uma temporada de dois anos na Suíça. Ela estava muito bem lá. Tinha
trabalho e até um noivo. Mas resolveu voltar assim mesmo. Dá muitas explicações
sobre seus motivos e acaba sentenciando, despudorada: “Não aguentava mais pau
pequeno”. A declaração é reveladora.
Em primeiro lugar, deixa claro que os suíços não são lá
muito avantajados, ao passo que nós, brasileiros, segundo a gatinha, temos do
que nos orgulhar. Em segundo lugar, mostra como no fundo as mulheres gostam de
volume e dão importância a isso. Pelo menos algumas. E, pelo jeito, não são
poucas. Faça uma pesquisa com suas amigas e comprove. E aproveite para
perguntar os motivos.
Quando começou a ocorrer a liberação sexual das mulheres nos
anos 1960-70, com a descoberta da pílula e o discurso do amor livre, as
sexólogas de plantão ganharam notoriedade com sua sabedoria feminina. O orgasmo
é clitoriano e, portanto, tamanho não importa, diziam elas, cheias de razão. Sim,
é verdade. Do ponto de vista mecânico, o que importa é estimular o clitóris. Mas
do ponto de vista emocional, há muitos outros elementos que estimulam o orgasmo
feminino.
Um deles é a sensação de estar sendo invadida, possuída, submetida
por uma grande rola. O tamanho importa também em outros sentidos, como o de estimular
as sensações visuais. Nada abre tanto o apetite sexual feminino como a visão de
uma grande e ereta rola, cheia de desejo por ela.
Claro que você vai encontrar aquelas que não fazem questão e
até algumas que declaram preferir tamanhos médios — afinal, os extra GG podem
às vezes até machucar. Mas se você é um big size, já sai com alguma vantagem no
mercado. Do contrário, não desanime: os pequenos também têm suas vantagens. Mas
isso é assunto pra você conversar com o seu psiquiatra.
O seu chefe é um cretino? O mala-sem-alças está a ponto de
te deixar louco? Não se avexe, gafanhoto. Aqui estão algumas dicas que vão lhe
ajudar a manter a sanidade mental (e talvez o emprego) nesses ambientes
corporativos cada vez mais insalubres:
No seu horário de almoço, sente-se no seu carro estacionado
no meio-fio, coloque seus óculos escuros e aponte um secador de cabelos para os
carros que passam. Veja se eles diminuem a velocidade.
Sempre que alguém lhe pedir para fazer alguma coisa,
pergunte se ele quer “fritas de acompanhamento”.
Encoraje seus colegas de sala para fazer uma dança de
cadeiras sincronizada com você.
Coloque sua lata de lixo sobre a mesa, afixe um cartaz nela e
escreva “Caixinha de Sugestões”.
Desenvolva um estranho medo a grampeadores.
Coloque café descafeinado na máquina de café por três
semanas. Quando todos tiverem superado o vício à cafeína, mude para expresso
extraforte.
No canhoto de todos os seus cheques escreva “Ref. favores
sexuais”.
Sempre que alguém lhe falar alguma coisa, responda com “Isso
é o que você pensa, asshole!”
Termine todas as suas frases com “De acordo com a profecia
117 das centúrias de Nostradamus”.
Sempre que possível, pule em vez de andar.
Pergunte às pessoas de que sexo elas são. Ria histericamente
depois que elas responderem.
Descubra onde seu chefe faz compras e compre exatamente as
mesmas roupas. Use-as um dia depois que o seu chefe usá-las. Isso é
especialmente efetivo se seu chefe for do sexo oposto.
Mande e-mails para o resto da empresa para dizer o que você
está fazendo. Por exemplo: “Se alguém precisar de mim, estarei no banheiro, no
vaso sanitário três, à esquerda de quem entra.”
Coloque um mosquiteiro tamanho família ao redor do seu cubículo.
Toque um CD com sons da floresta durante o dia inteiro.
Ligue para o CVV (Centro de Valorização da Vida) e não fale
nada.
Faça seus colegas de trabalho lhe chamarem pelo seu apelido,
“Duro na Queda”.
Quando sair dinheiro do caixa eletrônico, bata vigorosamente
nos peitos e dê aquele grito de guerra dos grandes macacos, que celebrizou John
Weissmuller no cinema.
Quando for cobrado por alguma tarefa que esqueceu de fazer,
fale para o seu chefe “São as vozes na minha cabeça que não me deixam em paz”.
Com um dia de antecedência, avise aos seus colegas de
trabalho que você não pode ir à festa de amigo oculto deles porque não está no
clima.
Você, amigo, sai com a pequena e ela só belisca, qual um
passarinho, uns saudáveis farelos ou engole umas folhinhas sem graça. Que
desgosto. Você caprichou na escolha do restaurante, acordou com água na boca
por um prato que só você sabe onde encontrá-lo, quer fazer uma presença, fazer
bonito com a cria da sua costela. Que desgosto, a gazela mira o ambiente com
“nojinho”, de tão fresca. Uma estraga-prazeres, eclipse de um belo sabadão
ensolarado.
Ah, nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com
gosto, paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida,
comida com sustança. Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os
dentes, sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma,
sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do possível.
Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de
criatura. Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come
mais com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para
um banquete nada platônico. Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou,
no mínimo, dão um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma
folhinha pálida de alface. E haja saladinha sem gosto, e dá-lhe rúcula!
A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a
amada degustando, quase de forma desesperada, um cozido, uma moqueca, uma
feijoada completa, uma galinha à cabidela, massa, um chambaril, um sarapatel,
um cuscuz marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um bife à milanesa,
um tutu na decência, mocotó, um baião de dois, uma costela no bafo, abafa o
caso! Foi embora aquela felicidade demonstrada por Clark Gable no filme “Os
Desajustados”, quando ele observa, morto de feliz, Marilyn Monroe devorando um
prato de operário. E elogia a atitude da moça, loa bem merecida.
Além do prazer de vê-las comendo, pesquisas recentes mostram
que as mulheres com taxas baixíssimas de colesterol costumam ser mais nervosas,
dão mais trabalho em casa ou na rua, barraco à vista, intermináveis discussões
de relação... Nada mais oportuno para convencê-las a voltar a comer,
reiniciá-las nesse crime perfeito.
Moças de todas as geografias afetivas e gastronômicas, aos
acarajés, às fogazzas, aos pastéis, aos cabritos assados e cozidos, ao sanduíche
de mortadela, à dobradinha à moda do Porto, ao lombo – de lamber os lábios! –,
ao churrasco de domingo para orgulho do cunhado que capricha na carne e sabe a
arte de gelar uma cerva. E aquela fava, meu Deus, com charque, enquanto derrete
a manteiga de garrafa, último tango do agreste.
O importante é reabrir o apetite das moças, pois, repito,
senhoras e senhores, o velhíssimo mantra: homem que é homem não sabe sequer – nem
procura saber – a diferença entre estria e celulite. Até a próxima e desejo a
todas as mulheres um final de semana com muita gula e todos os pecados capitais
possíveis. Sem culpa, meninas!
O cinema brasileiro, quem diria, chegou lá. É mostra no
MoMA, urso de ouro, piranha de prata, indicação pro Oscar. Uma beleza. Como eu
também quero ficar rico, vou aproveitar a Lei Ruanê e sair por aí angariando
recursos. Pago os 50% de praxe ao empresário que, gentilmente, resolver
assaltar a Receita comigo. Não sou filho de banqueiro – que morre de tesão por
pobre e comunista – mas também sou engajado e socialmente responsável. Meu
negócio é denunciar as mazelas do país. Mazela da Silva, por exemplo, residente
na Alameda Che Guevara, número 23, fundos, nunca deu pra mim. Pronto. Já
denunciei.
LAMPIÃO CONTRA A
FILHA DE FRANKENSTEIN – Incompreendida na sua terra natal, a baronesa Von
Frankenstein (Juliana Paes) troca a Alemanha pelo nordeste brasileiro para
continuar as experiências do pai. Auxiliada por um corcunda caolho (Cid
Moreira), madame Frankenstein resolve usar a eletricidade para ressuscitar
gente morta. Eles roubam o corpo do cangaceiro Corisco (Marcos Palmeira), mas
descobrem, na última hora, que não tem rede elétrica no nordeste, o que torna a
experiência inviável. De qualquer forma, o roubo do cadáver desperta a ira de
Lampião (Marcello Antony), que invade o castelo da baronesa com seu bando
(turma do Didi).
TIRADENTES NO VALE DAS
MULHERES PRÉ-HISTÓRICAS – A Inconfidência Mineira dá errado e Tiradentes
(Murilo Benício) tem de escapar do líder das tropas portuguesas (Agildo
Ribeiro). Felizmente, ele é salvo por Chico Rei (Miguel Falabella), que o
esconde numa mina de ouro. Mas o subterrâneo termina num misterioso vale
pré-histórico habitado por selvagens seminuas (Sheila Carvalho, Sheila Mello e
Tiazinha), que são oprimidos por uma raça de lagartos alienígenas mutantes
(Dedé Santana e Ronald Golias). Apaixonado por Sheila Carvalho, Tiradentes
lidera as mulheres na luta contra a tirania. Ele vence e instala uma república
tropical socialista no submundo.
MAURÍCIO DE NASSAU
CONTRA O IMPÉRIO DO MAL – O Recife holandês de Maurício de Nassau (Reynaldo
Gianecchini) é atacado por navegantes do reino perdido da Atlântida (Oscarito e
Grande Otelo). Para resistir aos invasores, Nassa (para os íntimos) se junta a
Tiradentes (Murilo Benício), Lampião (Marcello Antony) e Zumbi dos Palmares
(Fábio Assunção) para criar um exército guerrilheiro. A luta é feroz e desigual,
mas, quanto tudo parece perdido, a deusa Iemanjá (Xuxa) surge do mar para
ajudar os bravos combatentes. Os efeitos especiais vão ter coordenação do
Joãosinho Trinta.
ISAURA, A ESCRAVA
BRANCA DE DRÁCULA – Cansado do engajamento ecológico e do blábláblá sem fim
da escrava Isaura (Lucélia Santos), seu dono (Rubens De Falco) a coloca a
venda. Ela é arrematada por Drácula (Francisco Cuoco), que refugiou-se no
Brasil depois da confusão na Transilvânia (Pindamonhangaba). O conde transforma
Isaura em vampira, mas a moça continua falando sem parar, mesmo depois de
morta. Para dar um fim na pentelha, o conde contrata o matador de vampiros Van
Helsing (Tarcício Meira). Mas como ninguém tem coragem de enfiar a estaca no
tribufu das trevas, o filme acaba.
No último dia 12, você fez trocentas simpatias para Santo
Antônio e até agora não choveu um único broto na sua horta? É, gafanhoto, está
ruim pra todo mundo. Mas não se avexe. Nesse período de seca intensa, você pode
abrir uma exceção e investir no abatimento de mocreias. Há algumas vantagens
para a prática desse esporte radical de alto risco. Confira aí:
1. É um mercado promissor – Nove entre dez mulheres feias têm
amigas bonitas. E essa feia que sobra tem sempre uma prima arrumadinha.
2. É emocionante – Você vai se sentir o próprio James Bond
tentando esconder a mocreia dos seus amigos e inventando desculpas mirabolantes
para não circular com ela nos botecos frequentados pela sua turma.
3. É seguro – Se você parar o carro num local ermo, dependendo
do calibre do canhão que estiver te acompanhando, os marginais não vão te
incomodar com medo de serem comidos vivos pela sua acompanhante.
4. É muito fácil – Uma mocreia normalmente não escolhe muito as
companhias masculinas por força da lei da oferta e da procura. Quer dizer, mesmo
que você seja uma mistura mal ajambrada de Pedro de Lara, Tiririca e Nerso da Capitinga, a
possibilidade de levar um fora é praticamente zero.
5. É econômico – Um dragão de Komodo sabe que é um dragão de
Komodo. Logo, portanto, por conseguinte, o drago não vai pedir jantares em
restaurantes chiques, nem flores no dia seguinte. No máximo, duas ou três cervejas em
lata dentro do carro. Sim, as mais desesperadas vão pedir uma sopa. E só.
6. É um ato de fé e piedade cristã – Você se sente melhor espiritualmente
quando sai com um tribufu. É a sua boa ação da semana.
7. É um excelente parâmetro – Imagine duas feias juntas. Uma
delas sempre será a “mais bonitinha” por pior que ela seja. E isso vai te
ajudar a ficar afiado na hora de escolher uma mulher bonita de verdade.
8. É interessante – Pode ser que a mocreia seja dona de um
milhão de cabeças de gado ou então filha única de um poderoso empresário da
cidade (empresários e políticos poderosos sempre são pais de tribufus, já
reparou?). Sem contar que você não tem a menor vocação para ser um pobretão
pelo resto da vida, né mesmo?
9. É uma mão na roda pros seus estudos – Uma feia sempre copia
tudo o que o professor fala na sala de aula, o que facilita em muito na hora de
tirar cópias das matérias que você perdeu. As bonitas normalmente fazem isso
também, mas não vão sair com você nem muito menos emprestar o caderno.
10. É cinematográfico – Nos casos desesperadores, uma mocreia é
mais do que suficiente porque elas costumam não ter preconceitos na cama sob
pena de perder o parceiro. Ela vai topar qualquer coisa que você sugerir, de
canguru perneta a catando coquinho na Polinésia, de vaca atolada a candelabro
italiano, de beira de cama a cachorro pirento. Se quiser, você pode encarnar o
milionário sadomasoquista do romance “50 Tons de Cinza” que ela vai ser a
subserviente Anastácia. E, o que é melhor, sem gastar um pau (além do seu,
evidentemente).
“Besta! Você é uma
besta!” Besta é como aprendemos a xingar desde cedo. E chamamos de
animais os que matam com crueldade, os que violentam, agridem, ferem: “O
criminoso reagiu à polícia como uma verdadeira fera!” Como? Correu? Não
– atirou, esfaqueou, matou.
Porco-chovinista. A hiena-nazista.
Alimentei uma serpente no meu seio. “Rato!” “Cavalos, são
todos umas cavalgaduras!” Pato. Cão. Teimoso como uma mula.
Bêbado como um gambá. Burro. Galinha. Lesma.
Lágrimas de crocodilo. Traiçoeiro como uma raposa. Praticamente
todos os animais têm sido usados pelo homem para símiles das suas próprias
fraquezas e defeitos. E os animais, dóceis, continuam sua vida, ignorando que
os usamos para cobrir toda a gama de nossa imensa canalhice, quando bebemos
mais do que podemos, espancamos os mais fracos, prevaricamos sem medida,
agimos, enfim, “como verdadeiros animais selvagens”.
Talvez isso se deva
ao fato de que os animais sempre nos evitaram, com raras exceções, como a do
cão (um quisling animal, o Pai Tomás da espécie). Mas, agora que a
história natural sabe muito mais sobre os animais, você já tentou ler, ao mesmo
tempo, paralelamente, a biografia de uma família “ilustre” e a monografia de um
grupo de chimpanzés? Em qualquer família “ilustre” a prevaricação sexual é a
constante, a traição sentimental, a regra, o ciúme, o impulso, e a violência,
resultado quase fatal.
Mas um grupo de
chimpanzés do Quênia, estudado detidamente por naturalistas holandeses, mostrou
que os brutos (perdão!) ficam satisfeitos com apenas seis atos sexuais por ano,
já que as fêmeas só se interessam pelo assunto duas ou três vezes por mês e nem
querem ouvir falar (grunhir) disso em todo o período da gestação e da lactação.
O problema, porém, vejam bem, não é saber se os gorilas são ou não melhores que
o homem porque se importam menos com sexo, mas apenas mostrar que não é válido,
na descrição de violência sexuais, num caso de estupro, por exemplo, dizer que
o homem “cedeu a seus instintos bestiais”. O que ele cedeu mesmo foi a
seus instintos humanos.
Mas, se alguns
animais copulam menos, todos brigam menos do que os homens. Ainda estou para
ver elefantes se adestrando militarmente para atacar leões, tigres se
mobilizando para enfrentar uma horda de jacarés invasores, búfalos matando
bisões por questões de fronteiras, rinocerontes vendendo chifres a girafas, e
assim por diante. Quando não se sentem efetivamente atacados, todos os animais
deixam pra lá. Não brigam por conceitos, não reagem por pressupostos, não se
ofendem por questões linguísticas, não matam por religiões. E, mesmo atacados
por razões vitais, inúmeras vezes rugem (zurram, escoiceiam, berram), mas,
assim que podem, satisfeitas as necessidades teatrais da espécie, fingem que
não foi nada e dão o fora. Paz! Paz!
Mesmo os animais
definitivamente vitoriosos em lutas quase nunca procuram tirar partido disso.
Viram as costas e vão embora. No máximo comem um pedaço do inimigo, se for o
caso; se o caso é fome. Não há condecorações, butins de guerra nem retaliações
em nome do passado, tratados preservando um pasto para o futuro, colinas de
Golan contestadas entre jaguatiricas e cascavéis, e, sobretudo, não há arcos do
triunfo.
Pois é: já é tempo
de inverter os termos e afirmar que uma pessoa é “suave como um elefante”,
“maternal como uma cobra”, “tímido como um rinoceronte”, “delicado como um
urso”, ou que “o coelhinho me olhou com um olhar quase humano”, isto é, de ódio
ou inveja. Pois desde a Bíblia a interpretação foi sempre contra os animais: a
serpente era pérfida e perdeu o homem. E, no entanto, tudo que a serpente fez,
afinal, foi contestar uma portaria aparentemente sem nexo. Possivelmente ela
teve apenas a intenção de instigar o homem a um prazer que ele até então não
desfrutara. E certamente a coisa não teria o desfecho desastroso que teve (o
pão com o suor de nosso rosto, etc.) se não tivesse se metido na história o
elemento agressivo e agressor, o anjo com a espada de fogo na mão. Um homem!
A amiga W., tão amadora em novas tecnologias quanto este
cronista pterossáurico da Chapada do Araripe, me diz, entre o riso e o espanto:
– Esses programas de geolocalização vão acabar com o
mistério mais velho e bíblico da humanidade: a suspeita de estar ou não sendo
traído.
A mulher com W. maiúsculo, personagem de uma letra da banda
Mundo Livre S/A, discorria sobre a possibilidade de sermos facilmente rastreados
a um simples clique. A velha história contada pelo camarada George Orwell, no
seu livro “1984”, que agora se torna banalidade.
Alheio ao novidadismo mais radical, não esquento com essa
história das máquinas saberem onde estamos, mas a observação da amiga faz
sentido. Você pode simplesmente entrar em um motel na Marginal Pinheiros, em
São Paulo, e ser traído pelo emaranhado do sistema, do GPS, da rede fenomenal
do Big Brother.
Não estou aqui na defesa da pulada de cerca 100% segura,
essa é uma utopia fora do nosso alcance. Simplesmente lamentamos, depois de várias
caipirinhas na agradável e sexy companhia de W., o fim do suspense
hitchcockiano do chifre.
Como se não bastassem os instagrams, facebooks e twitters da
vida, onde transmitimos nossos atos e mesquinharias para toda a humanidade, o
avanço dos programas de geolocalização radicaliza essa transparência. O
pretexto dos criadores de tais ferramentas é a cadeia de consumo, mas ignoram a
tragédia grega ou a comédia humana que podem estar por trás de cada
rastreamento.
Um homem ou uma mulher ciumentos são capazes de fazer as
maiores besteiras diante de qualquer desconfiança. Imagine com o mapa do crime
do(a) suposto(a) adúltero(a) riscado na telinha de uma aparelho móvel!
A prosa com W. não é naquela linha nostálgica e velhaca de
quem se nega a viver no novo mundo. É de gracejo com os destinos da raça humana
e as gambiarras modernas.
No que a linda afilhada de Balzac, depois de mais uma
caipirinha de frutas vermelhas, tira mais uma onda:
– O que os olhos não vêem o coração não sente? Esqueça essa
velha crença, amigo, pois agora tudo está à mostra.
Exagerada essa moça, capaz de nos deixar coçando a testa e
refletindo horas sobre o que denominamos, mais literal do que nunca, de
tecnologia de ponta.
Se você costuma tomar umas e outras pra criar coragem e
enfrentar a vida cara a cara, um desses botecos deve ser a sua cara. Confira:
Bar Charel – Ambiente
sóbrio, frequentado por aqueles que concluíram o curso de ensino superior.
Bar Bilônia – Esplendoroso,
embora os fregueses cultivem hábitos e costumes dissolutos, o que leva o bar a
estar em constante decadência.
Bar Coniano – Clientes
cadastrados. Para obtenção do cadastro é preciso ser partidário da filosofia de
Francis Bacon. Ou gostar muito de bacon com ovos.
Bar Quiteriólogo
– Frequentando por bacteriologistas.
Bar Dalação – Pra
quem gosta de acontecimentos sociais, cuja finalidade é a autopromoção.
Bar Derna – Bar
preferido por bagunceiros de toda espécie para que, ao se embriagarem, promovam
atividades pândegas.
Bar Fafá – Fecha
sempre antes do último tumulto, para que a confusão não se alastre.
Bar Gatela – Onde
os preços são uma mixaria.
Bar Gaço – Estabelecimento
de mau aspecto, envelhecido e caindo aos pedaços.
Bar Gulho – Ao
lado do Bar Gaço.
Bar Nana –
Frequentado por frouxos e palermas.
Bar Afunda – Ninguém
se entende. O ambiente é uma baderna. Bêbados fazem algazarra, garçons sobem
nas mesas. E ninguém reclama. O importante é a balbúrdia.
Bar Agnose – Frequentado
única e exclusivamente por pessoas que não sentem o peso do corpo. Nem do copo.
Bar Alho – Admite
somente 52 fregueses, divididos em quatro naipes, séries de às a rei, com peças
intermediárias até dez e mais as figuras do valete e da dama. O garçom é o
curinga.
Bar Atinado – Ambiente
transtornado, perturbado, ninguém é de ninguém. Uma loucura.
Bar Atinha – Para
as pessoas que acordam transformadas em baratas. Ou em baratinhas.
Bar Bada – Local
indicado para quem está acostumado a vencer facilmente a ressaca no dia
seguinte. Mesmo que seja de licor de ovos.
Bar Bacenense – Estabelecimento
onde é proibida a entrada de pessoas não nascidas em Barbacena (MG).
Bar Bearia – Loja
de barbeiro, com botequim anexo. Para quem gosta de beber com um pano quente no
rosto.
Bar Bicha – Boteco
muito suspeito.
Bar Bitúrico – Um
barato. Casa especializada em batidinhas ácidas.
Bar Ganha – Onde
se pode beber na base da troca. Depois do terceiro uísque só são permitidas
trocas de impressões.
Bar Nabé – Bar
preferido por funcionários públicos de categoria modesta, embora até hoje
nenhum deles tenha sido encontrado no local. Apenas os respectivos paletós nas
cadeiras.
Bar Baridade – Um
espanto de bar gaúcho, tchê! Bah!
Princesa Isabel, cidade do Alto Sertão da Paraíba, terra
onde se aquartelava a tropa cangaceira do temido Zé Pereira, berço da saga
biográfica do Coronel Feliciano, homem de muita fé, mas só em si mesmo. Homem
de truculência e bizarrice. Homem para homem nenhum botar defeito mode
continuar vivo.
Homem que não acreditava que a Terra fosse redonda e girasse
sobre seu próprio eixo. “Coisa de padre pra contar história. Se fosse redonda e
girasse ia ter muita indecência. Os home tudo por cima das mulé”. Homem que
odiava padre e santo e que negava esmola a cego. “Vá pedir dinheiro pra quem te
cegou, peste miserável!”. Homem que negava a existência da Arca de Noé com uma
argumentação imbatível:
– Uma vez teve um circo aqui. O elefante comeu sozinho umas
cinquenta arrobas de resto de cana. Imagine um barco inteiro cheio de bicho por
quarenta dias e quarenta noites! Onde o velho ia guardar a comida dos animais?
E concluía:
– Só de piolho eu conheço umas dez raças diferentes e uma
vez eu quis pegar um casal de rolinhas, só peguei macho.
A mulher do Coronel Feliciano, ao contrário do marido, era
beata de ralar joelho, vivia na missa, vivia rezando. Na grande seca de 1936,
toda a população se reuniu numa procissão para pedir água ao céu abrasador. O
Coronel pediu a seu modo: pegou uma imagem de São Judas Tadeu – um “calunga”,
como ele chamava –, amarrou no talo de um rojão – na “taboca” como tratam o
rabo do foguete por lá – e disparou a peça de artilharia que se espatifou,
junto com a imagem, a uns cem metros de altura. Coincidência ou milagre, no dia
seguinte desabou o maior pé-d’água do Sertão. Explicação prática do Coronel:
– Uai! E não era pra chover, cabra? Já imaginou um pipoco do
pé do ouvido a duzentos metros de altura! Tinha mais é que tomar providência!
O problema é que não parou mais de chover por três dias
seguidos, o açude estava pra estourar. O Coronel encheu um saco de santo, foi
no açude e, segundo ele, “pipinou os calungas de metro em metro” e avisou pras
santificadas imagens:
– Agora é com vocês! Se estourar desce tudo por água abaixo.
E vocês descem junto...
Dez coisas que um homem feio deve saber para tirar mais
proveito da vida, essa ingrata:
I) Que a beleza é passageira e a feiúra é para sempre, como
repetia o mal-diagramado Sérge Gainsbourg – o tio francês que pegava a Brigitte
Bardot e a Jane Birkin, entre outras deusas. Sim, aquele mesmo francês
cabra-safado autor do maior hino de motel de todos os tempos, “Je t´aime moi
non plus”, claro.
II) Que as mulheres, ao contrário da maioria dos homens, são
demasiadamente generosas. E não me venha com aquela conversinha miolo-de-pote
de que as crias das nossas costelas são interesseiras. Corta essa, meu rapaz.
Se assim procedessem, os feios, sujos e lascados de pontes e viadutos não
teriam as suas bondosas fêmeas nas ruas. Elas estão lá, bravas criaturas,
perdendo em fidelidade apenas para os destemidos vira-latas.
III) Que o feio, o mal-assombro propriamente dito, saiba
também e repita um velho mantra deste cronista de costumes: homem que é homem
não sabe sequer a diferença entre estria e celulite.
IV) Que mulher linda até gay deseja e encara, quero ver é
pegar indiscriminadamente toda e qualquer assombração e visagem que aparecer
pela frente.
V) Que homem que é homem não trabalha com senso estético.
Ponto. Que não sabe e nunca procurou saber sequer que existe tal aparato
“avaliatório’’do glorioso sexo oposto.
VI) Que as ditas “feias” decoram o Kama Sutra logo no jardim
da infância.
VII) Que para cada
mulher mal-diagramada que pegamos, Deus nos manda duas divas logo depois de
feita a caridade.
VIII) Que mulher é
metonímia, parte pelo todo, até na mais assombrosa das criaturas existe uma
covinha, uma saboneteira, uma omoplata, um cotovelo, um detalhe que encanta
deveras.
IX) Que me desculpem as muito lindas, mas um quê de feiúra é
fundamental, empresta à fêmea uma humildade franciscana quase sempre traduzida
em benfeitorias de primeira qualidade na alcova.
X) Saiba, por derradeiro, irmão de feiúra, que a vida é
boxe: um bonitão tenta ganhar uma mulher sempre por nocaute, a nossa luta é
sempre por pontos, minando lentamente a resistência das donzelas. Boa sorte,
amigo esteticamente prejudicado, nesse grande ringue da humanidade!
A constelação da Anta Menor, à esquerda da estrela anã do
Circo Orlando Orfey, adverte: sair de casa sem consultar os astros faz mal à
saúde. Veja o que destino vai aprontar contigo.
Áries (21/03 a 20/04)
O trânsito de Saturno interrompido por um congestionamento na
casa sete adverte: não confie nos amigos. Como você não pode confiar nos
inimigos, sua vida vai ficar uma merda. Número da sorte: amarelo. Cor:
ametista. Pedra: 3,14.
Touro (21/04 a 20/05)
No início do mês, você estará sentado num bar quando entrará
no recinto um moreno de olhos azuis frios e penetrantes. Seus olhares se
cruzarão e o amor que não ousa dizer seu nome encherá seu coração de desejos
inconfessáveis. Eu, se fosse você, ficava em casa.
Gêmeos (21/05 a 20/06)
A conjunção carnal de Marte com a Lua fará nascer três
lindos planetinhas: Asteróide, Planetóide e Hemorróide. Isso provocará uma
vontade irresistível de cacarejar às quatro e meia da madrugada. Negócios
emperrados de terça a domingo. Amor: azulzinho.
Câncer (21/06 a 21/07)
Trabalho favorecido. Suncê pega galinha preta que nunca viu
a lua. Reserva. Prepara galinha com cachaça, água de sereno, azeite de dendê e
coentro. Servir na encruzilhada com vela vermelha e terrine de canard. É cordon
bleu com candomblé.
Leão (21/07 a 22/08)
Projetos culturais favorecidos. Gerald Thomas vai se
interessar por aquela sua peça onde todos os personagens se chamam 'Estrôncio',
inclusive as mulheres. Na noite de estréia, a platéia cometerá suicídio
coletivo antes do final do primeiro ato.
Virgem (23/08 a 22/09)
Na noite de 10 de agosto, à meia-noite, você entregará sua
virgindade para um homem alto, robusto e totalmente calvo chamado Estrôncio.
Ele pagará em cheque e você ficará ali na rua, chorando, enquanto a virgindade
se afasta, ganindo na noite vazia.
Libra (23/09 a 22/10)
Índios ferozes atacarão seu ônibus no meio do túnel Dois
Irmãos. Os passageiros vão quebrar as janelas e trocar tiros com os silvícolas.
A Sétima Cavalaria só conseguirá alcançá-los na altura da Barra da Tijuca.
Marte recomenda cuidado com escalpo.
Escorpião (23/10 a 21/11)
Urano, Netuno e Plutão entram na casa de Júpiter e ficam
bebendo até de madrugada. O Sol aparece no litoral até seis da tarde. Marte vai
a uma festa na casa de Saturno, mas esquece o número do apartamento e aperta a
campainha de todo mundo.
Sagitário (22/11 a 21/12)
Por determinação do Supremo Tribunal Astrológico, a partir
deste mês, todos os 'sagitarianos' serão chamados de 'estrôncios'. Previsões
anteriormente feitas para os nativos de Sagitário, serão automativamente
transferidas para os estrôncios. Obrigado.
Capricórnio (22/12 a 20/01)
Marte, o planeta vermelho, olha feio para Netuno. Júpiter
tenta segurar a onda, mas o Sol lhe dá um tapão no pé do ouvido. Saturno mostra
seu anel para Urano, provocando a ira da Lua, que resolve se entregar a Mercúrio,
Vênus e Apolo 11.
Aquário (21/01 a 20/02)
O luar, estrela do mar, o sol e o dom advertem: cabelo pode
ser pentelho, cabelo pode ser suvaco. Cabelo pode estar na cara. Cabelo pode
estar no saco. A estrela Dalva no céu desponta e a Lua anda tonta com tamanho
esplendor.
Peixes (21/02 a 20/03)
Você vai ganhar sozinho na Sena acumulada, comprar uma ilha
no Pacífico Sul, instalar vários mísseis nucleares de longo alcance e exigir
uma cadeira no conselho de segurança da ONU. Tudo isso só na parte da manhã.
Estrôncio recomenda cautela.
Pelos padrões da TV, 70 minutos são uma eternidade — e foi
essa a duração da conversa entre Dilma Rousseff e Jô Soares. Sobrou tempo até
para o diálogo de hospício reproduzido abaixo, transcrito da íntegra da
entrevista publicada pelo Portal do Planalto:
Jô Soares: Presidente, a gente não falou ainda, mas é
fundamental que a gente fale. Em 2012 você mudou o comando da Petrobras. É que
você já pressentia que havia algo de podre no reino do petróleo?
Presidenta: Olha, ô Jô, quero te dizer o seguinte: eu não
tinha…Não eram pessoas da minha confiança. Quando você sobe ao governo, você
coloca as pessoas da sua confiança. Bom, a Petrobras não é um barquinho que
você vira rapidamente, não é? Então, passou um ano e eu troquei a diretoria
toda e coloquei uma diretoria da minha confiança, foi isso que eu fiz.
Jô Soares: Agora, o pré-sal, eu cheguei a lamber uma pedra
do pré-sal…
Presidenta: Eu te mostrei ela.
Jô Soares: É, ficou de me mandar uma e não mandou.
Presidenta: Vou mandar, vou mandar. Prometi, agora eu vou
mandar.
Jô Soares: Não, porque agora prometeu no ar. Tem cheiro de
querosene, não é?
Presidenta: É.
Jô Soares: E eu lambi e senti que tinha gosto de sal, mas eu
acho que foi a minha imaginação. A pedra está aí, não, não é? Deve estar no…
Presidenta: Não, a pedra está no Planalto.
Jô Soares: É uma pedrona.
Presidenta: Uma pedra.
Jô Soares: Tem gente que não sabe que o pré-sal já está
funcionando, com mais de 500 mil barris/dia.
Presidenta: Bem mais. O pré-sal…
Jô Soares: Já me perguntaram quando é que vai funcionar o
pré-sal. Quando funcionar, o preço do petróleo vai estar tão baixo que não vai
mais compensar. Eu queria que você explicasse um pouco sobre isso, porque isso
é uma falta de informação em vários níveis, porque as pessoas acham: “Ah, isso
aí não vai dar em nada, o pré-sal não vai dar em nada”. Não têm ideia de que já
está produzindo.
Presidenta: Olha, para você ter uma ideia dessa questão: não
só está produzindo, como a Petrobras ganhou o “Oscar” na área de… este ano, a
Petrobras ganhou o Oscar na área de óleo e gás.
O besteirol acima consumiu quase 400 das mais de 9 mil
palavras ditas em parceria por Jô e Dilma. Mas na montanha de consoantes e
vogais não aparecem uma única vez expressões inevitáveis numa entrevista com a
presidente do Brasil do Ano da Graça de 2015. Corrupção, por exemplo. Ou
Petrolão. Ou pelo menos escândalo.
Até bebês de colo e índios de tribos isoladas hoje associam a Petrobras a essas palavras —
além de roubalheira, ladroagem e outras bem menos gentis. A entrevistada,
previsivelmente, tentou driblar todas. O entrevistador, lastimavelmente, também.
Dilma mentiu em todas as respostas. Jô não contestou nenhuma.
Ele sabe que a estatal foi saqueada por uma quadrilha parida
pelo padrinho Lula e amamentada pelo governo Dilma. Achou mais relevante contar
que já lambeu uma pedra do pré-sal. Ele sabe que o maior esquema corrupto da
história engoliu bilhões de dólares. Preferiu celebrar milhares de barris
imaginários.
Foi assim que o que deveria ter sido uma entrevista acabou
virando conversa de comadre ufanista.
Saudosos do programa “Viva o Gordo” já não precisam se
contentar com as reprises do canal Viva. O grande humorista Jô Soares – que
cedeu lugar ao pior entrevistador da TV brasileira — está de volta com um
programa fresquinho: “Viva a Dilma”. Resgatando a tradição das duplas que
faziam o Brasil gargalhar no tempo das chanchadas da Atlântida e da rádio
Nacional, como Oscarito e Grande Otelo, Primo Pobre e Primo Rico, a dobradinha
Dilma e Jô, ele como escada, desmentiu a fama de Brasília como cidade sem graça,
embora nada séria. Em pleno Palácio da Alvorada, ambos – em grande forma –
interpretaram a si mesmos, sem precisar de ensaio ou laboratório.
O comediante que decidiu virar dono de talk show e que,
nessa função há 27 anos, jamais conseguiu extrair de um convidado uma única
frase que repercutisse no dia seguinte. A presidente que, em quatro anos e meio de mandato, e nada indica que será diferente nos três anos e meio que ainda
faltam, jamais extraiu de seu cérebro uma única frase que fizesse sentido no
dia seguinte ou para a História. Química infalível para o riso fácil, frouxo e
indevido – potencializada por um detalhe que coloca Jô ao mesmo nível da cara
de bacalhau, filhote de pombo, pescoço de freira e político honesto, isto é, de
coisas que ninguém nunca viu: ele é o humorista a favor.
Já na introdução interminável para justificar a defesa
intransigente de Dilma, o Jô de sempre: a hesitação e a sem-gracice em forma da
pessoa real que é, despido de seus antigos personagens. Também pudera: é
preciso se desmanchar em tibieza e falta de informação para, preparando a
primeira pergunta, afirmar isto:
“Bom, você é uma leitora fanática, de chegar a andar com
mala cheia de livros e, de repente, na ânsia de ler, até bula de remédios não
escapavam (sic) dos seus olhos”.
Ainda a Dilma leitora fanática? A claque da Zorra Total
teria de ser acionada para produzir gargalhadas frenéticas, apesar de a piada
ser muito velha – menos para o Jô. Na mala de livros que Dilma leu sem nunca
ter lido ainda cabe Jô Soares – ela é imensa.
Mas, espere. A pergunta no horizonte envolve não um livro
comum – mas o livro dos livros. E aqui ressalta o inclassificável talk showman
que é Jô Soares: imagine, é a primeira pergunta de sua primeira entrevista com
a presidente da República num momento delicadíssimo da vida nacional e você se
sai com essa – uma insignificante fabulazinha de cadeia sem um ponto de
interrogação no final:
“E como é que é a história da Bíblia, quando você estava
presa, encarcerada, e essa Bíblia tinha que passar pra outros prisioneiros.
Conta essa história pra gente”.
Dilma:
“Ah, Jô, era uma história que é assim: num tinha livros…”.
Só pelo “num”, não tinha mesmo. Mas, segundo consta, tinha
uma bíblia que fora deixada por um padre e que passava pela portinha do calabouço,
e ia de cela em cela, introduzida pela fresta. Dilma enfatiza, para provável
espanto da plateia: “Porque as portas das celas não ficavam abertas…” Puxa, mas
uma bíblia fazendo sucesso num calabouço de marxistas? Sim, porque não era
qualquer bíblia. Mas a Bíblia de Dilma, a hermeneuta:
Eis sua gênese:
“A Bíblia é algo fantástico, ela é uma leitura que ela
envolve de todas as maneiras. Além de sê uma expressão religiosa, da religião
da qual nós, a maioria do Brasil, compartilha. Mas, além disso, ela tem alta
qualidade literária e tem, também, histórica. Então, é uma leitura que, eu
quero te dizer o seguinte: para mim foi muito importante, principalmente porque
ela trabalha com metáforas. E é muito difícil, a metáfora é a imagem, o que é a
metáfora? Nada mais que você transformá em imagem alguma coisa. E não tem jeito
melhor de ocê entendê e compreendê do que a imagem”.
Dilma como metáfora seria aqui uma imagem impublicável. Mas
a entrevista caminha biblicamente para o apocalipse, com Jô fazendo o papel de
um embasbacado Cirineu para a cruz de Dilma pensando o Brasil e discorrendo
sobre qualquer assunto. Caprichando como sempre na saúde:
“Agora, eu quero te dizer que, além disso, faltam no Brasil
especialidades. Porque, hoje, uma pessoa que quebra a perna precisa de ter um
exame; ela precisa de ter um outro tratamento. Então as especialidades são a
grande coisa que nós queremos focar nesses próximos quatro anos. E são três
especialidades que nós vamos começar, porque você tem que começar. Uma é
ortopedia; a outra é cardiologia; e a outra é oftalmologia. Eu esqueci de
falar, falei da traumatologia, dos pés, das “quebraduras” em geral. Então são
três”.
Já pisando nas quebraduras da Pátria Educadora, Dilma – que
conquistou Lula ao chegar para uma reunião com um laptop – fala da importância
de se controlar virtualmente, tintim por tintim, as verbas da Educação
destinadas às creches (sim, as seis mil de sempre).
“Nós montamos o controle. E você só pode montar o controle
no Brasil se você digitalizar. Você digitaliza…torna.. Coloca na internet,
digitaliza, sabe onde é cada uma das escolas. Então, o prefeito recebe um SMS:
“Prefeito, você recebeu tanto, você tem que fazer…”. E ele tem que tirar o
retrato, tirar uma foto daquela creche e tem de botar no…
“Na internet”, sopra Jô.
“Não, ele bota no celular dele, que vem pra nós, que entra
na internet, não é? Aí, nós descobrimos que um prefeito que tinha quatro creches
tava mostrando a mesma creche. E advinha (sic) como é que a gente descobriu”?
“Como”?
“O cachorro era o mesmo. O cachorro parado na frente da
creche era o mesmo das quatro creches. O que causou uma grande indignação em
nós aqui. Que história é essa desse cachorro aí? Eu te contei essa história
justamente pra mostrar o seguinte: você tem de acompanhar”.
Sim, a entrevista foi constrangedora, claro. Mas Jô
conseguiu uma façanha: descobriu, sem querer, onde foi parar aquele cachorro de
Dilma que era a figura oculta atrás de cada criança: ele se materializou na
frente de cada creche.
Zé Bode, não por coincidência morador da... Penha!, resolveu
dar aula de educação sexual pros netos. Foi uma falação louca, entremeada de
termos técnicos como “barquete”’ e “gualibão”. As crianças adoraram. A primeira
aula teria sido um êxito retumbante se um dos meninos não tivesse criado caso:
– E a Roberta Close?
Zé Bode armou a retranca:
– Que qui tem?
– Dizem que era homem, fez uma operação e virou mulher.
Zé Bode continuou de líbero:
– E daí?
O menino aplicou uma sucessão de dribles de fazer inveja ao
Bebeto:
– Bom, é mulher agora, mas também era antes. Não é mais homem,
mas antes também não era...
Zé Bode se encrespou:
– Era homem, tinha tarugo.
– Mas não usava!
Já vi situações assim no hospital. Diante de um impasse, o
jeito é apelar pro cientificismo. Zé Bode não vendeu barato:
– A genitrolha não é de somenos dada a circunstância, ainda
que hipotética, de descabelamento do palhaço. Outrossim, não se apresentava,
logo abaixo do bombril, a perseguida. Muito pelo contrário, delineava-se ali,
ainda que modesto, o cipó de aroeira.
A classe aplaudiu tamanha erudição, mas o menino tinha uma
derradeira dúvida:
– Ela transa por onde?
Zé Bode cauteloso:
– Aparada a genitrolha, constituiu-se a genibrenha. É por
ali.
– E antes?
– Antes o quê, porra?
– Antes, ora essa. Como é que ele, ou ela, fazia a coisa?
Com um suspiro de resignação, Zé Bode revelou o segredo:
Jornalistas do Pasquim: A partir da esquerda
Ivan Lessa (sentado), Millôr Fernandes (de branco), Caulos (na janela) e Jaguar
(em pé)
Millôr Fernandes
Estou lembrando:
faz muitos anos, íamos, eu e o jornalista Jaguar, andando pela Praia Grande, em
Arraial do Cabo, tendo pela frente dezenas (oitenta?) de quilômetro de areia
branca, quase pó-de-arroz. Era meio-dia de um dia de semana. As ondas dessa
praia são sempre curtas, rápidas, verdes e transparentes.
Pode-se caminhar
dentro d’água centenas de metros e mergulhar tranquilamente na água fria, sem
perder o pé. O fundo do mar, coisa rara em praias rasas, é também de areia
limpa e sólida, nenhum lodo. Além da areia, na praia, há uma vegetação
ondulando permanentemente.
No recanto em
que morávamos – Jaguar tinha alugado uma
casa de pescador, o que, nele, nada tinha de folclore – havia uma elevação, uma
pequena montanha. Lá de cima caía uma pequena cascata de águas da Álcalis, e a
própria poluição da Álcalis era belíssima, jogando pro ar uma nuvem de brancura
diáfana.
Junto com a
paisagem constante, a paisagem mutante. Pescadores em suas tarefas normais,
redes espalhadas, abertas na praia, uma ou outra sendo remendada vagarosamente,
pássaros às centenas, sem medo, voejando rente ao chão, um ou outro burro
carregando pequenas mercadorias. Estávamos em pleno paraíso.
Fomos saindo da
praia, eu e Jaguar, passamos por um pequeno grupo de pescadores que, numa
sombra, junto de algumas canoas, olhavam o horizonte, trocando algumas palavras
preguiçosas, na indolência do começo da tarde. Jaguar disse: “Isso é que é
gente pura!” E eu disse: “Tá bem, Jaguar! Um tá querendo comer a mulher do
outro e outro tá querendo ficar com a canoa do um. Aquele vesguinho até bateu a
carteira do crioulão. O microcosmo é igualzinho ao macrocosmo, ô cara!”
Uma semana depois
Jaguar entrou na redação do Pasquim, onde trabalhávamos então, e me disse: “Pô,
que coisa, seu! Você tem toda a razão. Ontem apareceram três pinguins lá na
praia e os pescadores, sem a menor hesitação, pegaram uns paus e transformaram
os pinguins numa poça de sangue. Não entendi. Fiquei besta!”
É por essas
pequenas coisas que eu nunca perco a fé no ser humano.
Áries (21 março/ 20
abril) – Nesta fase, o homem deve descer atrás da mulher, deixando o cavalo
por último. Ao subir, ele vai na frente ou ao lado da mulher, divagando sobre
os egípcios e sua vida nômade, anterior à sua instalação no Vale do Nilo. A
Tábua Lunar indica perigo se a mulher usar jóias (pedras preciosas) pela manhã,
principalmente se forem falsas. Os brócolis devem ser cozidos em fogo brando e
levados imediatamente à mesa, numa travessa enfeitada com salsinha e souvenirs,
em horário de pouco tráfego, evitando a hora do rush. Este é o signo das
preocupações. Os nativos de Áries têm problemas com a raiz quadrada de 4, o que
os torna budista e, frequentemente, os deixa com a perna esquerda meio
amortecida, devido à inobservância das marés. Assim como o esperanto, os arianos
foram criados sem os verbos irregulares, proporcionando facilidade na
conjugação, desde que o sujeito, o pronome e o predicado concordem.
Touro (21 abril/ 20
maio) – Nervosismo e tristeza, motivados pela gripe, que já preocupava a
dinastia de Buto, na corrente do quarto milênio. Como já disse em meu livro
“Sexo & História Geral”, a matéria e o espírito sempre existiram, embora um
não soubesse da existência do outro, pois moravam em regiões diferentes. Siga
as minhas instruções e nunca assoe à mesa. O melhor, estando gripando, é não
levar o nariz às reuniões, coquetéis, recepções, etc. Bom período para chamar a
atenção dos filhos, porém deixando as orelhas intactas. Osíris, no Alto Egito,
nunca teria se tornado popular se a mãe lhe tivesse arrancado as orelhas na
frente das visitas. Vênus regeu o ano de 1978, por ser o planeta mais próximo
da terra, ou seja, um vizinho que está a mais ou menos 42 milhões de
quilômetros de distância, eliminando definitivamente o empréstimo do cortador
de grama. Dos cinco planetas visíveis a olho nu, o mais luminosos é Vênus,
dando a impressão de uma Las Vegas, sem texanos, porém com muito mais discos
voadores estacionados.
Gêmeos (21 maio/ 21
junho) – Maior inclinação para a modéstia, mas tudo pode ser tornar ridículo
ao beijar a mão de uma senhora na praia. Principalmente se ela estiver
enluvada. Graves preocupações financeiras, dinheiro falso à vista. Ao chamar os
convidados à mesa, é bom deixa-los à vontade, para que se sirvam sozinhos.
César ficou com a Gália porque sempre se serviu sozinho. Os nativos de Gêmeos,
assim como os jantares americanos, prolongam-se até de madrugada e a dona da
casa pode organizar brincadeiras. Tudo, é claro, no claro. No escuro é
perigoso. O período favorece as crias múltiplas. Uma vaca, em bom estado, pode
parir de sete a oito bezerros numa tarde, dependendo do calor, cada um com uma
tonalidade diferente. Esse fato só pode ser constrangedor para éguas e pessoas
insensíveis que esquecem que estamos no século das maravilhas, no século da
proveta. Breve teremos galinhas parindo telefone, borboletas, raquetes de tênis,
e peixe-boi se suicidando adoidado. Na tumba de Thutmose XIV, o faraó egípcio,
foi encontrada uma mosca com três mosquinhas no útero, com as trompas de Falópio
intactas. A ordenha, nesta fase, deve ser manual e carinhosa, da direita para a
esquerda, com muito cuidado. Convém recato na postura de ovos, principalmente
em pé.
Aumentou a gasolina, o diesel, o etanol e, como desgraça
pouca é bobagem, também a bandeirada dos táxis. Sim, gafanhoto, está tudo pela
hora da morte e quando mais você precisa de um táxi (dia de chuva torrencial,
dia de prova do Enem, dia de levar as crianças pra tomar vacina, hora de tirar
a mãe da forca), eles simplesmente somem de circulação ou fazem ponto dentro de
um buraco negro lá nos confins da zona leste. Chegou a hora da vingança,
gafanhoto! Tente, invente, faça uma viagem diferente! Aí vão algumas dicas:
1 – Alugue o ouvido do motorista com soluções para todos os
problemas do mundo, da gripe suína ao conflito árabe-israelense, da escalação ideal
da seleção brasileira à nova reforma eleitoral que está sendo cozinhada no Congresso.
2 – Responda “É... não tá fácil pra ninguém...” a tudo que o
taxista perguntar. “Pra onde, doutor?”. “É... não tá fácil pra ninguém...”
3 – Sente no banco de trás e comece a se masturbar. Se o
taxista reclamar, responda “Só está escrito que é proibido fumar...”
4 – Dê o destino na língua do pê. “Mepe lepevepe napa
apavepenipidapa epedupuapardopo ripibepeiropo compom apa sepetepe depe
sepetempembropro”
5 – Cante música de desenho animado japonês. “Go Speed Racer, go Speed Racer,
go…”
6 – Declare seu voto ao Paulo Maluf, especialmente se você
não estiver em São Paulo e não for ano de eleição.
7 – Conte que você foi motoboy numa encarnação anterior e
que se lembra claramente de ter sido atropelado e morto por um taxista.
Mantenha os olhos fixos no motorista quando disser isso.
8 – Pergunte se você pode pagar em dólar. Se ele responder
“sim”, você diz “E em pesos argentinos com a efígie do Maradona? Hein? Hein?”
9 – Dê um itinerário completo que não faz o menor sentido.
“Você dobra na Pentagonal Sul, sobe a Bandeira Meio-Pau e entra na
Tergiversando Nunes à esquerda”.
10 – Sente no banco da frente, finja que você está no
volante e faça ruídos com a boca: “Vrrruuuum... scrichhhhh... vruuumm...
fom-fom!”
Pelo seu Twitter, certo dia, Gisele Bündchen deixou escapar
que estava fazendo a Dieta Dukan e os resultados eram ótimos. Curiosamente, na
mesma época, a princesa Kate Middleton, também. E as mulheres de todo mundo
aderiram à moda dessa dieta, um riquíssimo negócio do ex-médico francês Pierre
Dukan que gira bilhões de dólares.
Oras, porque elas fariam isso? Por cachê. Cachê altíssimo,
pago em milhões e em dólares por merchandising do produto. Negócios. Cassaram o
título de médico de Dukan, muitas mulheres que fizeram a dieta foram parar nas
mesas cirúrgicas com graves problemas renais e o autor da dieta, bem, ele ficou
muito mais rico e famoso. Para vender um produto o merchandising é um bom
caminho.
E, de repente, você lê um artigo na Folha de São Paulo, de
Fernanda Torres, apoiando a permanência de Dilma na presidência sob a alegação
do medo: quem sucederá Dilma não pode ser pior que ela?
Ou Jô Soares, antes um “defensor” das liberdades, agora
apoiando o PT, sabidamente um partido corrupto em todas as formas e meios que
busca calar a imprensa e que praticou o maior estelionato eleitoral na história
deste país, negado por ele. Porque fariam isso? Por dinheiro, claro, pago pelo
PT para tentar melhorar a imagem da presidente. Coisa do marqueteiro da Dilma.
Bem, Jô Soares está velho, muito doente e em fim de carreira
– sua audiência na Globo despencou – e o cachê pago pelo PT vai lhe garantir um
futuro material razoável. Quanto a Folha, certamente pegou a gorda fatia da
verba e sua colunista, Fernanda, outro bom pedaço do dinheiro que veio,
certamente, da corrupção. Sabidamente o movimento é mais de propaganda que de
ideologia política. É marketing puro.
Imbatível desde 2000 quando estreou na Globo, o programa do
Jô tem sido frequentemente ultrapassado pela concorrência. No começo de maio,
durante a apresentação do bloco As Meninas do Jô, ele permaneceu em terceiro
lugar com 3,7 pontos batido pela Câmera Record, em primeiro, com 6 e Danilo
Gentili com 4,2 no SBT. Já teria sido comunicado que o programa sairá da grade
da emissora em 2016.
Difícil é aceitar que “artistas” como Fernanda e Jô negociem
suas aposentadorias no momento em que o brasileiro corre o risco de perder suas
liberdades e o país cair numa ditadura, como a Venezuela. A posição simpática
de Jô Soares por Dilma não vai agregar nada em favor da estelionatária política
porque, pelo que se observa da reação popular, ele não convence como formador
de opinião. Jô é apenas um gordo sem audiência, sem ética e sem vergonha.
No varejão das pequenas crendices e mandingas, homem e mulher
revelam uma diferença lindamente patética: a fêmea se põe mística quando inicia
o processo de abandono do seu marido ou namorado; o macho se torna o mais
crente e supersticioso das criaturas de Deus apenas depois que a casa cai,
depois de um belo chute no traseiro.
Quando a sua mulher ou namorada, amigo, começa a falar em
retorno de Saturno, na simbologia do tarô, nos recados do feng shui, etc, te
liga, campeão: é pé na bunda à vista e na certa. Por trás de todo mapa astral
ou de uma nova visita à cartomante há sempre um bom par de chifres à nossa
espera.
Aí só nos resta chupar o frio chicabom da solidão, como me
ensinou o tio Nelson. Só nos resta mascar o jiló do desprezo. Só nos cabe
sentar à margem do rio Piedra e chorar, segundo a recomendação suspeita do mago
Paulo Coelho, este sim um incansável místico globalizado.
Sim, amigo, a mulher é esotérica desde a véspera da
tragédia. Nós batemos na porta da cigana mais vagabunda apenas depois que Inês
é morta. Aqui me pego, agora mesmo, reparem no ridículo, lendo o destino e a
sorte na borra de café, o velho método das Arábias.
Mais perdido do que um escoteiro nerd e lesado no Pico da
Neblina, um homem é capaz de tudo. No mato sem cachorro ou GPS, o macho
moderno, este cara carente de banco de praça, faz sinal de SOS até para
náufragos piores do que ele. Ô vidinha-Titanic e miserável.
Opa, calma, calma, que vejo algo nos desenhos involuntários
do fundo da xícara. Tento enxergar na borra do café o meu destino, a minha
sorte e as escaramuças da pessoa amada, aquela maldita que nos parafusa na
testa uma fantasia de viking. Sério, amigo, como somos esotéricos depois que a
casa cai.
Peraí, epa, calma de novo que vejo algo bem definido no
diabo da xícara. Parece uma fruta. Pera, uva, maçã? Limpo as lentes de quase
dez graus de miopia e astigmatismo e finalmente decifro: uma cebola! Retrato do
meu choro e do abandono? Seria o mais óbvio e imediatista. Na dúvida, recorro
ao “Guia da leitura no sedimento do café – arte milenar árabe de interpretar
sua vida”, um livro da Batia Shorek e Sara Zehavi, que acabo de adquirir em um
sebo carioca.
Opa, reparem só no significado da tal cebola: “Indica que a
pessoa amada esconde algo do seu cônjuge e o assunto escondido é importante e
pode machucá-lo”. Neste caso nem escondia mais, já havia ido embora, estava da
caixa-prego pra frente, mas reparem como funciona a leitura da borra! Como
homem, apenas li atrasado o fundo da xícara. Uma fêmea mística teria sabido
tudo de véspera.
O senhor Diogo Inácio de Pina Manique foi cidadão de alta
importância nos arredores dos séculos 18 e 19. Nasceu o gajo em 1733 e finou-se
em 1805, em Portugal, naturalmente.
Formou-se pela Universidade de Coimbra e, sob o manto real
de D. Maria I (ela mesma, a louca, a que mandou atear fogo nos teares
mineiros), ocupou cargos de relevância.
Ei-los: Chanceler-Mor do Reino, Administrador-Geral das
Alfândegas, Superintendente-Geral de Polícia, Desembargador da Casa de Suplicação,
Inspetor Geral dos Contrabandos e Descaminhos, Fiscal da Companhia da Paraíba e
Pernambuco, Fundador da Casa Pia de Lisboa e Intendente da Polícia do Reinado.
Pina Manique era uma espécie de Almirante Pena Botto
melhorado (ou piorado), vale dizer, homem de extremíssima direita e reacionário
ensandecido.
Aplicado misoneísta, tinha aversão a tudo que fosse novo –
ideias, costumes, artes, etc. –, contudo suspeito que deveria ter sido um
sujeito engraçadíssimo, a julgar pela carta que a pesquisadora Lúcia Giacomini
desencavou da Biblioteca de Lisboa.
Pina Manique endereçou-a ao Duque de Cadaval, Corregedor-Mor
da Justiça do Reino de Portugal quando ele, Pina Manique, era Corregedor de
Justiça de Santarém. A carta:
“Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Cadaval:
Se o meu nascimento me põe em circunstância de Vossa
Excelência me tratar por tu, caguei em mim. Se o honroso cargo que exerço, de
Corregedor da Justiça de Santarém, permite Vossa Excelência me tratar por tu,
caguei para o cargo. Mas, se nem uma nem outra coisa consente semelhante
linguagem, caguei para o tratamento. Rogo à Vossa Excelência que me informe
acerca dessas particularidades, para saber ao certo se devo, então, cagar para
Vossa Excelência. Atenciosamente, (a) Pina Manique. Santarém, Portugal, em 23 de maio de 1793.”
Qual a lição de hoje. gafanhoto? As “excelenças” e “otoridades”
são suscetíveis, zelosas de sua pompa e circunstância e não admitem
intimidades. Todo cuidado é pouco