Uma das principais
formações do Pasquim com Millôr Fernandes em pé, no centro, e Jaguar, Ziraldo, Ivan
Lessa e Sérgio Augusto, sentados
Recluso devido à doença pulmonar, o escritor e jornalista
Ivan Lessa se afastou de boa parte dos amigos no último ano. Sua morte foi
recebida com tristeza no Brasil e lamentada pela presidente Dilma Rousseff.
“Éramos amigos desde 1980. Ele foi a pessoa mais importante
da minha vida”, afirmou à BBC Brasil o jornalista Diogo Mainardi.
“No último ano ele se afastou, falei com ele pela última vez
em 9 de maio, no aniversário dele. Eu mandei uma declaração de amor (em uma
mensagem de e-mail) e ele respondeu de forma lacônica”, afirmou.
A última vez que os dois se encontraram pessoalmente foi em
2006, quando Lessa foi à casa de Mainardi na Itália.
“Passeamos muito e ele se queixava da perna, dizia que a
doença o impedia de andar”.
Depois dessa visita, Lessa seguiu para o Brasil, para onde
não voltava há 34 anos. Ele pretendia escrever uma reportagem para a revista
Piauí.
Na ocasião encontrou os amigos jornalistas Mário Sérgio
Conti – com quem Lessa escreveu o livro de correspondências "Eles foram
para Petrópolis" – e Danuza Leão.
“Foi a última vez que eu vi o Ivan. Ele e o Mário Sérgio
Conti apareceram de surpresa na minha casa”, disse Danuza à BBC Brasil.
Lessa monitorava o Brasil à distância, de seu auto-exílio em
Londres, onde morava desde 1978.
Porém, segundo Mainardi não foi a distância que forjou sua
visão crítica sobre o Brasil. “Ele foi embora porque já tinha essa visão de
mundo”, disse.
De acordo com Mainardi, Lessa usava em suas crônicas a figura
de um Rio de Janeiro dos anos 1950 extremamente idealizado e a colocava em
conflito com o Brasil atual.
“Ele ficou com um Rio idílico na cabeça, que servia na literatura
dele para se contrapor ao Brasil real”.
O jornalista afirmou que ainda se lembra de quando conheceu
Lessa em 1980, em Londres.
Mainardi conseguiu o endereço de Lessa por meio de uma
empregada doméstica brasileira e foi bater em sua porta.
“Ele me recebeu primeiro aos chutes e pontapés. Mas insisti
e acabamos nos tornando amigos. Mas não era uma relação igual, eu tinha muito
mais admiração por ele do que ele tinha por mim. Depois nós envelhecemos”,
disse.
Já Danuza lembra do Lessa que frequentava sua casa, e de seu
então marido Samuel Wainer, nos anos de 1950, para jogar pôquer com Paulo
Francis e Millôr Fernandes.
“Ele era um jogador excelente e imprevisível. Blefava mas
também ficava aflito e ansioso”, disse ela.
A morte de Lessa foi lamentada no país pela presidente Dilma
Rousseff – para quem o Brasil perde “um de seus cronistas mais talentosos”.
Em telegrama divulgado pela Presidência, Lessa é descrito
por Dilma como “irônico, mordaz, provocador, iconoclasta e surpreendentemente
lírico – acima de tudo brilhante com as palavras”.
A morte dele foi divulgada nos principais veículos de
imprensa brasileiros.
O jornalista da TV Globo Geneton Moraes Neto escreveu em seu
blog Dossiê Geral que “o Brasil deu um novo passo em direção à mediocrização
ampla, geral e irrestrita: o coração de Ivan Lessa parou de bater”.
Para Mainardi, Lessa pode ser descrito com todos os
sinônimos das palavras inteligência, graça, deboche e cultura.
“Para conhecer o Ivan basta reler o que ele fez. Vale a pena
procurar e reler”, disse.
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