Bruno Lazaretti
Mais conhecido como Guerrinha, Estenio Guerra, 50 anos, é
provavelmente o maior colecionador de Playboys brasileiras do mundo – não
sabemos ao certo, não contamos e não contaremos. Interrompemos as filmagens de
um documentário sobre ele para uma conversa esquisita.
Qual foi a venda mais
cara que você fez?
Na realidade, uma edição da Xuxa eu vendi por 12 mil. O cara
que comprou é um empresário daqui [aponta para uma direção genérica]. Quando
trouxe o talão de cheque, me arrependi. Falei que não aceitava. Aí ele falou,
“Olha, eu vou até a minha casa. Até as 17h eu vou mandar um motoboy aqui com o
dinheiro”. O motoboy veio e tive que entregar a revista.
Já tentaram roubar ou
assaltar sua banca?
Uma vez um cara serrou o teto pra roubar a revista da Xuxa.
Aí me mudei pra cá [um estacionamento de loja de materiais de construção, no
Campo Belo, bairro da capital paulista]. Mas tentaram me assaltar também.
Defendeu a coleção
com a vida?
Não, não. Eu comecei a trocar ideia com o cara, mostrar umas
edições pra ele. Arrancava os plásticos rapidinho e mostrava as revistas pra
ele. Até que ele perguntou se eu podia dar algumas pra ele. Enchi uma sacola.
Rapaz! O cara saiu daqui foi até ali [aponta um cruzamento a uns 200 metros da
banca] e roubou a moto de um casal. Você acredita?
Não.
Pois é! A menina ficou tão apavorada que queria se esconder
aqui, no chão da banca.
Este negócio sustenta
a sua família?
Eu vivo com isto aqui [as revistas]. Sou também funcionário
desta empresa [a loja de materiais de construção], responsável pelo
estacionamento. Mas ganho uma merreca por isto! Uma vez falei com ele [o dono
da loja], “Tem que aumentar o meu salário!”. Japonês gente finíssima. O
japonês… Se você é correto com ele, ele te dá tudo. Outro dia eu dei um pulo aí
e quebrei uma perna… Ele bancou tudo, médico particular.
Espera. Deixa eu
tentar acompanhar. Do que você está falando?
Caí de uma altura de nove metros e meio.
Como você caiu de uma
altura de nove metros e meio?
Nem eu sei o que me deu! Não sei! Não sei!
Como assim, homem,
você estava onde?
Não! Lá em cima [aponta outra direção genérica] tem um
depósito meu. Estava chovendo uma noite e eu tenho muito medo que molhe minhas
revistas. Estava preocupado, fui lá. Só que lá em cima é telha de amianto com
divisórias de gesso. Quebrou e eu caí. Não morri porque em São Paulo tem muito
trânsito e a Morte chegou atrasada.
Você caiu magicamente
numa pilha de revistas?
Não! Caí no cimento. E por um nada eu não caio em cima de
uma lança…
Espera aí, uma lanç…
Olha aqui a Simony pra você [ele me distrai da
inverossimilhança da sua história com uma revista].
Tá, já vi. Qual
dessas revistas você mais homenageou?
Mais o quê?
Homenageou.
Ah, sim. A Silvia Bandeira mesmo. Tenho até uma mensagem no
meu celular que um safado me mandou me sacaneando, quer ver?
Não, não quero.
Me chamou de punheteiro! Mas não estou achando aqui… Ah,
achei: “Você foi consagrado o punheteiro mais famoso do Brasil” [risos].
Você é o maior
colecionador de Playboy do Brasil?
Do mundo! Tô pra entrar Guinness. Já veio um pessoal aí
contar.
Que pesso…
Mas olha aqui esta revista, sabe quem é?!
Cristina Mortágua.
É…
Quando você bater as
botas, o que vai fazer com a coleção?
Eu falei pra minha esposa fazer um caixão bem fundo! Aí
colocar o máximo possível de revistas dentro.
Guerrinha, acho que…
Olha aqui! Sabe qual edição é esta?
É a primeira com nome
Playboy na capa. Mas Guerrinha…
Agora você olha aqui e veja se tem alguma mancha na revista!
Já tô vendo daqui.
Não tem mancha não, Guerrinha, tá ótima.
Zero, zero, zero. Nunca foi aberta. Falam que eu vendo caro.
Tem um sujeito, foi, de Aracaju! “E aí, por quanto você vende a primeira revista,
a número 1?”. Eu falei 5 mil. Ele quis dar 4 mil e não aceitei.
PS: A banca do Guerrinha fica na Rua Ática, 42 – Campo Belo,
em São Paulo, no estacionamento da Nicom.
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